sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

NOITE ILUSTRADA(*)

 

Na próxima sexta-feira, 03 de fevereiro, a Academia Itabaianense de Letras realiza a primeira das suas reuniões solenes anuais, que, como sempre terá lugar no plenário da Câmara Municipal de Itabaiana, esta, em funcionamento desde o Decreto de 20 de outubro de 1697.
Tratar-se-á da comemoração do décimo ano de existência da Academia, que coincide com o centenário da ilustre serrana, Maria Thétis Nunes, patronesse da cadeira de número 27, modestamente ocupado por esse humilde escriba, usuário da magnífica invenção dos analfabetos cananeus liderados por Khebdeb na mina egípcia de Serabit Al-Khadim: o alfabeto.
Para falar sobre o gigantismo da grande itabaianense, “Sergipana do Século XX”, no ano em completa 100 anos que nasceu na Rua do Cisco, hoje 13 de maio teremos a grata satisfação da presença de outra lenda na historiografia sergipana, ex-aluna, amiga e única biógrafa da professora Thetis Nunes: a professora Maria Neli dos Santos.

Dois agentes culturais serão homenageados: João Fernandes de Araújo - João de Holanda (outrora distribuidor de revistas) - e o professor Taurino Duarte, maior divulgador atual de nossa literatura.

Parte do ritual de nossas solenidades, na noite da sexta também prestaremos três homenagens em forma de Moção de Reconhecimento: à sobredita professora Neli dos Santos, palestrante da noite, que aqui dispensa maiores apresentações; ao antigo distribuidor de revistas e jornais, João Fernandes de Araújo – o popular João de Holanda; e ao professor José Taurino Duarte, ativista e grande divulgador cultural a quem muito devemos parte do sucesso literário de vários acadêmicos.

Agente cultural involuntário.

João de Holanda foi distribuidor de revistas, como tantos outros até pouco tempo atrás; porém, João inovou.
Numa cidade cheia garotos estudantes, boa parte deles deslumbrados com as letras e o conhecimento, além das matérias escolares; e, na década de 1970, a maioria de pobres lutadores, em busca de um futuro melhor pelo conhecimento; e ao mesmo tempo sem disponibilidade de material impresso, seja livros, em revistas, jornais, gibis, João enxergou nisso uma boa oportunidade de ganhar mais uns trocados e ao mesmo tempo prestar um valioso serviço ao vender revistas gerais e gibis... sem capa. Mas... o que interessa uma capa a quem busca, sobretudo conteúdo, né?
Para garotos como eu, sem mesada, e naturalmente sem emprego, os parcos centavos adquiridos passaram, em parte, a ter destino certo: a banca de João de Holanda, no Largo Santo Antônio, a vender jornais antigos a quilo, para embrulho; mas também cobiçadíssimas revistas de Tio Patinhas, Recruta Zero e uma infinidade de outras de mesmo gênero e até de fotonovelas e magazines, em geral, como a Manchete e, enquanto houve, O Cruzeiro. Pessoalmente houve uma fase, ainda residindo na zona rural, em que eu ansiava chegar os sábados e vir para a feira, e retornar com dois e até dez títulos. Claro, como se tratava de material “reciclado”, nem sempre havia os títulos ansiados.
Uma justa homenagem.

Farol cultural serrano.

Conheci José Taurino Duarte em 1976, montador de móveis na antiga movelaria da rede SOCIC, no Largo Santo Antônio. Desde então a amizade evoluiu como colegas ginasiais no Colégio Estadual Murilo Braga; e na fundação e presidência de diretório municipal partidário em 1981 (eu de presidente; ele, meu fiel vice), enfim, ao seu ativismo sociocultural extra estudantil, desde a promoção do Movimento Pro-Serra, de 1991 (que deu no Parque Nacional da Serra de Itabaiana) à sua atuação como vendedor-divulgador cultural da atualidade.
Taurino nunca foi de confrontar; mas jamais perdeu a oportunidade de enfrentar dificuldades; naquelas causas que só gente de mente aguçada e farta dose de teimosia consegue enxergar chances de sucessos e evolução.
A geração atual de escritores sergipanos, das últimas três décadas a ele deve parte do seu sucesso, especialmente os literatos serranos.
Particularmente, metade do meu sucesso como historiador, não formado, devo ao formado, bacharel em História pela Universidade Federal de Sergipe, José Taurino Duarte e seu poder de divulgação. Levou-me, literalmente ao Palácio; e onde eu mais desejava chegar: à periferia.
É também uma homenagem acertadíssima da Arcádia serrana.

(*)O título deste artiguete é tomado emprestado à antiga revista carioca, que muito marcou a sociedade itabaianense, inclusive a então garota Maria Thétis Nunes. E também por se tratar de uma noite magna, cheia de personagens ilustres.