sexta-feira, 29 de março de 2024

UM QUARTO DE SÉCULO DE UM MARCO MEMORIAl.


 Itabaiana não pode ser queixar da ausência de próceres culturais, especialmente de historiadores e memorialistas.

Há um século, Francisco Antônio Carvalho de Lima Júnior, ou simplesmente Professor Lima Júnior deu a régua, a que foi adicionado o compasso, a seguir, pelo grande catador de documentos, além de historiador, claro, José Sebrão de Carvalho, o sobrinho. Bastão assumido pelo jovem estudante de Direito na Universidade Federal de Sergipe, Vladimir Souza Carvalho, quando em 1973 lançou Santas Almas de Itabaiana Grande, um marco na historialidade municipal, não somente de Itabaiana, mas de todo o estado de Sergipe, como já levemente ensaiado pelos dois citados antecessores.

Voltando um pouco no tempo, o primeiro registro da memória itabaianense veio através da recém-nascida fotografia, quando Miguel Teixeira da Cunha montou o Photo Nacional, em 1871, na explosão econômica do algodão e suas promessas de fartura. Até um Gabinete de Leitura – o primeiro, segundo o historiador Wanderlei Menezes – veio parar aqui. De vida efêmera, sucumbiu à transferência do bravo professor que o ousou formar.

Na década de 1930, um jovem comerciante se popularizou, notadamente por ser filho de ex-prefeito (intendente, à época); ser de família tradicional; inteligente e contador de histórias, orais, obviamente: Álvaro Fonseca Oliveira.

Até sua morte, em 3 de fevereiro de 1999, foi a fonte oral, por excelência, que desenlinhou enigmas da história política republicana, e os imensos inter-relacionamentos das vastíssimas árvores familiares de Itabaiana.

Nesse mister, outras figuras surgiram; mas nenhuma para se comparar ao depois escritor – ainda bem – José Augusto Machado, o Baldok. De forma tal que a perda de Álvaro Fonseca, como toda perda humana foi redutora; porém, mais ainda pelo fato de que nada escreveu. Álvaro, uma biblioteca ambulante, nada grafou. Nem discursos, na Câmara Municipal, nas duas oportunidades em que foi vereador e até presidente de uma das cinquenta mais antigas casas legislativas do Brasil. Isso mudou com a chegada de Baldok, especialmente desde a década de 1970, que catalogou muita coisa ouvida de Álvaro em si, além de obviamente buscar em múltiplas fontes. E grafar. Eternizar.

Incrivelmente, é justo no ano da morte de Álvaro Fonseca Oliveira que o jovem repórter e videomaker, Leal Jr, realizou um trabalho titânico, sozinho, o “exército de um homem só”, como de praxe nas boas produções da terra. Com técnica impecável, apesar das várias carências tecnológicas; ainda em VHS, num momento em que o vídeo digital engatinhava, e sem o recurso do super 8, então convencional, porém que seria inalcançável para tão pouco orçamento, Dudu, como intimamente conhecido, fez um trabalho que, só pelo fato de gravar José Serafim de Menezes, o Zé de Biné; Antônio Melo, Alberto Carvalho, Maria Thetis Nunes, Serapião Antônio de Góis, Francisco Barbosa, Irami de Almeida e tantos outros que já não estão entre nós; além da atualidade de cidade, já seria grandioso. Mas o Dudu foi além, num momento em que se preparava para ser lançado a grande nave do autoconhecimento de Itabaiana, bem além do marco, Santas Almas de Itabaiana Grande, de 1973.

Só recentemente pude ver a série em 6 CDs, produzida na época. E fiquei encantado. 

Vinte e cinco anos depois e ainda continua e continuará de parabéns.

Sinceramente, grande trabalho!


domingo, 24 de março de 2024

TUDO VIGIADO POR MÁQUINAS DE ADORÁVEL GRAÇA(*).

 


Sujeito que sou – como todo mundo – às leis da obsolência(**) da atualidade, troquei de máquina, obrigatoriamente, descartando meu “velho computador”, como diz o “hit” de Ritchie da década de 1980, na canção Voo de Coração.

E fui ver o que nova tem.

Propaganda. Muita propaganda.

Tudo vem lincado à rede, popular internet.

Uma foto? Vem a sugestão de salvar (gravar) na “nuvem” (Onedrive, entre outros). Um texto no Word, uma planilha no Excel, um vídeo produzido no meu programa, uma música... falar em música, esse setor, de tão avançado, nas memórias eletrônicas e seu tráfego na internet, ao aparecer qualquer arquivo de som, os motores da rede – podem chamar de bisbilhoteiros, é o mesmo – rapidamente o identifica; sua autoria, e sua propriedade. Pirataria escondida? Jamais.

No caso da pirataria de música, uma pergunta: o artista, músico, compositor, arranjador, intérprete, enfim, os que trabalham, ganharam quanto? Nada! Nem mesmo as músicas no Spotfire, não pirateadas, óbvio, rendem nada. É pior que o velho ECAD.

O Spotfire só toca; não promove, como as antigas gravadoras faziam, que levavam os artistas de TV em TV e rede de rádio.

Mas, voltando para o conteúdo, em geral: o “streaming” aposentará todas as formas de reprodução de conteúdo, reduzidas a terminais eletrônicos, fixos: nos PCs, operados por programas, remotamente; e especialmente nos celulares (há quem sonhe com chips intra craneanos... e não duvidem dos loucos).

Livros, revistas, filmes, músicas (já em estado adiantado)... tudo em toda a mídia convergirá para o “streaming”. Na rede. “Ao vivo”.

É impressionante o número de “atualizações” - pedidos e imposições mesmo - que recebo diariamente no celular e até no PC.

Vem aí um tempo, no máximo dez anos, em que o portátil não plugado na internet, não existirá. Muito menos o fixo.

Ah, e sobre a minha nova máquina, um PC basicão, ao tentar nele instalar uma gravadora/leitora de CV/DVD dei com os burros n’água: de jeito nenhum. Claro, acredito que via portas USB (que ainda continuam, até quando, só Deus sabe), ou talvez mexendo na programação, que não está ao meu nível. Precisarei a ajuda dos universitários.

Rumo à dominação total. A Matrix em marcha acelerada.


(*) Título – e montagem da ilustração - tomado emprestado à BBC, do documentário homônimo.

(**) Termo ainda novo no linguajar geral, significa a vida programada de um produto; programado para sair de linha com determinado tempo de uso.

domingo, 10 de março de 2024

A RECUADA

 


Acompanhamos recentemente a briga, do, por enquanto coeso, grupão que pôs o governador Fabio Mitidieri de posse da caneta estadual, contra o “estranho”, de Lagarto, Henrique Prata, na novela do câncer e seus hospitais: o do lagartense, renomado, pronto e com know how, a partir de Barretos-SP; e o projeto do grupão, "do governador que cumpre acordos" (quais serão eles?), segundo a propaganda, com previsão de sair daqui a dois anos, no momento certo para a propaganda da reeleição.

Bem, escapa-me maiores detalhes, porém de uma coisa já suspeito: o recuo estratégico do Governador obedece à lógica, claro, de que é melhor se aliar a um adversário, e em seguida comê-lo em saborosas garfadas por dentro, do que se esborrachar num tête-a-tête, doloroso e estéril. Mas o grupo dos "respeitadores de acordo" não irá desistir de ficar com tudo. Se brincar até com um possível espólio de Barretos.

E aí vem mais uma coisa: Sergipe foi fundado no início do século XVII num tripé, compreendido entre Itabaiana, Lagarto e São Cristóvão.

Porém, desde fins do século XVIII que a parte anacrônica da elite sergipana - a que enfeixa o poder nas mãos (muito além dos cargos eletivos) – não deixa ninguém "se criar", em Itabaiana ou Lagarto.

Mais prudente, Lagarto tem aparentemente levado leve vantagem. Por exemplo, o município foi menos fatiado. Já Itabaiana, qualquer coisinha é suficiente para deixar a elite anacrônica de orelha em pé; e em incontinenti ação deletéria. Tipo "São Bento antes da cobra".

Pelo sim, pelo não, e sem abrir mão de um pouco de conspiracionismo, o acordo do governo "dos acordos", na questão do Hospital do Câncer de Lagarto, bem que poderia ser mais uma fisgadinha na "arrogante" Itabaiana, atualmente submetida a pão e água.

Por que não?

Os tempos de pebas, os que nas duas décadas iniciais do século passado comprometeram até hoje o futuro de Sergipe, retornaram com força. coincidentemente nas duas primeiras décadas desse século. Aguardemos o próximo capítulo.

sábado, 9 de março de 2024

HORA DO ADEUS

 



Durante os últimos cem anos, desde 1919, o velho prédio mudou de fachada alguma vezes... de dono, e até de destinação. Mas não resistiu ao progresso. “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”, como disse Caetano Veloso. Ou como disse Noel Rosa, “Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão”.
E sepulta-se assim mais um “Cinema Paradiso”. Tantos sonhos vividos.
Para mim, pessoalmente, o último símbolo de uma grande escola: Rádio Princesa da Serra AM.






quinta-feira, 2 de novembro de 2023

E VAMOS DE BIENAL

 


Pulando dois anos, devido a horrenda pandemia, que evidenciou despreparo total da humanidade se acaso se defrontar com uma muito maior e descontrolável, cá estamos nós de volta à estrada com uma festa, intrinsecamente cultural magnânima que é a Bienal do Livro.

Serão três dias, 15, 16 e 17 de dezembro, da 6ª bBienal; e que, façamos votos que nessa nova fase, depois do pioneirismo heroico que conduziu as cinco edições anteriores, agora se estabeleça um calendário fixo para a cada dois anos.

De uma coisa, tenhamos certeza: ficou grudada na cultura popular e é indispensável, não somente para Itabaiana, mas como para todo o Sergipe e até além.

A demora deste ano deve-se a dois fatores, especialmente: a desarrumação gerada pela pandemia da covid, e a demora, mais que compreensível dos gigantes que a tocaram, repito, heroicamente, em se decidirem em não mais poder fazê-lo.

Mas, tem coisas quem se nem entende por que, porém parecem ser providenciais. Como estar à frente da Academia Itabaianense de Letras, a atual presidenta, Josevanda Mendonça Franco. Intrépida, centrada, dinâmica e decisiva, com uma invejável bagagem de mais de três décadas na administração pública, sempre voltada para a Educação e Cultura, desde uma simples assessoria parlamentar à responsabilidades, como hora ocorre, à frente da Secretaria Municipal de Educação de Nossa Senhora do Socorro, de onde já pilota duas entidades em nível federal, pertinentes à área.

Exatamente quando tudo se desenha para dar certo.

Não haveria outro caminho, que não a migração da administrsação da Bienal para uma entidade da Educação e/ou Cultura, depois do esplêndido lançamento das cinco edições anteriores.

Reconheça-se, o heroísmo apresentado pelo designer, empresário gráfico e entusiasta cultural, Honorino Jr; com as honoráveis companhias dos empresários da comunicação, Carlos Eloy e Jamisson Machado, e com nossos D. Quixote e seu Sancho Pança da atual explosão literária sergipana, Domingos Pascoal e Antônio Saracura... não teria como continuar. Haveria que mudar; e somente uma instituição - uma organização não governamental - para fazê-lo.

E eis que sucede a feliz conjuntura da Academia Itabaianense de Letras assumir a árdua tarefa, num momento crucial, com uma diretoria operosa, dentro da qual Antônio Saracura; com uma presidente com todas as ferramentas de uma grande administração; com o entusiasmo eternamente jovem de professores, alunos, autores, colaboradores, sem esquecer os colaboradores especiais, porque passantes do bastão; mas não abandonando a corrida.

Desenha-se a permanência do aspecto sempre crescente do evento, desde 2011.

Vamos trabalhar!

Receber Sergipe e além, de cancelas, porteiras, colchetes, passadiços, portas, portões, janelas e... braços e corações abertos.


Bem-vinda 6ª Bienal do Livro, 15, 16 e 17 de dezembro de 2023!

Bem vindo Sergipe!


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

CAVALGADA ADIANTADA?

Domingo, 29, ontem, havia certa agitação no ar pela manhã, quando saí da cidade em direção ao aeroporto, de Aracaju, obviamente. Na onda dos cavalgadores do asfalto, encontrei várias parelhas, algumas com montadoras, trilhando a Avenida Manoel Francisco Teles e algumas artérias adjacentes, ao menos ate onde a vista alcançou, rapidamente, já que eu volante.

É comum essas manifestações na cidade, mas as de ontem confesso me acendeu o desejo de ver algo mais massivo, organizado, um ritual. Não de exibicionismo apenas dentro da cidade; mas de algo muito mais sério, porque uma celebração da memória, a nossa memória vaqueira, perdida nos escaninhos do tempo.

No próximo domingo será emblematicamente 5 de novembro. E 5 de novembro é a real data de nascimento da sergipanidade. Quando a massa de vaqueiros, quase todos de Itabaiana, então Distrito do município de São Cristóvão, que também era a capital, invadiu aquela cidade, protestando contra o Padre Sebastião Pedroso de Góis – que acabou preso; e soltaram alguns presos, que o foram justo por não aceitar pagar os impostos extorsivos que Salvador vinha aqui cobrar. Impostos mais que injustos. A primeira Derrama foi aqui, e sobre o gado; e não em Minas Gerais, cem anos depois, sobre ouro.

Os resultados foram terríveis. Parece até que os curraleiros e a massa de vaqueiros queriam chamar a atenção das autoridades em Lisboa, já que era o quinto ano de enrolações, com promessa de reconstruir São Cristóvão e outras mais. Não deu. Lisboa era muito longe. Quando a rainha-regente veio saber, já o foi por terceiros interessados em esconder os terríveis excessos. 

Acabou com a nascente economia e sociedade sergipana. Uma economia, até ali quase sem escravidão. E deixou um trauma, que mesmo não sabido pela maioria, ele está entranhado na alma sergipana; dada ao estoicismo relativo; ao mergulho visceral em querelas domésticas, paroquiais, e um quase desistir de ser grande. Ao mesmo tempo solidificou uma identidade sergipana, que tem resistido a todas as tentativas de submeter o pequeno território.

Pode ser que a movimentação de ontem seja a preparação para o próximo dia 5. Não se perde nada em sonhar. O amanhã pode ser distante; mas é sempre tentador devanear.


quarta-feira, 27 de setembro de 2023

ENGARRAFAMENTOS

 

O Decreto-Lei 311, de 2 de novembro de 1938 acabou com uma situação esdrúxula: a de sedes municipais poderem ser vilas ou cidades. A partir dali as mal vistas, “atrasadas”, de segunda, vilas deixaram de existir e tudo passou a ser cidade. Hoje, como há muito tempo, vila passou a ser sinônimo de viela, paupérrima, desorganizada, enfim. Já cidade é outra coisa.
Mas certos costumes ou vícios de vila ainda hoje predominam em Itabaiana.
Exemplo, a de a gente passar o vexame de ter de explicar a um visitante de fora – mas jamais convencer – que um cara com uma mão cheia de bilhetes de lotaria para vender, e na outra uma frágil corda a conduzir um touro de trinta arrobas, em plena feira pela meio do povo... é cultura. Quando sucessivas leis municipais desde 1916 já proíbe até cavalgar no Centro da cidade.
Uns dias atrás a SMTT tomou uma medida que, inexoravelmente vai ser rotina daqui pra frente: reduzir o trânsito em duas importantíssimas ruas a sentido único. Teve que deixar uma delas em stand by, pela agitação causada em alguns apressados em só ver dificuldades. Perdas de hábito.
Itabaiana tinha 3.549 veículos motorizados (destes, 1.262 automóveis e 774 caminhões e carretas) em 2001. Mas em 2022 esses números fecharam em 65.160 unidades, sendo 16.713 automóveis; 3.680 caminhonetes, 3.566 caminhões e mais de quarenta mil motos, motonetas e ciclomotores.
E ainda tem mais: a rede de serviços que trazem milhares de pessoas para o comércio de Itabaiana, de segunda à sexta, praticamente dobra o número de veículos de dois ou mais eixos no Centro, e até em algumas vias de alguns bairros.


Tem que racionalizar. Limitar onde for possível; fazer fluir, sempre necessário. Desobstruir.
Hoje, em torno do meio dia, uma situação recorrente: um caminhão-baú entravado na esquina da estreita Rua Sete de Setembro, ao fazer conversão para estreitíssima Rua São Paulo. Mas isso também já presenciei em várias outras esquinas, até mesmo na larga Rua Campo do Brito, em variados momentos e anos.
Essas ruas foram projetadas numa época em que os caminhões eram do tamanho das atuais caminhonetes, e toda engenharia possível é necessária para destravar; fazer fluir.
Poder continuar passando na rua São Paulo? Pode. Já que não há alternativa; mas sempre em linha reta, especialmente veículos maiores. Na Rua Sete de Setembro? Pode. Até mesmo porque é necessário abastecer as lojas; porém, quartas e sábados, quando a Feira tranca desde a esquina da Rua São Paulo até praticamente a Antônio Dultra, há que se usar o bom senso e proibir o trânsito de veículos acima de cinco metros de comprimento. Senão entala.
E aí saem todos perdendo: comércio, transeuntes... a cidade inteira.