sábado, 2 de julho de 2022

CORES E CORTES - A PARTIDARIZAÇÃO EXCESSIVA

 

O marketing é elementar na convivência em sociedade; e a simbologia é a parte mais importante disso. De formas, cores, sonoridade, mensagens, enfim está grande parte do sucesso ou insucesso de algo que se quer amado, desejado, cobiçado e ou até idolatrado.
Numa administração pública, desde a res publica romana e a Roma imperial, tem se mostrado necessário que se mostre quem está no comando; porque foi para comandar que a maioria elegeu ele ou ela. E não basta o político fazer; tem que fazer e convencer que fez. Tem que manter a roda girando porque a sociedade assim exige. Repito: foi eleito para isso. Tem que fazer a propaganda. E aqui nasce mais um nó na administração da coisa pública.
O administrador tem que mostrar o que faz e com isso ser identificado; a questão está na dose. No peso da mão. Nem pode desaparecer, cair no anonimato, parecer uma mera máquina, sem identidade; também não pode exagerar, fazendo parecer mais propaganda de si que do objeto realizado. E aí entram os freios e contrapesos que norteiam qualquer democracia, e que rotineiramente são conduzidos pela Justiça; em nosso meio, provocada, obviamente, por manifestação do Ministério Público.
Quando os freios e contrapesos começam a falhar sistematicamente... vem desgraça pela frente porque começa aí uma corrida louca para ver quem ousa mais; quem mais queima pneus, atravessa os sinais vermelhos, se expõe e aos outros aos perigos. Os irmãos Graco, cheios de boa intenção passaram por cima do Senado Romano. Não houve freio e contrapeso? Logo veio Sila, Pompeu, Júlio Cesar e por fim Otaviano que virou ditador vitalício e se deu o título de Augustulus, o supremo, para manter o Império a qualquer custo.
Até a administração João Germano da Trindade – João da Veia – o Executivo itabaianense pouco fez publicidade. Aquém até do estritamente necessário. Mesmo já tendo sido dado o pontapé, especialmente nos grandes centros como São Paulo da administração Maluf, e Sergipe, onde o Governo Augusto Franco fez nascer uma robusta indústria de marketing e propaganda entre os anos de 1979 e 1982, arrancando do então articulista do jornal Tribuna do Povo, João Bosco Souza Carvalho, a exclamação de que “o dinheiro está todo canalizado para publicidade porque o Dr Augusto Franco precisa ganhar a eleição.(Tribuna do Povo, Ed. 2, p. 5, Da finada Caene, do falido Deso).
Em 1989, ao assumir a Prefeitura Municipal de Itabaiana, Luciano emplacou pouquíssima mudança, exceto a de criar uma logomarca usando cores pouco associadas a si. Porém, do ponto vista eletrônico logo criou um espaço só seu. No rádio. João Alves dos Santos – o João de Zé de Dona – que o sucedeu, também. Em 1993, o secretário de Comunicações, Mário Filho desencavou uma logomarca antiga, dos tempos que a sede do município ainda tinha o título de vila, e que me coube a honra de a colorizar; e as administrações subsequentes passaram a usá-la concomitantemente com as logomarcas dos administradores.
Ao retornar em 1997, contudo, a logomarca lucianista foi reentronizada, e aí, como o Executivo municipal estava crescendo em volume de prédios com as municipalizações da Educação e da Saúde, foi espalhada em mais espaços.
Mas a reeleição de Luciano em 2000 veio com novidades. Ao assumir começou a repintar boa parte do patrimônio público de amarelo. Então no PMDB, cujas cores são o preto e o vermelho, todavia, passou a usar uma terceira cor, pessoal, usada na campanha, acho que modéstia a parte, sugestão minha na campanha. Mas respeitou a prediação. A administração Maria Vieira Mendonça, sutilmente introduziu as cores partidárias do PSDB em alguns prédios; porém feitos de forma que somente olhares mais atentos para uma identificação direta.
A quarta administração de Luciano Bispo, de 2009 a 2012 foi, para ser ameno, sofrível. Nem a propaganda funcionou bem. Contudo se manteve o costume pintar as cores do político, dessa vez desordenadamente; cada setor fazendo o que e como queria. Ao final de 2012 veio a onda azul e varreu tudo. E aí começou o império azulino pra valer.
É contra isso que a Justiça sergipana acordou depois de anos de corrida louca para ver quem mais passava por cima da Lei, no que foi confirmada pelo TSE, no último dia 23 de junho.
Houve violação da Lei? Inegável! Mas... porque só agora?
O segundo grande aviso a Valmir dos Santos Costa: lembrai-vos de Manuel Pestana de Brito; de José Matheus da Graça Leite Sampaio; de Manuel Batista Itajay... e finalmente de Euclides Paes Mendonça.


terça-feira, 28 de junho de 2022

BIBLIOTECA MUNICIPAL FLORIVAL OLIVEIRA: 63 ANOS DE TEIMOSIA.

 

Aniversaria na próxima quinta-feira, dia 30 deste junho a terceira instituição de leitura da história serrana, a Biblioteca Municipal Florival Oliveira, criada pela Lei Municipal 190, de 30 de junho de 1959.
Atendeu ao apelo de uma cidade pobre em letras, mas que então despertava para a erudição, dez anos depois do curso ginasial (de fato foi em 1950) do Colégio Estadual Murilo Braga, de 29 de novembro de 1949; e quatorze depois de inaugurada a primeira escola com cara de escola, o Grupo Guilhermino Bezerra, de 7 de abril de 1937.
Suspeito que também faça parte dos esquemas políticos. De reação de Euclides Paes Mendonça, de volta à Prefeitura e já às voltas com o oposicionismo do pároco Artur Moura Pereira e sua Biblioteca D. José Thomaz, única na cidade, e segunda casa de leitura na história itabaianense, depois do fracassado e efêmero Gabinete de Leitura do professor Manuel Damásio Pereira Leite, entre 1875 e 1880, conforme o professor Wanderlei de Oliveira Menezes. Como Itabaiana já teve duas filarmônicas partidarizadas – a Peba e a Cabaú – não seria surpresa que também viesse a ter duas bibliotecas: a oficial, de situação; e a eclesiástica, de oposição.
Foi também um momento de difusão pelos rincões do país, de casas de leitura; oficialmente promovidas pelo governo central no Rio de Janeiro, ainda capital da República.
Contudo, a sofrida instituição, ao contrário do que manda o bom senso além dos detalhes técnicos e a boa prática nunca teve um lugar pra chamar de seu. Tem andado como retirante, às vezes coabitando um mesmo espaço com outras atividades, desde que foi criada, em geral em prédios alugados, logo susceptíveis de troca-troca a todo o instante. Senão por abuso de preço dos proprietários, por mudanças ideológico-partidárias.
Nestes dias de exuberância e facilidades do saber, a sala silenciosa, o cheiro de livro antigo e o ritual de abordagem do bibliotecário foi substituído quase integralmente pela tela do celular ou ainda do velho computador. Todavia, desde que Ptolomeu turbinou sua administração no Egito através de monumentos visíveis e impressionantes como o Farol de Alexandria, também o fazendo através da mãe de todo o saber ocidental, a Biblioteca de Alexandria, todo e qualquer poderoso que se não queira mera poeira ao vento, que queira restar na memória futura tem investido em cultura. Cujos templos maiores são as bibliotecas, eternizadoras da História e de seus próceres.
PARABÉNS À BIBLIOTECA MUNICIPAL FLORIVAL OLIVEIRA(*).


(*) Florival Oliveira foi farmacêutico e vereador. Simbolizou em seu tempo o típico intelectual, praticamente único na cidade de meros professores primários e uma multidão de analfabetos, e dono, obviamente de relativo acervo de leitura. Uma raridade, especialmente até o período da República Velha.


segunda-feira, 27 de junho de 2022

70 ANOS DA “AVENIDA CENTRAL” DE ITABAIANA.

 

Lá vem a nova avenida
Remodelando a cidade
Rompendo prédios e ruas
Os nossos patrimônios de saudade
É o progresso
E o progresso é natural
Lá vem a nova avenida
Dizer à sua rival
Bom-dia, Avenida Central
Bom-dia, Avenida Central
(Bom dia Avenida - Grande Otelo/Herivelto Martins)
 

Cresci ouvindo esse samba carioca de 1944, cantado por meu saudoso pai. Mesmo tendo nascido em fins de 1959, o ouvi cantar diversas vezes, até em 1988, quando faleceu.
É que a crítica a Getúlio Vargas, por parte de uma elite carioca, sempre irreverente(*) e acomodada foi totalmente contrária à abertura da Avenida Getúlio Vargas, que veio a somar com a já existente Avenida Central ou Rio Branco o eixo modernizante para um Rio de Janeiro que se agigantava urbanamente.
Em 1951 Euclides Paes Mendonça, que tinha a mesma idade do meu pai tomou posse na Prefeitura Municipal de Itabaiana, depois de ter perdido a primeira eleição para Jason Correia em 1947.
Itabaiana era “um ovo”. Com apenas 5.746 habitantes urbanos no Censo de 1950, a ex-estagnada cidade de Itabaiana vinha de um incrível crescimento fantástico de 68,4% na década de 1940, quando no Censo anterior tinha acusado apenas 3.413 habitantes; e o clima era de crescimento ainda maior.
A Lei Municipal 9, de 28 de julho de 1948 licenciava o Executivo a indenizar uma casa na esquina da Rua São Paulo com Sete de Setembro para abertura desta até onde viria a ser o Colégio Estadual Murilo Braga, no ano seguinte. Porém também indenizava terreno entre o Grupo Guilhermino Bezerra e a Avenida Airton Teles, na época Praça da Bandeira (Por que nunca mais hastearam a Bandeira Nacional ali? Tão belo que é vê-la tremulando!). A casa, saiu; o alargamento da via, hoje Rua General Calazans, não.
Rua estreitas, nenhuma avenida e três pequenas praças, uma já convertida em Largo da Feira, ou Santo Antônio. E uma iniciada, a sobredita Praça da Bandeira, ou seja, a rótula da Avenida Airton Teles. A saída principal era a Rua Quintino Bocaiuva, ex-entrada na cidade da rodagem para Laranjeiras. Nenhuma, pois, que desse visibilidade. O Colégio Estadual Murilo Braga foi inaugurado em 29 de novembro de 1949... nos sítios; dentro do mato. Por isso seu nome original de Escola Normal RURAL.
Em 1952 entrou em vigor o cumprimento do dispositivo constitucional que redistribuía a maior parte dos impostos para os Municípios, ao invés de Estados e União. A maioria destes Municípios aproveitaram para pagar menos ou isentar tributos, e nada produzir; mas, visionário, impetuoso e dinâmico como era, Euclides aproveitou para projetar a cidade e se projetar, assombrando a conservadoríssima elite sergipana ao eleger o governador – Leandro Maciel – a partir de Itabaiana.
Tão logo cresceu comercialmente, Euclides passou a ser usual visitante do Rio de Janeiro e dos seus cartões postais, como a igreja da Candelária e suas avenidas de acesso – Getúlio Vargas, em frente; e Rio Branco ou Central, que a liga à Marina da Glória, no Rio de Janeiro.
Em 1952, a novíssima BR-235 começou a chegar em Itabaiana; e, de cofre cheio e necessitado de popularidade numa cidade necessitada de obras, Euclides aproveitou a nesga de terra ao fundo do antigo quartel - agora transformado em Talho de Carne - até o ponteão da rodagem para Frei Paulo, na cabeceira do Tanque do Povo para projetar a primeira expansão urbana de elite de Itabaiana: a Avenida Otoniel Dórea. Curiosamente, formando com a Praça Fausto Cardoso e a matriz de Santo Antônio a mesma logística da Avenida Presidente Vargas e Avenida Rio Branco com a Catedral da Candelária, no Rio.
A Otoniel Dórea, se assim pensada, nunca chegou à Praça Fausto Cardoso; mas ampliou-se a oeste já por mais um quilômetro.
Em 1960 foi aberta a Avenida Luiz Magalhães, claramente no mesmo projeto, já atendendo ao planejamento do engenheiro Herman Centurian, prevendo ruas largas, alamedas, avenidas e praças.
Pouco disso se confirmou. A politicagem miúda estreitou vias, acabou avenidas, entupiu fontes, destruiu praças e tudo o que foi iniciado ou simplesmente abortou-o ainda no papel.
Nascido na zona rural, somente a partir de 1966 é que comecei a frequentar a cidade, mas repetindo o que fizeram os meus ancestrais e até os gregos antigos da zona das cidades-estados: só para comprar; fazer a feira. Contudo, com a feira já estabelecida também no Largo José do Prado Franco, de onde começa a Otoniel Dórea, mesmo tenro, com pouco mais de seis anos já me chamava a atenção suas belas casas, suas calçadas largas e até a tentativa de arborização que já existia, porém, visivelmente sem muito sucesso: Itabaiana é literalmente uma Caatinga de Ayres da Rocha Peixoto até hoje. Só a moderna tecnologia no manejo da água nos faz esquecer disso.
Em 1972 a área chique da cidade ganhou pavimentação. Porém, em 1976 já começou a ser invadida pela feira num dos seus traços mais tradicionais: a Feira das Panelas. Desde então, especialmente nos últimos 40 anos, com o avanço do comércio lojista se converteu em mais uma via de negócios. Ao longo dos seus 400 metros quase nenhuma das glamourosas residências de outrora mais nela se encontra; convertidas em lojas e outros serviços como de saúde, justiça e comunicações.
Num pouco de futurismo, determinado por certa dose de realismo dá para se antever que a histórica projeção urbana continuará sendo uma via expressa de acesso ao Centro, porém auxiliar. Uma vez que sua largura compromete um maior fluxo, a tendência é num futuro próximo se converter em via de ida até a BR-235, cabendo à Avenida João Teixeira ser a via de retorno ao Centro.
Ao menos em direção ao oeste, a visão de Euclides Paes Mendonça salvou a cidade de Itabaiana da falta de logística de trânsito.
Há 70 anos.

(*)(Em 1600, com o Rio com apenas 45 anos de vida, os cariocas já apelidavam o governador-geral, D. Francisco de Souza de Marquês das Manhas; trocadinho com o título que ele recebera do rei Felipe III da Espanha, de Marquês das Minas. É que D Francisco jamais achou alguma mina no Brasil; mas, esperto, aproveitou da história de Melchior em Itabaiana para se adiantar e pegar o título).