quarta-feira, 5 de junho de 2019

EM BUSCA DAS RAÍZES

Cultura e fé revivendo a memória

Ruínas da primeira igreja, construída pelos curraleiros (pecuaristas arrendatários), na década de 1620, em montagem com a capela recém construída no povoado Igreja Velha, seis quilômetros a leste da cidade de Itabaiana-SE


Amanhã, 06 de outubro estarei presente à primeira novena de Santo Antônio, na novíssima capelinha de povoado Igreja Velha. De fato, uma noite de rezas, popularizada pelo seu nome coletivo, já que usualmente feita em grupo de nove noites seguidas. Neste caso, tratar-se-á de um tríduo, três noites, que antecede a caminhada-procissão peregrina no dia 9, domingo, pela manhã em direitura à Matriz de Santo Antônio e Almas, na cidade, obviamente, movimentação que será iniciada às 6hs com a Santa Missa, seguida da caminhada de dez quilômetros em memória da lenda do Santo Antônio fujão. Fé e cultura ao mesmo tempo.
Desenho por nós desenvolvido, a partir da descrição do padrão das capelas do início do século XVII, grafados em excelentes quadros de Frans Post, e pelo que resta das ruínas. E cartaz da festa, propriamente dito.

A caminhada, que já será na sua segunda edição – a primeira foi no dia do santo, no ano passado – é uma iniciativa da Associação Sergipana de Peregrinos, com indispensável contribuição da Arquidiocese de Aracaju, a quem as paróquias católicas de Itabaiana pertencem.
O tríduo de Santo Antônio, na Igreja Velha é uma iniciativa da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, a quem está ligada a capela, recém construída, à sombra das ruínas de um dos mais antigos templos do Brasil, em que pese o seu jamais reconhecimento oficial, e por isso um dos estopins da primeira rebelião popular que temos registro em terras brasileiras, a Rebelião dos Curraleiros, que explodiu em 5 de novembro de 1656, com invasão de São Cristóvão, então capital pela vaqueirama revoltada.
Amanhã, o celebrante será o Padre Bosco Lima.

Eis a programação:
DIA 06/06 (QUINTA-FEIRA) ÀS 19:30
Tema: "Vocação e Discernimento para a Missão”
Homenageados: As Crianças
Celebrante: Pe. Bosco Lima.

DIA 07/06 (SEXTA-FEIRA) ÀS 19:30
Tema: Juventude e Missão
Homenageados: A Juventude
Celebrante: Pe. Edivaldo

DIA 08/06 (SEXTA-FEIRA) ÀS 19:30
Tema: "O discípulo de Cristo e a Vocação e a Santidade".
Homenageados: Os casais
Celebrante: Pe. Josivaldo.


DIA FESTIVO
DIA 09/06 (DOMINGO)
Às 06h - Missa em honra a Santo Antônio o "Fujão".
Às 07h – Peregrinação para a Matriz de Santo Antônio e Almas
Às 16h - Procissão, Missa, Consagração e bênção final.
Celebrante: Pe. Edivaldo Santana
Peregrinos na 1ª Caminhada do ano passado, 2018.

domingo, 2 de junho de 2019

PELAS RUAS QUE ANDEI


Estrada Real de São Cristóvão, depois Itaporanga: Rua Itaporanga

Peço licença ao grande Alceu Valença pelo uso desse título, também de uma bela homenagem sua, que faz à capital pernambucana; mas, cá entre nós era uma vez as ruas do Cacete Armado, do Fato e da Brasília, em nossa urbe de Santo Antônio da Itabaiana.
O asfaltamento, por parte da Prefeitura, ocorrido nesta semana que se estendeu às supracitadas artérias se reveste de certo simbolismo: todo o Centro da cidade de Itabaiana está asfaltado.

 

Itabaiana tradicional

Rua Manoel Antônio de Oliveira (Rua da Brasília)
Consoante as fotografias do início do século, por volta de 1920 só havia uma rua pavimentada a pedra rústica na cidade: a Rua 13 de Maio, então ainda mais conhecida como Beco do Cisco, e uma das travessas de acesso desta à Praça Fausto Cardoso, a Travessa Manoel Andrade. Só.
Nos anos 30 do século passado, o advento da primeira estrada de rodagem (rodovia) para Laranjeiras, não só acabou de matar a então tricentenária Estrada Real de São Cristóvão, como começou a rápida perda de importância da estrada dos tropeiros para Laranjeiras, de fato, até aí a mais importante para a cidade. Em 1969, o recém fundado Rotary Club de Itabaiana preferiu ficar alojado num edifício precário as suas margens, hoje sua sede, que usar um terreno espaçoso para esta, onde está funcionando a Secretaria Municipal de Obras. Ainda hoje continua no mesmo endereço que é a Rua Coronel Sebrão. A rodovia também forçou o crescimento da cidade para o sul.
A Rua da Tenda foi alargada e virou Praça Pinheiro Machado, ainda em meados dos anos 20 do século passado, e que, com a queda da República Velha trocou de nome para João Pessoa, nome com que está denominada até hoje, e obrigando ao seu prolongamento, com a chegada da rodovia, denominado Rua General Calazans; ao fim desta surgiu o Hospital Dr. Rodrigues Dória, que fez nascer a Praça da Bandeira, hoje a rótula da Avenida Airton Teles; e, finalmente a construção de Colégio Estadual Murilo Braga, em 1949, fez surgir as ruas da Brasília e do Fato, pelo aumento da povoação às margens da Estrada Real de São Cristóvão, já então conhecida como apenas estrada de Itaporanga, nome com o qual esta parte do trecho urbano ficou oficializado.
Uma terceira saída, outrora para Salvador, Bahia, o beco que deu origem Rua Campo do Brito ganhou pejorativo nome de Rua do Ovo - em contraposição à Rua do Fato – e, devido à quantidade de prostíbulos existentes em seu prolongamento, em verdade um acesso para chegar à nova rodovia para Campo do Brito, veio o nome de Rua do Pinto. Com a evolução urbana e o moralismo dos anos 30, os cabarés foram obrigados a um deslocamento no mesmo acesso, e, 500 metros adiante surgiu a Rua do Cacete Armado, que chegou ao auge no início dos 50.
Rua Santa Cruz, início com muro à esquerda que sinaliza o local do ex-Cacete Armado

 

Ruas da Brasília, do Fato e do Cacete Armado.

A Rua do Cacete Armado foi denominada oficialmente em 1955 de Santa Cruz, uma contraposição ao nome chulo, de origem popular. Foi pavimentada a paralelepípedo no início dos anos 90.
A Rua de Brasília e a Rua do Fato são reconhecidas como respectivamente Rua Antônio Manoel de Oliveira e Travessa Itaporanga pela Código Municipal de Posturas, ou Lei 236, de 1962. Já quando à pavimentação, ocorre na década de 90, início e fim, respectivamente.
As denominações populares aqui usadas tem significado óbvio: Rua do ovo: onde só se comia ovo; rua do Fato, onde o cardápio era fato, miúdos, vísceras, mormente de boi; Beco do Cisco, onde em priscas eras se jogava o lixo, a “back street” dos ingleses; Rua do pinto e do Cacete Armado remetem maliciosamente ao objeto fálico; quase sempre explicado contraposição à Rua do Ovo e a local de brigas e confusões, respectivamente.
Todas três foram asfaltadas, no todo ou no que faltava, neste fim de semana. Completando o conjunto, a Prefeitura também cobriu de asfalto a ultra irregular pavimentação a paralelepípedo da sequência da Rua de Brasília, a Rua José Ferreira de Araújo.
Mais conforto e modernidade, mais um passo da marcha inexorável do progresso no aniquilamento das tradições.



Rua José Ferreira de Araújo, esq. com Av. Manoel Francisco Teles