segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O ALMOÇO

 

Ao fim da década de 1980, de um lado havia um cansaço político geral em Itabaiana; de outro, azeitado pela máquina brilhantemente conduzida por José Carlos Machado, via Governo do Estado; estridentemente por Djalma Teixeira Lobo, dinamicamente pelo jovem Luciano Bispo de Lima e amalgadamente a tudo isso pelas realizações de cunho pessoal, por José Queiroz da Costa seguia de vento em popa rumo a 1988.
Certamente quer deve ter passado pela cabeça de muitos chiquistas a intenção de puxar a toalha; mas ninguém é líder 40 anos à toa, e muitas vezes o velho Chico deve ter imprensado alguém contra a parede com a pergunta usada em certa ocasião, em 1988, após a derrota municipal: “E como é que vou continuar nos olhos dos amigos?” Foi uma resposta a uma sugestão movida pela decepção de que a família deveria sair da política.
E é nesse clima pós-derrota eleitoral que chega à Câmara Municipal uma proposta de Lei melindrosa para votação. A bancada derrotada em 15 de novembro, mas com mandato até 31 de dezembro quase toda permaneceu fiel ao chiquismo; um vereador reeleito, cuja distensão com Chico havia começado em 1986, nas eleições estaduais, não. Isso já deixava a bancada governista desfalcada de um, empatando em votos com a opositora e vitoriosa(*).
Com discussão em plenário e votação marcada, no dia o vereador que saíra da velha situação em busca da nova, reeleito, convidou alguns colegas para um almoço em seu sítio antes da sessão. Dois compareceram, um deles, magoado que se sentira preterido no sistema de Chico e que não fora reeleito. Histórias de política e amenidades regadas a excelente uísque, acompanhando saborosíssima galinha de capoeira, e aí... aquele sono.
Por boa educação o anfitrião não convidou o colega que dormiu profundamente a retornar no horário hábil para a sessão. Justificou que logo acordaria por si e, como de carro, seguiria sozinho depois.
Iniciada a sessão às duas da tarde, no primeiro andar do velho Serra do Machado(**), lá se fizeram presente todos os edis, Antônio Alves de Andrade, o Tonho de Pixitita, entre eles. Menos o comensal que havia ficado dormindo placidamente em confortável rede no seu sítio.
Aberta a sessão, leitura de ata, pequeno expediente, grande expediente, leitura do projeto, discussão limitadíssima, votação, encerramento, segunda sessão, segunda votação, derrota de novo por um voto, fim.
E eis que entra pela porta o vereador faltoso.
Já era tarde. Todos pegaram suas pastas e outros pertences e se dirigiram à escada para irem embora.
Estratégias da política. A política é a arte de conviver em sociedades amplas e contempla, naturalmente esse jogo de estratégia.
Exemplo disso, essas lembranças me vieram ao ver alguma coisa sobre o mundo atual, o neoliberalismo e a engenharia dos espertos em impô-lo às massas. Ayn Rand, a mentora; Pinochet, Reagan, e especialmente Margareth Thatcher, que para se manter no cargo inventou uma guerra previamente ganha: a das Malvinas. Desviou todo a atenção dos ingleses com a guerra é aí deu no mundo que temos hoje. Para o bem e para o mal.

(*)Saudades daqueles bons amigos Antônio Andrade da Costa (Tonho de Pombinho), Antônio Alves dos Santos(Tonho de Pixitita), José Evangelista dos Santos (Zequinha de Mídia), José Lourenço dos Reis (Zé de Miguel), José Xavier Correia (Xavier da funerária); Olímpio Arcanjo dos Santos (Olímpio Grande), e mais os suplentes, Rivaldo Gois dos Santos (Riva de João do Volta) e José Severiano de Jesus (Zé de Bila), que já se foram, também o amigo Pedro de Gois, cassado numa manobra política, tentativa da situação em segurar o dique eleitoral em franco rompimento. Todos estes já na eternidade.
Daquela bancada ainda participaram os amigos José Wilson Cunha (Gia): Maria José de Oliveira (Professora Maria José de Anízio) e o também meu colega radialista Gilson Messias Torres (Gilson Portela), também cassado junto com o saudoso Pedro de Gois.


(**)O Edifício Serra do Machado, hoje o espaço entre a Praça de Alimentação (Feira dos Fritos) e o Mercadão de Hortifrutigranjeiros foi construído por Euclides para não ficar para trás em relação ao Padre Artur e sua ampliação  com a construção do primeiro andar do Edifício Pio XII, antigo cinema Santo Antônio e Rádio Princesa da Serra (hoje parte do Supermercado Nunes Peixoto).
Segundo prédio na cidade de dois pavimentos em laje; concreto. Todos os demais sobrados anteriores foram de taipa e segundo piso em tábuas.