terça-feira, 15 de julho de 2008

A massa.

Moinho de homens que nem girimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais.
Amassando a massa a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais.
Raimundo Sodré/Chico Evangelista in A Massa

Em um bem colocado comentário ontem, 15, por volta das oito e meia da manhã em seu programa de rádio “Na boca do povo”, o radialista Edivanildo Santana chamou a atenção para um “ruído de fundo”, como se costuma falar em linguagem de eletrônica e eletromagnética ou até em física espacial. Trata-se do nervosismo que se percebe nitidamente de partes a partes nesta campanha que tomara não venha a ser uma reedição das loucuras dos anos 50. Há muito nervoso no ar. E isso se deve à aparente indecisão e ao medo que ela está provocando. Fruto da mediocridade que foi a política de oposição feita a Maria por parte de Luciano; ao mesmo tempo da camisa de força em que Maria se meteu deixando seu governo engessado para bem aquém daquilo que se esperava, ocorresse. Em linhas gerais, Luciano ficou a torcer para Maria se auto-enforcar enquanto que esta converteu seu governo apenas na ampliação da imensa rede de política de favoritismos herdada dos tempos de Euclides; e que tão bem alimento-a enquanto esteve na oposição. Algumas obras de relativa importância, todavia, no plano geral, a desejar. Sem querer ser exigente, mas poderia ter sido muito mais. Quanto ao nervosismo observado, este advém das incertezas geradas exatamente pela frieza de parte considerável da população que não vê motivo para empolgação com os dois candidatos que ora se apresentam. O que quer voltar e a que quer continuar. Há uma massa considerável quieta. Da mesma forma de 2000 e principalmente de 2004. O bloco de Luciano está na rua. Empolgante ao extremo como sempre, porém, desconfio, limitado. Acho até que Maria tenha alguma pesquisa que lhe seja desfavorável em mãos já que não tem reagido no sentido de tirar essa dúvida a limpo. Estaria, portanto, esperando as nuvens duvidosas dissiparem-se. Palpite, e só. Bem, quanto a Luciano, este refundou definitivamente o PSD estilo Manoel Teles/Jason Correia: “só os amigos”. Do lado de Maria, primeiro precisa saber se a campanha é para reelegê-la ou para impedir que Luciano se eleja. Até aqui, a propaganda ideológica do grupo aparenta o segundo caso. Tudo isso tem gerado muito estresse antecipado a uma campanha que, em geral já é por natureza muito quente.
A insistência com que se sugere, até mesmo no rádio, sobre a suposta desonestidade de Luciano é coisa pra gentinha. Ao povo é facultado tal comportamento; aos agentes sociais como o são todos os que fazem comunicação, ou que estão à frente do processo político, não. Isso não leva a nada e até hoje ninguém deixou de votar em candidato que tem fama de ladrão. Ou de assassino. Salvo se incompetente. Rouba, mas faz; foi o lema que subliminarmente usou o ademarismo em São Paulo, a já maior cidade e Estado mais rico do país. O uso de tais assertivas são meras provocações acintosas e que invariavelmente sempre produz "merda". A quem interessar possa. Misturar ódios pessoais com política é lastimável.
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Luciano e o fator Donas.

Não acredito em grande densidade eleitoral dos Donas, leia-se ex-deputado Zé Milton e a vereadora Edilene, e demais aliados; todavia, votos não se rejeita. Há quem despreze esse fator na composição de Maria Mendonça, eu, porém, que de nada entendo, não consigo entender como um mais um é igual a três quartos como pensa a elite partidária de Luciano. Começaram por um erro gravíssimo: botar em terceiros, no caso, a culpa pela derrota de Carlinhos, na “traição” dos Donas, em 2004. Por falar em traição, êta palavrinha tão evocada! Ora, no meu modesto entendimento, não foi Carlinhos quem perdeu assim como não foi a “traição” de Alcides ou de qualquer um dos Donas quem apeou o grupo lucianista da Prefeitura; e sim, uma sucessão de erros dentre os quais a suprema arrogância pessedista que, volta e meia retorna com toda a força. O Luciano de 1988 começou a morrer na noite de apuração do segundo turno das eleições de 1994. Começaram a matar-lhe no TRE naquela fatídica noite. Aquele Luciano de antes, parecia um garotão “engolidor de cordas” de tão aberto que era. A apenas um ano das eleições históricas de 1988 tinha dentre as pessoas de maior comunicação com ele nada menos que o também garotão José Francisco de Mendonça, o saudoso Chiquinho, de Chico de Miguel, de quem distanciou-se, naturalmente, quando o arre-arre das eleições chegou. Ainda lembro-me das irritações de Chiquinho pelo fato do então presidente da Atlética o estar enrolando com uma história de um título de sócio da dita Atlética que nunca saía. Era o Luciano, o filho de Zezé, cujo - também já no reino da saudade - ficou lado a lado com o prefeito que saía, João Germano da Trindade, seu opositor, na cerimônia religiosa da Matriz de Santo Antonio como dois velhos amigos que sempre foram. Eis o nível da mudança que ocorreu em 1988. Civilizada. Quase proposta. Onde os caídos foram respeitados pelos vencedores. Supostamente a mudança de idéias; e não de pessoas ranzinzas, prontas para comerem umas às outras na base do “quem está comendo” e do “quem quer comer”. E o que vemos agora? Do lado de Luciano acabou a liderança e surgiu o coroné. O que não suporta “gente complicada”. Gente que quer dar opinião. Gente que discute. Gente que negocia e força negociação - fato natural na política - como os Donas, Queiroz etc., etc. Já do lado de Maria, é preciso que muita gente que lhe acompanha decida: se trabalha pra ganhar uma eleição ou para atrapalhar Luciano, para que não ganhe.
Num clima desse, “na usura”, como se diz no jargão das cafúas prevalecerá a insanidade e que Deus nos proteja.