sábado, 31 de dezembro de 2022

FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU SERGIPE!

 Sempre que espocam os fogos saudando o Ano Novo, eu ouço o eco dos tiros de mosquetões e troar dos canhões, na última carnificina pela Conquista de Sergipe.


 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O ADEUS A UM ÍDOLO; SEMIDEUS DA BOLA.

 

Em 1963, eu tinha três anos, quase quatro de idade, quando lembro – devo tê-lo feito anteriormente – posicionei uma velha bola, e a chutei.
Repeti o ritual dos demais pirralhos à minha volta naquele momento.
Depois de posicionada, chutei-a com toda força disponível, em sei lá que direção e emendei de imediato o mantra: GOOOOOL DE PELÉ. Essa parte era obrigatória. Todos os anteriores já tinham feito; todos os posteriores o fariam, inclusive se houvesse segunda e terceira rodadas de chute, cada um mais mal-ajambrado que outro.
De fato, esse costume eu levaria comigo até quando nos tempos do Primário, no time da escola comecei a fazer parte da festança, para terror da minha mãe, especialmente no inverno tendo que aturar os choros das contusões e roupas sujas de lama.
Em todos os momentos Pelé esteve presente como inspiração, modelo a ser seguido; e, para os mais hábeis – nunca foi meu forte – até sonhos de evolução até o profissionalismo.
Mesmo que o orgulho mais tenha crescido, ao me saber tão perto de um dos heróis do Tricampeonato em 1970, um “de casa”, Pelé continuou sendo a referência máxima.
O “de casa” é o itabaianense, tricampeão de 1970, Clodoaldo Tavares de Santana. Primo carnal de meus amigos de infância, os irmãos José Augusto Tavares, Agnaldo, Jenivaldo (Jeni), e Maria Augusta, e com uma extensa parentalha, centrada no povoado Gandu, é também primo do craque Gilmar, da Olímpica de Itabaiana dos anos 80 e 90 (Pentacampeão em 1982). Clodoaldo foi companheiro de Pelé no Santos, e na Seleção, obviamente.
Em resumo, de uma forma ou de outra, Edson Arantes do Nascimento está impregnado em nosso imaginário e faz parte de momentos lúdicos nacionais, quando começamos a nos rebelar contra o complexo de vira-latas mediante os gritos de gol. Entre outros meios, através dos dribles infernais e gols do Rei Pelé.
Que o Altíssimo o receba em Sua glória!

EVOLUÇÃO POPULACIONAL MUNICIPAL DE SERGIPE 2010-2022 E PRÉVIA DO IBGE

 

 

 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

DE RACIONALIDADES DO CENSO.

 

Era início de inverno e fazia enorme frio quando naquela tardinha o carpinteiro chegou a Belém, sua cidade natal, a qual há muitos anos não ia, com a jovem esposa grávida, e já sentindo os primeiros sinais daquele que viria a ser o parto que mudaria o mundo humano pelos próximos dois milênios.
E, qual o objetivo de José, em submeter-se à extenuante viagem, em momento tão impróprio quanto na véspera de nascimento de um filho? Fazer o recenseamento; ser recenseado.
O Império Romano, sob cujo governo se encontrava foi uma revolução no mundo antigo. A racionalidade administrativa estava por todo, tal qual as temíveis legiões, quando havia alguma perturbação da ordem ou mais um reino insubmisso, prestes a cair sob a águia imperial, suas matanças, servidões, mas também, para os que sobrassem e viessem a ser bem comportados, um mercado que chegou a cinco milhões de quilômetros quadros e onde viviam sessenta milhões de pessoas,
Para administrar isso, por mil anos foi usada a força, obviamente; mas essa só depois que a fina letra da Lei e da política não desse conta. E a civilização se cobriu de leis e seus executores. E mecanismos de controle, de racionalidade como a estatística, e seu lado mais direto: os recenseamentos.
No “RELATÓRIO com que o Sr. Tenente-Coronel Francisco José Cardoso Junior abriu a 2ª Sessão da 20ª Legislatura da Assembleia Provincial de Sergipe, no dia 3 de março de 1871 (Tip. do Jornal do Aracaju, fundo, Hemeroteca da BN-Rio), à página 209, o mesmo expressa sua completa desconfiança e também desapontamento com várias paróquias de Sergipe devido ao recenseamento do ano anterior, com números, segundo sugere o texto, completamente fora da lógica; portanto, desconsiderando-os e melindrando seus executores.
Há aqui certos sintomas de desorganização geral do sistema de governo, que desde a terrível epidemia de cólera de 1855 se não recuperou, nem voltou aos níveis de organização de da década de 1840, no estado de Sergipe. Perceptíveis no aparelho de Estado, propriamente dito; mas até mesmo no poder-satélite, no que se constituía a Igreja.
Durante toda a história sergipana, até a proclamação da República, a vida real era ditada pela Igreja. Nela se batizava, só nela se reunia socialmente todas as semanas, só nela se casava e recebia os últimos sacramentos da vida e despedida dessa.
O controle social era exercido pelo pároco.
Quando o Presidente da Província quis criar a feira livre de São Cristóvão, em julho de 1835, dirigiu-se especialmente ao pároco de Santo Antônio e Almas, Alexandre Pinto Lobão, para que esse fosse a voz política a encorajar os feirantes itabaianenses, já responsáveis pelo vigor das feiras de Laranjeiras e Maruim para que lá se fizessem presentes.
E todos os anos, em geral, era o pároco que anotava quantos e quem nasceram, se casaram, morreram ou estavam aptos para votar a cada dois ou quatro anos.
Logo, era o pároco quem deveria informar ao governo provincial (hoje estadual) tudo sobre a população livre e escrava, sendo que nesse caso, por também serem os escravos propriedade de seus donos, havia a conferência no Cartório de 1º Oficio ou dos Órfãos e Defuntos, como também era denominado.
Com a República – e, sejamos honestos, com a queda de qualidade verificada nas paróquias, a partir de 1860 – alguns recenseamentos começaram a timidamente serem feitos; porém é com o Estado-Novo que sua administração centralizada traz em 1940 a primeira versão organizada e sujeita a imprecisões desprezíveis sobre a população brasileira em geral; a sergipana em particular, e também se estabelecendo ali o padrão decenal, ao invés do anual dos censos paroquiais de até a monarquia, efetivamente, em Sergipe, somente até 1860.
Porém, nem mesmo o padrão decenal tem sido observado nas últimas três décadas.
Coincidentemente, nos dois governos de arroubos revolucionários direitóides – Fernando Collor, 1990-1992; e o atual, de Jair Bolsonaro – o Estado fica sem sua sequência lógica de recenseamento, atrasando um ano – de 1990 para 1991 – e respectivamente em dois – de 2020 para 2023 – no segundo.
Aqui, alegou-se, com razão a questão da pandemia da covid; todavia não me consta nenhum planejamento anterior para 2020. E o recenseamento é coisa muito importante para ser feita à base de improviso.
Como resultado, dados de planejamento de Estado que deveriam estar à mão há dois anos terão que esperar ajeitamentos de última hora para ser concluídos.

Reforço qualificado.

Até 1980 eu tive colegas sespianos (da Fundação SESP/MS), mormente da área de saneamento trabalhando no recenseamento.
Lógico: o agente de saneamento era um profundo conhecedor das comunidades onde atuava; quase tanto quanto foram os padres em priscas eras. Seu correspondente hoje, o Agente de Saúde é, portanto, a pessoa mais capacitada a colher dados gerais sobre a sua área porque já parte do seu mister.
Ontem, à tarde, no noticiário da TV (Rede Globo), assisti que o IBGE vai finalmente usar quem entende de campo para o analisar, e assim completar esse tão complicado Censo 2022, apesar da altíssimo tecnologia hoje empregada.
Oxalá que sejam usados seus conhecimentos e se deem por concluídos os dados, fundamentais para se ter noção do que se deve ou não fazer pelos próximos 8 anos.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

21 DE DEZEMBRO - UMA DATA ESPECIAL.

 


No dia 21 deste corrente dezembro de 2022, o “Senado” da vetusta Câmara Municipal de Itabaiana – e seus 325 anos de existência - por seus juízes ou vereadores repetirá uma solenidade nascida há mais de dois milênios, quando Roma criou a tradição da sua Res Publica de tornar seus cidadãos todos aqueles conquistados, porém assimilados e tornados romanos, o que acabou por gerar o gigantismo e longevidade daquele império, inicialmente uma humilde cidade às margens do Tibre.
No dia 21 terá lugar a titulação de várias pessoas - dentre elas, a minha confreira e amiga e poetisa Salete Nascimento - não nascidas no município, mas que de algum modo tem contribuído para o engrandecimento da velha Santo Antônio de Itabaiana.
Porém, a solenidade do dia 21 de dezembro, que me lembre, inédita na Câmara Municipal de Itabaiana, nessa data é para Sergipe, para Itabaiana e sua gloriosa Casa Legislativa não apenas um dia solene; mas uma das principais efemérides na luta pela Independência de Sergipe.

O que significa a data para a História de Sergipe.

Foi a 21 de dezembro de 1821 que a Câmara Municipal de Itabaiana, liderada pelo Capitão de Ordenanças, José Matheus da Graça Leite Sampaio* se rebelou contra o arbítrio do governo da Capitania da Bahia que resolveu passar por cima do Decreto-Régio de 8 de julho, por D. João VI, obviamente.
A Bahia, além de ter prendido o primeiro governador de Sergipe independente, Carlos César Burlamaqui, indicado pelo Rei, com o retorno deste a Portugal, quis perpetuar seu arbítrio, indicando um seu governador para Sergipe; e, para camuflar sua desobediência ao Rei inventou uma eleição de araque, onde as sete câmaras municipais de Sergipe – as vilas, Itabaiana, Lagarto, Neópolis (Vila Nova), Propriá, Santo Amaro das Brotas, Santa Luzia do Itanhy e a cidade de São Cristóvão – deviam enviar representantes a Salvador para que lá “assinassem embaixo” do que fosse decidido pelo governo baiano.
No dia 21 de dezembro, em reunião a Câmara de Vereadores de Itabaiana disse não de forma dura e concisa. Também encaminhou sua decisão às demais seis câmaras, que, conforme apurado pela historiadora Maria Thetis Nunes, a “Sergipana do Século X”, e itabaianense, nascida na Rua 13 de Maio (ainda como Rua do Cisco), nenhumas delas se manifestou, nem também enviou alguém como queria o governo baiano.
D. Pedro I, confirmaria a Independência de Sergipe em relação à Bahia em outubro de 1823.
Logo, a solenidade da próxima quarta-feira, 21 de dezembro é da mais alta monta porque, além dos novos itabaianenses serem agraciados com seus respectivos títulos, isso será feito numa grande data para a Câmara Municipal de Itabaiana. De fato uma cidadela na luta pela emancipação e também o mourão com que se bateu contra quem nos queria eternos subcidadãos.


(*) José Matheus da Graça Leite Sampaio, líder máximo da Independência, foi também primeiro governador de Sergipe independente. Foi trisavô do intendente municipal de Itabaiana Manoel Francisco Leite Sampaio (1906-1907), e tetravô do governador de Sergipe, José Rolemberg Leite (1947-1950 e 1975-1978), este também o fundador do Colégio Estadual Murilo Braga, em 1949
.
   

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

13 DE DEZEMBRO, DIA DE LUZ.

 

Santa Luzia, santa homenageada hoje no calendário católico é a protetora da visão.
Hoje também é aniversário do grande Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Na minha opinião o maior nordestino de todos os tempos.

Vários motivos foram responsáveis pela estagnação nordestina, porém dois fatores foram as pás de cal no outrora Brasil rico que chegou às raias da miséria, a partir de meados do século XIX: a epidemia de cólera de 1855 e a seca da década de 1870.
A primeira, uma doença completamente ainda desconhecida deixou um rastro de destruição da Bahia ao Maranhão. Estados, à época províncias, como Sergipe que perdeu 40% de sua população, a grande maioria de escravos; mas também muitas famílias de senhores, incluindo vários comandantes, o que significou deixar as respectivas famílias sem seus chefes, acéfalas. Numa época em que as mulheres eram treinadas apenas para serem donas de casa.
Ao menos em Sergipe houve um repique da epidemia em 1863, porem com estragos menores; porém, em 1869 os invernos e trovoadas de verão começaram a reduzir a intensidade; e assim se mantiveram por nove anos seguidos. O epicentro da seca foi no Ceará; mas todo o Nordeste sofreu horrores, aumentando a miséria estabelecida pelas epidemias de cólera... o velho Nordeste não resistiu. A riqueza, desde então migrou para o sul.
A elite buscou se proteger em seus nichos; enquanto o populacho foi entregue à própria sorte.
Ao fim do século veio outra profunda desarrumação com a Proclamação da República. Antes, mesmo que remotamente havia a esperança de que o Imperador fizesse justiça; agora, estava todos à mercê de embrutecidos coronéis locais. Incontidos. Ilimitados. Senhores de baraço e cutelo.
A Amazônia e sua borracha pareceu ser uma boa promessa. Muitos por lá se aventuraram. Porém, a maioria se perdeu. O barateamento do transporte com a ligação por ferrovia, e o agigantamento paulista mudou eixo da diáspora para o sul, a partir da década de 1940.
Bem antes dessa leva de aventureiros para o sul, um rapazote de Itabaiana, apesar de nascido em Aracaju, Luiz Americano Rego aproveitando o aprendizado na Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, onde seu pai foi maestro e seu professor ingressa no Exército, como única opção de bom emprego e, depois de no Rio de Janeiro dele sai para se tornar um dos grandes construtores da MPB, via Chorinho.
Com história similar a Luiz Americano e 13 anos mais novo que este, dos sertões do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco vem outro que não somente revolucionaria a música brasileira, mas não só isso: com sua história, seu cantar, seu jeito caricato de se apresentar, não só foi tão importante na manutenção da têmpera nordestina como fator primordial no fortalecimento da cultura nacional como um todo, perigosamente invadida pelo estrangeirismo advindo da globalização pós-Segunda Guerra e até arma de guerra da Guerra Fria. Luiz Gonzaga despretensiosamente nos salvou ao liderar um processo cultural que logo a seguir nos revelaria João Gilberto, Vinicius de Morais, Gilberto Gil, Tom Jobim, Caetano Veloso, Mariozan, Tonico e Tinoco e imensa constelação de estrelas de primeira grandeza.
O filho de Seu Januário e D. Santana, sem querer reforçou a identidade nordestina; e armou imensa barricada na defesa de nossa cultura nacional.
Hoje, 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, os nossos agradecimentos a quem nunca foi político ou alto funcionário público; mas fez muito mais que todos eles: LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

ENQUANTO CORRIA A BARCA*

 

Hoje à tardinha, em passagem rápida pela Área de Lazer da Praça Etelvino Mendonça, Centro de Itabaiana tive um momento especial; uma viagem mental aos meus onze anos, quando puxei, pela primeira vez a corda de uma barca na festinha de Reis do povoado Mangabeira, zona rural de Itabaiana, onde nasci e tenho o umbigo enterrado, passando pela minha primeira vez, já no ano seguinte, na festa exatamente na mesma Praça Etelvino Mendonça, super empoeirada – e assim continuou até 1993 – enfim, desde então.
A frenética montagem dos últimos brinquedos para a feirinha que deve começar neste fim de semana e alongar-se-á provavelmente até o dia 8 de janeiro, dois dias após o Dia de Reis, que cairá na primeira sexta de janeiro está de vento em popa.

Montagens a pleno vapor hoje à tardinha.

Os tempos são outros. Os casais de namorados não são exatamente como os de trinta ou cinquenta anos atrás; os paqueras tem outra linguagem na abordagem; nem mesmo as músicas, românticas até dor de cotovelo mais existem; estão fora de moda. E os recadinhos com declarações cifradas ou não pelos alto-falantes desapareceram, nem mesmo os sarcásticos se veem. Mas o parquinho ou feirinha, tanto faz, ainda encanta; mesmo com a concorrência de mil e uma novidades no entretenimento.
Detalhe: não faltarão as bancas de jogos. As apostas com prêmios em goiabadas certamente estarão presentes.
Neste ano, especialmente eu devo levar Elisa, minha neta. E que os linguarudos não maldem que é em proveito próprio; é que ela só tem três aninhos: precisa de um adulto para lhe tomar de conta, né?
Que venha mais um natal e seus sonhos e ilusões!

O Natal há exatamente um século


*Verso da canção “Preta, pretinha”, com os Novos Baianos. Na minha modesta opinião, o melhor simbolismo da Feirinha de Natal.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

INVERNICO PROVIDENCIAL

 

Tanque da Pedreira, por séculos a única fonte de água próxima.
 

“He o logar da Villa de poucos moradores, por ser aridíssimo, e tão falto de agoas, que as não há senão no inverno, razão pela porque se faz digno de que S. Magestade (sic) seja servido de o mandar prover de algúa cisterna ou agoada de pedra e cal para remédio dos Parochos, e dos poucos moradores que nelle habitão, o povo, que vem às festas, às missoens, e semanas sanctas, e mais funções da matriz e villa, pois so no inverno tem agoa em hú buraco chamado pedreira, que dura pouco tempo pelo verão valendo-se os da villa, e mais povo que vem às festas e funcçoens da vila das cacimbas das serras distantes da Matriz húa legoa grande.” 

Noticia sobre a Freguezia de Santo Antonio e Almas da Villa  do Itabayana, pelo Vigário Francisco da Silva Lobo. 1757. (Anexa ao n. 2666).

Há quase uma semana que aqui em Itabaiana chove todos os dias. Às vezes, uma chuva passageira; um sereninho como ainda se diz. Às vezes torós bem mais robustos, como os de quarta-feira, 30 de novembro, à noite; e do dia seguinte. Mas o fato é que acaba de dar mais uma manga d’água, hoje, 5, desde as nove e pouco da manhã até por volta das onze da manhã, com alguns repiques posteriores.
Ao menos em relação à providência divina, as culturas irrigadas e o abastecimento humano de água estão salvos neste verão. Agora é só a Cohidro e a DESO cumprirem as suas respectivas partes.
Por outro lado, foram mais uma vez testadas e aprovadas as recentes obras de drenagem realizadas na parte mais crítica da cidade, ao entorno do riacho Macela.
O avanço da urbanização no antigo Campo Grande, hoje Bairro Rotary Club e consequente impermeabilização total da área, associado ao aterro da Tanque do Povo, hoje o Mercadão, sem a devida estrutura na drenagem do riacho, desde o seu nascedouro na esquina do início da Rua Manuel Teles de Mendonça na Avenida Dr. Pedro Garcia Moreno Filho, até pelo menos o cruzamento na Rua Percílio Andrade transformou o córrego seco numa bomba-relógio: a qualquer chuvinha mais grossa, o caudal saía levando mercadorias, invadia lojas e até arrastou carros, dando monumentais prejuízos a cada vez que ocorreu.


Quanto ao abastecimento, o crescimento da cidade e da agricultura irrigada vem preocupando porque, desde que o atual sistema ficou pronto, acabando com séculos de penúria com a falta d’água, como visto na reprodução textual inicial há cerca de dez anos as barragens que nos asseguram o continuidade vem secando cada vez mais rápido. Pior: a capacidade de represamento se exauriu. E, volta e meia tem alguém apontando para o extenuado Velho Chico.
Por enquanto, ao menos nos próximos dez anos vamos continuar torcendo por mais e frequentes trovoadas, e administrando o que temos.




quarta-feira, 30 de novembro de 2022

REALIDADE DO RIO REAL

 

Em cima: Recorte de mapa: Brasil - Nova e acuratta brasiliae totius tabula por_Ioanne Blaeu,1689.
Embaixo: cenas de vídeo captado em rede social, sobre a inundação de Tobias Barreto-SE

Ele já foi considerado maior do que o São Francisco – assim entendeu Waldseenmüller no primeiro mapa a registrar o continente americano e, como também foi depois do seminário da Universidade de Salamanca, Espanha, que, ao confirmar que o novo continente descoberto era totalmente desconhecido determinou que seu nome seria América; e não Colômbia ou outro, como sugerido. Assim o mapa Cosmografia Universal registra o novo continente e o denomina de América.
Depois de descoberto o engano, para não chocar o nome pomposo de Rio Real - porque em honra a D. Manuel - em primeiro grafou-se como sendo um braço menor do São Francisco, tornando Sergipe um delta, o São Francisco um Nilo do Brasil. Quanto a essa intuição, não foram inexatos; ao contrário. Mas que o Real, antes mesmo de meados do século XVII já se sabia um rio de médio curso e seco; e não um caudaloso braço do São Francisco.
Mas o Real, como os demais rios do semiárido nordestino tem seus raros dias de caudal. O exemplo, com as chuvas que caem torrencialmente em Sergipe e Bahia desde anteontem o rio encheu pra valer, saindo muito além do seu leito resumido e usual, e alagando centenas de metros além.
Um exemplo chocante foi a invasão da velha Nossa Senhora dos Campos do Rio Real de Cima, hoje somente conhecida por Tobias Barreto.
Tobias Barreto tem origem remota na passagem de missões jesuítas dos séculos XVI a XVIII e das primeiras boiadas a abastecer o Recôncavo baiano do início do século XVII, provenientes de Itabaiana; nela desenvolveu aglomerado urbano, imprudentemente muito plano e próximo ao rio e com a agravante de também ser na confluência de outro menor, mas não menos preocupante, o Jabiberi, com nascimento nas terras outrora pertencentes a Melchior Dias Moreia, o lendário entradista da prata de Itabaiana.
Resultado, com a inundação presente, uma imagem deprimente com centenas de famílias sofrendo prejuízos de toda sorte. Nossos votos para que o aguaceiro não mais retorne; mas que é preciso prevenir, está claro.
O rio é usualmente seco; mas tem uma bacia relativamente extensa, estendendo-se desde Cícero Dantas até a Praia do Saco, o que, quando sujeito a chuvas torrenciais sai provocando alagamento onde quer que passe. Tobias Barreto está quase na metade desse curso e é uma das únicas formações urbanas do lado sergipano completamente exposta à sua correnteza. Com o agravante que Indiaroba – a outra – já está localizada na região de marés, com rio muito mais largo, e prudentemente mais alto.
E, o Real pode não ser aquele rio caudaloso, como pensado por Américo Vespúcio em 20 de outubro de 1501; mas de vez em quando ele cobra espaço.


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A GRATIDÃO É A VIRTUDE DAS ALMAS NOBRES

 

“E graças a esses feitos, de homens que têm valor”

Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira, In Paulo Afonso


Na noite da última sexta-feira, 25 foi realizada no plenário da trissecular Câmara Municipal de Itabaiana mais uma sessão solene da Academia Itabaianense de Letras, que, como de praxe, ali vem ocorrendo nos últimos nove anos de funcionamento do supracitado sodalício.
A sessão da sexta retomou uma tradição que vem se firmando pela Academia, a de anualmente outorgar uma comenda, sua homenagem maior, a Comenda Potestas Montis (O Poder da Serra), a uma celebridade itabaianense viva, em reconhecimento ao trabalho pelo engrandecimento da sociedade serrana, que esse ano, por votação maciça dos seus membros recaiu em José Queiroz da Costa.
Listar o trabalho de José Queiroz da Costa relativo a Itabaiana é um pouco complicado tal a sua folha de serviços ao longo de seus 86 anos de vida, porém, resumindo, foi uma breve e sucinta homenagem aquele a quem todas as homenagens prestadas sempre deixarão a sensação de que esteve aquém do homenageado.
E, na minha opinião, o grande momento veio quando o sempre loquaz Queiroz fez os agradecimentos aos maiores benfeitores da sua trajetória, especialmente o Colégio Estadual Murilo Braga que, a ele e a milhares de outros garotos pobres trouxe diversificação nas opões de vida, bem além de balconistas, feirantes, carroceiros, tropeiros, na melhor das hipóteses caminhoneiros e outras profissões com menor especialização e consequente menor  remuneração.
Ele mesmo, filho de Antônio sacristão, e se não fosse pela visão do então jovem engenheiro e governador de Sergipe, José Rolemberg Leite, em trazer o Murilo Braga, em 1949 talvez não tivesse ido além do Quarto Ano Primário do Grupo Escolar Guilhermino Bezerra; o que jamais o capacitaria para o emprego do Banco do Brasil, ponto de apoio à sua epopeia de empreendedor e desportista, transformador de Itabaiana.
José Rolemberg Leite, esse ilustre esquecido por Itabaiana foi seu segundo momento maior; ao lembrar, agradecer e enaltecer diversas vezes aquele que seguramente foi o maior governador da história sergipana (o segundo, João Alves Filho, foi cria dele).
Dia 29 de novembro é dia de homenagearmos aquele que nos deu, a nós, serranos, as chances de mostrar o quanto somos capazes, desde que tenhamos as ferramentas do ensino e da mobilidade.
Parabéns e obrigado, Colégio Estadual Murilo Braga.
FELIZ ANIVERSÁRIO!

 (Título do artigo: pensamento de Esopo, escritor e pensador grego do século V a.C)

GERAÇÕES COPA DO MUNDO

 

Eu e Fefi, no sábado, 26, atualizando o papo, em ambiente a caráter, ambos a descumprir ordens médicas (por uma boa causa), com as cinco cervejas, das cinco Copas (em detalhe a de 1958), e ansiando por hoje.

Impressionante o quanto a natureza humana necessita da festa. De fato, não é diferente da maioria dos outros animais, a seguir o ritual: dormir, acordar, caçar, comer a caça e celebrar antes de recomeçar o ciclo. A festa é parte da grandeza da vida. E a Copa do Mundo, especialmente para nós brasileiros, tão sedentos de glória, e sempre entregues aos agentes coloniais a nos derrubar a autoestima é nas pernadas atrás de uma bola o enfiar desta num gol que temos quase sempre um momento de delírio. Somos o maior do mundo; somos Penta.
Um chute certeiro dentro do gol nos causa mais alegria que mesmo atos realmente revolucionários no dia a dia de qualquer nação. É que tanto estamos a acostumados a voos de galinha, a pular para a sexta economia do mundo e de repente desabarmos para além da décima-segunda que, pelo menos no futebol, já de há muito contaminado com a usura, mas de vez em quando ainda com algum lampejo de naturalidade, a sensação de perda tem sido natural. É mitigada pelo ganha hoje; perde amanhã, mas voltará a ganhar com certeza. E continuamos os melhores do mundo.
No último sábado fui alegremente premiado com a cena do velho itabaianense-raiz, Francisco Tavares da Costa, o antológico Fefi, 89 muito bem vividos e produtivos, de volta à sua rotina de torcedor apaixonado, e ao seu QG, a velha Gráfica Tavares, um lugar pelo qual me apaixono toda vez que penetro até se pequeno parque gráfico; suas guilhotinas, prensas impressoras, seus milhares de tipos, o cheiro da tinta, enfim a civilidade em todo o seu esplendor de repartir conhecimentos, eternizá-los.
Posicionado em sua gráfica, apesar de desativada, mas em plantão permanente, Fefi estava como sempre a caráter para mais uma copa do mundo, depois de ter amargado no último ano maus pedaços com a saúde, que o tem tirado daquilo que mais gosta: celebrar.
Junto com ele, além da decoração de mil e uma fotos e recortes de jornais, a emoldurar as paredes, em cima do birô, cinco edições de cervejas, correspondentes às cinco Copas ganhas pelo Brasil.
As fotos são variadas e a maioria se refere às glórias tricolores do Tremendão da Serra, a Associação Olímpica de Itabaiana; mas no meio delas a reprodução da Copa de 1958, com figuras marcantes da história recente de Itabaiana como Euclides Paes Mendonça.
E a cerveja, coisa raríssima em 1958, presente. Intacta. Uma raridade. Um ano mais velha do que eu.
Daqui a pouco – 12h30min deste 28 de novembro - o selecionado canarinho entra em campo pela segunda vez nessa Copa. Que ele faça jus às esperanças minhas, de todos os brasileiros, e em especial do velho coração do Guaxunim que tanto ama com paixão extremada sua terra, Itabaiana; seu país.



Comemorando o título de 1958(Mão aberta, por cima da bandeira), com Euclides Paes Mendonça (canto esquerda dela) e uma montanha de outros amigos.


domingo, 27 de novembro de 2022

UMA ÁRVORE DA AMIZADE DIFERENCIADA.

 

Detalhe da foto-montagem de transparência da carta de sesmaria a Simão Dias francês.

É uma instituição rotariana.
Onde quer que cheguemos, e que tenha uma filial da grande instituição estado-unidense, o Rotary Club International, lá estarão as indefectíveis insígnias da poderosa instituição: o sino e quase sempre a árvore. Além da própria sede, claro.
Sobre o Rotary Club International, resumo seu trabalho social na campanha acirrada e exitosa, mundialmente - mesmo com o terraplanismo em volta... e de volta - de combate mediante vacinação em massa, a uma das mais lastimáveis, porque incapacitante doença, a poliomielite.
E sobre a Árvore, em si, na minha percepção, não foi uma homenagem à história nem a seu personagem, o primeiro Itabaianense não indígena da História, Simão Dias, o mameluco; mas acabou sendo quando há 21 anos atrás, o então Presidente do Rotary Club de Itabaiana, Edivaldo Francisco da Cunha, junto com o também rotariano e agrônomo, Waltenis Braga lançou a tenra muda de pau-brasil ao solo, no flanco norte da centenária Praça da Matriz, há um século renomeada para Fausto Cardoso, marco zero da cidade de Itabaiana, e assim existente ao menos desde 1762.
É que o primeiro Itabaianense, de nascimento sob a nova era da colonização europeia, Simão Dias o mameluco, popularmente na História como Simão Dias francês leva esse apelido por ser filho de uma índia com um pirata francês, fugido das forças portuguesas na boca do rio Real, e acolhido pelas tribos serranas. Pirata francês em busca do pau-brasil. Nas matas do rio Real.
O pau-brasil trouxe o primeiro europeu para Itabaiana. E ele gerou o primeiro Itabaianense da era europeia.
O plantio há 21 anos do pau-brasil, árvore mãe da patronímia nacional, além de substituir a primeira "Árvore da Amizade" plantada pelo Rotary em 1970, e desaparecida nos anos 1990 - a acácia mãe de todas as outras que vieram - também e não intencionalmente acabou por homenagear nosso primeiro Itabaianense, ele Simão Dias o mameluco, também conhecido por o francês.
A data do 21º aniversário plantio foi anteontem, 25, último domingo de novembro de 2001. Como o último domingo desse ano, hoje, vem para o dia 27, só hoje é que faço essas alegações.
E aproveito para refrescar a memória serrana com mais esse fato.
Às vezes, uma humilde pedrinha pode conter a mais esplendorosa história. O pau-brasil da Praça Fausto Cardoso é isso: símbolo do Brasil; elo com o nosso passado histórico itabaianense.

A primeira "Árvore da Amizade" plantada (circulada, em vermelho). Com a instalação do Rotary Club de Itabaiana, em 25/11/1969.

A segunda, o pau-brasil que hoje, grande está na primeira foto, de hoje, 27/11/2022, sendo plantado em 25 de novembro de 2001.




PROTESTO!

 

A localização original, no círculo vermelho, em baixo, encontra-se agora a 1210 metros em cima, confundindo possíveis buscadores presenciais.

Há 15 anos, saí em peregrinação pela bela zona rural de Itabaiana fotografando o que achei que olhares sensíveis veria de belo, mas não parei por aí: pus tudo na internet, especificamente no Panorâmio, associado ao GoogleEarth, este uma criação da galera de garotões alemães que teve a grande ideia e a desenvolveu inicialmente até que o Google dela de apropriasse (ver a história no filme BATALHA BILIONÁRIA, Netflix).
O Panorâmio tinha uma propriedade – que seu sucessor no GoogleEarth mantém – de ser um álbum digital, e que você podia marcar um lugar na imagem geral da Terra onde a foto foi tirada; pertencia.
Uma das fotos que mais me encantou foi a da ponte lavada da estrada da cidade de Itabaiana para o seu povoado, o Zanguê, sobre o Rio Jacaracica. E, conhecedor do mapa do município e das fotos de satélites correspondente, publiquei uma foto e marquei justo onde realmente é.
Pouco tempo depois comecei a ver outras fotos, de outros locais e por mim também postadas bem deslocadas do local realmente correspondente.
Há pouco, para minha decepção a plataforma também desajustou a bela e bucólica paisagem, que pouquíssimo mudou nestes 15 anos, mas que no GoogleEarth, o local previamente marcado se encontra agora a 1.210 metros do real, o que pode confundir algum interessado em localizá-lo presencialmente.
Por isso lavro aqui o meu protesto ao Google.



sábado, 26 de novembro de 2022

CAMINHÃO BLOQUEIA ESTRADA DA BAHIA.

 


Calma! Foi só um caminhão estacionado no popular “Espaço Jovem”, do estacionamento de Estádio Estadual Etelvino Mendonça, no local por onde por três séculos chegou a estrada real da cidade da Bahia, hoje Salvador, que também tinha o nome de “Caminho do Sertão do Meio Salvador-Olinda”, por ser uma das ligações entre as duas maiores e mais ricas cidades brasileiras até o século XIX.

A cidade de Itabaiana já nasceu com o pé na estrada, antes mesmo de existir. Num cruzamento. 

Após a conquista de Sergipe, em 1590, abriu-se o Caminho do Sertão do Meio que, no rumo sul, atualmente passa por Campo do Brito, São Domingos, Lagarto e Tobias Barreto, entrando na Bahia; e no rumo norte, por Divina Pastora, Japoatã e Santana do São Francisco, antiga Carrapicho, atravessando o Velho Chico e entrando em Alagoas por Penedo.

E, em meados do século XVII – aproximadamente 1660 – foi aberto, em verdade ampliado o de São Cristóvão até o sertão do Jeremoabo, cruzando as duas estradas no atual ponto de táxi da Praça João Pessoa.

O pequeno trecho do Caminho do Sertão do Meio – onde também resido – é usado por mim diariamente nos meus acessos ao Centro histórico da cidade, quando feito a pés.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

 ITABAIANIDADE

Montagem sob fundo de imagem do GoogleEarth, indicando mais um lugar com o nome Itabaiana, no município baiano de Presidente Tancredo Neves.


Em dezembro de 1975 houve o 3º Congresso Eucarístico de Itabaiana, a primeira grande festa da cidade além da procissão de Santo Antônio. Era também o tricentésimo aniversário de sua fundação. Que ninguém comemorou, e até hoje faz de conta que a data exata – 30 de outubro - inexiste; apesar de já ser conhecida e estar nos apontamentos do IBGE desde os anos 1940.
Mas o que daquela festa me chamou a atenção em 1975, foi a quantidade de ceboleiros espalhados pelos quatro cantos do mundo que esteve por aqui, especialmente nos últimos dias da celebração. Como uma espécie de Jerusalém, Itabaiana se viu invadida por seus filhos há muito residindo muito, muito longe e há muito tempo.
Em 1988 veio a segunda grande festa. Apesar de ser de campanha política, mas como se tratou do Centenário do status de cidade, recebido aos 191 anos já de emancipado, repetiu, em grau menor a romaria de 1975; apesar, repito, da contaminação político-partidária da festa.
Corte rápido no tempo, na atualidade é comum se encontrar o nome Itabaiana encimando tabuletas de identificação de fazendas, sítios, fábricas e especialmente de lojas comerciais. Mas, isso não é de hoje.
No início do século XIX, Hermelino Contreiras partiu daqui para o novo eldorado – o da borracha – internado-se na Amazônia. Como bom itabaianense seu negócio foi o mais leve e lucrativo de transporte, especialmente desde o Ceará ao Acre, esse ainda boliviano, agenciando mão de obra e transportando os seus produtos até o porto da soberba e endinheirada Manaus. Muitos itabaianenses seguiram suas pegadas; a maioria, contudo, não logrando o seu mesmo nível de sucesso acabaria por regressar, depois de algum capital junto.
Bem, ainda nos dias atuais, no meio da floresta amazônica, na margem esquerda do rio Juruá, lá está o Seringal São Sebastião, mas que ainda é conhecido por Itabaiana. Algumas informações raras, uma ou duas delas, apontando para o proprietário do Gaiola fotografado no porto de Cruzeiro do Sul: Hermelino Contreiras.
Pouco antes de 1900, Seu Manoel Félix de Oliveira subiu o Velho Chico até a exuberante Januária, norte de Minas, decorou o sobrenome, incluindo Itabaiana; no seu próprio e de seus filhos, estabelecendo um tronco familiar de tradição em Minas e Rio de Janeiro e fincado raízes barranqueiras no Velho Chico superior.
Mania de se dizer itabaianense, antes mesmo de se declarar sergipano. E de ostentar a marca Itabaiana por onde chega.
Isso é itabaianidade.





quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ESTÃO VOLTANDO AS FLORES

 

Desde anteontem que a ostentação começou. Ontem, por volta da nove da manhã eu passei e fotografei. A mais "saída", toda orgulhosa é a primeira do canteiro; mas a seguinte também já lhe fazia companhia. Chão forrado de pétalas, pena que só durem no máximo uma semana.

Mas... e quem disse que o que é especial pode ficar exposto indefinidamente, né?

(Esquina das avenidas Valter Franco com João Teixeira - no semáforo - Itabaiana. Pros mais velhos, a famosa esquina de Zé Charuto.)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

 O PEQUENO GIGANTE



Eu vim morar na cidade de Itabaiana, proveniente da zona rural, em 3 de março de 1975, no meio década de 1970, pois; e, tão logo fui chegando fui me familiarizando com suas particularidades e com seu quem é quem na sociedade, muito além da política, já um pouco conhecida através do ativismo do meu pai.
A Associação Olímpica de Itabaiana, ou simplesmente o Tricolor vinha de um segundo título estadual, no ano anterior, depois da glória primeira de 1969 e de 1971, campeão respectivamente de Sergipe e do Nordeste, título até os dias de hoje único do futebol sergipano. Por trás do tricolor, uma pequena constelação liderada por sua estrela maior, José Queiroz do Costa, ou simplesmente, Queiroz.
Meu mundo, como estudante do recém acabado curso Ginasial – em 1974 foi fundido com o primário virando Primeiro Grau – era resumido praticamente ao Colégio Estadual Murilo Braga, onde Queiroz foi da primeira turma de ginasianos, a partir de 1950; e à república de estudantes - onde morei - da Paróquia de Santo Antônio e Almas, mais de perto do Centro de Ação Social Católico de Itabaiana, o CASCI, onde o já rapazote Queiroz, de fins dos 1950 foi tesoureiro em seus momentos mais profícuos: quando construiu o Colégio Dom Bosco e a Maternidade São José, ícones privados da referida Paróquia, ao lado do Cine Santo Antônio, da Escola Técnica de Comércio (hoje CTP) e da própria Casa dos Estudantes na assistência social serrana.
E fui descobrindo Queiroz em tudo.
Festas da Rainha do Milho, no Murilo Braga: Queiroz era logo citado na busca por patrocínio. Que poderia vir diretamente em dinheiro ou em cessão do Cine Santo Antônio, já de alguns anos sob seu comando, o maior e mais equipado, cuja renda do filme da noite era revertida, ora pra festas como a supracitada, mas principalmente para as formaturas, ginasianas ou de Segundo Grau, ou ambas. Teatro amador, festinhas literárias... em todos os eventos, mínimos ou grandes Queiroz sempre liderou o Livro de Ouro.
Apesar de residir em Aracaju, Queiroz teve o nome citado como colaborador nas inúmeras reuniões sociais, de clubes de serviço, atas da maçonaria serrana, Rotary Club e Associação Comercial, mas foi no Tricolor, especialmente a partir do vice-campeonato de 1968 que se enterrou de corpo e alma.
Em 1978, mais um marco na História de Itabaiana: subscreveu, naturalmente liderando a fundação da sétima emissora de rádio de Sergipe, a segunda no interior, e que chegou a desbancar a audiência das demais, galgando o primeiro lugar... na própria capital: a Rádio Princesa da Serra.
A Rádio Princesa da Serra, pelo que representou naquele momento de perigo de estagnação para Itabaiana, merece um estudo aprofundado; não apenas no quesito política, mas cultural, econômico, sociológico, enfim.
A visão aguçada para o futuro, entretanto, foi embaçada pela politicagem nacional.
O lançamento do megaempreendimento – Vila Olímpica José Queiroz da Costa - que dotaria a Associação Olímpica de Itabaiana de lastro permanente para sua manutenção foi atropelado pelo congelamento do Plano Cruzado, que, somado a outras dificuldades fez o belo projeto refluir e acabar.
Queiroz também foi severamente punido pela maldição da política, especialmente a local: houve quem melhorasse economicamente em Itabaiana depois de entrar na política; mas jamais alguém rico para mais enriquecer. Ao contrário, quase todos empobreceram ou logo saíram dela ao longo da história. Seus cargos políticos, no entanto, especialmente o de Deputado Constituinte de 1988, marcaram seu nome com honra e louvor, já que obteve nota 10, máxima, por seu trabalho em geral na atual Carta Magna.
Queiroz poderia muito bem ser um empresário comum, e até ter entrado na política; feito o feijão com arroz e nos últimos 20 dos seus 86 anos de vida estar descansando uma vida de simples aposentado, depois de ganhar muito dinheiro.
Mas Queiroz apostou no que raros espíritos costumam apostar. Ou porque têm medo, timidez, ou simplesmente porque só se importam consigo mesmos. Queiroz vai além. Atualmente contido pela idade e débitos que ela costuma trazer, mas... “não é assim não!” E a qualquer momento sempre pode haver uma novidade.
A Academia Itabaianense de Letras estará nessa sexta-feira, 25 de novembro, a partir das 19h30, no plenário da Câmara Municipal de Itabaiana, outorgando a Comenda Potestas Montis a José Queiroz da Costa. É um modesto reconhecimento ao Pequeno Gigante, como dito pelo companheiro radialista e ex-vereador Gilson Messias Torres, o Portela. Pelo gigantismo em prol da terra em que nasceu e iniciou sua luta.
 “Muitos são chamados; poucos os escolhidos” (Mt, 22, 14); a muitos são dadas oportunidades; poucos as aproveitam dignamente.
Todas as deferências pelo que já fez lhes são devidas.
Parabéns, comendador “Força da Serra”.

Terminado em 22 de fevereiro de 1954, o Cine Santo Antônio, como auditório só foi inaugurado ao fim da administração municipal de Serapião Antônio de Góis. Presença, no círculo vermelho do jovem José´Queiroz da Costa, tesoureiro do CASCI, dono do prédio (atual Supermercado Nunes Peixoto)


Início da trajetória gloriosa do Itabaiana: comemoração do 1º título de campeão estadual. 1969


A emissora Rádio Princesa da Serra galvanizou a sede ceboleira de sucesso, seja no comércio, na cultura e na política. Porém o lado mais sentido do seu poder foram os cinco campeonatos que vieram a seguir a sua inauguração, em 13 de junho de 1978. Na foto maior, Queiroz posando com baluartes tricolores no pentacampeonato de 1982.


terça-feira, 15 de novembro de 2022

UMA QUASE BIOGRAFIA

 

 Anteontem pela noite, depois de quase três anos na Praça Chiara Lubich, em frente ao condomínio de mesmo nome, e ao fim da avenida Rinaldo Mota teve lugar mais um grande evento cultural de mão cheia: o lançamento da biografia de Edson Passos, regado a, nada mais nada menos de mais um caprichadamente fantástico show de Amorosa.
Amorosa, em si já é um show permanente. Comunicadora nata, minha confreira na Academia Itabaianense de Letras não é uma simples e excelente cantora; ela canta, interpreta, poetisa, faz trovas, tudo planejado ou se e de vez em quando dá um banho de improviso versejado que nada fica a dever aos titãs da viola e do cordel nordestinos. Uma completa atriz que tão bem canta.
Às vezes sou levado a especular mentalmente que Amorosa não se tornou um grande nome nacional – ainda – por ser grande demais para ser embalada para consumo pelo show business.
Curiosamente a Avenida Rinaldo Mota, nascida meio tímida, quase envergonhada no finzinho dos anos 80 (nem nome já tinha), onde Edson Passos resolveu por em prática o aprendizado na construção, desde escriturário numa marmoraria justo quando estava sendo projetada a sobredita Avenida foi a ampliação do curso de outro empreendimento da expansão urbana, realizado por Euclides Paes Mendonça em 1954, tão logo chegou a BR-235, cujo leito de então é hoje a Avenida Manoel Francisco Teles: a 13 de junho, assim denominada pela Lei Municipal 136, de 30 de junho de 1955.
“V - Rua 13 de junho, que acha-se compreendida entre a Avenida Dr. Carlos Reis e a Rua Quintino Bocaiuva, acha-se localizada entre o subúrbio e a Rua do Ginásio e com prolongamento em ambos os sentidos, nascente e poente.”
Destinada, pois, a ideia, arrojados e seus timoneiros.
E sobre Edson Passos, foge-me uma categorização precisa, mas tentarei fazê-la.
O encontrei em fins da década de 1980, mais um ceboleiro lutando pela sobrevivência como a quase totalidade dos moitchapans(*). Voltei a encontrá-lo na segunda metade dos 90, já pequeno empresário no mesmo ramo, com o firme propósito de fazer um curso arquitetura, estimulado pelo agitador Altamiro Brasil (Esse moço me deve!). Sincera e interiormente desaprovei; mas como o cabra tava todo animado e no fogo posto por Brasil, assenti levemente e deixei rolar.
Pouco depois soube que entrara de cabeça no seu primeiro projeto imobiliária: o Loteamento Mandacaru.
Ideologia e dinheiro, negócios, investimentos costumam dar em divórcios litigantes e traumáticos. O nome Mandacaru eu desaprovei na hora; mas me mantive calado. Foi mais ou menos bem sucedido. Algumas ruas traçadas só agora de dez anos para cá foram efetivas, porém... o padrão de loteamento finalmente mudou. Não mais o abrir de ruas na poeira, sem pavimento, sem redes de água, esgoto, eletricidade e iluminação pública como comum até ali.
E aí o Edson “endoidou” de vez: conseguiu lançar o Projeto Chiara Lubick, loteamento e condomínio. Mais ainda: conseguiu convencer gente mais comedida que o habitual a entrar no negócio; que, honestamente, bem arriscado e meio megalomaníaco. Se não estou sendo parcimonioso.
Durante sua história, a cidade de Itabaiana, fundada em 30 de outubro de 1675 num lugar seco, originalmente chamado de caatinga nunca segurou população; e, especialmente depois da chegada da BR-235 que se converteu num posto avançado de emigrantes rumo à capital.
Ao nascer da cidade, sua única vantagem estratégica, a de ser um entroncamento das estradas das Entradas, pros sertões, e da grande estrada real, o Caminho de Sertão do Meio Olinda Salvador, quando a povoação foi emancipado de São Cristóvão, em 1697 já não mais tinha função relevante, visto que o trânsito era quase todo feito por mar, ou pelo Caminho do Mar, no litoral, obviamente. Nenhum atrativo tinha Itabaiana para segurar seus próprios filhos; muito menos para atrair pessoas de outras plagas. E assim atravessou os séculos XVIII, XIX e metade do século XX.
Com a chegada da BR-235 não mudou muito. Mais dez anos sem água encanada(mais trinta de penúria total no abastecimento); mais vinte sem a mesma BR-235 asfaltada e até 1989 o único hospital era inexpressivo.
Como dar certo um empreendimento que compreendia moradias de alto luxo, e desacostumado disso em escala maior? Já havia um caso recente; todavia bem menor, e de fato feito a fórceps. À base de ajeitamento, mais com vistas à especulação que à ocupação de rotina. O mercado teria espaço, num lugar de muito dinheiro, mas de elevado investimento na capital?
Mas deu.
A cidade que ainda exporta grande parte de sua renda, em forma de investimentos e até de pessoas mais bem aquinhoadas e profissionalmente qualificadas; no entanto reduziu essa transferência e, mesmo com o desabar da natalidade dos últimos vinte anos espera-se que quando terminar o recenseamento ora em ação, finalmente possamos passar da faixa dos 100 mil habitantes e dos cinco por cento da população estadual a que somos submetidos desde a emancipação de Ribeirópolis, há 90 anos.
Mas a importância maior dos atos do arquiteto e urbanista Edson Passos, visíveis nos condomínios por ele desenvolvidos não se resume a eles.
Como o Mandacaru foi um paradigma para a administração municipal romper com o velho estado a que estava amarrada, o Chiara e sua estrutura ecoou até além fronteiras municipais tornando-se modelo até mesmo em urbes bem mais pequenas que Itabaiana.
Era inimaginável as pistas de caminhadas das nossas avenidas – do sistema Chiara e além dele – e seu enorme movimento às manhãs e tardinhas atual há 15 anos, em 2007, pois.
A cidade ganhou enormemente em qualidade de vida.

O preço invisível.

Infelizmente nada se ganha sem perdas.
Desabou a especulação imobiliária (os conjuntos populares do Minha Casa Minha Vida foram a pá de cal); saímos da mesmice administrativa urbana; reinvestimos pequena parte do que iria pra fora, especialmente à capital; adquirimos novos bons hábitos, porém, infelizmente nos isolamos muito mais.
Pela natureza dos tempos e do próprio empreendimento, em geral murado, se já não se encontra amigos com a mesma frequência e, chegar às suas vivendas é constrangedor por ter que ser barrado nas sucessivas portarias. Amizades condenadas à morte.
A política dos condomínios não inventou esse apartheid; ele já vinha vindo, célere e cada vez mais acintoso à medida que a paranoia com segurança foi ganhando terreno diante da escalada da violência. Todavia, é inegável que os condomínios mais avultaram esse estado. Juntando-se com a tecnologia de comunicação, que paradoxalmente mais solidão gera, e o estado geral de insegurança, cada vez mais segmentados ficamos. E nisso até a religião influi.
Hoje temos muito mais evangélicos, segmentados em inúmeras igrejas e até a velha matriz de Santo Antônio e Almas, mãe de Itabaiana, hoje sofre a concorrência de mais outras seis paróquias. Para se analisar socialmente isso, eu nasci no povoado Mangabeira, mas que à época pertencia à Paróquia de Nossa Senhora da Boa Hora, de Campo do Brito, e assim o tinha sida desde 1845 quando a Paróquia de Santo Antônio e Almas foi dividida pela primeira vez. Como resultado de praticamente cem anos de isolamento dos fregueses de uma paróquia em relação à outra, os itabaianenses do vale do Jacaracica, Jacoca-mirim e margem direita do rio Sergipe em geral são quase todos parentes, próximos ou não; mas pouquíssimo parentesco há com o pessoal dos vales dos rios das Pedras, Traíras, Lomba e Jacoca, originalmente na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Hora.
Todavia, “o tempo não para”, como diz o poeta pop. E, como diz o outro, “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”.
E, homens que realizam não podem se deter em possíveis detalhes negativos já que buscam sobrepô-los com suas ideias, bem além daquilo que se perdeu.
Ainda não li, obviamente, a trilogia que compõe a biografia do meu particular amigo Edson Passos.
Ah, e quase biografia porque definitiva somente quando se morre. E o sujeito, para usar um termo do saudoso Oviedo Teixeira está começando a engatinhar.
Compromisso vindouro.

(*) Estudos nesse sentido, não os há; não conheço. Mas tenho fortes indícios que os matapoanes (moitchapan, no linguajar popular) foram o últimos valentes a cair sob a descomunal força luso-espanhola na Conquista de Sergipe, fato que teria ocorrido ao entorno da serra do Pico; e também a base indígena sobre a qual o invasor deitou sua semente de onde surgiria um povo inteligente, resistente e até teimoso, trabalhador e empreendedor, simbolizado no primeiro deles: Simão Dias, o mameluco(filho de branco com índia), também conhecido como Francês. Dessas matapoanes quase todos nós, alguma coisa carregamos.


DE VITÓRIAS E GRATIDÃO.

 

"Obrigado, obrigado, mil vezes obrigado.
(...)
...grande fato era sempre a Proclamação da República.
Aceitai, cara mestra minha boa amizade. Tenho dito." (*)


Hoje fazem exatos 50 anos que, ao entardecer, por volta da dezessete e trinta, quase entrando pela noite recebi das mãos de alguém, de que não me lembro meu certificado de conclusão do Quarto Ano Primário, na Escola Municipal São Vicente, hoje D. José Thomaz, no povoado também mudado de nome, de Mundés para Rio das Pedras, do município de Itabaiana.
A mudança do nome da unidade escolar, não sei o que motivou a municipalidade a lhe trocar o nome em meados da primeira década deste século, possivelmente depois de anos sem mais usar o não oficial São Vicente. Já a mudança do nome do povoado, de fato ela ocorreu lentamente, a partir do início da tímida urbanização, no início da década de 1950, à margem da rodagem Itabaiana-Laranjeiras, quando antes mesmo da construção da BR-235, famílias sertanejas, carirenses e freipaulistanas se estabeleceram no local. E oficializada em Lei municipal de 2009.
Naquele tempo, pessoas do sítio – zona rural – não costumavam penetrar nos circuitos citadinos, mesmo sendo de relativas posses.
O grande sonho estudantil do garoto do sítio era conseguir o Quarto Ano Primário, o que lhe abriria um mundo maior na periferia, quiçá até algo mais.
Mas os tempos estavam mudando celeremente. Menos de duas décadas antes, nem os da cidade iam além do Ginásio, então para pouquíssimos; agora, não apenas estes já dispunham de Segundo Grau, como até mesmo na minha vizinhança já tinham pais ousados – bem raros – a encaminhar os filhos ao Colégio Estadual Murilo Braga para fazer o Admissão ao Ginásio, espécie de ENEM a seguir o antigo Primário.

Foi um momento grandioso.

(*) Início e fim de meu discurso de agradecimento, especialmente à minha professora, Maria do Carmo Nascimento, que, infelizmente, notícias preliminares me dão conta que faleceu no último sábado, de outubro, 29.
(
Montagem fotográfica com: mensagem em nome do então prefeito José Filadelfo Araújo, por sua auxiliar, Maria Izabel de Morais Santos; panfleto político, com o resumo da História de Itabaiana, da minha campanha a vereador, em 2004; capa do meu livro sobre o mesmo assunto; sob fundo da visão da minha infância da serra.)

domingo, 13 de novembro de 2022

SÃO OS NEGÓCIOS.

 

Salvo engano é no esplendoroso filme de Francis Ford Coppola, O Poderoso Chefão, o primeiro, em que a expressão “são os negócios” aparece o tempo inteiro no linguajar dos ‘capi’ ao justificar coações, humilhações, assassinatos e tudo o mais que deixaria o demo de queixo caído.
A política, em si é um negócio. Por isso o termo negociação que, sem ela seria uma guerra, eliminações de uns por outros eternamente.
Conta a fábula que um macaquinho vivia cansado de correr, desde os semelhantes para roubar-lhe, aos predadores o querendo jantar. Então pediu a Deus para acabar com tudo, no que foi atendido.
Cansado com a eterna burrice de suas especiais criaturas – os humanos – o Senhor afrouxou os controles e a caca veio à tona com milhares de bombas atômicas explodindo no que queimou praticamente o planeta inteiro.
Assim que começou a hecatombe, o macaquinho, trepado no cimo da árvore mais alta com medo de apanhar mais uma vez fechou os olhos e aguardou aqueles malditos 30 segundos que durou para tudo ser torrado. Cogumelos nucleares tapando luz do sol, eis que nosso eternamente vitimizado abre os olhos e naturalmente ficou desolado: tudo em cinzas. So o pau em tinha trepado restara de pé, porem sem a maioria dos galhos e nenhuma folha.
Descendo lentamente, entristecido, na sua mente um lampejo de esperança: ao menos estou sozinho no mundo e ninguém mais vai me perseguir.
Continuou a descer, quando enxergou ao longe algo se movendo em sua direção. À medida que mais se aproximou identificou uma macaquinha que corria em sua direção.
Soltou as mãos, levando-as à cabeça, exclamando: “Vai começar tudo de novo”.
Voltando à política, gostem ou não dela os impacientes, simplistas, é a única forma de se resolver os inevitáveis conflitos de interesse entre pessoas ou grupos delas. No mais é guerra, com a eliminação do outro, às vezes com perda total para ambos: mortos, e matadores que empobrecerão profundamente a seguir.
Atualmente, no Brasil observamos um estado de sandice monumental. Em nome da democracia, “o pior dos regimes, exceto todos os outros”, segundo Winston Churchill. Inconformados com uma derrota eleitoral uma massa semi-amorfa (constituída de agitadores profissionais assalariados e a massa fanatizada) agora ocupa a frente dos quartéis militares pedindo “intervenção militar”. À massa fanatizada, ignorante, paga para se “manifestar”, mas crente no que faz é questão de tempo para os “salvadores da pátria”, fuzis em punho, começar a matar brasileiros, petistas ou suspeitos de os serem; já para os “maganos”, profissionais, por trás da baderna... “são negócios”.
De mesma natureza que os “revoltosos” de 2013 – os black-blocs – bandidos altamente treinados e remunerados e com o intuito de manter o Brasil rumo ao poço da mesma forma com que tem sido desde 2013.
Quem paga a essa turma?
Manter uma média de 200 “manifestantes” acampados em frente aos mais de 200 Tiros de Guerra no Brasil é muito caro, mesmo a base de Salário Mínimo. Quem tá bancando?
A natureza comercial, profissional da baderna aparece aqui e acolá, como na arrecadação “pela causa” inferida no presente cartazete.
Meio de roubo.
A democracia tem dessas coisas: o homem que estabeleceu a democracia pela primeira vez, Clístenes foi a primeira vítima da aplicação dos “freios e contrapesos” a ela inerentes. A mesma democracia que provê a sociedade de mecanismos necessários à liberdade, pode gerar aos néscios e bandidos a liberdade de apedrejar... a democracia.
E, como na Alemanha da década de 1930, exceções à parte, a ciência da vida anda por aqui recheada de apelos à morte.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

JOGO DE INTERESSES.

 

Que o clima político anda brabo, isso não é segredo pra ninguém; que o Presidente da República, simbolicamente “o pai em exercício” da Nação, ao invés de reduzir arestas como regimental, moral e eticamente lhe compete mais acentua o ódio e a loucura coletiva, isso mais tem sido claro. Mas, de onde vem o mosto disso? Quem primeiro plantou o veneno?
Uma cena com diálogo tolo, muito longe das discussões científico-acadêmicas da sociologia, psicologia e política me chamou a atenção há aproximadamente 30 anos, e desde então colou na minha cachola. É quando no filme “Dave, Presidente por um dia”, 1993, estrelado por Kevin Kline e Sigourney Weaver, numa discussão para convencer um sósia do presidente a representá-lo momentaneamente, um secretário diz pra ele:

“Às vezes, nossos amigos...  e até os inimigos precisam se sentir salvos... e seguros. Precisam ir para a cama à noite... sabendo que o presidente Mitchell está governando. Precisam sentir que ele está sentado aqui...  nesta cadeira.”

O Presidente da República não deixa de ser um rei, rex, o mais importante, vital, a cabeça da Nação; em que pese por um determinado período, eleito pela maioria e sob o império da Lei que normatiza dele ao pedinte mais humilde da nação; mas ele tem a obrigação de cuidar da Pátria e do seu povo. Pena que quase nunca é assim; e os cabeças em geral se convertem em reles chefes de bandos, às vezes contra a própria pátria, voluntária ou involuntariamente.
Desde 2013 que o país que nunca viveu essas harmonias todas mergulhou num turbilhão lamentável cada vez maior, ameaçando e até ferindo mortalmente conquistas duramente realizadas ao longo de 80 anos de sofrimentos e lutas para sair do vergonhoso quadro de 68º lugar dentre as nações do mundo, mesmo sendo o quinto maior, não ter um metro de gelo, ou deserto, nem íngremes montanhas.
A indústria da construção civil pesada foi pro vinagre; grandes empresas indutoras de desenvolvimento, despedaçadas ou procrastinadas, o que quase pode significar o mesmo; perder tempo. E tempo é dinheiro.
E instalou-se a loucura de as famílias não poderem mais se reunir sem sobrar gritos, palavrões e até agressões físicas... sem nenhuma pendência pessoal familiar, como uma briga por herança, por exemplo.
Mas, nenhum regime, por mais perverso que seja é danoso igualmente para todos.
Os gatos gordos sempre engordam mais. Especialmente se tiverem a sorte de do outro lado do mundo ter alguém com dinheiro e querendo tirar o atraso de um século e meio de queda, permanência e longa ressurgência para se colocar de novo no topo da liderança mundial, como a China.
Coincidentemente, desde a consolidação do Golpe – o mais recente – e eleição do atual mandatário federal mais têm desaparecido as festinhas pessoais regadas a muita cerveja e o churrasquinho. A explicação é simples: enquanto para alguns poucos o céu tem sido o limite; para a maioria assalariada é se reinventar para viver com salários da era Sarney, há 40 anos atrás. No caso do funcionalismo comum, federal e até estadual, tem sido muito pior: sete ou mais anos sem aumento.
E, dos gatos gordos, depois dos banqueiros, os que mais lucraram foram os produtores de carne e leite.
Um quilo de queijo popular comprado para o Natal de 2020, por 34 reais neste agora, está custando 60 e até 70; um peso popular de carne, comprado no Talho de Carne João do Volta (municipal) sofreu a mesma majoração.
Adeus churrasquinhos de fim de semana!
Adeus churrasquinhos na copa.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O ORÇAMENTO SECRETO.

 

Além do caráter de negociação política que acompanha a natureza do Orçamento Secreto, no governo federal, obviamente, e que naturalmente dificultará o seu fim, há um outro aspecto, materialmente muito mais explosivo, em matéria de estratégia de segurança: jamais se deve passar ao adversário toda sua capacidade de defesa e ataque.
Nisso reside, máxime o poder de dissuasão.
No verão europeu de 1939, Hitler estava excitado com a possibilidade de fazer a guerra pra valer, como próprio de todo tirano, e queria começar por riscar a Polônia do mapa invadindo-a, para num futuro chegar a Moscou, seu objetivo maior. Mas, mexer com a Rússia lhe atemorizava, como depois, em maio de 1945 ficaria claro que ele nisso estava certo; então, buscou uma impensável parceria com a própria União Soviética, Rússia de então, para começar com a fragilíssima Polônia, dividindo-a entre os dois.
A invasão da Polônia, em 1º de setembro de 1939 sob o pacto Ribentropp-Molotov foi um golpe de mestre. Hitler pôde ali ver que a Rússia soviética só tinha tamanho. E preparou-se para sua grande “missão”: exterminar a Rússia, consequentemente limpar toda a Europa do comunismo e fundar seu Terceiro Reich. Só não deu certo devido ao tamanho colossal do ex-Império Russo, e agora União Soviética, em homens e fibra, subdimensionado pelo tirano nazista.
Os sistemas financeiros mundiais – e todas as transações financeiras, quanto e com quê – estão praticamente todos sob vigilância da banca anglo-americana. Nada se negocia, se compra ou vende sem que esteja ao alcance do Tesouro dos Estados Unidos, hoje comandado a quatro mãos pela “city” londrina e por “Wall Street”. Pode parecer bizarro, mas o comando dos Estados Unidos e de quase todo o mundo não é de Presidente Biden; é de alguém nas sombras, no topo do comando dos bancos, nos dois lados do Atlântico. Biden é somente o apertador de botão
Desta forma, resta aos países que querem alguma autonomia cair naquilo que pode ser classificado como marginalidade.
O risco de corrupção generalizada é enorme: ninguém mexe com mel para não sequer lamber os dedos. E os gatos gordos sempre vão na maior fatia; nos copos cheios, a se lambuzar.
O outro dado é que quanto maior os ajeitamentos, mais caro vai ficando, e mais complexo com a inclusão cada vez maior de elementos da ratazana menor.
Porém, escândalos americanos da era Reagan como o Irã-Contras tende a se tornarem comuns nas estratégias dos Estados a fugirem da excessiva vigilância, quase sempre com fundos de estratégia local e internacional de poder.
Certa feita um prefeito da região foi à loucura quando descobriu na manhã de um certo dia 10 que eu noticiara em meu portal (extinto desde 2004), que seu Município recebera até mais do que o previsto, por pagamentos de atrasados do Tesouro Nacional. Os valores, creditados na conta e publicados de imediato foram uma conquista destes tempos de internet no segundo Governo FHC, até dezembro de 2002, há vinte anos.
Em 2002, prestando serviços de informática à Câmara Municipal de Itabaiana, defendi, num artiguete no Observatório da Imprensa a transparência total, com o uso da internet. Esse material acabou numa sala de discussão numa universidade americana.
Não posso negar a minha satisfação naquele momento.
Quatro anos depois, porém, ao ler sobre uma medida do sistema contra o Irã, caiu a ficha: nem a transparência, já adiantada pelo Governo Fernando Henrique Cardoso e radicalizada pelo Governo Lula estava de fato cumprindo com o seu objetivo de inibir a corrupção; como ali também enxerguei esse aspecto, o da fragilização dos governos nacionais em protegerem seus países das intervenções danosas por parte dos Estados estrangeiros, como mãos executoras dos verdadeiros mandarins do sistema financeiro internacional.
Em resumo, eis a Venezuela. Com trilhões em ativos em petróleo, mas com polpudos depósitos em bancos estrangeiros, há mais de década congelados – e seu povo passando fome - sob a esdrúxula alegação de ser uma ditadura, quando os Estados Unidos e o Reino Unido, em nome de seus bancos negociam com ditaduras ferozes mundo afora e são, nos últimos 200 os maiores fomentadores de regimes tirânicos mundo afora.
Em resumo, o Orçamento Secreto pode não ser tão danoso ao Brasil. Desde que não sirva para comprar votos.


quarta-feira, 2 de novembro de 2022

FEIRA DO LIVRO DE ITABAIANA E SERGIPANIDADE.

 

Na natureza, nada se cria e nada se perde; tudo se transforma. (Lavoisier)

Verdade implícita no tempo e no espaço. Na natureza das coisas. Tudo provem de um princípio subjacente.
A partir de sexta-feira, 04 – e até o domingo, 06 - transcorre em Itabaiana, nos corredores do Shopping Peixoto a II FLI – Feira do Livro de Itabaiana. É, de fato, um aquecimento para a V Bienal, prevista para o próximo ano; e um poderoso conservante e estimulante aos produtores de literatura e cultura em geral, no estado. Centralizada no pequeno estado de Sergipe, e com vias de acesso em boas ou ótimas condições, “a encruzilhada” Itabaiana se constitui, não somente na cidade que vai até todo canto pelas mãos de sua enormidade de feirantes, ou atrás de um volante, na sua exponencial rede de serviços de transportes de passageiro, ou caminhoneiros, como também se firma cada vez mais como polo de atração, especialmente do ponto de vista cultural desde as décadas passadas. O próximo fim de semana promete, pois.
De fato, não comentado ou explicitado, o evento acaba por comemorar a maior e mais emblemática data na construção da sergipanidade: A REBELIÃO DOS CURRALEIROS, ocorrida em 5 de novembro de 1656.
A Rebelião teve origem nos campos de Itabaiana, então o maior centro pecuarista do ainda nascente Brasil, com foco no fornecimento das duas mais ricas capitanias da então colônia portuguesa – Bahia e Pernambuco – e de subprodutos, o couro, em especial, à enorme frota marítima comercial portuguesa e sua fome incessante de cordas de couro para manter as velas das inúmeras naus no ponto. O couro ainda era o meio especial para embalar o fumo com o qual o comércio marítimo tinha quase metade do lucro obtido com o açúcar.
Os motivos dela foi o desconsiderar do status sergipano de capitania independente, que levava a câmara de Salvador a cobrar impostos nos campos de Itabaiana, e da produção fumageira lagartense, sendo que isso deveria ser feito apenas por São Cristóvão.
E aí viriam séculos de insatisfação e revolta; contudo, até o decreto real de 8 de julho de 1820 muito água rolou por sob a ponte.
Desde a conquista de Sergipe, terminada com a batalha da serra do Pico (fronteira dos atuais Frei Paulo, Macambira e Itabaiana) que, Itabaiana tinha se tornado um imenso curral de gado entre suas serras, e ao mesmo tempo foco da mítica prata de Melchior Dias Moreia (Caramuru, em tupi). Ao mesmo tempo, os novos donos da terra, depois de tomadas aos índios as tinham para arrendar; deles que sequer vieram ao Brasil. Os arrendatários, apropriadamente denominado de Curraleiros, pela saudosa historiadora Maria Thétis Nunes, às suas próprias custas levantaram a igreja de Santo Antônio, no depois povoado da Igreja Velha, buscando o reconhecimento das autoridades sancristovenses, nomeadas pela Bahia, inclusive do seu arcebispado, o primaz do Brasil. Sem êxito.
Metade dos curraleiros viviam na cidade, ou seja, em São Cristóvão, que era de uma penúria pra lá de franciscana. A outra metade preferiam viver junto à sua vaqueirama e seus currais. Nenhum benefício. Nem a São Cristóvão, cuja matriz só veio a ser concluída em pedra e cal ao fim do século XVII; muito menos permitir uma povoação em Itabaiana ou Lagarto.
Faz-se necessário lembrar, que um dos motivos de status era, ao morrer ser enterrado dentro de uma igreja. Cemitério era pra pobre; e especialmente para escravo.
Mas os cobradores de impostos não arredavam o pé.
No início de 1654 foi nomeado Manuel Pestana de Brito para governar a capitania, como Capitão-Mor, obviamente. Soldado português, Pestana de Brito acabara de sair das lutas em Pernambuco, que expulsaram os holandeses. Veio cheio de moral. Mas era completamente de fora do esquema da Câmara de Salvador (a Bahia de então era toda um só município, como Sergipe), quem mais se beneficiou com os impostos do gado sergipano.
Chegou e encontrou uma pilha de reclamações não resolvidas, de proprietários, vereadores ou não, de São Cristóvão, quase todos sobre impostos sobre o gado; e uma cidade, de fato alguns casebres de taipa reconstruídos por sobre os mais antigos, incendiados pelo Conde Bagnoulo, comandante da resistência contra os holandeses de Nassau, dezessete anos depois. E cofre zerado. Ele próprio com o salário pago pela Câmara de Salvador, e não pela de São Cristóvão, nem sempre em dia, tratou logo de alugar terras em Itabaiana (talvez Campo do Brito venha daí; mais isso é somente especulação sem fundamentos em documentos), e passou a criar gado.
Passou dois anos sob pressão, sendo demitido ainda por duas vezes antes de o ser em definitivo em 1657, quando foi preso.
Num ato de desespero, possivelmente para ver se levantava o governo português em Lisboa da preguiça em resolver o contencioso, claramente apoiou, talvez até estimulou a invasão de São Cristóvão no dia 5 de novembro de 1656. O que veio depois foi a tradicional e ibérica punição exemplar – exageradamente e injusto, viciada - com prisões em massa a ponto de tanto desorganizar a produção de carne e couro que a advertência veio da própria rainha regente para que aliviassem o punitivismo exacerbado. O “lawfare”. Era tarde demais.
Sergipe baixou a cabeça, dobrou os joelhos, mas jamais o espírito.
A II Feira do Livro, mesmo que não cite a importância da data - de fato só começada a ser estudada pela professora Thetis Nunes, com a feliz concorrência do levantamento na Torre do Tombo de documentos, pelo professor Lourival Santos - ocorre exato naquela data que, na minha modesta opinião se constitui no ponto máximo da construção da sergipanidade.
Que venham sexta, sábado – o grande dia - e o domingo.
Nossos parabéns à comissão organizadora, nas pessoal dos guerrilheiros literários, Domingos Pascoal e Antônio, o Saracura que não quis “ser ‘pade’”; e sim “’pade’ ser”.