quinta-feira, 18 de julho de 2019

QUAE SERA TAMEN

O Paranoá de Itabaiana?

Rua Antônio Pereira Jr em dois momentos: ontem e maio  de 2000. A mudança verificada na urbanização, contudo não garantia o fim da poluição de esgoto 2000, ao pé da foto.

Iniciada já a há alguns dias a adequação da rede de esgoto urbano de Itabaiana, para pôr em operação a moderna e custosa estação de tratamento inaugurada há pouco tempo nas vizinhanças do Açude da Macela (a plantinha, e não “Marcela”, como erroneamente tem se repetido). A obra vai desafogar dos atuais níveis de poluição a já sessentona reserva de água, construída na década de 50 mais somente integrada aos próprios da União pela legalização “vale-tudo” legal do Regime de 64. É que ela foi totalmente construída com desvios de dinheiro de outra obra, superfaturada para essa finalidade, nos tempos difíceis do golpismo da UDN contra Getúlio Vargas.
O açude foi construído para mais uma tentativa de correção ao erro estratégico histórico de construir a sede do município, criado pelo decreto de D. João de Alencastro, de 20 de outubro de 1697, num local seco e sem sequer um minadouro que lhe servisse de fonte de água. Foi um reforço, em 1953, ao pedido do Pe. Francisco da Silva Lobo, feito em carta de 1757:
“He o logar da Villa de poucos moradores, por ser aridíssimo, e tão falto de agoas, que as não há senão no inverno, razão pela porque se faz digno de que S. Magestade (sic) seja servido de o mandar prover de algúa cisterna ou agoada de pedra e cal para remédio dos Parochos, e dos poucos moradores que nelle habitão, o povo, que vem às festas, às missoens, e semanas sanctas, e mais funções da matriz e villa, pois so no inverno tem agoa em hú buraco chamado pedreira, que dura pouco tempo pelo verão valendo-se os da villa, e mais povo que vem às festas e funcçoens da vila das cacimbas das serras distantes da Matriz húa legoa grande.”
A tentativa popular dos primeiros itabaianenses – os curraleiros e seus vaqueiros - de criar uma sede municipal – na época, geralmente uma vila – em local próximo a fontes de água foi em vão. A mão pesada de um Estado paquidérmico, burocrático e corrupto se fez sentir, e a sede veio se parar por aqui, em 30 de outubro de 1675, vinte anos depois do desfecho da luta da vaqueirama com sua óbvia derrota, e num lugar completamente impróprio para a época.


Dejetos industriais e peixes mortos, além do lixo e esgoto urbano tem sido uma rotina.
Tão logo foi construído o açude deixou de ter finalidade de abastecimento para fixar-se somente em fornecer água para a irrigação ao seu entorno. Muito útil no início, à medida que cidade foi crescendo e ocupando suas margens, pela explosão urbana verificada, principalmente da década de 1970, converteu-se num depósito de lixo; a ponto de levar uma grande rede varejista – supermercado – de suspender o fornecimento de hortaliças proveniente da área irrigada com suas águas, o optando por hidroponia, e em outra área.

A cidade de Itabaiana, além de na sua origem ter sido localizada num lugar seco, também o é sobre um divisor de águas, o das microbacias dos rios Vaza-Barris e Sergipe, e hoje se encontra  sobre os nascedouros de cinco riachos e mais de uma dezena de regatos, todos secos; mas que se transformam em correntes sempre que chega o período do chuvas, isso em condições normais, pois atualmente que todos eles se acham perenizados. Por esgotos. Dos riachos e regatos perenizados por esgotos, cinco caem dentro do açude, que recebe as águas das chuvas misturadas com os efluentes dos esgotos. É isso que se está buscando corrigir com esse projeto de estação de tratamento e canalização da rede esgotos para ela, deixando pro açude tão somente a água das chuvas. Um retorno à vida.
O sonho de Euclides Paes Mendonça ao projetar as vias do norte da cidade até o açude pode enfim se concretizar; e em breve termos mais uma área de alta especulação porque valorizadíssima: O Lago Paranoá de Itabaiana.
Euclides Paes Mendonça projetou diversas ruas e avenidas até a margem do açude. Talvez inspirado no nova capital do Brasil, então recém inaugurada.