sexta-feira, 19 de agosto de 2022

20 ANOS DE ENSINO SUPERIOR NA SERRA

 

Ontem, pela noite representando a Academia Itabaianenses de Letras, ao lado da confreira, professora Inês Resende de Jesus me fiz presente numa solenidade singela, sem pompa, quase familiar, mas de enorme significado na história educacional de Itabaiana: uma missa em ação de graças pelos 20 anos do campus-Itabaiana da Universidade Tiradentes, entidade particular, mas parte indissociável da cultura sergipana.
Assessorando a CDL-Itabaiana à época, lembro das expectativas do empreendimento naquele momento da vinda da Universidade.
Com um histórico educacional temporalmente tardio, para um município com 325 anos de fundado, tão logo as condições no estado se mostraram favoráveis, Itabaiana começou a encher as faculdades sergipanas com cada vez mais itabaianenses, ainda em fins dos 60. Porém em outras plagas. A estabilização econômica pós-Plano Real (1994), além da previsibilidade trouxe um vigoroso incremento de renda que alargou a classe média, forte mercado para uma instituição privada de ensino, já com quatro décadas de tradição. E a Unit desembarcou em Itabaiana em 2002, para trazer para perto o que então só existia longe.
Há certo histórico de ousadia na instituição; e aqui é preciso registrar o espírito empreendedor e incansável de seu obreiro-mor, Jouberto Uchoa de Mendonça, como por exemplo quando implantou o curso de jornalismo no início da década de 1980, na ainda Faculdade Tiradentes, ou o abrir espaço para abrigar um grande xodó, conquistado sob muita dificuldade pelo eterno Luiz Antônio Barreto – O Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura e seu monumental acervo – em 07 de novembro de 2011, cinco meses antes de sua tão lamentada partida. O campus de Itabaiana foi uma dessas ousadias.
Meus parabéns à diretora do campus, Soraya Góis Fonseca e equipe; ao magnífico reitor da sexagenária instituição, Jouberto Uchoa; enfim, à própria universidade e ao universo da educação superior em Itabaiana.
Que venham inúmeras vintenas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

BUROCRACIA E MORTE.

Que a burocracia é indispensável a qualquer governança que pleiteie algum êxito, isso é indiscutível; porém que também é algo sem alma, mera máquina repetidora de padrões pré-estabelecidos, e que deve obrigatoriamente estar sob um comando político, disso não haja dúvidas.
Ao longo da história humana a burocracia tem serviço como ferramenta insofismável na busca por melhorias gerais na sobrevivência da espécie. Exceto quando burocratas resolveram ser protagonistas do processo usando apenas a burocracia.
Que Sergipe é um estado onde se pouco cultiva a memória, isso é mais que líquido e certo. Contudo... Eppur se mouve, como disse Galileu. Sempre há algum teimoso, cri-cri, que gosta de lembrar de “coisas velhas”.
Às 18:53 da noite do dia 15 de agosto de 1942, Harro Schacht, um burocrata da morte, comandante nazista do submarino U-507, deu ordem para disparar dois torpedos contra o navio de passageiros Baependy. 286 vidas se acabaram ali.
Mas a meta de morte e destruição do nazista em Sergipe não pararia aí. Às 21;03, outra vítima, o Araraquara. Mais 131 mortos. Depois veio o Aníbal Benévolo no dia 16.
Numa feliz iniciativa o Centro Cultural de Aracaju faz hoje exposição ARACAJU, A CAPITAL QUE VIU A GUERRA (de fato a única capital brasileira a sofrer os resultados) sobre o trágico e histórico momento vivido por Sergipe em meados de agosto de 1942, há exatos 80 anos, quando as praias sergipanas ficaram coalhadas de cadáveres de brasileiros de todas as idades, cujo “crime” foi estar na mira de um burocrata nazista, frio e querendo se divertir à custa das dores e desesperos dos ocupantes dos três navios afundados na costa sergipana, série que incluiu mais dois já na costa baiana.
Os navios afundados eram de cabotagem (navegação costeira); sem nenhum sinal militar, e acima de tudo brasileiros. De um país que não estava em guerra com os nazistas alemães.
Foi covardia pura e simples. Coisa de fascistas. No caso, fascistas alemães: armados e animalescos.


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

GLÓRIA ANÔNIMA DE DANIEL

 

A excelente estreia na Copa TV Sergipe de Futsal deste ano, sábado, 13, do time do Itabaiana Futsal Club com uma goleada, um elástico placar de cinco a um, contra os donos da casa, o favorito time de Itaporanga d’Ajuda foi mais que justa. A cidade de Itabaiana tem uma tradição de mais de meio século na modalidade, que foi introduzida pelo jornalista e radialista Daniel Barros, na época animador em programas de calouros, e envolvido no mundo desportivo e cultural de Itabaiana; que então despertava com vigor, logo depois do primeiro título intermunicipal – o de Campeão da Zona Centro, em 1959 - da Associação Olímpica de Itabaiana.
Inquieto, Daniel trouxe a modalidade que caiu nas graças da juventude, logo alcançando seu apogeu na figura de Francisco Vilobaldo de Oliveira, o Chico do Cantagalo, que lhe de os primeiros toques de semi-profissionalismo com a construção da quadra do GLEI – Grêmio Literário e Educativo de Itabaiana, fundado por Dr. Renato Mazze Lucas.
As sucessivas vitórias que os vários times, seus atletas e entusiastas têm tido na cidade ao longo dos tempos e doravante, pra sempre terá o registro daquela tentativa meio desconfiada na “Pedra da Feira” do Largo Santo Antônio, lá pelos meados da década de 1960, de Daniel tentando convencer a turma a inovar, agora com a bola pesada e em campo pétreo e restrito.

domingo, 14 de agosto de 2022

OURO DE TOLO

A Globo vai acabar. Fiquei esperando a Globo acabar. Apesar de apostas temerárias de “guetagem” em que ainda permanece, a vênus platinada resiste.
A Record vai engolir a Globo. Parecia, ao início. Com capitais fartos, investindo horrores em parque tecnológico, a emissora eminentemente paulista prometeu; mas eu sabia que por natureza seria voo curto: a Record é uma emissora religiosa, acima de tudo. Sua fonte de financiamento é a religião que a embasa e ela é naturalmente limitante como emissora plural; para todos. Dentro da mesma lógica, nenhuma outra rede, de qualquer religião jamais sonhará em ter um quinto do que teve a Rede Globo com a novela Roque Santeiro, mesmo que a reedite, no mesmo padrão. E a Record se revelou tal como é: uma emissora focada na religião a que pertence. Grosso modo comparando, tal o SBT, que feito para dar suporte a jogatina nunca foi além disso.
Neste ínterim, a Rede Globo também caiu na armadilha da “fonte segura” de financiamento ao mudar seu núcleo de produção praticamente para São Paulo e ser capturada pelo velho provincianismo paulista. Deixou de ser nacional para ser paulista. Todavia, como preserva boa parte da estrutura de quando era uma emissora carioca, ainda contaminada com o federacionismo da ex-capital da República, vem se mantendo.
O rádio acabou? Diluiu; enfraqueceu; mas os prefixos que se mantiveram fiéis de algum modo ao estilo anterior permanecem vivos; e se não guinaram-se ao topo com antes, deve-se menos às adaptações à era do streaming e da maciça interação via redes sociais que às leituras apressadas de seus gerentes, quase sempre atabalhoadas e movidas pelo medo da anunciada queda iminente do que à materialização desse cipoal de maus agouros, quase sempre alarmistas.

Universo: razão e ordem

“Reparem, a multidão precisa de alguém mais alto a lhe guiar”. Verdade maior que essa, expressa por José Domingos de Morais, o grande Dominguinhos (In Quem me levará sou eu), impossível.
Por mais que o espírito rebelde da humanidade se debata, se rebele, mas o líder – pessoa, empresa ou instituição – sempre será indispensável. Logo, o mangue que aparentemente se formou com o advento da internet (todo mundo falando com todo mundo ao mesmo tempo) tende a se organizar. Sob outro nível, mas a busca por algum ordenamento é líquida e certa.
Em artigo de hoje, em sua coluna no Uol, Guilherme Ravache, (em “Porque a Netflix perdeu a liderança e a era de ouro do streaming acabou”) dá uma pista, não do fim; mas da necessária rearrumação no mercado de vídeos (filmes e documentários, p.e.), e também aponta os motivos dela estar ocorrendo como ora ocorre.

A qualidade sempre em primeiro.

Ao apontar que apenas em dois anos a Disney+ ultrapassou em assinantes a Netflix, de quinze, Ravache traz para o debate a velha pendenga entre qualidade versus quantidade. Enquanto a Netflix investiu em milhares de produções com sérias deficiências de qualidade, enchendo sua plataforma de tro-lo-lós (tenho enorme dificuldade em achar alguma coisa que preste) a Disney, dona de um portfólio invejável de produções antigas, e ainda mais com a aquisição da Fox Filmes passou rapidamente a oferecer qualidade, a maior parte dela já testada e aprovada. Um banho.
Dias atrás contei: 37 filmes iniciados na Netflix com imediata desistência de assistir aqueles xaropes. A maioria de claro baixíssimo orçamento; mas de principalmente baixo talento. Apesar de em boa parte se notar boas interpretações. E olha que pouco assisto filmes.
Na sopa, quase sempre indigesta que se tem transformado o mercado artístico fica parecendo que acabou a qualidade; e que o mundo atual detesta qualidade. Porém não é bem assim. Se se está a consumir produto de péssima qualidade é porque tradicionalmente a massa sempre foi refratária a ela; pouco exigente. E, ora empoderada, sem “alguém mais alto a lhe guiar” e sim a apenas surfar em marolas de questionáveis resultados tem restado isso.
Eu creio que essa maré de detritos vá passar.
Tomara, meu Deus tomara.