sexta-feira, 1 de novembro de 2024

INOVAÇÕES.

Câmara e Biblioteca, na cidade de Areia Branca, tendo do lado direito a rua, ex-estrada real Simão Dias-Laranjeiras, origem da povoação, na primeira metade do século XIX.

Até o fim da monarquia, em 1889, sempre que era criado um novo município, sua sede e povoado emancipado era a vila, que obrigatoriamente tinha que ter, cartórios de 1º e 2 º ofícios; paróquia (ao menos uma) e Casa de Câmara e Cadeia.

Os vereadores, invariavelmente eram também chamados de juízes, e, como as câmaras fossem uma imitação do senado romano, por vezes elas também foram chamadas “senado da câmara”. Até porque, eram as instâncias municipais de maior poder. Inclusive o de prender e soltar. Daí o porquê de a necessidade de sempre ter no térreo a cadeia, também usada pela polícia, quando indispunha de quartel.

Esse formato, como já dito, veio da República Romana. Antes dos imperadores. E atravessou os milênios com algumas modificações.

"...que os moradores desta Capitania queiram fazer as casas de Câmara e Cadeia à sua custa".

Há tempos que eu só passava por Areia Branca, pela BR-235. Não entrava na cidade, que vi crescer, e a tive como segunda povoação de que mais gostava na adolescência. Nela estreei o meu lado comercial, aos nove anos, vendendo cestinhas de verduras aos feirantes, concorrendo com as bancas... e não fui muito adiante. Em seu município tive minha primeira ocupação formal, qual seja a de professor de MOBRAL... aos 13 anos. Tão pequeno que ao receber a primeira supervisão, a diretora de Educação, minha saudosa amiga D. Josefa, diante da dificuldade do motorista do Município em saber quem era o professor, brincou: "sobe no banco aí, Zé, pra Louro te ver!" 

A cidade, postada no curso da estrada real Simão Dias-Laranjeiras, originada na passagem das inúmeras boiadas, e outra mercadorias, entre ambas as potências econômicas da época, século XIX e início do XX, muito pouco cresceu no início, mesmo depois de virar sede municipal, em 1963. Explodiu seu crescimento depois de 1980.

Hoje, fotografando a cidade para dois projetos, um deles, municiar-me de material sobre o município original de Itabaiana e sua paróquia – a segunda na história sergipana – que entrou ontem em seu Ano Jubilar de 350 anos de fundação, consequentemente também fundação da cidade, dei com uma feliz associação, não de Câmara e Cadeia; mas de Câmara e Biblioteca.

A biblioteca, essa magnífica invenção de Ptolomeu, há mais de dois milênios salvou, não somente a cultura grega, mas de todo o Ocidente, depois das loucuras das matanças feitas por Alexandre Magno, chefe de Ptolomeu, que o sucedeu no velho Egito, uma das conquistas do grande general, horrivel administrador. Os esforços de Aristóteles, pois, foram recompensados.

Chamou-me a atenção.

Um fórum democrático por natureza, onde se prática a arte escura da política; com o outro lado, diametralmente oposto, de um templo do saber, da polidez, refinamento e clareza nas ações humanas.

Minha pequenina Areia Branca, há muito deixou de existir.

Mas continua graciosa.

Antes de ser professor, por Areia Branca, nela fui vendedor mirim na feira, que em 1969, funcionava na metade da pequena Praça, com o "Mercado da Farinha" à direita, e o Talho de Carne no prédio cuja parede aparece à direita.


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

VIAJANDO.

 

Lavandeira, à vontade me premiando com a sua simplicidade. Ao fundo, por trás do tronco, quatro séculos de história, no povoado Bomfim, município de Divina Pastora-SE

Nascido numa terra de povo inquieto, povo viajor por natureza, à minha maneira não fujo à regra.

Tenho por hábito pouco sair das minhas serras, fisicamente falando; mas, quando o faço, não somente o corpo físico se desloca, como a mente se projeta no tempo. Não consigo ver uma estrada, com histórico antigo, sem acabar por nela me ver, por um ou quatro séculos atrás.

Numa perseguição ao passado, hoje, 31 de outubro, fui até passagem de São Gonçalo, que também já foi chamado de Rio de Sergipe, de Os Pintos; enfim, Riachuelo. A denominação atual é uma homenagem à batalha travada no Rio Paraná, na Província de Corrientes, Argentina, em 11 de junho de 1865, início da ofensiva brasileira na guerra contra o Paraguai, a Batalha de Riachuelo. 

Como Passagem de São Gonçalo, ficou desde a criação dessa paróquia, em 1700, ficando assim conhecida até fins do século XVIII, quando já perdera grande parte da importância para um novo ramal, mais à leste, por Pedra Branca, da estrada Salvador-Olinda, ou Caminho do Mar.

Inicialmente a estrada atravessava o rio Sergipe em Riachuelo devido ao local ser cabeça de maré. O máximo aonde a maré chega, ao subir rio acima em cada enchente, duas vezes ao dia.

Hoje, com o avanço da tecnologia, e o advento de pontes monumentais, essas particularidades são desprezíveis; mas já contou muito nas jornadas semanais a pé.

Antes de chegar a Riachuelo, porém, passei por outro lugar emblemático: o entroncamento – e fusão temporária – das duas estradas reais abertas, tão logo veio a Conquista de Sergipe, com desfecho na Serra do Pico, hoje limite entre os municípios de Frei Paulo, Itabaiana e Macambira, por volta da meia noite de 31 de dezembro de 1589, segundo o Frei Vicente do Salvador. O Caminho do Sertão, e o Caminho do Mar. A fusão ia até Japoatã.

Excerto de mapa holandês, nassoviano.

E o citado entroncamento?

Ele aparece no mapa holandês de 1646, como tal, e um curral – fazenda – fornecedor de gado para o Pernambuco ocupado pelos holandeses.

Durante os sete anos da administração Maurício de Nassau, especialmente após o mês julho, com o rio São Francisco seco, o grosso do gado juntado dentro da Itabaiana descia as colinas da Santa Rosa de Lima, encontrava a outra parte que vinha da área mais litorânea, justo aqui; e rumava para Pernambuco.

Hoje, nessa espécie de esquina do mundo antigo sergipano, uma graciosa unidade de ensino em que, provavelmente por desconhecimento da História de Sergipe, uma praga geral no estado onde tanto se fala em sergipanidade, não tem a mínima noção da importância histórica desse lugar, qual a inocente lavandeira que em meu limpador, veio graciosamente pousar.

Sobre a paróquia de São Gonçalo, D. Marcos Antônio de Souza – que dela foi pároco antes de ser bispo do Maranhão - nos diz que foi fundado na passagem que depois levou o nome por um bom tempo; migrou por breves tempos para as colinas onde hoje se assenta Divina Pastora; e acabou indo servir de suporte à aldeia indígena, estilo missão, do Pé do Banco, onde hoje está, com o nome Jesus, Maria Jose, tendo perdido o São Gonçalo. E Pé do Banco virou Siriri, nome do afluente do rio Japaratuba que lhe passa próximo.

A passagem de São Gonçalo.


domingo, 27 de outubro de 2024

FAVAS CONTADAS. O POVO DE ARACAJU DIZ NÃO AO SISTEMÃO.

 

Os 494.229 votos (38%, 1º lugar)... do 1º turno de 2022 ainda permanecerão entalados nas gargantas; mas, pelo menos uma lufada de ar fresco na vontade popular, contra as diabruras da trevosa aristocracia peba e cabaú de Sergipe que insiste em ser anacrônica, prepotente, arrogante, antipovo.

A resposta popular contra a máquina viciada e viciosa da politiquinha sergipana foi avassaladora: no passarón. Não, se depender da fonte legítima de qualquer poder: o voto do povo.

Povo que sempre é enganado; mas sempre resistirá. Sempre.

E... quando na História de Sergipe, de alguma forma, Itabaiana e Lagarto se uniram houve sensíveis mudanças para melhor, nesse pequenino estado, tão castigado de políticos super espertos. E ruins. Reles egoístas.

Assim foi na primeira tentativa de efetiva independência - na Rebelião dos Curraleiros; assim foi em 1820-1823 – decreto régio e confirmação. E em todas as demais oportunidades, desde então.

Parabéns à prefeita eleita de Aracaju, a lagartense Emília Correia.

Que tenha sabedoria para navegar nas águas super turbulentas da política sergipana, a partir de 1º de janeiro próximo.

A FORÇA DE UMA IMAGEM.

 

Foto: Joselito Miranda. Editora ArtNer

Desde que Daguerre fixou em papel, uma via parisiense, com um solitário engraxate ganhando o pão exercendo o seu ofício junto a um único cliente, que nunca mais o mundo foi o mesmo. Tal a revolução provocada por Joannes Gutemberg e sua prensa, a imageria se precipitou. Nasceu a fotografia com que, cinco décadas depois Seu Teixeirinha registrava a primeira imagem de Itabaiana, e dos seus primeiros habitantes, não mais pela gravura manual – desenho ou pintura – mas mecânica; rápida, com cópia reprodutível, exatamente igual á original.

É quase impossível se viver atualmente sem a fotografia. 

E, de posse do celular, que concentra tudo, câmeras, inclusive, tornou-se algo tão banal que às vezes até chateia.

Outras vezes produzem as sensações – que pelo menos eu tive – ao se ver registrados singelos, porém tão significativos momentos como esse, da 3ª FLITA – Feira Literária de Itabaiana, congelado, eternizado numa imagem.

E, repito aqui as palavras do autor delas - a quem agradecemos a gentileza da cessão - o editor/escritor Joselito Miranda, da editora ArtNer: 

“A Feira do Livro de Itabaiana consolida-se como um dos melhores eventos literários de Sergipe. Agrega dezenas de escritores e editores, levando o público a ter contato com a literatura sergipana. 

Parabéns aos organizadores e aguardem, que em 2025 teremos a próxima Bienal do Livro com mais novidades.”

Foto: Joselito Miranda. Editora ArtNer


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

PÉ NA ESTRADA

 

Começa nessa sexta, 25, às 10 de manhã, a 3ª FLITA, Feira do Livro de Itabaiana, uma iniciativa do mais que inquieto Tonho Saracura (ele também atende por Antônio Francisco de Jesus), meu confrade na Academia Itabaianense de Letras e acadêmico da Academia Sergipana de Letras, enfim um menino que não queria ser ‘pade’; preferiu ‘pade’ ser.

A 3ª FLITA, mais uma vez terá o apoio do Shopping Peixoto, para sua realização e está mobilizando os escribas sergipanos – e até doutras plagas - prometendo movimentar, senão qual a Bienal, porém um senhor esquenta para essa que é o maior evento literário de Sergipe.

Mais uma vez nada tenho para apresentar. De novo. Porém, estarei presente com a coleção de banners sobre a História de Itabaiana; marcarei presença também como membro temporário de Secretaria Municipal de Cultura de Itabaiana; e, óbvio, aproveitando para rever amigos e amigas; confrades e confreiras, e dar um abraço em todo o mundo que por lá estiver.

Há três anos sem reapresentação, volto a expor os sobreditos painéis - ou banners - para deleite de quem gosta da nossa história, num ambiente leve, alegre, e carregado de simbolismo cultural. Até mesmo porque a FLITA ocorre na semana em que nos preparamos para abrir o ano do 7º Jubileu da criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e fundação da cidade de Itabaiana. A abertura do Ano Jubilar será na próxima quarta-feira, 30 de outubro.

Que a 3ª FLITA seja do tamanho da hospitalidade serrana, onde de costume, portas, janelas, porteiras, portões, cancelas, passadiços, colchetes... e claro braços e corações estão sempre abertos.

Bem-vindos!

sábado, 19 de outubro de 2024

A MARCA ITABAIANA, NOS 350 ANOS DE FUNDAÇÃO DA CIDADE.

 

O inquieto itabaianense, sempre se sentiu seguro na proteção da sua muralha de serras, ao tempo em que sempre buscou vencê-las. E conquistar o horizonte além.

Recentemente, e se preparando para o Ano Jubilar, da paróquia e cidade(*), que se iniciará no próximo dia 30 de outubro, o médico, atual secretário Municipal de Cultura de Itabaiana, Antônio Samarone de Santana, vem desenvolvendo uma série de crônicas sobre a cidade, sua história e personagens importantes.

Samarone tem partido de sua cultura de menino beco-novista – Rua Coronel Sebrão, tradicionalmente, Beco Novo - a segunda mais antiga rua de Itabaiana e parte intrínseca da sua tradicionalidade. Porém com alcance sobre toda a história serrana.

Em tempo: Ita, de Itabaiana, significa lugar ou serra.

O mesmo, que viveu a infância na década de ouro da arrancada para a atual cidade, tem bastante autoridade sobre esse período mágico, ao qual só vim ter contato aos 15 de idade, em 1975, já que oriundo da zona rural.

Mas há 15 dias comecei um périplo pelas cidades sergipanas, no sentido de captar imagens próprias e recentes das mesmas, uma vez que fiz isso em 2011, e de forma limitada. Não cobri todas as 75. 

Já visitei 12 das 74, além, obviamente, da que moro: Itabaiana. Em seis, encontrei a marca Itabaiana. Seja em lojas de comércio, de serviços, e até em indústrias.

Porém isso não é de hoje. Nem se resume a Sergipe.

Manoel Felix de Oliveira partiu de Itabaiana ao fim do século XIX, rumo a Propriá, pela velha estrada real pelas vilas de Nossa Senhora das Dores (velho povoado dos Enforcados,) pela Vila da Capela, e pela do Aquidabã (ex-Cemitério), e finalmente a velha Santo Antônio do Urubu de Baixo da Barra da Parãpiá, já com o status de cidade e denominação moderna de Propriá.

Certamente já comerciava em Propriá; porém, ali acabou não se demorando, vindo a se aventurar rio acima; primeiro por Piranhas, depois a Jatobá de João Pernambuco (hoje Petrolândia), o Juazeiro de João Gilberto e Ivete Sangalo, Barra da Rio Grande do Sul (hoje oeste baiano, além São Francisco) Santo Antônio do Urubu de Cima (Hoje Paramirim), e finalmente chegando à progressista Januária, onde se fixou. Ali, aproveitou a licenciosidade legal da época, acrescentando o sobrenome Itabayana, nome que até hoje ressoa na alta elite da justiça brasileira.

Em Januária, Minas Gerais, existe o bairro Alto do Itabayana, em sua homenagem.

Gravura maior: print da matéria do Itnet em 2005. Detalhe à direita: recorte do jornal carioca A Noite, de 21 de março de 1938, com o nome na lista: d'Oliveira Itabayana, descendente do nosso Manoel Félix de Oliveira.

Hermelino Contreiras, empresário, construtor do Tanque do Povo, em 1864, ainda jovem foi envolvido nas brigas políticas provincianas, ganhou mundo e se transformou no agente da borracha, transportando em seus navios-gaiola uma multidão de cearenses, maranhenses, potiguares, paraibanos, pernambucanos, alagoanos, e naturalmente sergipanos, como os itabaianenses José Joaquim Nunes(**), pai da historiadora Maria Thetis Nunes, e Pedro Teixeira Lobo, filho do fotógrafo da mais icônica foto da matriz de Santo Antônio, Miguel Teixeira da Cunha.

Não nos foi possível comprovar documentalmente, mas existe um antigo seringal, à margem esquerda do médio Madeira com o nome Itabaiana. E uma numerosa alcateia por aquelas bandas.

O gaiola de Hermelino Contreiras tinha ponto final em Cruzeiro do Sul, no Acre.

Matriz de Santo Antônio e Almas: a origem da cidade de Itabaiana. Fotografia de Miguel Teixeira da Cunha.

Em Sergipe, numa biografia da Irmã Luciana Correia Quaresma, escrita em Ilhéus, em 2003, na interminável lista de suas realizações, até ali, figura a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição (e escola), no Alto do Itabaiana. Perde-se na noite da memória de onde vem essa denominação do hoje bairro de São Cristóvão de Sergipe d’El-rei.

Por fim, também aqui em Sergipe, a estrada real para o porto do Espírito Santo, hoje a gostosíssima Indiaroba, num dos acampamentos dos tropeiros de Itabaiana e Lagarto (só existiam os dois municípios na área), na parte sudeste deste município, juntou tanto itabaianense, e não somente de passagem, que desenvolveu o povoado de Itabaianinha, citado em documentos nos Anais de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e até pelo primeiro historiador sergipano, D. Marcos Antônio de Souza, em suas memórias da Capitania de Sergipe, de 1808.

Desde cedo um buscador de melhorias de vida, o itabaianense tem ajudado a desbravar, a desenvolver esse grande país. E isso o tem feito desde que o primeiro sergipano de sangue europeu, Simão Dias mameluco ou o Francês, movido, certamente pelas querelas pós-holandeses se exilou nas matas do Caiçá, dando origem a bela cidade de Simão Dias.

Simão Dias: o primeiro itabaianense; e também o primeiro migrante itabaianense. A levar a marca Itabaiana além.


(*) A primeira denominação da cidade de Itabaiana foi Santo Antônio de Itabaiana, e o povoado nasceu com a criação e instalação de sua paróquia em 30 de outubro de 1675, a segunda na História de Sergipe. (Veja também, de 8 anos atrás ou seja, 2016: A Cidade da Prata completa 341 anos)

(**) Corrigido. Erradamente eu havia grafado Josias Nunes de Souza. 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

PRAGMATISMO E PERSONALISMO

No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas - completarão 327 anos. 

Há exceções, óbvio; mas a História sergipana tem sido tratada como uma diversão de intelectuais a digladiarem-se sobre quem fez mais e melhor, sem duas qualidades fundamentais acerca do bom sucesso de uma ideia: a valorização do árduo trabalho dos predecessores; e a difusão, quanto mais massiva, melhor, dos conteúdos. Sua democratização.

Especificamente, sobre Itabaiana, não se foge à regra estadual. Com o agravante que a História, tida como coisa do passado, inútil, portanto, e num lugar de alfabetização tardia, e muito suor para sobreviver, como o pragmatismo está intrinsecamente associado ao personalismo, esses “detalhes”, quando muito é considerada detalhe; e ínfimo.

Eppur se mouve, como diria Galileu Galilei. Paradoxalmente, é justo de Itabaiana, especialmente na árvore dos Carvalho a inconformidade com esse estado de desprezo pelo passado. A começar por Lima Jr.; bastão mantido em movimento por Sebrão, o sobrinho; e finalmente passado a Vladimir Souza Carvalho.

Contudo, se hoje é desanimador, sem uma política pública de ensino de História local no Fundamental, no passado recente foi bem pior, em todo o Sergipe. Como exemplo, se deve a um cearense – não um sergipano – Acrísio Torres Araújo, a popularização da História de Sergipe, mediante o ensino fundamental. Por sorte, logo a seguir veio a Universidade Federal de Sergipe e consequente florescer inclusivo da intelectualidade e das ciências sociais, dentre as quais, a História.

E eis que uma itabaianense, Maria Thetis Nunes, de espírito pragmático, como comum nos da terra, porém de personalismo atenuado, a partir da recém-nascida UFS, liderou o processo que, ainda em andamento, busca escrever a história de Sergipe como ela é. Feita de pequenos capítulos, parágrafos, incisos e alíneas. Tudo o que compõe o todo; que conecta, vai além do provincianismo de vila contra vila, capital contra interior.

Singelo monumento, de significado quase desconhecido pela esmagadora maioria, inaugurado com solenidade simples demais para o que representa para a identidade itabaianense e até sergipana.

Data desperdiçada

O ano de 1997 transcorria como qualquer um, pós, e pré-eleitoral em Itabaiana. Primeiro ano da segunda administração de Luciano Bispo de Lima, e, à medida que se aproximava o fim do ano, a reexcitação eleitoral para 1998.

Um despretensioso encontro entre aluno – José Taurino Duarte – e sua mestra, a professora Maria Thetis Nunes, em pleno Calçadão da João Pessoa, na capital, daria origem a mais um evento, no sentido de dotar Itabaiana de uma História, com h maiúsculo, conhecida, popular. Realmente engrandecedora e digna de orgulho dos seus filhos.

Como dito, estávamos em 1997. E lembra o professor Taurino, que Thetis o parabenizou pelos 300 anos, três séculos de Emancipação Política de Itabaiana, com a instalação da sua Câmara Municipal; e sugerindo as necessárias medidas para o enaltecimento da data; sua comemoração.

E, no dia 20 de outubro de 1997, uma Câmara de Vereadores, um pouco envergonhada, acompanhada de uma alcaidaria (prefeitura) completamente descompromissada, meramente protocolar, com algumas palavras da boca para fora, inaugurou o monumento simples, engendrado às pressas pelo artista plástico José Valde dos Santos, Val decorador, que felizmente continua no local.

Por não se tratar de uma data faturável politicamente, só não foi completamente ignorada, como o 30 de outubro de 1975, por ter a feliz conjunção de Maria Thetis Nunes com todo peso da sua autoridade acadêmica, a estimular; o encrenqueiro professor Taurino; e na Presidência da Câmara Municipal de Itabaiana, o professor, feito vereador, João Alves dos Santos, popularmente conhecido como João Patola.

A pequeniníssima popularidade ficou como uma excrescência; “coisa de João Patola”. Sequer da Câmara Municipal, segundo seus vereadores, e textualmente citada no texto do decreto, recuperado por Thetis Nunes; muito menos da Prefeitura. Supostamente “nada a ver com isso; só fui pra fazer o favor a João Patola.”

Pessoalmente, “comi capim” nesse assunto por muitos anos, até ser despertado pelo citado acontecimento, via Taurino Duarte, tangido por Thetis Nunes.

No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas - completarão 327 anos. Parece-me que só Santo Amaro das Brotas relembra tal data.

A segunda quinzena de outubro, portanto, tem as duas mais importantes datas na história de Itabaiana: dia 20, sua emancipação de São Cristóvão; e dia 30, data de fundação da cidade, que, realizado com sua paróquia original, 22 anos antes, em 1675, fará 350 anos no próximo, em 2025.

Antecipo, pois, os meus parabéns aos quatro municípios, pais de todos os demais que vieram a seguir, ampliando a grande árvore iniciada por São Cristóvão de Sergipe d’El-Rei.