sábado, 9 de setembro de 2023

TEMPOS DE EVOLUÇÃO.

 

Hoje pela manhã, numa rápida passagem pela Praça Fausto Cardoso dei de cara com uma cena inusitada, até agora, mas que se deve tornar fixa, perene, doravante: aparentemente, a municipalidade decidiu levar dois banheiros químicos para a mesma.
Registre-se que não é tipo de solução definitiva e adequada: o banheiro, em verdade o sanitário químico é apropriado para eventos; de no máximo um dia. Depois disso forçosamente necessitará de destinação correta do material nele depositado e higienização completa. Como exemplo, além do visual, o que me chamou a atenção ao deles me aproximar, junto ao septuagenário coreto, foi o mau cheiro que já estava a exalar por volta das dez e meia. Não é, pois, um cartão postal.
Por outro lado, as necessidades constantes de sociabilidade; a presença dos “genários” cada vez maior na praça; e suas características de bexigas frouxas, típicas dos dessa faixa etária (sexagenários, septuagenários, octogenários e nonagenários), boa parte com sequelas de AVCs - como eu, aos 60 e poucos – faz premente a necessidade desse tipo de serviço pra turma do jato fácil. Muito bem acertada a atitude da administração; só reforçando que deve ser solução passageira. Substituída por estrutura fixa, devidamente bem feita e conservada, discreta – não pode ser mais visível que as estruturas que lá já estão; muito menos ofuscar a praça – enfim, adequada àquela que, sem bairrismos, considero a mais linda praça de Sergipe... até onde conheço outras noutras cidades.
Afinal, a Praça central é a Praça central! Por mais que surjam bairros chiques; serviços sejam mudados para ambientes de melhor mobilidade motorizada... mas a Praça central continuará sendo o Centro do Centro, simbolizado por seu símbolo “nave kriptoniana do Superman”, que simboliza o centro do estado de Sergipe (*).

A nova realidade etária

Por outro lado, é preciso adaptá-la aos novos tempos de população envelhecida cada vez maior.
Os tempos das matronas altamente reprodutivas, turbinadas pela carne carneiro, registradas por D. Marcos Antônio de Souza, em seu Memórias da Capitania de Sergipe, de 1808, foram-se. Atualmente a mulher itabaianense tem no máximo dois filhos em sua vida reprodutiva. Dez por cento dos tempos de D. Marcos.
E Itabaiana cada vez mais entra numa realidade de aumento proporcional da velhice.

 
Ainda não foram liberados os números detalhados do Censo 2022 pelo IBGE, porém cruzando os números de nascimentos e de mortos, disponíveis de 2010 até 2021 dá para estimar com pouca margem de erro que dobramos proporcionalmente o número de velhos nos últimos 40 anos. É muita gente de cabelo grisalho a branco necessitando ao menos de um mictório por perto.
E essa massa tem ordens médicas para caminhar e se divertir; socializar-se ao máximo.
Nenhum lugar melhor do que o meio do velho Sítio de Ayres da Rocha Peixoto. Com apoio logístico, logicamente.
Afinal, Roma foi Roma também porque tinha banheiros públicos espalhados pela cidade, em pleno período de Augusto, 27 anos de Cristo a 14 depois de Cristo nascer.
O sanitário público do edifício Serra do Machado foi o primeiro, a serviço dos feirantes. Agora são novos tempos. Cabe-os nas praças, ao menos na principal.



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A GRAVIANA

 

O viajante, extenuado chegou ao chalé, semicercado de telheiros, como em todas as vivendas menos modestas rurais, no cimo da baixa colina, algumas dezenas de metros da estrada cavalar, já por volta da hora do Ângelus e pediu rancho.
Na correria para ajeitar os animais para a noite, a dona de casa indicou-o ao marido, na lide com suas vacas e bezerros, parte para protege-los de alguma intempérie noturna; parte para garantir que a bezerrada não mamasse antes da hora de tirar a cota da família, antes de liberar os animais para serem animais.
O viajante aproximou-se do dono da casa e perguntou-lhe se podia pernoitar embaixo do seu telheiro vasto, e nele armar a sua rede.
Depois de algumas apresentações e credenciais o dono da casa aquiesceu e o conduziu para a parte do telheiro onde ficaria menos exposto ao frio da noite, porque do lado do sol vespertino, que ainda estava cálido devido ao recente pôr-do-sol.
O viajante lá armou sua rede e se acomodou esperando uma noite de sono tranquila, em segurança, se sentindo acolhido.
Como em época de inverno, em cima um alto e descampado, sem vegetação alta por perto, o dono da casa avisou para tomar cuidado com a graviana que sempre chegava, especialmente por volta da madrugada. Ao notar certa confusão no hóspede, riu, e amenizou, dizendo que há duas ou três semanas que ela não ocorria.
E foram se deitar, já que noite “sem lua”, e, naturalmente sem a modernidade da iluminação elétrica.
Ocorre que o casal hospedeiro também possuía uma bestinha para o serviço doméstico. E, por volta da meia noite o viajante acorda atordoado com um relincho bem próximo a sua cabeça e não pestanejou: deu de garra de espingarda, da qual não se apartava quando em a viagem por aqueles sertões e disparou sobre aquela coisa turva perto de si.
Ao clarear viu o tamanho da besteira, induzida pelo medo e a ignorância que tinha feito: a pobre bestinha jazia sem vida a poucos metros.
Sem conhecer o termo, graviana – vento frio - e nem ter explicação prévia, achou que estaria diante de um animal carnívoro e feroz e atirou.
Como negociou a reparação do prejuízo, isso nunca me foi dito. Mas ficou a lição: não produza dúvidas, desnecessariamente: pode o resultado ser muito danoso.
Essa história de fundo moral me foi contada quando criança; e lembrei dela ao sentir que o frio voltou; especialmente agora pela tarde, e possivelmente para se despedir. Estamos a quinze dias de o sol, nossa estrela vital, retornar para o Sul, onde deve nos trazer muito mais calor pelos próximos sete meses – até abril – quando, em seu ciclo eterno terá retornado para o norte. Der fato, o sol não vira; quem muda de posição é a nossa belíssima bola azul – a Terra – solta no espaço, a girar a 1.630 quilômetros por hora, e a se deslocar a 100 mil por hora no espaço cósmico. Ao redor do Sol. E a gente só sentindo a brisa, quando passa.


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

MOMENTO ESPECIAL PARA ITABAIANA.

 

Hoje, Sete de Setembro, data máxima nacional, um momento muito especial para sempre ficou eternizado pela lente de João Teixeira Lobo, o seu Joãozinho retratista, descendente de um colateral do grande benfeitor de Itabaiana, Padre Francisco da Silva Lobo.
Ao disparar o obturador de sua máquina fotográfica de cima do coreto da Praça Fausto Cardoso, por volta das dez horas de Sete de Setembro de 1938, Joãozinho Retratista não apenas fez o ato de tirar uma foto, como observa Robério Santos, na apresentação do seu livro, Joãozinho Retratista, o mestre da fotografia (grifo meu):

“Uma foto é apenas o congelamento de um fato, como uma pedra inútil que cabe a nós, POETAS DA LUZ, captar esse momento ímpar e torcer para que nunca se repita e você tenho consigo um momento só seu que deve dividir com o mundo.”

Eternizou um momento de virada na sociedade itabaianense, qual seja, o nascimento das festividades cívicas, nunca antes realizadas.
Cinquenta anos depois, mesmo tendo confundido uma data menor como de aniversário da cidade, dez dias antes do Sete de Setembro, outra gigantesca festa gigantesca marcaria o imaginário popular e entraria na devoção leiga dos itabaianenses. E tudo começou ali, em 7 de setembro de 1938.

 

A impossibilidade antes de 1938.

Não foi hábito no Brasil o Desfile ou qualquer comemoração à data da Independência, em geral. Alguns desfiles militares, onde existiam quartéis e nada mais.
E, antes de 1937, nem uma escola de fato, existiu em Itabaiana; no máximo algumas salas de aula em casa particulares, a maioria, descontinuadas. Também, aquela que era para ser em 30 de outubro de 1675, a cidade da prata (a Potosí do império português) não se confirmou, ficando apenas a paróquia de Santo Antônio e Almas, e uma povoação que quase nada cresceu em 275 anos. Se inicialmente como cidade, além de imediatamente emancipada, teria paróquia, câmara, cartórios, ouvidores, e, para guardar a prata teria forte esquema militar e seria murada, teria fossos, com torres, guarnecida por canhões e pontes elevadiças. Até 1937, mesmo que quisesse, Itabaiana não teria como organizar um Desfile Cívico. Os esporádicos que houve foi da Guarda Nacional, que acabou em 1920.

 

Mas em 1937 os ventos estavam mudando.
A inauguração do Grupo Escolar Estadual Guilhermino Bezerra, em 4 de abril de 1937, pôs fim a um vexame secular de ser uma cidade analfabeta, apesar de uma gente lutadora e tão progressista.  
Em 1937 o desfile não se realizou; apesar de já ter as primeiras turmas, de uma das quais participou D. Ieda Tavares Silveira, ocupante da Cadeira 26, patrono, seu próprio falecido esposo. D. Ieda, depois se formaria no magistério e retornaria ao Guilhermino Bezerra, agora como mestra.

Em 10 de novembro de 1937 houve o golpe do Estado Novo e o governo federal, agora centralizando todas as decisões procurou organizar o país, rompendo com vários vícios e costumes, modernizando muitos aspectos administrativos, como por exemplo, acabou com a dicotomia de vila e cidade para a sedes municipais, deixando só a cidade; obrigou a todos os municípios constituírem mapa, da cidade e de todo o município; criou a Rádio Nacional, transformando-a em tribuna da cultura brasileira; e o Sete de Setembro universalizado, para todo o país. Lógico: onde houvesse condições mínimas de realização.
Por isso que essa foto é o primeiro registro que simboliza, não só novos tempos para Itabaiana, como para todo o Brasil.
Viva o Sete de Setembro!
Viva o Brasil!
Viva Itabaiana!



(Corrigido o nome da acadêmica Ieda Tavares Silveira, impropriamente antes grafada Tavares Mesquita. Nossas desculpas.)