domingo, 22 de abril de 2018

Mais uma comemoração fixa a cultura serrana: Santo Antônio fujão

Samarone explicando o simbolismo da pequena muda de quixabeira. À sua direita, o prefeito Valmir dos Santos Costa; e à esquerda, o secretário de Agricultura.

A lenda é conhecida, talvez desde que o padre Sebastião Pedroso de Gois teve que abrir mão das rendas, as esmolas provenientes dos criadores de gado de Itabaiana, e criar a Paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana, em 30 de outubro de 1675; circunstâncias que incluiu as andanças de D. Rodrigo de Castelo Branco atrás da já lendária mina de prata, e seu general, Jorge Soares de Macedo - e tropa - que trazia ordens expressas  do ainda príncipe regente, D. Pedro, depois D. Pedro II (em Portugal) também chamado o pacífico, de fundar uma cidade fortificada na região conhecida como Itabaiana, no caso de confirmação da mina. O padre, em briga contra os vaqueiros e sua primeira tentativa – a Igreja Velha – desde a década de 1620, teve que ceder, mesmo que a prata não tenha sido encontrada, e que a cidade tenha sofrido solução de continuidade.
O povo de Itabaiana queria a Igreja Velha; mas o Estado, representado pela Igreja, ou seja, pelo padre Sebastião Pedroso de Gois queria a Paróquia noutro lugar: seco, esturricado, aqui seria instalada a Irmandade das Almas, mola mestra da cidade de Itabaiana, até que essa viesse a ser tornar viável, quase dois séculos depois. E a igreja oficial. A outra, a Igreja Velha, nunca foi reconhecida; mesmo sendo uma construção robusta, que apesar de 250 anos de abandono e depredações, alguma coisa ainda resta de pé. A Matriz de Santo Antônio, só veio a ser construída em 1763, noventa anos depois.
Foi um ato de força de Estado a fixação da Paróquia na Caatinga de Ayres da Rocha; e, se era o Estado, através da Coroa e da Igreja, ninguém era doido contestar: seria executado pelo governo e maldito pela Igreja, sem direito a sonhar com o paraíso depois da forca. Mas, o Poder que tem juízo só usa a força bruta em ultimíssimo caso; algum padre criou A VONTADE DO SANTO, como forma de convencimento e aculturação. A imagem furtivamente fugia da Igreja Velha e vinha se postar na forquilha de uma quixabeira, ao lado da casa da fazendola dos herdeiros de Ayres do Rocha Peixoto, conhecida como caatinga. E, como era da vontade do santo, aqui foi instalada a Paróquia.

A REVITALIZAÇÃO DA LENDA

As ruínas da Igreja Velha, primeira tentativa de estabelecimento de uma paróquia e cidade. No detalhe, 250 anos de abandono não abalou a fé por inteiro.

A data de origem da lenda se perde no tempo, mas vem sendo cuidadosamente revitalizada por um grupo, pequeno, mas determinado, liderado pelo médico Antônio Samarone Santana, escritor, pesquisador, professor da UFS e acadêmico das academias de Medicina de Sergipe, e Academia Itabaianense de Letras, onde ocupa a cadeira número 1, que tem como patrono Alberto Carvalho, entre outras obras, compositor do hino da Associação Olímpica de Itabaiana.
No dia 19 do próximo passado mês de março, junto ao Secretário de Agricultura do Município de Itabaiana, Erotildes de Jesus, e do prefeito Valmir dos Santos Costa, Samarone começou a materializar a ideia com o plantio de uma muda de quixabeira, na Praça Fausto Cardoso, em gente à matriz de Santo Antônio. Mas não fica por aí.  Está agendada para o próximo 13 de junho, dia do santo padroeiro, uma caminhada desde a Igreja Velha até a sobredita quixabeira, distribuição de material informativo-educativo entre outros, doravante todos os anos na mesma data.
É o início de mais um evento cívico-cultural que a cidade estava a dever a seus filhos e outros interessados. Três séculos depois.
Que seja bem vindo!