quarta-feira, 30 de novembro de 2022

REALIDADE DO RIO REAL

 

Em cima: Recorte de mapa: Brasil - Nova e acuratta brasiliae totius tabula por_Ioanne Blaeu,1689.
Embaixo: cenas de vídeo captado em rede social, sobre a inundação de Tobias Barreto-SE

Ele já foi considerado maior do que o São Francisco – assim entendeu Waldseenmüller no primeiro mapa a registrar o continente americano e, como também foi depois do seminário da Universidade de Salamanca, Espanha, que, ao confirmar que o novo continente descoberto era totalmente desconhecido determinou que seu nome seria América; e não Colômbia ou outro, como sugerido. Assim o mapa Cosmografia Universal registra o novo continente e o denomina de América.
Depois de descoberto o engano, para não chocar o nome pomposo de Rio Real - porque em honra a D. Manuel - em primeiro grafou-se como sendo um braço menor do São Francisco, tornando Sergipe um delta, o São Francisco um Nilo do Brasil. Quanto a essa intuição, não foram inexatos; ao contrário. Mas que o Real, antes mesmo de meados do século XVII já se sabia um rio de médio curso e seco; e não um caudaloso braço do São Francisco.
Mas o Real, como os demais rios do semiárido nordestino tem seus raros dias de caudal. O exemplo, com as chuvas que caem torrencialmente em Sergipe e Bahia desde anteontem o rio encheu pra valer, saindo muito além do seu leito resumido e usual, e alagando centenas de metros além.
Um exemplo chocante foi a invasão da velha Nossa Senhora dos Campos do Rio Real de Cima, hoje somente conhecida por Tobias Barreto.
Tobias Barreto tem origem remota na passagem de missões jesuítas dos séculos XVI a XVIII e das primeiras boiadas a abastecer o Recôncavo baiano do início do século XVII, provenientes de Itabaiana; nela desenvolveu aglomerado urbano, imprudentemente muito plano e próximo ao rio e com a agravante de também ser na confluência de outro menor, mas não menos preocupante, o Jabiberi, com nascimento nas terras outrora pertencentes a Melchior Dias Moreia, o lendário entradista da prata de Itabaiana.
Resultado, com a inundação presente, uma imagem deprimente com centenas de famílias sofrendo prejuízos de toda sorte. Nossos votos para que o aguaceiro não mais retorne; mas que é preciso prevenir, está claro.
O rio é usualmente seco; mas tem uma bacia relativamente extensa, estendendo-se desde Cícero Dantas até a Praia do Saco, o que, quando sujeito a chuvas torrenciais sai provocando alagamento onde quer que passe. Tobias Barreto está quase na metade desse curso e é uma das únicas formações urbanas do lado sergipano completamente exposta à sua correnteza. Com o agravante que Indiaroba – a outra – já está localizada na região de marés, com rio muito mais largo, e prudentemente mais alto.
E, o Real pode não ser aquele rio caudaloso, como pensado por Américo Vespúcio em 20 de outubro de 1501; mas de vez em quando ele cobra espaço.


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A GRATIDÃO É A VIRTUDE DAS ALMAS NOBRES

 

“E graças a esses feitos, de homens que têm valor”

Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira, In Paulo Afonso


Na noite da última sexta-feira, 25 foi realizada no plenário da trissecular Câmara Municipal de Itabaiana mais uma sessão solene da Academia Itabaianense de Letras, que, como de praxe, ali vem ocorrendo nos últimos nove anos de funcionamento do supracitado sodalício.
A sessão da sexta retomou uma tradição que vem se firmando pela Academia, a de anualmente outorgar uma comenda, sua homenagem maior, a Comenda Potestas Montis (O Poder da Serra), a uma celebridade itabaianense viva, em reconhecimento ao trabalho pelo engrandecimento da sociedade serrana, que esse ano, por votação maciça dos seus membros recaiu em José Queiroz da Costa.
Listar o trabalho de José Queiroz da Costa relativo a Itabaiana é um pouco complicado tal a sua folha de serviços ao longo de seus 86 anos de vida, porém, resumindo, foi uma breve e sucinta homenagem aquele a quem todas as homenagens prestadas sempre deixarão a sensação de que esteve aquém do homenageado.
E, na minha opinião, o grande momento veio quando o sempre loquaz Queiroz fez os agradecimentos aos maiores benfeitores da sua trajetória, especialmente o Colégio Estadual Murilo Braga que, a ele e a milhares de outros garotos pobres trouxe diversificação nas opões de vida, bem além de balconistas, feirantes, carroceiros, tropeiros, na melhor das hipóteses caminhoneiros e outras profissões com menor especialização e consequente menor  remuneração.
Ele mesmo, filho de Antônio sacristão, e se não fosse pela visão do então jovem engenheiro e governador de Sergipe, José Rolemberg Leite, em trazer o Murilo Braga, em 1949 talvez não tivesse ido além do Quarto Ano Primário do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra; o que jamais o capacitaria para o emprego do Banco do Brasil, ponto de apoio à sua epopeia de empreendedor e desportista, transformador de Itabaiana.
José Rolemberg Leite, esse ilustre esquecido por Itabaiana foi seu segundo momento maior; ao lembrar, agradecer e enaltecer diversas vezes aquele que seguramente foi o maior governador da história sergipana (o segundo, João Alves Filho, foi cria dele).
Dia 29 de novembro é dia de homenagearmos aquele que nos deu, a nós, serranos, as chances de mostrar o quanto somos capazes, desde que tenhamos as ferramentas do ensino e da mobilidade.
Parabéns e obrigado, Colégio Estadual Murilo Braga.
FELIZ ANIVERSÁRIO!

 (Título do artigo: pensamento de Esopo, escritor e pensador grego do século V a.C)

GERAÇÕES COPA DO MUNDO

 

Eu e Fefi, no sábado, 26, atualizando o papo, em ambiente a caráter, ambos a descumprir ordens médicas (por uma boa causa), com as cinco cervejas, das cinco Copas (em detalhe a de 1958), e ansiando por hoje.

Impressionante o quanto a natureza humana necessita da festa. De fato, não é diferente da maioria dos outros animais, a seguir o ritual: dormir, acordar, caçar, comer a caça e celebrar antes de recomeçar o ciclo. A festa é parte da grandeza da vida. E a Copa do Mundo, especialmente para nós brasileiros, tão sedentos de glória, e sempre entregues aos agentes coloniais a nos derrubar a autoestima é nas pernadas atrás de uma bola o enfiar desta num gol que temos quase sempre um momento de delírio. Somos o maior do mundo; somos Penta.
Um chute certeiro dentro do gol nos causa mais alegria que mesmo atos realmente revolucionários no dia a dia de qualquer nação. É que tanto estamos a acostumados a voos de galinha, a pular para a sexta economia do mundo e de repente desabarmos para além da décima-segunda que, pelo menos no futebol, já de há muito contaminado com a usura, mas de vez em quando ainda com algum lampejo de naturalidade, a sensação de perda tem sido natural. É mitigada pelo ganha hoje; perde amanhã, mas voltará a ganhar com certeza. E continuamos os melhores do mundo.
No último sábado fui alegremente premiado com a cena do velho itabaianense-raiz, Francisco Tavares da Costa, o antológico Fefi, 89 muito bem vividos e produtivos, de volta à sua rotina de torcedor apaixonado, e ao seu QG, a velha Gráfica Tavares, um lugar pelo qual me apaixono toda vez que penetro até se pequeno parque gráfico; suas guilhotinas, prensas impressoras, seus milhares de tipos, o cheiro da tinta, enfim a civilidade em todo o seu esplendor de repartir conhecimentos, eternizá-los.
Posicionado em sua gráfica, apesar de desativada, mas em plantão permanente, Fefi estava como sempre a caráter para mais uma copa do mundo, depois de ter amargado no último ano maus pedaços com a saúde, que o tem tirado daquilo que mais gosta: celebrar.
Junto com ele, além da decoração de mil e uma fotos e recortes de jornais, a emoldurar as paredes, em cima do birô, cinco edições de cervejas, correspondentes às cinco Copas ganhas pelo Brasil.
As fotos são variadas e a maioria se refere às glórias tricolores do Tremendão da Serra, a Associação Olímpica de Itabaiana; mas no meio delas a reprodução da Copa de 1958, com figuras marcantes da história recente de Itabaiana como Euclides Paes Mendonça.
E a cerveja, coisa raríssima em 1958, presente. Intacta. Uma raridade. Um ano mais velha do que eu.
Daqui a pouco – 12h30min deste 28 de novembro - o selecionado canarinho entra em campo pela segunda vez nessa Copa. Que ele faça jus às esperanças minhas, de todos os brasileiros, e em especial do velho coração do Guaxunim que tanto ama com paixão extremada sua terra, Itabaiana; seu país.



Comemorando o título de 1958(Mão aberta, por cima da bandeira), com Euclides Paes Mendonça (canto esquerda dela) e uma montanha de outros amigos.


domingo, 27 de novembro de 2022

UMA ÁRVORE DA AMIZADE DIFERENCIADA.

 

Detalhe da foto-montagem de transparência da carta de sesmaria a Simão Dias francês.

É uma instituição rotariana.
Onde quer que cheguemos, e que tenha uma filial da grande instituição estado-unidense, o Rotary Club International, lá estarão as indefectíveis insígnias da poderosa instituição: o sino e quase sempre a árvore. Além da própria sede, claro.
Sobre o Rotary Club International, resumo seu trabalho social na campanha acirrada e exitosa, mundialmente - mesmo com o terraplanismo em volta... e de volta - de combate mediante vacinação em massa, a uma das mais lastimáveis, porque incapacitante doença, a poliomielite.
E sobre a Árvore, em si, na minha percepção, não foi uma homenagem à história nem a seu personagem, o primeiro Itabaianense não indígena da História, Simão Dias, o mameluco; mas acabou sendo quando há 21 anos atrás, o então Presidente do Rotary Club de Itabaiana, Edivaldo Francisco da Cunha, junto com o também rotariano e agrônomo, Waltenis Braga lançou a tenra muda de pau-brasil ao solo, no flanco norte da centenária Praça da Matriz, há um século renomeada para Fausto Cardoso, marco zero da cidade de Itabaiana, e assim existente ao menos desde 1762.
É que o primeiro Itabaianense, de nascimento sob a nova era da colonização europeia, Simão Dias o mameluco, popularmente na História como Simão Dias francês leva esse apelido por ser filho de uma índia com um pirata francês, fugido das forças portuguesas na boca do rio Real, e acolhido pelas tribos serranas. Pirata francês em busca do pau-brasil. Nas matas do rio Real.
O pau-brasil trouxe o primeiro europeu para Itabaiana. E ele gerou o primeiro Itabaianense da era europeia.
O plantio há 21 anos do pau-brasil, árvore mãe da patronímia nacional, além de substituir a primeira "Árvore da Amizade" plantada pelo Rotary em 1970, e desaparecida nos anos 1990 - a acácia mãe de todas as outras que vieram - também e não intencionalmente acabou por homenagear nosso primeiro Itabaianense, ele Simão Dias o mameluco, também conhecido por o francês.
A data do 21º aniversário plantio foi anteontem, 25, último domingo de novembro de 2001. Como o último domingo desse ano, hoje, vem para o dia 27, só hoje é que faço essas alegações.
E aproveito para refrescar a memória serrana com mais esse fato.
Às vezes, uma humilde pedrinha pode conter a mais esplendorosa história. O pau-brasil da Praça Fausto Cardoso é isso: símbolo do Brasil; elo com o nosso passado histórico itabaianense.

A primeira "Árvore da Amizade" plantada (circulada, em vermelho). Com a instalação do Rotary Club de Itabaiana, em 25/11/1969.

A segunda, o pau-brasil que hoje, grande está na primeira foto, de hoje, 27/11/2022, sendo plantado em 25 de novembro de 2001.




PROTESTO!

 

A localização original, no círculo vermelho, em baixo, encontra-se agora a 1210 metros em cima, confundindo possíveis buscadores presenciais.

Há 15 anos, saí em peregrinação pela bela zona rural de Itabaiana fotografando o que achei que olhares sensíveis veria de belo, mas não parei por aí: pus tudo na internet, especificamente no Panorâmio, associado ao GoogleEarth, este uma criação da galera de garotões alemães que teve a grande ideia e a desenvolveu inicialmente até que o Google dela de apropriasse (ver a história no filme BATALHA BILIONÁRIA, Netflix).
O Panorâmio tinha uma propriedade – que seu sucessor no GoogleEarth mantém – de ser um álbum digital, e que você podia marcar um lugar na imagem geral da Terra onde a foto foi tirada; pertencia.
Uma das fotos que mais me encantou foi a da ponte lavada da estrada da cidade de Itabaiana para o seu povoado, o Zanguê, sobre o Rio Jacaracica. E, conhecedor do mapa do município e das fotos de satélites correspondente, publiquei uma foto e marquei justo onde realmente é.
Pouco tempo depois comecei a ver outras fotos, de outros locais e por mim também postadas bem deslocadas do local realmente correspondente.
Há pouco, para minha decepção a plataforma também desajustou a bela e bucólica paisagem, que pouquíssimo mudou nestes 15 anos, mas que no GoogleEarth, o local previamente marcado se encontra agora a 1.210 metros do real, o que pode confundir algum interessado em localizá-lo presencialmente.
Por isso lavro aqui o meu protesto ao Google.