sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A patinha feia


A ESTRADA "CAMINHO DE SERTÃO DO MEIO,desde 1590


O império espanhol, quando em domínio do Brasil, julgou estrategicamente de suma importância o CAMINHO DO SERTÃO DO MEIO[1].Que sobreviveu até metade do século XVIII[2].
O Império português, ao ser restaurada a Coroa portuguesa, e conseqüente domínio sobre o Brasil, fê-lo principal, a ponto de durante a Rebelião dos Curraleiros ser o caminho preferencial da então capital da Colônia, Salvador, para chegar a região conflagrada da Itabaiana, então município de São Cristóvão, também capital da capitania.
O Império do Brasil, no Segundo Reinado, tal a sua importância estratégica esteve a ponto de reativá-lo, construindo a primeira ferrovia de Sergipe sobre ela (vide reprodução de Decreto anexo). Que não passou das intenções.
O Governo Militar de Geisel projetou, e fez a primeira parte - Tobias Barreto a Lagarto - o de João Figueiredo executou a continuação entre Itabaiana e Riachuelo (e não pelo Alecrim. de Malha dor; Santa Rosa de Lima e o povoado Bomfim, de Divina Pastora e própria),  através do Governo de Sergipe, à época, Augusto Franco, que além de governador era presidente nacional do partido do Presidente da República, o PDS, uma obra mais modesta: UMA PISTA DE ASFALTO REGULAR, sem acostamento, sinalização precária, uma gambiarra, boa para 1980, mas vencido dez anos depois, e agora, 38 anos, com movimento intenso e perigo decuplicado.
Seria a via do desenvolvimento de Sergipe; desde que apareça algum estadista para dar-lhe a devida importância estratégica. Quem sabe, um dia, né?
Por enquanto permanece a patinha feia: a "estrada de interior", com pavimentação asfáltica, com mais remendos e buracos que asfalto regular, à espera que o povo - que decide Sergipe - que só conhece Aracaju (mais ou menos) e o Aeroporto Santa Maria, resolvam contrariar Frei Vicente do Salvador (História do Brasil escrita na Bahia em 1627):
"Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato, porque até agora não houve quem a andasse, por negligência dos portugueses que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos."

P. S.: O detalhe interessante é que, interagindo com uma BR, em território da Bahia e outras estaduais daquele estado, a via pode nos levar, de modo muito mais fácil à capital da República. Não custa sonhar.

[1] CONSULTA do Conselho Ultramarino sobre o estado das missões do certão da Bahia e informando acerca dos remedios apresentados para evitar os damnos provenientes da falta de parochos e missionarios. Lisboa, 18 de dezembro de 1698. Anais da BN-Rio, vol. 31, p.21, Rio de Janeiro, 1909.
[2] Alvará com força de lei, ordenando que a liberdade, que se havia concedida aos índios do Maranhão para as suas pessoas, bens e comércio pelos alvarás de 6 e 7 de junho de 1755, se estendesse na mesma forma aos índios, que habitavam em todo o continente do Brasil, sem restrição, interpretação ou modificação alguma, na forma que no mesmo alvará se declara. Belém, 8 de maio de 1758 Imp. (Anexo ao nº 3629). 3633. Anais da BN-Rio, vol. 31, p.297, Rio de Janeiro, 1909.
N. A.: As missões jesuíticas em Sergipe eram: Jaboatão, Tejupeba, Tomar do Geru, e Palmares, esta às margens da grande estrada Caminho do Sertão do Meio, hoje município de Tobias Barreto.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Voltando à velha escola.



 Ela hoje é relativamente grande, pelo menos muito maior; várias turmas, tem até uma academia, a Academia Serrana de Jovens escritores. Não tem mais a pedra, a palmatória e régua, a primeira de há muito substituída por instalações sanitárias, masculinas e femininas; e as últimas, jogadas na lata do lixo, peças dos tempos do carrancismo. São dezenas de funcionários, entre professores, zeladores, etc., tudo é diferente daquele fevereiro de 1968, quando tendo ela migrado, no fim do ano pretérito, de particular para municipal, passei da alfabetização ao Primeiro Ano do Primário, sentado em carteiras “com gavetas”, apesar de coletivas, para cinco a sete crianças; e não mais escrevendo com o caderno apoiado na própria perna, porque sentado em tamboretes, bancos simples de madeira... e até na namoradeira da casa da professora. Passou-me um filme na cabeça, ao olhar a minha esquerda um pequeno grupo de garotos e garotas de menos de sete anos, justo na faixa etária com que comecei minha caminhada. E a ali estava eu, não o coroa de 59, mas o infante de seis pra sete anos, vivendo cada cantiga de roda, cada lance de bola no recreio, simbolicamente num campo que jaz sob a moderna quadra de esportes onde se deu evento; cada dia de brincadeiras no retorno pra casa, cada nota de vialexo de Dete de Josa, bem mais taludo que eu e que não se apartava do instrumento. E das quatro horas de aula com os 30 minutos intermediários do recreio.
Foi um bonito encerramento da “X Semana Literária”, dentro do Projeto Vivenciando o Saber”, com declamação de poema, apresentação de números artísticos, falas rápidas e variadas – no meu caso, fiz a apresentação formal do conjunto de banners com a história de Itabaiana em imagens, legendadas, naturalmente - entrega de moções, e aí a minha surpresa: recebi uma placa, em agradecimento – não sei se o que fiz vale tanto – e pelo fato de ser aluno fundador da escola.
Em tempo: num aspecto, a escola não mudou. O mesmo denodo com que a minha professora primária fez-me atravessar os cinco anos regulares que ali passei, tem as atuais, a partir da direção, em manter a tropa atual em forma, centrada, com espírito humilde, mas de atitude vencedora. Alegre e confiante.
É bom recordar.