sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

FIAT LUX! 103 anos de energia elétrica

Há 103 anos um jovem de hábitos refinados, ousado, sonhador e alvissareiro, em busca de modernidade concluía seu intento ao migrar a velha máquina a vapor, da beneficiadora de algodão do rico tio Manoel Vieira Neto, na hoje esquina da travessa com seu nome e o Largo Santo Antônio, para uma geradora de energia elétrica.
A princípio, o interesse do jovem José Mesquita da Silveira foi mais de funcionar outra ousadíssima aquisição: uma lanterna mágica, como ainda era assim conhecido o projetor de filmes, o cinema; contudo pensava-se também em substituir as ineficientes, trabalhosas e quase sempre falhas lanternas a querosene. Mas o projeto empacou na visão curtíssima da administração pública; como sempre, de olho apenas na próxima eleição e seus meios suspeitos de conseguir êxito.
A usina elétrica funcionaria no estilo vagalume por algum tempo até que parou de vez por falta de cumprimento de pagamento pela municipalidade. Lembrando que a princípio o serviço era somente para iluminação das vias públicas. E nem todas eram agraciadas. Nos escapa a informação se o trecho que ganhou o apelido de “Canto Escuro” é dessa época. O mesmo é formado pelo cotovelo com início da Rua Marechal Deodoro, onde morou Antônio Conselheiro em sua estada em Itabaiana e anos mais tarde nasceu José Gumercindo de Oliveira, ora em processo de beatificação pelo Vaticano, mais o trecho da Floriano Peixoto e Largo José de Hermoje (oitão do CTP).
Em 1925, depois de muito enchimento de saco faltou paciência ao general João Pereira de Oliveira, então chefe da polícia sergipana e ele invadiu a casa do coronel Sebrão e de lá retirou o cofre da Prefeitura devolvendo o controle ao prefeito, seu irmão, promotor Antônio Augustinho de Oliveira que entregou Prefeitura a seguir ao novo eleito, José dos Santos Queiroz que acabou de regularizar as contas municipais, incluindo as dívidas com a Empresa Elétrica de Itabaiana Ltda., fornecedora de energia, parada por falta de pagamento. A iluminação continuaria precária até que em 1935 a velha máquina vapor foi substituída por um motor a diesel e, em 1934 por um potente motor Caterpillar. Em 1955, Zeca Mesquita aposentou o velho motor e passou a distribuir a energia vinda da recém-inaugurada Usina de Paulo Afonso.
Parabéns para nós, itabaianenses, por mais essa data memorável.

Obs.: O cargo de prefeito de Itabaiana, desde a Proclamação da República até 1935 era chamado de intendente; e a prefeitura de intendência.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

POLUIÇÃO

 

Nuvem de fuligem por sobre a cidade de Itabaiana, em 26 de dezembro de 2015; e detalhe da minha garagem hoje pela manhã, 23 de fevereiro de 2022.
Desde que o primeiro engenho de açucar foi instalado entre os vales do rios Sergipe, Cotinguiba, Poxim ou Vaza-Barris lá pelo início do século XVIII tem sido assim: entre os meses de setembro e março com a moagem da cana de vento em popa e os verões secos, mesmo que com trovoadas ocasionais, o fogo é usado para “limpar” os canaviais. E a fuligem sobra para o interior da serrania que constitui o Domo da Itabaiana. E, claro, a cidade de Itabaiana.
A queima serve para facilitar a colheita e controlar possíveis focos de pragas. Apesar da origem tropical da cana de açúcar – o subcontinente indiano e a Indochina – porém foi mais uma planta introduzida na América pelos portugueses, naturalmente sem as devidas adaptações genéticas de milhões de anos em sua terra original. Logo, sujeita a novas e incontroláveis pragas. O fogo tem resolvido isso. Tem também a crendice antiga, portanto cultural de que o açúcar mais se concentra no colmo da gramínea (como o bambu, a taboca e a taquara, a cana também e uma gramínea) com a queima.
O fato é que hoje amanheci encarvoado. A queima de algum canavial serras abaixo, uma vez mais nos deu o indigesto presente; e, como costumo dormir no verão com janelas abertas, deve ter por ela entrado, depositando-se em mim, que, alguma coçadinha durante o sono me deixou um índio preparado para a guerra, com a testa pintada de preto.
E pela manhã, mais uma vez a casa emporcalhada de cinzas dos canaviais.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

UMA DATA MEMORÁVEL

 

Das querelas políticas do Império Romano, uma, em especial, entre os civilistas imperiais de Gaius Otavianus e militaristas de Iulius Gaius Caesar sobrou para os bissextinos nascidos a 29 de fevereiro: só de quatro em quatro anos são levados a comemorar seus aniversários no “dia certo”, devido a tunga de um dia de fevereiro para acrescentar ao “mês do divino Augustulus” ou mês de agosto. O princípio vale para tudo; inclusive para emissoras de rádio. Para a Rádio FM Itabaiana, que completará 30 anos no último deste fevereiro, que neste ano será dia 28, segunda-feira.
Em fins de 1991 fui convidado pelo colega radialista e amigo, mestre e uma lenda do rádio sergipano, João Batista Santana, para aquela que seria minha última aventura no rádio.
A equipe se baseava num núcleo já de boa experiência, onde João era a estrela maior. Ao contrário das duas experiências anteriores na cidade, a FM Itabaiana já nasceu com a cara da maturidade profissional, recheada de recursos técnicos e um excelente time para os operar.
Havia cinco anos que a mídia eletrônica, o CD tinha suplantado o vinil e a fita cassete. Os computadores ficavam cada vez mais robustos e já se falava na massificação da internet, algo ainda distante diante da obsoleta tecnologia analógica de transmissão de dados via telefonia fixa. O Windows 3.0 acabava de dar uma virada na história dos computadores pessoais; porém, ainda uma ideia distante, eu não tinha a dimensão do quanto o chão tremia sob os meus pés; nem que minha atividade precípua, qual seja a de programador musical havia acabado.
O mundo se tornava cada vez mais rápido; as músicas agora estavam sendo editadas e reeditadas em formato digital e cinco anos depois, a popularização do computador pessoal, e da gravadora particular de CD promoveria uma revolução acabando o relativo monopólio de escolhas e condução da sociedade frente a musicalidade; democratizando-a, ao mesmo tempo derrubando a qualidade e, por fim, com a tecnologia do mp3, popularizada no finzinho do século com a entrada em 1999 do Napster, à pirataria geral e irrestrita, com consequente quebra das grandes gravadoras. Foi o fim do jogo. Dez anos depois o sistema criado desde que o primeiro vinil foi prensado tinha ruído, evaporado, e isso afetava diretamente as emissoras de rádio, canal por excelência de popularização da comunicação de massa; no modo como passaram a operar. E minha profissão-base no rádio caiu na total obsolescência.
Também não houve como expor a minha pouca criatividade na programação geral da emissora, para a qual verbalmente eu havia sido convidado. As minhas intervenções na área se limitaram a participar da escolha do reforço de pessoal na locução, e voto de minerva na escolha do excelente jogo de vinhetas encomendado pelo então dirigente máximo, José Carlos Machado. Para não ficar completamente de marajá passei a produzir um texto cultural de vinte segundos, soltos na programação, nos intervalos comerciais, e que desapareceria com a chegada da campanha política daquele ano, a partir de julho. Ao fim do ano me desliguei da emissora.
Terceira emissora de rádio a ir ao ar em Itabaiana, a Itabaiana FM chegou diferente das outras duas anteriores e da outra FM que foi ao ar um ano depois.
Também ligada à política – José Carlos Machado está na política desde a primeira administração João Alves Filho na Prefeitura de Aracaju – contudo, a FM Itabaiana não veio compromissada com o resultado imediato, mesmo sendo inaugurada em ano eleitoral municipal, e Machado firme partidário de então sainte prefeito Luciano Bispo e, abraçando, como o fez a candidatura que seria vitoriosa de João Alves dos Santos, o João de Zé Dona. É que além de Machado em pessoa ter outro estilo, menos direto, mais sutil, não havia a necessidade de centrar fogo pesado nos adversários. Modéstia à parte, fruto da minha intervenção junto a Luciano Bispo, intermediada pelo saudoso José Américo Teixeira Lobo, aquele tinha virado o jogo em 1989, ao levar Gilmar Carvalho, hoje seu colega na Assembleia Legislativa para a novíssima Rádio Educadora de Frei Paulo, com óbvia penetração em Itabaiana, retirando-o da então ferozmente opositora Capital do Agreste e tornando-o aliado. Machado tinha, portanto, folga para impor qualidade total em sua emissora sem perda do viés político. E assim foi feito.
Foram tempos de acentuadas transformações no município. Fruto dos últimos suspiros do Nacional-Desenvolvimentismo que começaria a morrer em meados da década, estava a se colher safras e mais safras de hortaliças nos perímetros irrigados; a já centenária indústria cerâmica estava dando mais um salto com a transformação das simples olarias em imensas fábricas da blocos, melhoria geral na infraestrutura, a Constituição de 1988 redistribuiu o bolo, levando a Prefeitura a mais poder de investimento e até o Estado.
A Rádio FM Itabaiana simboliza a consolidação de transformações que ocorridas em Itabaiana na década de 1980 e com repercussões até os dias de hoje.
E eu também estive lá no seu nascimento.
Meus parabéns à jovem senhora!
Que venham outros 30 e mais.

(Também publicado no portal 93 Notícias)