quinta-feira, 24 de agosto de 2023

ECOS DA INFÂNCIA

 

Essa foi, com pequena mudança, a minha primeira visão da cidade de Itabaiana, aos três anos de idade; e a minha mais antiga lembrança em tudo. (Foto de 1944).
Eu vim com meu pai e minha mãe, acho que resolver algum problema de cartório. E, como não tivesse mais como voltar, por falta de transporte, para a Mangabeira, onde nasci e residia, já que anoitecendo, pernoitamos na casa de D. Izídia - a sem platibanda, entre a casa clara de esquina, hoje Barbosa Man, e a de Zezé de Benvenuto, a seguir. A então casa de D. Izídia era onde hoje é a casa de D. Deja.
Aí, eu escapuli pela porta da frente e a minha mãe só conseguiu me pegar no hoje oitão da Barbosa Man, junto a um monte de lenha.
Curioso é que por muitos anos fiquei confuso porque eu lembrava deste monte de lenha e não achava explicação para tal. Até descobri que a casa clara de esquina, ou seja a Barbosa Man, foi padaria. Com forno a lenha, claro.
Em 1963, a panificação tinha estado sob a direção de João Batista da Costa, o ex-vereador Joãozinho Veneno, e estava pra fechar as portas, e ser transformada na Movelaria São Paulo.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

E ASSIM NASCEU A MICARANA

 

 

Neste fim de semana o Município de Itabaiana promove mais uma Micarana. Micareme ou carnaval fora de época, a Micarana, festa criada em 1949, mas com essa marca, somente a partir de 1994. 

 

Perda de brilho

Há 14 anos que o festival popular entrou em modo vaga-lume, ou não foi realizado. Por um motivo óbvio: tornou-se uma festa esplendorosa, porém muito cara ao Município; mesmo com a tímida participação da iniciativa privada. Agora a atual administração a está trazendo de volta. Também o foi pela queda vertiginosa da onda da chamada “música baiana”. O festival enfrentou sérias contenções a partir de 2010 até ser completamente abandonado em 2014.


A civilidade de retorno.

A pá de cal, sofrida em 2014, além da descaracterização na tradição abrilina, trocada por agosto (sempre aconteceu no pós-Páscoa, desde 1949), foi finalmente a intervenção da Justiça que proibiu terminantemente sua realização na ainda hoje mais importante avenida da cidade: a Dr. Luiz Magalhães.
Desde seu reinício, em 1994, o festival teve como palco a principal avenida de Itabaiana.
Desde 1978, quando foi efetivamente aberta como a principal entrada da cidade (ainda acabava no Conjunto João Pereira) que a avenida passou a ser a vitrine principal para tudo. Maternidade (construída antes da avenida), Aruanda Club (extinto), Atlética, INSS, Correios, AABB, Terminal Rodoviário (inativo), Ministério Público (estadual e federal), Fórum estadual, Hospital, CDL e até a tricentária Câmara Municipal de Itabaiana mudou para lá.
Ocorre que em 1959, como já dito, quando era apenas um projeto foi construída em seus limites a Maternidade São José, que veio a ser recentemente o local de registro do primeiro milagre que iniciou o processo de canonização de Santa Dulce. E, em 1980, houve a transferência do Hospital REGIONAL (não somente de Itabaiana), hoje Dr. Pedro Garcia Moreno Filho. As duas principais casas de saúde de 16 municípios que, além do próprio de Itabaiana, todos dele derivados. E ainda dois ou três nos limites da Bahia com Sergipe.
E à medida que os anos se iam sucedendo, os decibéis iam se tornando insuportáveis. Não há registros de nenhuma gravidade decorrente, ocorrida nas duas casas de saúde; porém não faltaram reclamações e manifestações de horror diante daquela loucura.
Em 2014, finalmente, a justiça acordou e proibiu tais manifestações na Avenida Dr. Luiz Magalhães.
Este ano, depois de nove anos de proibição na Avenida, resfriados pela pandemia da Covid, a festa volta a ocorrer, porém em outro local, na Avenida Manoel Cosme dos Santos/José Aélio de Oliveira(Foca de Anizio), no Bairro Marianga.(*)
Na programação, vários medalhões das super micaranas, dos anos 90 à primeira década do século, três deles do comecinho, da década de 90: os antológicos Bel Marques (ex-Chiclete); Durval Lélis (Asa de Águia), e a diva Márcia Freire. Entre eles, também Juninho Porradão, Xandy e ceboleira adotiva, Cláudia Leite. Plantel muito bom, com canja para outros gostos como Alma Gêmea e Tarcísio do Acordeon, Swing do Jordan e Banda Pagodand. O pessoal de animadíssimo Grupo Alerta (católico) vai estar presente com João Victor.
Que seja uma bela festa!


O começo de tudo.

Diretoria fundadora da Atlética: Dr. Gileno Almeida Costa (foto maior); Wilson Noronha (filho do Deputado Esperidião Noronha, sombreado, lado); Tenysson Oliveira. No Conselho Fiscal só pesos pesados: Juiz de Direito, Dr. Luiz Magalhães; deputados Sílvio Teixeira e Manoel Francisco Teles;Prefeito José Jason Correia; Edson Leal Menezes; e Euclides Paes Mendonça.

Em 1945 a cidade de Itabaiana era um lugar triste.
Exceto a Festa do Mastro só tem registro das inúmeras celebrações religiosas católicas. Festas afro, como em todo o Brasil, quando acaso havia, eram tratadas a chicote e cadeia. Qualquer batucada, “samba”, origem popular era, quando não tolhida, vigiada. Sem meias palavras, rotulada e havida coisa de marginal. Fazia-se vistas grossas, quando parte das campanhas políticas, mormente na zona rural.
Mas em 1948 tomou posse o primeiro prefeito eleito depois da Ditadura do Estado Novo.
E, aproveitando o clima, o grande empreendedor da época, Dr. Gileno Almeida Costa, reuniu parte da pequena nata da sociedade itabaianense e fundou, na Rua 13 de Maio (antigo Beco do Cisco), em salão alugado a Associação Atlética de Itabaiana.
Fundador do Hospital Regional Dr. Rodrigues Dória, no subúrbio da cidade, hoje garagem da Associação dos Universitários, cujo se transferiu em 1980 como citado acima, e mudou de nome, Dr. Gileno Costa aqui chegou jovem, por volta de 1933, e juntou gente suficiente para pleitear recursos e construir o Hospital em 1936, que, no entanto começou a funcionar dez anos depois. Assim mesmo se mantendo no estilo vaga-lume até o Governo Marcelo Deda, a partir de 2007.
Em 1948, Dr. Gileno Costa liderou mais um empreendimento: a Associação Atlética de Itabaiana que congregou a nata social da cidade até início dos anos 80, quando, com fim das sociedades fechadas se popularizou.

A Micareme
Acima, Bloco Lobos do Mar, trazendo na primeira fila, em frente, na ponta esquerda da D. Marlene Costa (in memoriam), e na ponta direita, seu futuro esposo, Francisco Tavares da Costa, FEFI, em 1961. E embaixo o Bloco Margem da Serra, segundo informações, de 1959. Dos demais não temos nenhum fotograma.


Em 17 de abril 1949, conforme testemunho de Hênio Araújo (in memoriam) se comemorou o primeiro ano de fundação da Associação Atlética de Itabaiana com uma singela micareme. Estava dado aí o pontapé para a enorme festa, que chegou a desbancar, já em 1997, o público da até então maior concentração popular de Itabaiana, ou seja, a Procissão de Santo Antônio.
A Micareme foi realizada regularmente todos os anos, de 1949 e 1963. Neste ano, com o assassinato duplo de Euclides Paes Mendonça e seu filho, Antônio de Oliveira Mendonça em 8 de agosto, a cidade toda ficou em torpor, acabando com muito coisa, a Micareme, inclusive.

Um papo informal entre o então secretário da pasta da municipal do Lazer, Paulo de Mendonça e o ex-secretário de Municipal de Governo, José Elson da Silva Melo (in memoriam), cuja infância foi contemporânea às Micaremes, e naturalmente saudoso dela, levou a ideia da retomada à estão administração João Alves dos Santos (João de Zé de Dona), que a ressuscitou em 1994. Timidamente. Em 1997, segunda administração Luciano Bispo, veio a grande catarse da festa que, de um lado mostrou o vigor serrano; por outro lhe esvaziou os cofres, e nunca conseguiu ser transferida para a iniciativa privada. Ou seja, dar efetivamente lucro.

Acima, os ex-secretários municipais Paulo de Mendonça e José Elson da Silva Melo (in memoriam), responsáveis pelo renascimento da micareta.
 

Um papo informal entre o então secretário da pasta da municipal do Lazer, Paulo de Mendonça e o ex-secretário de Municipal de Governo, José Elson da Silva Melo (in memoriam), cuja infância foi contemporânea às Micaremes, e naturalmente saudoso dela, levou a ideia da retomada à estão administração João Alves dos Santos (João de Zé de Dona), que a ressuscitou em 1994. Timidamente. Em 1997, segunda administração Luciano Bispo, veio a grande catarse da festa que, de um lado mostrou o vigor serrano; por outro lhe esvaziou os cofres, e nunca conseguiu ser transferida para a iniciativa privada. Ou seja, dar efetivamente lucro.

 

(*) Correção no texto, originalmente: "na Avenida João Pereira de Andrade, que percorre os dois bairros, Anízio Amâncio de Oliveira e Marianga."


domingo, 20 de agosto de 2023

A FORÇA DAS PALAVRAS MÁGICAS.

 

Na última sexta-feira, 18, houve o lançamento oficial da Lei Paulo Gustavo pelo Município de Itabaiana, replicando o previsto em âmbito nacional e estadual.
A Lei destina recursos federais aos entes culturais de todo o país, pesando mais a mão no quesito audiovisual, com cerca de um terço dos recursos para todo o mais.
Convenhamos: mesmo para quem faz cultura em modo completamente amador, por diversão, a priori é uma ninharia; especialmente no caso do destinado ao município (área), através do Município de Itabaiana, ou seja, seu Poder Executivo, via Secretaria Municipal de Cultura. Contudo, vem de graça; é ajuda (e não contrato salarial) e é indispensável. E inédito. Essas coisas, quando ocorreram, em geral ficaram restritas à capital.
Vai começar para valer, com o Município já de olho em outra – a Aldir Blanc – centrada no universo musical, já na biqueira para acontecer.
Porém duas palavras mágicas – ao menos aos ouvidos mais refinados – foram ditas durante o evento. Trata-se do Teatro Municipal, de projeto já rascunhado e assumido pela Administração Ailton Souza e seu grupo político; e uma Oficina de Arte.


Os livros de Tombo da Câmara Municipal de Itabaiana, na Lei Orçamentária Municipal de 1906 – há 117 anos – aponta que na administração de João Rodrigues Pereira, turbinada pelas rendas da nova Feira Livre do Mercado dos Cabaús, no hoje Largo Santo Antônio também lançava a previsão de taxas a serem cobradas no uso do Teatro Municipal, que ficava localizado onde depois foi a residência do líder político, Francisco Teles de Mendonça – Chico de Miguel – na esquina das ruas, do Futuro (Rua Tobias Barreto) com a Vitória (General Siqueira). O teatro já é relatado em 1902, por Laudelino Freire, em sua Chorographia de Sergipe, relativo à cidade de Itabaiana.
A casa de espetáculos - o teatro - parece ter morrido com as confusões partidárias entre cabaús e pebas (partidos, liberal e conservador), entre 1910 e 1920. Porém, há indícios de ter sido a primeira sala de cinema, motivo do jovem impetuoso e adventista (nada a ver com religião), visionário mesmo, José Mesquita da Silveira, ter convencido seu tio Manoel Vieira a converter a velha máquina a vapor de descaroçar algodão em usina elétrica em 1919.
A “lanterna mágica” – projetor – só funcionava a energia elétrica.


A firme promessa da Administração Municipal de Adailton Rezende de Souza, reforçada por seus apoios, no estado e no plano federal, através dos deputados Marcos Oliveira e o jovem Ícaro de Valmir, amalgamado pela liderança maior de Valmir dos Santos Costa e dos trabalhos técnicos do seu secretário de Cultura, Antônio Samarone acende a fé que vamos voltar a ter teatro, cem anos depois dele ter desaparecido entre nós.
Já a Oficina de Arte é urgentemente necessária, não somente como unidade produtora compartilhada, mas como referência na comercialização ou pelo menos exposição permanente de cada artista. Nessa destinação pensei na destinação pensei o velho "Vapor de Joãozinho Tavares" - último símbolo da fantástica era do algodão e da criação da nossa feira livre - antes que fosse reduzido em meia hora a escombros... com a ajuda de gente menos improvável.
A saraivada que brotou nestas últimas três décadas de desenhistas, pintores, escultores, em fim de artesãos em geral não é coisa que se dê ao luxo de jogar fora.
A Oficina será uma marcante forma de profissionalizar o artista.
Referências são indispensáveis ao desenvolvimento humano. Ao gerar um norte para as mentes criativas serranas, cria-se expectativas positivas; esperanças; arrojo que vão desaguar em criatividade e sucesso mais à frente.
Que venha a velha, porém sempre renovada, magia da Cultura.