domingo, 17 de fevereiro de 2019

FALTOU CARNE EM ITABAIANA


420 anos cravados, depois dos primeiros bois e vacas mugirem neste vale das serras que tupinambás conheciam como Itabayone, o “lugar do povo de onde vem as águas ou rios”... faltou carne verde nos açougues municipais, ou, os dois mercados públicos que distribuem o produto, um deles exclusivo para carne de boi.
Herança da fartura medieval da Ibéria moura, estável, progressista, sofisticada, enquanto no resto da Europa reinava a pobreza e até a miséria absoluta, tão logo aportaram os primeiros colonizadores no Brasil que Martim Afonso de Souza apresentou os primeiros espécimes em São Vicente, para a produção de leite, carne e couro, de importância muito maior na época que atualmente.
Mas não houve desenvolvimento da pecuária no futuro estado de São Paulo. A riqueza estava no Nordeste, atrelada à logística colonial e mercantilista portuguesa, que tinha na Salvador, fundada em 1549, o ponto de apoio às suas enormes esquadras rumo à Índia e China, em uso pleno das correntes marítimas que, em seu efeito coriólis descrevem um arco anti-horário no Atlântico Sul, com ponto de viragem para leste, em direção ao extremo sul africano, a partir da costa baiana. O Recôncavo baiano, pois, tornou-se o embrião da pecuária.
Ocorre que, além do gado ser “a rês”, o bem móvel de maior valia, e poder ser sequestrado por qualquer pirata marinho em assalto, 40 anos depois da fundação de Salvador, Sergipe foi conquistado, propiciando mais terras com relativa proximidade do mar, campos naturais e, principalmente, um curral natural, “a Itabaiana”, circulo de serras residuais de origem vulcânica, de média e baixa pluviosidade e cobertura vegetal de cerrado. E a Itabaiana tornou-se no grande curral e assim se manteve, até a invasão holandesa, abastecendo Salvador e Olinda de carne e força motriz nos engenhos e do transporte terrestre de curta distância, e o mercado de embalagens de fumo e abastecimento de centenas de milhares de metros de cordas para as também numerosíssimas velas da esquadra mercantil portuguesa. Essa situação durou todo o período áureo da consolidação colonial portuguesa porque coincide com o aporte de milhares de judeus batizados, cristãos-novos, e até sem ter o batismo, o fim dessa fase que termina com a invasão holandesa. A efetivação da colônia.
Após a invasão holandesa, e por causa dessa, e o dispersar da pecuária pelos sertões, a Itabaiana – a região – manteve-se na tradição pecuarista, mas viu extinta sua importância como centro distribuidor quase único de gado. Em 1865 abatia-se 65 reses por feira, ficando atrás no estado apenas da máquina de progresso e riqueza que então era Propriá, e bem à frente da nova capital, Aracaju, com quase metade.
Fruto dessa cultura pecuarista e da abastança dela, o município sempre foi de altas taxas de natalidade, aliado, óbvio, a outra particularidade de Itabaiana: sua reforma agrária natural. A quase perfeita distribuição de terra.
Carne nunca faltou em Itabaiana; exceto ontem, 16 de fevereiro de 2019, 420 anos depois de Simão Dias Fontes ganhar sua sesmaria “para criar gado”, na região hoje da Cova da Onça, atualmente município de Moita Bonita. Daí por que é tão forte a chamada do post no Facebook – que uso aqui como título - do amigo, empresário Tony Almeida Santos, também colega cronista no extinto e efêmero jornal SerraShopping e na Revista Perfil. E porque faltou?
Há de tudo aí; até boas intenções. Mas vai ficando difícil convencer ao povo que não seja uma forçação de barra para pródiga colheita de Reais, mediante privatização forçada dos serviços, e engorda, como sempre, dos gatos gordos. A ficarem mais gordos.
O impossível aconteceu: FALTOU CARNE EM ITABAIANA.