sábado, 15 de setembro de 2007

Há tempos

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.”
(in Pais e filhos. Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)

Há tempos desapareceu o belo painel de Cris pintado no oitão da casa da esquina na Barão do Rio Branco com Av Ivo Carvalho. Ontem num programa em que se redimiu da enorme quantidade de lixo com que nos premia insistentemente, a Rede Globo apresentou um especial do poeta líder de uma Legião Urbana para quem o sonho não acabou. Nem jamais acabará. A torrente de espírito que cessou. Um espírito que se fez arder; fumificou e foi pro céu deixando-nos a lembrança de um clarão tão ofuscante que nos fez esquecer a nossa miséria humana do cotidiano. Digo torrente porque me falta termo que melhor traduza o arrebatamento poético daquela alma brilhantemente atribulada.
Cris, que nos brindou com o dito painel também nos deixou. E isso também faz muita falta.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Caso André Moura: Um típico caso da tragédia da administração pública e da política brasileira.

"Como se haveria de consertar o Brasil se até o capitão do navio lhe movia cruel guerra, primeiro lhe vendendo os mastros, depois as velas, as enxárcias, e só lhe não vendeu o casco por não ter achado que o comprasse.”
Padre Antonio Vieira nos seus relatórios sobre a situação da reconstrução da colônia Brasil depois das invasões holandesas e coincidentemente da restauração do trono português


O histórico nacional com suas sístoles e diástoles (Golbery do Couto e Silva) e, seu atraso secular em relação a nações bem menos prendada por recursos naturais nos remete ao primitivismo humano, onde o animal homo é um mero caçador, despreocupado com seu futuro. Logo, uma vez alimentado, não necessita de mais nada naquele momento. Pra se entender o que passa na cabeça da maioria dos nossos “empreendedores” é preciso lembrar Pero de Magalhães Gândavo. O padre, em seu Tratado de Terra do Brasil, no Tratado Segundo, Capítulo Segundo intitulado Dos costumes da terra, é enfático:

“As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dois pares ou meia dúzia de escravos(que podem um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo têm remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus escravos em mantimentos nem com suas pessoas.”

Ou seja, está aí o princípio de toda a desgraça nacional. A preguiça. Não a do negro obrigado a trabalhar gratuitamente para o branco e tratado como um burro ou cavalo; não a do índio, o gentio que "(...)larga o lauor dellas e se vão pera outras partes. O que tudo os officiais da Camara de São Paulo referem a V. M por carta sua de 13 de julho do anno passado” (1.617)(*). Junto com a preguiça veio a malandragem, a esperteza extremada e a mania de roubar. De facilitar as coisas a qualquer custo. Do jeitinho.
Desde o seu início o Estado brasileiro sofre com os vícios de sua formação. Enquanto o princípio básico da formação dos Estados Unidos da América foi a liberdade e a conseqüente igualdade de direitos pelo trabalho árduo e pouco promissor, em nosso país começamos com a idéia fixa apregoada pelo padre Gândavo. A de lucrar no lombo dos outros. Pra que Estado, se os oficiais e todos os candidatos a rico vinha pra cá somente por no máximo três anos?
Quando os jesuítas pagaram o preço pelos seus envolvimentos nas chacinas promovidas em nome Deus pela Inquisição em 1.618, e tiveram que entregar as várias fazendas que existiam em Sergipe ao Rei em 1.759, um ano depois já estourava um escândalo na administração sergipana. Espertíssimo, o Ouvidor-mor Miguel de Arez Lobo de Carvalho foi punido apenas com o degredo para uma capitania de terceira categoria, no caso a de Ilhéus. Já o Capitão-Mor, de menos sorte acabou numa masmorra em Portugal. Teria sido só ele o único culpado em vender abaixo do preço - privatizar - a fazenda hoje conhecida como cidade de Japoatã?
Histórias de funcionários que nunca apareceram em seus locais de trabalho, que roubaram o Rei na hora das cobranças de impostos; que se associaram aos piratas como, por exemplo, o suspeitíssimo caso do naufrágio da Corveta Nossa Senhora da Victória, cheia de barras de ouro, na Barra do Vaza-Barris em março de 1768, de tudo isso está repleta a história de Sergipe e do Brasil.
E eis que nos transportamos para o presente.
O que temos? Um prefeito de uma cidadezinha atapetada de dinheiro para os padrões sergipanos e cujo pai é Conselheiro, ou seja, um julgador de contas públicas no Estado, no pomposamente chamado Tribunal de Contas. O conflito de interesses não pára por aí, mas esse é o ponto, digamos, principal. O município de Pirambu, que em 1980 tinha 3.311 habitantes, pulou na recente contagem feita pelo IBGE para 8.144 habitantes. Só em ICMS o município recebeu em agosto próximo passado a quantia de 112.206,79 o que dá uma média mensal de R$ 13,77 por habitantes, bem mais que Itabaiana, (R$ 3,87 por habitante). Municípios como Pirambu também ganham proporcionalmente muito mais no FPM e empatam no Fundeb e Fundo da Saúde ou SUS, cujos repasses são feitos per capita, e não por faixas populacionais. Mas Pirambu tem mais. Só de royalties pela exploração/movimentação do petróleo o município recebeu no mesmo agosto 138.987,51 e a média, só em repasses federais por habitante nos sete primeiros meses deste ano é de R$ 45,87 contra R$ 21,00 de Itabaiana e R$ 16,21 de Aracaju. É muito dinheiro para um município pequeno onde não há, ou não deveria haver quase nada o que fazer.
Detalhe: desde 2004 que o município de Pirambu não envia corretamente seus dados para o Tesouro Nacional. Os dados aqui obtidos foram capturados nas várias rubricas de repasses do Estado e da União.



Os garimpeiros.


“As vilas da Comarca (atual Estado de Sergipe) (...)os Juizes ordinariamente as
desamparam, apenas vêem fazer Audiências, as vereações raras vezes se fazem: Os
Almotacés se retiram, (...) "
Carta de 26 de abril 1799 enviada ao Rei pelo Ouvidor da comarca de Sergipe, Antonio Pereira de Magalhães Paços, relatando os problemas encontrados.


Em 22 de julho de 1673 o governo-geral “escreveo ao Capitão mor de Sergipe del Rei João Munhos para por pessoa de satisfação na companhia da Itabanhana.” (Anais, BN-Rio, vol. 05, p.17). Os motivos: em primeiro lugar Luiz Pereira - a quarta autoridade policial da história itabaianense - foi nomeado, porém nunca dera as caras por aqui; em segundo, o governo de Lisboa preparava a grande expedição comandada por D. Rodrigo de Castelo Branco que chegaria em 1674 para procurar a prata.
Mas não pára por aí o histórico de autoridades sazonais, temporãs, nas povoações do interior de Sergipe. Desta forma, o único compromisso do “administrador” é aparecer de vez em quando na prefeitura para assinar a papelada, porém, às vezes nem necessita; o assessor leva os papéis para Aracaju - onde invariavelmente reside - e lá formaliza tudo.
Parecem as eleições de bico de pena da República Velha onde o dono do partido mandava seu preposto com o livro debaixo do braço para que seus correligionários assinassem como se eleição de fato houvera.
Neste clima, em franco desrespeito a toda e qualquer Lei que sempre obriga ao administrador estar junto aos seus administrados, ou seja, no popular, o galo onde canta, aí janta, aventureiros acorrem aos municípios do interior, geralmente com lideranças fracas ou pobres, “investem” na eleição, tomam o poder e monta sua coloniazinha particular, aparecendo nas sete festas do ano e fazendo e/ou deixando que façam todo o tipo de balbúrdia. Em Sergipe são potenciais candidatos a vítimas da garimpagem os municípios que recebem altas somas provenientes de ICMS e royalties de petróleo.



Rosário do Catete. Mais rico que Campos do Jordão.


É um absurdo, por exemplo, que Campos do Jordão, SP, cuja prefeitura tem renda média mensal de R$ 110,00 por habitante ao mês tenha o padrão de vida europeu, enquanto Rosário do Catete, que só de ICMS conseguiu em agosto uma renda de 101,08 reais - uma média comum a todos os meses, e o município não oferece nem um terço do que oferece Campos do Jordão aos seus habitantes.
André Moura é somente mais um caso de arrogância de pessoas que sequer buscam cuidar do que tem. Como garimpeiros desesperados, eles chegam, lavram a terra arranca-lhe a essência e gasta todo o fruto do seu trabalho nas tabernas. Urinando no dia seguinte toda a riqueza que a mãe terra lhe pôs às mãos. Se perder o mandato agora e não o for por cassação, em breve estará de volta repetindo tudo que fez.



(*) Inventário dos documentos relativos ao Brasil existentes no Archivo de Marinha e Ultramar de Lisboa INFORMAÇÃO (do Escrivão da Fazenda Real Diogo Soares ?), sobre a pesquiza das minas da Costa do Sul do Brasil. (Anais da Biblioteca Nacional, volume 39, p. 001. Rio de Janeiro, 1917.)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ética elástica; verdade seletiva.

Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra. Jo. 8:7


Em artigo publicado no site Carta Maior o poeta e cronista Lula Miranda, Secretário de Formação para a Cidadania do Sindicato de Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo, faz mais uma dissertação sobre o comportamento da direita brasileira em relação ao governo Lula e seu partido, o PT. Miranda não acrescenta nada aqui além do que ele próprio já escreveu por várias vezes e, exceto os pistoleiros intelectuais da mídia direitista, quase todo o mundo que ainda faz jornalismo, também; ou os que ainda pensa além da Veja e da Folha de São Paulo.
Os lamentos do colunista são os de sempre. A verdade de mão única daquela a que o jornalista Paulo Henrique Amorim apelidou de mídia golpista; a falta de respeito para com o Presidente da República etc., etc.
Ao nosso modo de ver não há nada o que lamentar no comportamento da mídia direitista e das classes conservadoras do país. Sempre foram assim. Seria querer demais que alguém que fez fortuna a custa do lombo de escravos se comportasse normalmente ao ver um descendente desses mesmos escravos, mesmo que distante, lhe governando. Por mais concessões que lhe venha a ser feita. A Direita é assim, de direita, porque aprendeu a roubar e tomar de assalto, e criar mecanismos para reter o produto da tomada, bem como técnicas de limpeza moral do ato que diz condenar. A Direita é assim, de direta, por que por essa característica anteriormente colocada lida com suas dubiedades com todo o cinismo do mundo criando a Verdade Seletiva. E por conta disso tem eles, os da direita, uma Ética Elástica, que se amolda a qualquer parâmetro desde que conveniente para o momento. Eis aí o segredo de por que a Direita, apesar de tanto usar a religião como instrumento de dominação tem aberto mão dela nos últimos tempos substituindo-a pela mídia. Esta, principalmente na sua forma eletrônica, se ajusta perfeitamente aos interesses dos de direita já que é a Ética Elástica na sua prática completa. Ou seja, o que é verdade pétrea neste momento não o será daqui a meia hora quando a conveniência assim o determinar. Vem daí o motivo da substituição da religião pela mídia, pelo fato de que, para manter um mínimo de coerência, a religião acaba se chocando com os interesses de ocasião da Direita.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Homens de Estado=estadistas

Em seu blog Cidadania, o jornalista Marcos Aurélio, ex-assessor municipal de comunicação alerta ao deputado federal José Carlos Machado sobre suposta fritura que estaria sofrendo nas hostes DEM sergipano (quem diabos teve essa maldita idéia...! A de um nome desse para um partido?).
Fez-me lembrar um episódio.
Num sábado de julho de 1992, por volta das nove da manhã encontrava-me em reunião informal com os demais membros que coordenavam a campanha eleitoral de João de Zé de Dona à Prefeitura Municipal, na Associação Atlética de Itabaiana.
Aos poucos foi chegando mais gente e, entre uma discussão e outra dos aspectos da campanha, o radialista Edivanildo Santana ”fugiu da pauta” para indagar do então licenciado deputado estadual José Carlos Machado porque tinha aberto mão do cargo na Assembléia para encarar a formação de uma secretaria de Estado nova, que pareceu criada só para ele.
O deputado foi enfático (mais ou menos assim):

“Olha Edivanildo, eu já estava a me sentir cansado da mesmice. O governo tem maioria na Assembléia, sem problema nenhum e, pra falar a verdade aquilo lá pra mim estava um saco. Na legislatura passada foi bom porque tinha o PT com Deda puxando o cordão e o circo pegava fogo. Agora, com Deda fora não há aquela de ele sair espalhando fogo e eu com o extintor atrás. A calma tá tão grande que dá preguiça.”

O PT estrangeiro.

Fechando essa série, ao analisarmos os números do PT percebe-se que o grande problema local é de liderança ou de confiabilidade nela, entretanto essa mesma característica acaba por contaminar as votações de nível estadual.
O arranque do jovem advogado Olivier Chagas em 2000 poderia ter preenchido essa lacuna. O momento era extremamente propício. Havia um cansaço com a administração municipal de então e um clima de “Lula vem aí” em todo o país. Por outro lado a oposição de então, hoje no governo municipal, ainda tinha marcas do passado político impressas na maior parte da comunidade que a rejeitava como novidade. Apenas os mais jovens, que não vivenciaram a política dos anos 70 e os partidários fiéis da família Teles de Mendonça lhe viam como a opção ideal. A parada seria dura, especialmente porque qualquer político sergipano com juízo na cabeça busca a todo custo se livrar de encrenca em Itabaiana e, se impossível de fazê-lo, deve erguer um muro de cem metros de altura no Vaza-Barris para que a mesma não chegue ao Lagarto. A história sergipana mostra que quem negligenciou isso se deu mal. Simão Dias e seus herdeiros – da Itabaiana ou do Lagarto, além do Caiçá – não esquecem 1.656(*). Logo, era certa uma forte intervenção do governo estadual como de fato houve.
O vereador João Cândido, por sua vez, se perdeu ao defender com justiça, porém de forma inábil, seus pontos de vista na Câmara. Serviu então apenas de gancho para a então oposição ao também então prefeito Luciano Bispo. Pior: passou a imagem de traidor já que traidores são todos aqueles que mudaram de posição ou pareceram mudar e perderam. Tivesse o Brasil nordestino permanecido holandês Calabar seria o herói nacional, “covardemente estrangulado pelos malditos portugueses.” Resultado da cruzada cândida: trabalho brilhante que não ajudou em absolutamente nada. Pelo contrário. O vereador esqueceu algo vital em política: a estratégia. Acabou por sair do partido deixando-o mais reduzido ainda.
Quando se observa a votação local do PT depreende-se que o partido não tem chances no certame municipais. Todavia, quando entram em cena os atores do mesmo partido, porém que operam fora do município a história começa a mudar e o partido melhora bastante sua performance em Itabaiana.
Na primeira eleição para governador em 1982 o PT conseguiu em Itabaiana 106 votos. Em 1986, porém, esse número já crescia para 593. Mas o que impressiona na votação petista em Itabaiana é a votação para o parlamento, para deputados e senadores. Em 1982 o professor José Costa Almeida obteve 83 votos para a Assembléia Legislativa e o jovem Marcelo Deda Chagas obteve apenas um voto somando 84 votos. Mas em 1986 o próprio Deda cravou 266 e Marcelo Ribeiro 21. Em 1990 um desastre: Ismael apenas 22 e Renatinho 21. Em 1994 ocorreu um fato inédito no PT itabaianense. O partido que no Estado até então havia concorrido sozinho firmou acordo com uma frente que levou Jackson Barreto à cabeça de chapa. Em Itabaiana não houve espaço para os candidatos do partido porque a frente incluía as candidaturas de Luciano Bispo de Lima à Assembléia Legislativa e de José Queiroz da Costa à Câmara Federal. A votação petista, portanto, foi pífia como já esperada. Em 1998 a votação é puxada por Antonio Samarone, itabaianense radicado na capital com 311 votos, seguido de Isaias e Ismael, todavia, o que lavou a honra do partido foi o voto de legenda em número de 226. Ficou óbvio que o pequeno eleitorado fiel ao partido não acreditou nos candidatos. Em 2002 o partido atinge o ápice na sua luta eleitoral para Assembléia Legislativa: 1.292 votos. Destes, 849 dados a Olivier Chagas que obtivera nas eleições municipais de dois anos antes 853 votos para vereador, ou 0,09% do eleitorado de então.
Em 2006 caiu a votação para Assembléia Legislativa em relação a 2002. Foram 1.176 votos no total, com 340 votos para Ana Lúcia e 310 para Rogério Carvalho; e mais alguns pingados para outros quatro ou cinco candidatos do partido. Detalhe interessante: continua a faltar nomes já que dos 1.176 votos, 525, ou seja, mais de 44%, quase metade, foram dados à legenda.
Para Deputado Federal o partido não teve votos em Itabaiana em 1982. Em 1986, obteve sua primeira boa votação com 660 votos. Em 1990, mais uma vez não foi votado para federal em Itabaiana. Já em 1994, mesmo com a votação sendo conduzida para o acórdão com Luciano e Queiroz a sigla ainda tingiu 593 votos. Em 1998, correndo sozinho obteve 2409 votos contando para isso a performance de Marcelo Deda Chagas que obteve sozinho 2.089. Ainda houve 245 votos de legenda e mais alguns para outros candidatos do partido. Mas o grande ano do PT em Itabaiana para deputado Federal foi 2002 quando o partido obteve 3.001 votos, destes 1.681 ou 56% para Antonio Samarone, 254 para a legenda e os demais repartidos entre os demais candidatos do partido. Em 2006, como para deputado estadual, a votação caiu também para federal em relação ao 2002. Foram 1488 votos com 298 de legenda, ou seja, 20% e o mais votado foi Nilson Nascimento com 536 votos.
Conclui-se, portanto, que a característica básica da política tradicionalista, ou seja, o continuísmo, jamais irá abrir as portas em Itabaiana a um partido que não demonstre sua viabilidade e isso, somente ocorrerá, ou com uma mudança profunda na tradição política local; ou no aceite do jogo pelo PT e sua automática conversão ao velho estilo ibero-americano chamado ora de caudilhismo, ora de coronelismo.Vem daí esse lado de mais apostar “nos de fora”, nos que têm chance. Essa melhora eleitoral. Logo, a baixa densidade eleitoral do PT em Itabaiana não é apenas causada pela ideologia do partido. E sim pela característica de competitividade, às vezes extremada, do povo da terra.
Observação:
(*) 1.656 é o ano do pico da rebelião dos curraleiros - criadores de gado por arrendamento - que teriam sido liderados por Simão Dias Francês. Os rebelados chegaram ao extremo de invadir a capital, São Cristóvão, prendendo o pároco Sebastião Pedroso de Gois, seu maior adversário, e somente a desocuparam com a chegada de forças vinda de Salvador três dias depois. O conflito continuou com altos e baixos até que em 1665 uma força de mercenários paulistas, depois batizados como "bandeirantes", foi contratado pelo governador-geral Alexandre de Souza Freire e acabou com a rebelião expulsando ou prendendo os curraleiros que ainda restavam entre as serrras.
Por pano de fundo, os altos impostos cobrados, não por Sergipe, mas pela Bahia, o que alimentou o sentimento nativista que ressurgiria em 1820 e 1823 com a Independência final de Sergipe.
NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I e Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volumes, 04 e 22. pp. várias.

O PT de Itabaiana

“Porque damos Sergipe aos holandeses. Nem é grande coisa nem nunca o foi.”

Padre Antonio Vieira durante as negociações portuguesas com os holandeses onde Portugal, mesmo que os brasileiros já tivessem expulsados os holandeses continuava a reconhecer-lhes a autoridade sobre o nordeste acima do rio São Francisco.



Não é o caso, especificamente; porém, também não o deixa de ser. Observando os números das eleições desde 1982 nos vem a pergunta: O que é o PT de Itabaiana?
O PT é o único partido brasileiro que se pode chamar como tal haja vista o seu caráter por natureza democrático. Essa característica advém, não de atitudes angelicais como possam imaginar os tolos; mas das escaramuças internas entre pessoas em geral, de mesmo nível econômico, o que leva a compactuarem em função de idéias e não de poderio econômico, como ocorre com quase todas as demais agremiações partidárias do país, sendo, portanto obrigadas pela conjuntura interna a “se afinarem”; a praticar o jogo democrático pleno. Mesmo os mais bem aquinhoados costumam serem chamados à responsabilidade, ou seja, são logo alertados para não sobrepor-se aos demais. Onde isso deixou de ser observado o partido não cresceu. Ou nem vingou.
Apesar do seu quarto de século de existência, o PT ainda é um partido novo. O PT do presidente Lula, é visto como diferente do PT real pela maioria do eleitorado brasileiro, afeito, por falta de experiência democrática, aos ‘resolvedores”, aos “salvadores da pátria” da ocasião, e que isoladamente ou em grupos – às vezes bando, mesmo – não resolvem coisíssima nenhuma. Sobre essa clássica falta de experiência democrática basta ver que somente viemos ter eleições de fato democráticas no pós-1946 e, mesmo assim, em parte substancial esse instituto foi tungado em 1964, somente retornando a duras penas e com direito a concentração de opinião por uma mídia extremamente oligárquica depois de 1989. Ou seja, de fato temos apenas trinta e oito anos de democracia em nossos quinhentos anos de história.
Pesa ainda sobre o sistema eleitoral brasileiro e consequentemente sobre o PT e qualquer outro partido sem viés mercadista o fato de que o eleitorado reflete a cultura predatória de um Estado que é, não uma instituição plural, de grupo; mas de um homem, no máximo uma família. O Estado no seu nascedouro, onde de fato é um bando de assaltantes que oferece proteção ao ameaçado para não o assaltar. A idéia monárquico-absolutista permaneceu fortemente entranhada na cultura política brasileira e isso torna o eleitor, quase sempre, um saqueador momentâneo daquele a quem julga que lhe quer saquear. Ou seja, “já que ele vai ficar numa boa às minhas custas; que pague primeiro”. Eis a origem do voto comprado. Seja de forma grosseira, direta, através de dinheiro; seja através de favores, vantagens como empregos, por exemplo, ou propinas.
Mas, e o PT de Itabaiana? Pela sua característica democrática, o PT dificilmente vingará facilmente em sítios eleitorais tradicionais onde o contrato social é antigo e sensível a qualquer mudança em seu status quo. Desde Batista Itajaí, cuja ascensão coincide com o golpe da República em 1889, somente durante o Estado Novo Itabaiana ficou sem “dono”. Antes disso e depois disso os “donos” se sucederam de uma forma tão automática que, por apenas um aspecto não caracteriza o exercício do poder em Itabaiana como o coronelismo clássico: a falta de sucessão familiar, apesar de no momento termos uma prefeita que é herdeira direta da liderança de seu pai. Contudo, a presença física do mesmo e a também divisão do poder com seu irmão ex-deputado ainda não configura uma dinastia como é comum no coronelismo clássico. Em todos os demais casos de sucessão no poder em Itabaiana imperou a sucessão de grupos, porém, com elementos distintos à sucessão familiar.
O PT não tem espaço nessa política. Tudo aqui vem sendo arrumado desde que foi empossado o primeiro alcaide lá pelos idos de 1698 e, mesmo com quase nenhuma freqüência, a Câmara Municipal começou a legislar ou pelo menos fazer de contas naquele mesmo ano. A política em municípios como Itabaiana é decidida pelos conchavos que passam de geração a geração e, mesmo as aparentes rupturas, são na verdade choques de reacomodação. Parte dos que lá estão hoje, amanhã estará aqui. O espaço para um grupo novo, desligado dessa mecânica social é limitadíssimo. Isso explica a baixa densidade eleitoral do PT e sua quase permanente votação municipal. Em Itabaiana, enquanto a cidade permanecer com a atual configuração, ou seja, sua atual característica populacional, não existe espaço para a decantada “terceira força”. A menos que ele se encaminhe para ser a primeira rapidamente e, mesmo assim, somente em momentos raros, logo, especiais. Observamos isso em 1926, e 1970 e em 1992. Em todos os casos, porém, ao fim do processo eleitoral, as forças já estavam a se aglutinar e mantendo a tradição polarizada. Em 1970 e 1992, contudo, o poder retornou à mão do grupo mais poderoso de então rapidamente.
No momento vê-se um debate, senão estéril, quiçá não interesseiro, sobre candidaturas de “terceira via”. Estéril porque o chamado debate democrático por aqui tem que ser muito cuidadoso já que pode ser facilmente confundido com indecisão. Ninguém vota em indeciso. Portanto, será um discurso para surdos conceituais. Tomara que não interesseiro, e, nesse caso, é salutar que as lideranças – todas micro – ajustem-se para não passar essa idéia.
Não interessa aos dois maiores grupos negociar com nenhum pixote nesse momento. A política é vista pela maioria dos seus operadores como um jogo de cartas e, nesse caso, só se pede uma carta a mais quando vem a necessidade.
Tanto Maria Mendonça quanto Luciano Bispo independem do PT local e até de outras lideranças mais robustas ou com maior poder de mobilização para se aproximar ou reaproximar de quem quer que esteja no governo do Estado. Ao poder central é importante dividir, logo, existem canais abertos tanto para Prefeita que já o tem quanto para o ex-Prefeito se assim o quiser.
Se o PT itabaianense, neste caso, especificamente, quiser alçar vôo na política itabaianense vai ter que convencer aos do status quo que tem chances de substituir um dos dois: ou a família Teles de Mendonça ou o grupamento que lhe faz oposição, ora liderado maciçamente por Luciano Bispo. Caso contrário verá sempre seus resultados serem minguados nas urnas, sem chance sequer para apetitosas negociações.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

PT de Itabaiana: em números.

A história eleitoral do PT, até onde pudemos recuperar-lhe começa com uma modesta votação para vereadores (não dispomos dos números) e de prefeito em 1982 alcançando 92 votos, ou seja, 0,65% do eleitorado(*). Em 1986 cravou 287 votos para deputado estadual; 660 para federal; 1946 para senador e 593 para governador. Não havia eleições para presidente da República na época.
Em 1989 o PT teve em Itabaiana para presidente da República – na primeira candidatura de Lula – respectivamente 3.207 votos ou 10,93% no primeiro turno; e 10.825 ou 37,35% no segundo turno contra Fernando Collor de Melo.
Para 1990 não conseguimos os dados, porém lembramos de passagem que não foram animadores e, em 1992, novamente manteve-se a tradição de pouca votação. Em 1994, mesmo no calor do acordo com a ala de Luciano Bispo de Lima, os candidatos do PT não foram lá grande coisa. Explica-se, porém, porque naquela ocasião houve uma somação de forças que tinham como focos para deputado estadual o próprio Luciano e para federal José Queiroz da Costa. Os candidatos do PT somaram: estadual, 311 votos; federal, 593 votos e senador onde José Eduardo Dutra 11.992 votos, quase 35% do total.
Em 1996 os resultados de 1994 fizeram efeitos e o partido elegeu pela primeira vez um seu representante à Câmara Municipal com 1.044 votos, a maior votação individual até hoje obtida por um candidato do PT em eleição municipal.
Em 2000, o partido pareceu crescer. Tudo se encaminhava para uma consolidação do tão famoso terceiro lugar. Todavia, mudança de ventos, levou o potencial candidato e liderança Olivier Chagas a desistir de concorrer ao cargo de prefeito quebrando a reeleição de João Cândido e talvez a eleição do terceiro colocado da fila Erotildes de Jesus. Possivelmente Olivier teria amargado a derrota, e era quase certa a vitória de Maria Mendonça ao invés de Luciano Bispo, porém, o PT sairia fortalecido e o próprio Olivier teria uma cadeira garantida na Assembléia Legislativa já em 2002 e, se não em 2004, mas agora em 2008 seria com certeza páreo duro na disputa municipal. Resultado de 2000: a maior votação que o partido teve no plano municipal, mas não elegeu ninguém. Sou de opinião de que tal mudança de foco ofuscou até os dias atuais o brilho de uma liderança petista de peso maior e em 2004 veio a resposta: mesmo coligado com a candidata vencedora para a Prefeitura, o único candidato do partido sequer chegou ao nível do segundo lugar de 2000, obtendo apenas 738 votos. Um detalhe importante é que agora a bancada na Câmara havia murchado e até campeões de votos de outros partidos ficaram de fora.
De certa forma o PT sequer chegou ainda ao nível do velho MDB antes que lhe acrescentassem um “P” inicial.



(*) DANTAS, Ibarê. – Coronelismo e Dominação, Diplomata, Aracaju, 1987.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

E porque só um doutor?

Em post publicado ontem, nove de setembro, em seu blog "nabocadopovo.com.br", o colega radialista e amigo Edivanildo Santana afirma que a prefeita de Itabaiana, Maria Mendonça está com dificuldades para preencher o cargo de Secretário de Saúde do município, ora em processo vacância pela sua titular, e que o médico convidado para o cargo não teria aceito a tarefa e sequer teria sugerido alguém.


Questões de competência.

E porque tem que ser um médico? Porque não alguém da enfermagem, da odontologia, ou outro qualquer da área médica... um advogado, um contador... porque não, apenas um administrador? Alguém com experiência comprovada?
Obviamente que se não pode cogitar de colocar numa diretoria técnica como, por exemplo, a Vigilância Epidemiológica ou a Coordenação do PSF, alguém sem capacitação técnica na área, especialmente, e se possível em sanitarismo, neste caso, algo muito raro de encontrar depois que o governo federal desmontou o pouco que se tinha avançado, ainda na década de 90. E como esperado, os governos estaduais e muito menos os municipais não investiram absolutamente nada nessa área. Quanto ao cargo de secretário, porém, este é de natureza política tal qual o cargo de prefeito. Ora, se for possível juntar os dois, sem prejuízo da administração, melhor. Mas o que impera mesmo é a necessidade de um administrador, qualidade muito mais rara de encontrar do que um bom médico ou outro qualquer profissional técnico de saúde. Um administrador que faça política de saúde; e não a politicagem com a saúde. Afinal, dá pra ganhar votos cumprindo com as determinações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde. É só usar a inteligência e não apenas a esperteza. Plantar e esperar a colheita e não apenas querer tirar o grão debaixo da terra antes mesmo que germine.


O público e o privado

A atividade administrativa da saúde pública, que para muitos simplistas pode ser confundida apenas com hospitais e postos de saúde, é algo que requer preparo específico, especialmente à medida que as ações vão tornando-se mais técnicas; ou experiência nos casos em que não haja necessidade implícita de domínio técnico. Um curso universitário ou mesmo a experiência hospitalar ou clínica não são, por si sós, requisitos para demonstrar a preparação de um profissional para ser bem sucedido na administração técnica da saúde. É preciso, em primeiro lugar, gostar de ser funcionário público aceitando os tradicionais xingamentos nem sempre justos do povo e de pseudos seus representantes. Também é necessário se acostumar com a proibição de ter um bom salário enquanto vê passar ao lado, embalado, alguém com reconhecida falta de vontade de bem servir, mas que “deu sorte”, arranjou um pistolão, caiu nas graças do chefe... essa herança ibérica maldita que o Marquês de Pombal tentou acabar em 1760-70, perdeu o cargo e todos os demais que lhe seguiram, inclusive já no Brasil, pagaram o pato pelo mesmo ato.
Não é fácil convencer a um médico que ganha seis ou até doze mil reais por mês a abandonar sua clientela por um salário que, com certeza não deve chegar aos oito mil (se muito aos quatro) e que ainda ficará sujeito aos humores da política partidária além de ter que dar o máximo de sua própria capacidade. Um detalhe é que depois da LFR (Lei de Responsabilidade Fiscal) a maior parte dos ilícitos, culposos ou dolosos, deixou de cessar seus efeitos após a saída do cargo e os secretários de saúde são tão responsáveis quanto os prefeitos. Em alguns casos até mais. E na administração pública há sempre alguém forçando a barra. Alguém da turma do “comigo não acontece”. Seguidores da filosofia de Caju e Castanha: “Quem é que vive mais, o ladrão besta ou o sabido; o besta morre logo e o sabido é garantido”.