quarta-feira, 23 de novembro de 2022

 O PEQUENO GIGANTE



Eu vim morar na cidade de Itabaiana, proveniente da zona rural, em 3 de março de 1975, no meio década de 1970, pois; e, tão logo fui chegando fui me familiarizando com suas particularidades e com seu quem é quem na sociedade, muito além da política, já um pouco conhecida através do ativismo do meu pai.
A Associação Olímpica de Itabaiana, ou simplesmente o Tricolor vinha de um segundo título estadual, no ano anterior, depois da glória primeira de 1969 e de 1971, campeão respectivamente de Sergipe e do Nordeste, título até os dias de hoje único do futebol sergipano. Por trás do tricolor, uma pequena constelação liderada por sua estrela maior, José Queiroz do Costa, ou simplesmente, Queiroz.
Meu mundo, como estudante do recém acabado curso Ginasial – em 1974 foi fundido com o primário virando Primeiro Grau – era resumido praticamente ao Colégio Estadual Murilo Braga, onde Queiroz foi da primeira turma de ginasianos, a partir de 1950; e à república de estudantes - onde morei - da Paróquia de Santo Antônio e Almas, mais de perto do Centro de Ação Social Católico de Itabaiana, o CASCI, onde o já rapazote Queiroz, de fins dos 1950 foi tesoureiro em seus momentos mais profícuos: quando construiu o Colégio Dom Bosco e a Maternidade São José, ícones privados da referida Paróquia, ao lado do Cine Santo Antônio, da Escola Técnica de Comércio (hoje CTP) e da própria Casa dos Estudantes na assistência social serrana.
E fui descobrindo Queiroz em tudo.
Festas da Rainha do Milho, no Murilo Braga: Queiroz era logo citado na busca por patrocínio. Que poderia vir diretamente em dinheiro ou em cessão do Cine Santo Antônio, já de alguns anos sob seu comando, o maior e mais equipado, cuja renda do filme da noite era revertida, ora pra festas como a supracitada, mas principalmente para as formaturas, ginasianas ou de Segundo Grau, ou ambas. Teatro amador, festinhas literárias... em todos os eventos, mínimos ou grandes Queiroz sempre liderou o Livro de Ouro.
Apesar de residir em Aracaju, Queiroz teve o nome citado como colaborador nas inúmeras reuniões sociais, de clubes de serviço, atas da maçonaria serrana, Rotary Club e Associação Comercial, mas foi no Tricolor, especialmente a partir do vice-campeonato de 1968 que se enterrou de corpo e alma.
Em 1978, mais um marco na História de Itabaiana: subscreveu, naturalmente liderando a fundação da sétima emissora de rádio de Sergipe, a segunda no interior, e que chegou a desbancar a audiência das demais, galgando o primeiro lugar... na própria capital: a Rádio Princesa da Serra.
A Rádio Princesa da Serra, pelo que representou naquele momento de perigo de estagnação para Itabaiana, merece um estudo aprofundado; não apenas no quesito política, mas cultural, econômico, sociológico, enfim.
A visão aguçada para o futuro, entretanto, foi embaçada pela politicagem nacional.
O lançamento do megaempreendimento – Vila Olímpica José Queiroz da Costa - que dotaria a Associação Olímpica de Itabaiana de lastro permanente para sua manutenção foi atropelado pelo congelamento do Plano Cruzado, que, somado a outras dificuldades fez o belo projeto refluir e acabar.
Queiroz também foi severamente punido pela maldição da política, especialmente a local: houve quem melhorasse economicamente em Itabaiana depois de entrar na política; mas jamais alguém rico para mais enriquecer. Ao contrário, quase todos empobreceram ou logo saíram dela ao longo da história. Seus cargos políticos, no entanto, especialmente o de Deputado Constituinte de 1988, marcaram seu nome com honra e louvor, já que obteve nota 10, máxima, por seu trabalho em geral na atual Carta Magna.
Queiroz poderia muito bem ser um empresário comum, e até ter entrado na política; feito o feijão com arroz e nos últimos 20 dos seus 86 anos de vida estar descansando uma vida de simples aposentado, depois de ganhar muito dinheiro.
Mas Queiroz apostou no que raros espíritos costumam apostar. Ou porque têm medo, timidez, ou simplesmente porque só se importam consigo mesmos. Queiroz vai além. Atualmente contido pela idade e débitos que ela costuma trazer, mas... “não é assim não!” E a qualquer momento sempre pode haver uma novidade.
A Academia Itabaianense de Letras estará nessa sexta-feira, 25 de novembro, a partir das 19h30, no plenário da Câmara Municipal de Itabaiana, outorgando a Comenda Potestas Montis a José Queiroz da Costa. É um modesto reconhecimento ao Pequeno Gigante, como dito pelo companheiro radialista e ex-vereador Gilson Messias Torres, o Portela. Pelo gigantismo em prol da terra em que nasceu e iniciou sua luta.
 “Muitos são chamados; poucos os escolhidos” (Mt, 22, 14); a muitos são dadas oportunidades; poucos as aproveitam dignamente.
Todas as deferências pelo que já fez lhes são devidas.
Parabéns, comendador “Força da Serra”.

Terminado em 22 de fevereiro de 1954, o Cine Santo Antônio, como auditório só foi inaugurado ao fim da administração municipal de Serapião Antônio de Góis. Presença, no círculo vermelho do jovem José´Queiroz da Costa, tesoureiro do CASCI, dono do prédio (atual Supermercado Nunes Peixoto)


Início da trajetória gloriosa do Itabaiana: comemoração do 1º título de campeão estadual. 1969


A emissora Rádio Princesa da Serra galvanizou a sede ceboleira de sucesso, seja no comércio, na cultura e na política. Porém o lado mais sentido do seu poder foram os cinco campeonatos que vieram a seguir a sua inauguração, em 13 de junho de 1978. Na foto maior, Queiroz posando com baluartes tricolores no pentacampeonato de 1982.