quarta-feira, 7 de junho de 2023

É FESTA DE SANTO ANTÔNIO.

 

Os tempos mudam; e as pessoas, também com o tempo. Já houve épocas em que nessa quadra, centenas de itabaianenses, residentes noutras cidades e até estado sempre acorriam para tomar parte, nem que seja da última noite do Trezenário, e da procissão festiva na tarde do dia 13.
Em 1975, a última noite passou a ser patrocinado pelos Motoristas, à época, a categoria profissional mais visível da cidade – e ainda hoje. A penúltima, inicialmente era dos verdureiros. A segunda categoria mais volumosa, em visibilidade e fundos, para bancar a belíssima noite. Disseram-me – ainda não confirmei – que neste ano ficaram com a noite do meio.
Neste quase meio século a Freguesia de Santo Antônio e Almas, minguou. Já foi do rio Continguiba aos confins de Coronel João Sá-BA; e entre os rios Sergipe e Vaza-Barris. Hoje ela está reduzida à área do hipotético sítio de Ayres da Rocha Peixoto, ou seja, aos limites da Irmandade da Almas. Sem nenhuma horta em seus domínios; ou até mesmo garagem de caminhões, atualmente mais exequível às margens das rodovias, especialmente da BR-235.
Mas que o me chamou a atenção hoje foi a movimentação, de carros e veículos na cidade; geralmente agitada, especialmente nos dias de feira livre – quartas e sábados – mas que hoje, em que pese faltarem três dias para o início do pico da festa, dia 10, o clima era de festa total.
Tomara que isso contamine o comércio e os serviços. Quero ver gente trabalhando de cair as unhas nestes próximos dias. Movimentação. Vendas. Lucros e satisfação geral.
Que Santo Antônio nos case com um otimismo cada vez mais contagiante.


DITADURA, QUAE SERA TAMEN.

 

Devagarinho, devagarinho, como não quer e querendo, ao menos a oligarquia sergipana – aquela que consegue deixar um estado pequenino muito menor ainda - marca mais um tento rumo à ditadura esclarecida; a dos especiais. Oligarquia, como se diz em grego.
Leio agora no início da tarde, no site do jornalista Jozailton Lima, JL Poliítica, artigo escrito por ele, que o Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe foi reeleito para um segundo mandato.
Até aí, na minha modesta opinião, nada demais. A reeleição é um teste de manutenção de confiança num executivo, fator primordial a uma boa administração. E, mesmo que essa administração se refira à Casa legislativa maior do estado de Sergipe, é necessário que nela haja governabilidade com apoio entre os seus membros; confiança dos cidadãos sergipanos, seus financiadores e o menor grau de instabilidade, possível; logo, continuidade em certos níveis não só devem ser toleradas como desejadas.
Mas os mecanismos de “freios e contrapesos” não podem ser, jamais devem ser postos de lado. E, se, consagrou-se ao longo dos dois séculos de História, que a Mesa Diretoria tenha mandatos bienais, é porque essa foi a melhor forma de ser.
Uma antecipação de dois anos na eleição de uma nova Mesa é no mínimo uma temeridade. Se de repente o Estado entrar em situação de ebulição partidária, qual ou quais as garantias que terá de um mecanismo, político, obviamente, que reduza os prejuízos que sempre começam na tribuna e acaba na mesa dos cidadãos?
E para que essa medida tão esquisita à uma democracia, de antecipar eleições, sem motivos, senão os artifícios de controle total do poder? Evitar riscos de "aventureiros"?
Poder-se-ia dizer que isso é ditadura disfarçada. O “a bola é nossa” dos campos de pelada. Uma coisa é reeleição; outra é reeleição ou eleição injustificadamente antecipada.
Em tempo: a única ditadura bem sucedida de fato na História foi a de Otávio, em Roma, obviamente; que depois virou Augusto. E a seguir vieram Tibério, Calígula... Nero... Heliogábalo, etc., etc., e etc..


segunda-feira, 5 de junho de 2023

BIENAL DO LIVRO: Mais uma efemeridade?

O ambiente festivo, positivista, de olho no futuro da BIENAL 2011. Recebidos na portaria da Associação Atlética de Itabaiana por um "tapete" com grande foto de satélite da cidade, de então, sequer os contentíssimos visitantes sonhavam que aquela foto hoje estaria duas vezes maior, com o gigantesco crescimento da cidade nesses 22 anos de excelentes expectativas; pensamento positivos.

Itabaiana foi colonizada por aventureiros criando gado, porém, de olho na prata. Que nunca foi encontrada.
Teve a fase da pré-indústria de tecidos, que não foi muito adiante; e a fase do algodão para exportação que também pouco prosperou.
Bem, foi justo durante um desses espasmos do algodão, em 1875 que Itabaiana inaugurou o segundo Gabinete de Leitura no estado (o primeiro, lógico, foi na capital), como informa o brilhante pesquisador, professor Wanderlei Menezes.(*)
Mas o Gabinete de Leitura de Itabaiana foi um voluntarismo idealista, apaixonado, de seu criador, o professor Manoel Damásio Pereira Leite; nada mais. Não tinha quem lesse; e sim quem tivesse raiva de quem lesse. Como ainda hoje é comum na troglodice brasileira, muito além de Sergipe ou Itabaiana. Aliás, olhando bem, nós até que estamos com média positiva alta.
Desde as experiências de correspondente de A Noite do futuro prefeito Silvio Teixeira, no início da década de 1930 que Itabaiana tem tentado imprimir jornais
A Noite, e seu suplemento sociocultural, A Noite Ilustrada, foi um super jornal da capital nacional, o Rio de Janeiro, mormente nas duas décadas e meia varguista. E foi onde Itabaiana saiu pela primeira vez na imprensa para todo o Brasil.
Bem, chegamos a 1968 com O Serrano e sua turma. Só sobreviveu, na prática até 1975. Modestamente tentei retomar o ritmo em 1982. Só aguentei quatro edições, semanais, que saíram em dois meses; logo não foi tão semanais assim.
No meio, uma dezena de títulos, com uma ou duas edições, no máximo quatro edições, em geral indisfarçados panfletos partidários de seus promotores, todos candidatos.
E chegamos à Revista Perfil e sua decorrência, a BIENAL do Livro de Itabaiana; uma ousadia além da conta, em 2011, que incendiou o universo literário sergipano desde então, levantando fósseis das suas tumbas de desestímulos e recolocando-os, revitalizados na estrada; e, especialmente popularizando o ato de publicar livros. Nunca tanto se escreveu e publicou, inclusive coisas sérias.
Isso numa fase em que estavam entrando em voga a analfabetização funcional massiva, com as redes sociais; e em que grandes editoras vieram abaixo com a perda de hábito de ler impressos, foi uma vitória sem precedentes.
Mas a velocidade das transformações faz tudo ficar efêmero, passageiro, rápido. E, claro, os motivos comerciais subjacentes à criação da BIENAL já mudaram completamente, especialmente as expectativas futuras.
É necessário sempre se reinventar. E no caso da BIENAL não a deixar morrer simplesmente.
Particularmente não estou gostando do modo “talvez” com quem a 6ª edição do evento, programada para o quarto trimestre do ano tem sido tratada.
Faço votos para que os legítimos interesses por lucro imediato e financeiro, assim com os egos inflamados envolvidos e possíveis contaminações partidárias venham para o patamar da racionalidade, com concessões e consensos, como manda a boa prática das relações comerciais, que na história do desenvolvimento civilizatório precede até a própria História, materializada com a invenção da escrita.
A BIENAL criou vida própria e representa, não somente Itabaiana; mas todo o Estado. Não pode ser transformada em mais uma efemeridade; “um rio que passou em nossas vidas, e nossos corações se deixaram levar”. A História cobrará. Em formas econômicas, inclusive, já que cereja do bolo.
Só faltam quatro meses!


(*) MENEZES, Wanderlei. Gabinete de Leitura de Itabaiana (1875-1880): Notas Para a História de uma Instituição Cultural do Agreste Sergipano no Século XIX.


domingo, 4 de junho de 2023

ESTATÍSTICA INFALÍVEL: FIM DA ESPERANÇA?

Em vermelho, municípios que reduziram as populações nos últimos 12 anos; em amarelo os que cresceram pouco; em verde os que tiveram crescimento total e receberam imigrantes.

 Os gregos diziam a Caixa de Pandora não deveria ser aberta, sob risco de se perder a esperança, única coisa restada nela.
A estatística é terrível: ninguém nada se esconde dela. De algum modo, em algum tempo, os bens ou males feitos vão aparecer.
Sergipe quase acabou em dois momentos: a primeira vez, em 1656, quando o lawfare campeou à solta, quebrando o iniciante vigor da pecuária, com prisões e confiscos arbitrários; a segundas, em 1855, por ocasião da primeira e grande epidemia de cólera; hiper subnotificada, e cujos números terríveis aparecem depois nos raros censos - feito pelas paróquias, já que os párocos tinham todo o controle social - do pós-epidemia em comparação com os anteriores a 1855.
Nos tempos modernos, depois que o IBGE pôs alguma ordem, em 1940 (até nisso a República Velha foi uma desgraça) temos tido alguns momentos de crescimento da população sergipana, no mínimo, assimétrico; quando não quase todo ele em queda geral, como no Censo que ora está para fechar.
Desde 1960, o crescimento municipal superaquecido ficava com Aracaju; que concentrou mais da metade da classe média do estado, mesmo só representando um quarto de toda a população dele; e, obviamente sendo a principal atração para todas as classes socioeconômicas. Dessa vez, parece que nem a capital escapou da queda. Como alívio, as outras três cidades da zona metropolitana cresceram o suficiente para minimizar a queda da expectativa da capital.
Dos 75 municípios do estado, apenas Itabaiana e Nossa Senhora da Glória, no interior, cresceram além do crescimento vegetativo, natural, ou seja acima do montante censo anterior mais nascidos no período, descontados os falecimentos, claro. Os outros três foram justos os da zona metropolitana de Aracaju: Barra dos Coqueiros, disparado; Nossa Senhora do Socorro, ainda acentuado e São Cristóvão, em níveis mais moderados.
Nos outros 70 municípios, tivemos Aracaju, puxando a queda com os estratosféricos de 57 mil pessoas a menos; sem diminuir do que tinha em 2010. Como Aracaju, outros 38 municípios que sequer seguraram os que nasceram. Mas ainda cresceram.
Porém o pior foi com os 31 que tiveram menos população em 2022 que em 2010, municípios ricos, como Laranjeiras; ou não pobres como Propriá.
Falta de boas expectativas econômicas é o que tem empurrado os sergipanos, desde 30 anos, pelos menos, quando se começou ter estatísticas confiáveis, para fora do estado, uma razão de dez por cento de todos os nascidos em cada década. Acredita-se que pela lentidão do crescimento vegetativo apurado isso vem de bem antes; no mínimo um século. Mas agora temos a ferramenta como provar isso.
E, só se vai embora de onde nasceu por falta de esperança de que o lugar melhore um dia.
Continuamos com os jogos dos coronéis do açúcar e dos currais do século XIX: de nariz empinado, com raras olhadelas no próprio umbigo; sem projeto de estado, sem pensar o futuro. Sem políticas de Estado que aproveitem o potencial do povo para fazer crescer todo o estado.