terça-feira, 8 de julho de 2025

O OITO DE JULHO

 

Quando a corte portuguesa se transferiu de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, encontrou um Brasil de vícios arraigados, de violência silenciosa, no exercício da administração, e suas consequentes monumentais injustiças.

O então príncipe regente, D. João, futuro João VI, encontrou uma realidade onde, um terço de todos os impostos cobrados e recebidos por Salvador, era proveniente de Sergipe. Que nada recebia de volta, sob qualquer benefício. Isso continuou.

Quatro células básicas, três delas antagônicas entre si, deram origem ao Brasil: O Maranhão, pouco influente; Pernambuco, Bahia e São Paulo. Tudo o mais, em maior ou menor intensidade foi avassalado por essas. Especialmente Sergipe. Provincianismo na veia.

Por outro lado, a ordem de Felipe II, de criar Sergipe em 1590 – por isso o nome de Sergipe D’EL REY - além de nunca ser encontrada – suspeita-se que a Câmara de Salvador a descartou – beira a total falta de lógica. Por que criar mais uma onerosa unidade administrativa, se já existia outra, poderosa e bem próxima?

Como assuntos de riqueza mineral sempre foram tratados com muito cuidado e sigilo, somente os boatos de mina de prata, no território original da futura capitania, justificaria todo esse cuidado do então plenipotenciário monarca espanhol.

Felipe II faleceu em 1598, sem encontrar prata em Sergipe; até mesmo porque, já nadava na prata de Potosi, hoje Bolivia. Deixou o governo sob seu filho, Felipe III, e seu ministro, o Duque de Lerma (Francisco de Sandoval y Rojas), de quem o povo espanhol depois cantou: “Pra não morrer enforcado, o grande ladrão da Espanha se vestiu de encarnado”. Virou bispo do Igreja. Se livrou da forca.

Mas os nascentes baianos nunca engoliram uma capitania, tirada da “sua” capitania, que já consideravam um reino a parte.

Os impostos, religiosamente sempre foram cobrados, em Sergipe, pela Bahia, sem nada de benefícios.

As vilas, municípios interioranos criados por ordem de Portugal, que retomou o controle em 1640, e a própria cidade de São Cristóvão de Sergipe d’El Rei, eram de uma miséria só.

A matriz de Nossa Senhora da Vitória, um puxadinho da homônima, na capital baiana, só veio ser terminada, em “pedra e cal”, mais de um século depois; e a de São Gonçalo, construída antes de 1630, nunca foi aproveitada. Envelheceu e caiu de abandono em fins do século XIX.

Em 1650, a penúria de São Cristóvão e descrita em soneto do “Boca do Inferno”, Gregório de Matos. (Veja ao fim).

Percebe-se uma estratégia, supostamente pensada para Sergipe não dar certo. 

Estrategicamente, seguindo o corrente, à época, a capital deveria ter sido criada onde é hoje Santo Amaro das Brotas. Cristóvão de Barros preferiu Aracaju, que depois migrou duas vezes até parar em São Cristóvão. Pedra que muito se muda, não cria limo.

Estância, depois da expulsão holandesa de Sergipe, e esvaziamento do povoado, com a saída das forças de Henrique Dias, poderia substituir a então miserável São Cristóvão e seus casebres de palha. Não somente foi desencorajada a isso, como até a vila, meio século depois, foi para a matriz de Santa Luzia, essa, por sua vez um puxadinho de Santo Amaro da Ibipitanga, hoje em Lauro de Freitas, na Grande Salvador.

Santa Luzia do Itanhy, por sua vez, foi asfixiada por Salvador com o poderio do município de Abadia se estendendo até onde hoje estão os municípios de Cristinápolis, Indiaroba e Umbaúba.

Lagarto, e especialmente Itabaiana, além de serem interioranas, e sem rios navegáveis, sempre foram mantidas com discreta, mas firme vigilância. 

E São Cristóvão, proibida de cobrar impostos e de administrar, além da mera execução de ordens emanadas da Câmara Municipal de Salvador. E obviamente, das ordens da Corte e do governo colonial

Enfim, de 1590 a 1820, Sergipe alimentou a Bahia, “com que fornecem a esta cidade (Salvador e Recôncavo), que sem elas não pode subsistir”, com farinha de Santa Luzia, cereais de outros municípios e carne de Itabaiana, depois também Lagarto, Simão Dias e Tobias Barreto. E com os suculentos impostos, cobrados, mesmo enquanto Sergipe permaneceu “quase” uma capitania independente, até meados dos setecentos.

A vinda da Corte para o Rio de Janeiro mudou a história. A presença do rei fez com que a elite local tentasse uma aproximação direta, mormente na figura do historicamente injustiçado, José Mateus da Graça Leite Sampaio, que, tornando-se Cavaleiro de Cristo, chegou a antessala real, e mesmo perseguido pelos agentes de Salvador em Sergipe, logrou do rei a decisão de quebrar o poderio baiano, aliado dos inconfidentes do Porto, em Portugal, obviamente. E mesmo sob a pressão inglesa, exercida pelos bocós colonialistas do Porto, obviamente pelos ingleses manipulados; e retornando a Portugal, o seu decreto de 8 de julho de 1820, teria a confirmação por seu filho, feito imperador do Brasil, em 1822.

Extrato do mapa Carte du Bresil et d'une partie des pays adjacents, BRUE, Adrien Hubert (1826)

E Sergipe cresceria velozmente até 1900, quando novamente caiu sob outro provincianismo, desta feita o paulista e sua República, de onde até hoje é dependente. E, apesar dos laivos do pós-Estado Novo, nunca mais voltou a ter a grandeza que teve no Segundo Império.

Vida que segue.

Por enquanto, comemoremos nossa segunda maior data, já que a maior, o nascimento, nesta fase histórica, é o 1º de janeiro de 1590.

Foi fácil tomar quase todo o Sergipe: os senhores de engenho, em sua esmagadora maioria, só se interessavam pelo próprio umbigo.


São Cristóvão de Sergipe d'El-rei, por Gregório de Matos, 

meados do século XVII


Três dúzias de casebres remendados, 

Seis becos, de mentrastos entupidos, 

Quinze soldados, rotos e despidos, 

Doze porcos na praça bem criados. 

  

Dois conventos, seis frades, três letrados, 

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, 

Três presos de piolhos carcomidos, 

Por comer dois meirinhos esfaimados. 

  

As damas com sapatos de baeta, 

Palmilha de tamanca como frade, 

Saia de chita, cinta de raqueta. 

  

O feijão, que só faz ventosidade 

Farinha de pipoca, pão que greta, 

De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade. 


quinta-feira, 26 de junho de 2025

DANDO A VOLTA POR CIMA


Nessa sexta-feira, 27, às 19 horas e 30 minutos, em solenidade no Plenário Olímpio Arcanjo de Santana, na tricentenária Câmara de Vereadores de Itabaiana, a Academia Itabaianense de Letras empossa sua sétima diretoria, na qual traz de volta o acadêmico, juiz de Direito e desembargador aposentado, Vladimir Souza Carvalho, para a respectiva presidência.

É, de fato, uma espécie de renascimento pleno da instituição; uma retomada, mais de dois anos depois de uma pandemia, que também deixou a Academia Itabaianense de Letras de luto, qual seja, com a perda de um dos seus membros, pelo mal abatido (Luiz Eduardo Magalhães); assim como do apoio, arrimo máximo de um outro (o confrade José Marcondes) , a sua saudosa esposa. Sem esquecer do sufoco de outros, que uma, ou mais vezes estiveram sob perigo, real e imediato.

No período, foi a Academia segurada tenazmente, de todas as formas, pela presidente que sai, a valorosíssima acadêmica, historiadora e professora, Josevanda Franco e sua equipe, que, a despeito das vicissitudes do momento em que assumiu, e seu natural impacto, tirou leite de pedra para manter a integridade da instituição de pé. Passados os dois anos de sufoco e todo o seu rescaldo, Josevanda, ativíssima nas várias entidades a que serve, ausenta-se da diretoria - mas não da instituição - deixando seu legado de resistência, digno do sangue matapoan, que tem, honrando o mais famoso ancestral daquela tribo de tão pouca história grafada, mas, de existência marcante: o cacique Mbaepeba.

O retorno de Vladimir Souza Carvalho vem acompanhado de duas novas participações na diretoria, até agora ausentes, quais sejam os escritores e ativistas culturais, Walter Pinheiro Noronha, que carrega nos sobrenomes o peso de duas gigantescas e importantes famílias Itabaianenses; e José Augusto Machado, Baldok, também membro de outra importantíssima família, cronista, memorialista, no popular, um nato contador de histórias. Completando, permanece a escritora, professora Inês Rezende de Jesus na secretaria, e modestamente, esse escriba, dessa vez, também honrosamente como vice-presidente.


A Academia no ano 350 de Itabaiana.

A ideia é um retorno pleno das atividades acadêmicas, intra e extra institucional, com os concursos literários; interação com outras instituições afins; e, acima de tudo, a realização da 7ª Bienal, em toda a sua plenitude e grandeza, desta vez apoiado pelo Executivo Municipal, já agendada para os dias 23, 24, 25 e 26 de outubro. Será um “esquenta”, a grande comemoração do nascimento simultâneo da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e consequentemente da cidade de Itabaiana, de fato iniciada pela Secretaria Municipal de Educação, e Sete de Setembro. Que fechará com chave de ouro pela citada paróquia, no exato dia 30 de outubro, a Data Magna.

Vamos lá. Botar pra rodar.

O tempo não para, como disse o Cazuza, usado como bordão pelo saudoso José Francisco de Andrade, o radialista Francis de Andrade, ou Zé de Brió.


domingo, 1 de junho de 2025

350 ANOS: A ESCOLA ENTRA EM CAMPO NA COMEMORAÇÃO.

 

Na última sexta-feira, 30 de maio, uma reunião deixou a mim, e deve ter deixado os historiadores itabaianenses e demais cultuadores da itabaianidade satisfeitos, mesmo a maioria, dela não tendo participado. É que a batalha de um guerreiro só, travada desde 30 de outubro, próximo passado, de 2024, pelo pároco Marcos Rogério Vieira, da paróquia-mãe, a de Santo Antônio e Almas, finalmente repercute na municipalidade que vai entrar com tudo na comemoração. A reunião, da qual honrosamente participei foi para traçar diretrizes com vistas à Educação do município, que tematizará o sempre grandioso Sete de Setembro.


O pároco, Padre Marcos Rogério Vieira, timoneiro no zelo pela história da segunda mais antiga paróquia de Sergipe, desde outubro passado, ao abrir o ano do sétimo Jubileu de Ouro da Paróquia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. (Em colagem com a antológica foto da matriz, de Miguel Teixeira, de mais um século, colorizada por Robério Santos).

Os temas expostos no Sete de Setembro têm poder transformador, por ser este a vitrine do que repercute, repercutiu ou repercutirá no meio educacional da cidade, além da rotina curricular. O tempero. A cereja do bolo. O que de fato acaba se irradiando à toda a sociedade, presente e vindoura, com suas lembranças e seu patrimônio cultural.

A Educação, ao menos a do município, passa agora a tratar da data magna, o nascimento da cidade de Itabaiana, com a fundação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, como tema escolar; e exporá isso em pleno desfile do Sete de Setembro, que dessa vez não passará batido como em 1975, onde só ficou a memória do Terceiro Congresso Eucarístico.

Os preparativos vão continuar. Agora é só esperar a magnanimidade do desfile por seus envolvidos diretos – mestres, administradores, e alunos – e indireto: o público e sua reação.

Vou estar na arquibancada.

Fazendo História
Da esquerda para direita: Tati, Carlos; Leila; o Secretário Éder; José de Almeida Bispo; Diego Procópio; Wanderlei Menezes, buscando enriquecer a História de Itabaiana, usando a vitrine educacional do Sete de Setembro como desde 1938; e carregando a bandeira valentemente içada pelo Padre Marcos Rogério Vieira, já em fase despedida para a Paróquia de Nossa Senhora das Dores dos Enforcados.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

NOS 350 ANOS, SANTO ANTÔNIO DE VOLTA

 

Domingo, 1° de junho, será realizada mais uma Caminhada de Santo Antônio, o fujão, uma forma de manter viva essa lenda, qual origem se perde nos tempos, sobre os dramas que envolvem a fundação da cidade de Itabaiana.

A caminhada, que tem sido das ruínas da Igreja Velha para a matriz de Santo Antônio e Almas, dessa vez terá o percurso invertido: vamos pegar o Santo na quixabeira simbólica e devolvê-lo à capela original. Claro que ele voltará. Coisa de santos poderosos.

A logística de transporte e demais apoio já está acertada; tudo pronto. Tudo preparado. 

E os fiéis, os curiosos e os andarilhos contumazes de canelas afiadas.

Neste ano, no dia 30 de outubro, faz 350 anos de fundada a Paróquia de Santo Antônio e Almas, que marca a fundação da cidade.

Diz a lenda, para os que ainda não a conhecem, que o santo, entronizado na capela da Igreja Velha, antes de invasão holandesa, em 1637, fugiu constantemente de lá, vindo parar no galho de uma quixabeira, onde foi construída e hoje está, a Matriz de Santo Antônio e Almas de Itabaiana.

Que, com a transferência definitiva, em 30 de outubro de 1675, há 350 anos, nasceu a cidade de Itabaiana.

Comemorada este ano.

Extrato de mapa holandês, publicado em 1646.
A equipe de topógrafos de Georg Marcgraf e Conrad Golliat, do governo holandês de Maurício de Nassau, depois da conquista, encontrou a igreja de Santo Antônio, perto do Jacaracica. Poximo, a fazenda de Simão Dias, o Francês.



Ancelmo Rocha, timoneiro e organizador, desde a primeira. 

A Prefeitura Municipal vem fornecendo apoio logístico, através das secretarias de Cultura e do Turismo, também concorrendo a firme participação da Igreja, mediante as duas paróquias envolvidas; e a imprensa local, indistintamente.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

EU VOU


Lançamento nessa próxima quarta-feira, as 19 horas, na CDL-Itabaiana, do livro de contos Crônicas da Minha Infância, promete enriquecer um pouco mais a história serrana recente.

Trata-se do 21° livro do magistrado, contista, romancista, historiador e folclorista, Vladimir Souza Carvalho, ex-juiz estadual e depois federal, e agora desembargador federal aposentado, apresentando, de forma leve e despretensiosa, sua história pessoal; porém, naturalmente ambientada numa Itabaiana das décadas de 50 e 60, despertando para o progresso, depois de então quase três séculos de adormecimento. Logo, a real cara de Itabaiana na retomada de sua grandeza histórica, na própria história da formação do nosso pequeno Sergipe.

Não tenho conhecimento do conteúdo. Já que não fui ao lançamento, na sexta-feira passada, na Escariz da Av Jorge Amado, na capital; porém, intuo, que, além da prosa leve, o Mestre, mais uma vez traga um caudal de lembranças da nossa então pequena urbe em frenética ebulição. Em todos os sentidos. Vividas de per si.

Quarta-feira, estarei na fila dos autógrafos, papeando com os amigos.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

80 ANOS DE UMA GRANDE COMEMORAÇÃO


Amanhã faz 80 anos da presente foto dessa multidão. 

Foi em 13 de maio de 1945, um domingo. Um simbólico dia da aparição de Fátima para o enorme rebanho católico. Mas não só isso, mesmo isso tudo tendo a ver.

Em 9 de maio, quatro dias antes, o que restou do exército alemão, assinou a rendição incondicional diante dos soviéticos, depois de ter mergulhado a Europa - e o mundo - na mais sangrenta, destrutiva e mortífera guerra que o mesmo jamais vira.

Itabaiana, não ficou incólume na guerra. Aliás, um seu filho ficou entre as primeiras vítimas brasileiras, a dos navios covardemente abatidos pelos submarinos alemães. A canificina começou em águas sergipanas, e que inflamou o país; e que por isso esteve, a partir de 1942, em estado de guerra, apesar de aparentemente tão distante do teatro de horrores.

A guerra, ao se iniciar, sempre divide a humanidade. Medrosos, prudentes, racionais, de um lado; e uma massa estúpida, inconsequente, que sempre vê o evento macabro como um brinquedo de pega-pega... e de lucro. Até aparecerem as montanhas de defuntos e espandongados.

Contudo, ao entrar o ano de 1945, mesmo aqueles que não foram diretamente afetados, e entre os vencedores, estavam exaustos; e os perdedores, desesperados. Enfim, todos cansados da letal estupidez coletiva, que sempre esteve presente na história.

Às alvíssaras de esperança; e à convocação do Padre Eraldo Barbosa, a Praça se encheu naquele domingo, trazendo um laivo de alívio.

Caras reconhecidas, na foto, como dos músicos da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, eternizados pela câmera de João Teixeira Lobo, o Seu Joãozinho Retratista, demonstram muito bem o peso simbólico daquele momento.

À frente da multidão, postada entre o coreto da Praça Fausto Cardoso e a matriz de Santo Antônio e Almas, músicos da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição; reconhecível por este cronista, o maestro Antônio Silva (1), e logo à frente seu filho, o popular Nilo Base (2)

Logo, logo, a cidade também receberia seus filhos sobreviventes dos campos italianos, que foram vingar, entre outros, Diógenes Lima Carvalho, maquinista do navio auxiliar VITAL DE OLIVEIRA, afundado na costa do Rio de Janeiro, depois daquele fatídico agosto de 1942, em Sergipe(*).

No grupo de fotos, dois dos vazos afundados na costa sergipana, e que incendiaram o país por uma resposta; enterro das vítimas fatais; e três dos nossos heróis pracinhas ceboleiros, o primeiro, à esquerda, Seu João carteiro ou do cinema; a quem conheci pessoalmente.


(*)Sic Luiz Antônio Barreto, Os náufragos, uma história sangrenta no mar de Sergipe. Republicado no sítio “Coisas de Socorro”, Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012)


quarta-feira, 7 de maio de 2025

33 ANOS DE FEIRA DO CAMINHÃO.

Nesta quinta-feira, 08, à noite, o Prefeito Valmir Costa, com sua equipe lançará a programação, que deverá, se muito, sofrer alguns ajustes, para a próxima Feira do Caminhão.

Promete ser mais uma grande festa, provavelmente ainda melhor que as passadas.

Nestes 350 anos de fundação, Itabaiana, a Capital Nacional do Caminhão(*), e seus despretensiosos heróis redentores dessa terra multissecular merecem.


A 1ª Feira do Caminhão

A primeira edição foi realizada no Calçadão da Avenida Dr. Airton Teles, à época o espaço de shows, cada vez mais barulhentos, ao lado de uma casa de Saúde, a Maternidade São José, local do primeiro milagre de Santa Dulce dos Pobres.

Declino de tecer comentários sobre o sucesso comercial da Feira, por desconhecimento integral de seus resultados; mas foi um assombro; especialmente pela ousadia de trazer a recentemente denominada Rainha dos Caminhoneiros, Sula Miranda, que estourara nas paradas musicais em todo o país, em fins de 1986, com um mega sucesso dedicado ao caminhoneiro: Caminhoneiro do Amor.

Neste ano de 2025, 33 anos depois, informou-me o Secretário de Cultura, Antônio Samarone, Sula estará, mais uma vez, presente, assinalando seu prestígio às gerações e gerações de guerreiros da estrada.


As procissões dos motoristas.

À esquerda parte da fotografia de José Paulo de Oliveira (Paulinho de Doça), do recem renomeado Bairro São Cristóvão e sua antiquíssima capela. E à direita, o cartazete de João de Balbino, líder pioneiro da festa, e já passando o bastão ao então jovem Rolopeu, nove anos depois da festa criada, e tendo São Cristóvão como padroeiro.

Começou por São Cristóvão, o padroeiro dos viajantes, portanto, também dos motoristas. Na campanha política de 1958, Euclides Paes Mendonça era candidato ao retorno à Prefeitura e seu partido, através do Prefeito Serapião Antônio de Góis criou uma espetacular campanha de marketing envolvendo a categoria profissional mais promissora da época: os motoristas.

Para isso transformou o velho Tabuleiro dos Caboclos em Bairro São Cristóvão, inclusive com denominação de sua capela, de tempos imemoriais, e a festa católica, com procissão e outros atos religiosos, tudo isso coordenado por João de Melo Rezende, o João de Balbino, que, mesmo depois de se mudar para a capital ainda permaneceu no comando, até sua passagem para Antônio Francisco de Jesus, o antológico Rolopeu.

Em 1975 a Paróquia mudou o patrocínio do novenário, tirando as famílias tradicionais, e passando estes para as categorias profissionais. Por ser a dos motoristas a mais vistosa, mais rica e prestigiosa categoria, ficou com a última noite de patrocínio desde então. Rolopeu, na organização.

Em 1976, diante da proximidade das duas festas – Trezena de Santo Antonio em 12 de junho, e São Cristóvão em fins de julho – Santo Antônio ganhou prioridade, mesmo continuando São Cristóvão sendo o padroeiro. Foi ali a reduzida última vez. Desde então, é sempre no dia 12 de junho o momento máximo.


Quando nasceu e Feira do Caminhão.

Calçadão da Avenida Airton Teles, palco da 1ª Feira do Caminhão, na festa de Santo Antônio de 1992. Sublimado, anotações da reunião em que fiquei ciente da programação da 1ª Feira.
Foi um período estressante para mim. Secretário do partido que acabaria elegendo o sucessor,  e consolidador da liderança política de Luciano Bispo, em término de primeiro mandato, o tempo andava muito encurtado pra mim, entre as obrigações com o meu ganha-pão; as atribuições sociais, meu pré-escritório de marketing (que acabou, morrendo na praia); e ainda me envolvi e envolvi outros, de certo modo e especialmente meu saudoso amigo-irmão, Josenildo Pereira de Souza, na solução de uma problema que parecia insolúvel, qual seja, o impasse entre a teimosia do também saudoso amigo e patrão na Rádio Princesa da Serra, José Queiroz da Costa, de um lado; e do outro, o citado prefeito, que, apesar de uma boa administração não andava bem das pernas, politicamente. Carecia de algo revigorante para fazer o seu sucessor e despontar para a gloriosa carreira que despontou. Detalhe: enfrentaríamos a máquina poderosa de Francisco Teles de Mendonça, o saudoso líder Chico de Miguel, ferida, mas longe ser abatida. E a genialidade política do velho líder trazia uma novidade: Chico resolveu candidatar a sua filha, a educadora Maria Vieira de Mendonça ao cargo de prefeito. Seria a primeira mulher a administrar o município, em seus já 295 anos de existência. Não ali, mas acabou sendo depois, em 2004.

O partido em formação (PDC, Partido da Democrata Cristão, inspirado nos alemães); as forças em composição, e as inúmeras reuniões, quando necessárias, a discutir tudo, e, obviamente fechar questão.

O bunker era a então casa do próprio candidato, João Alves dos Santos, o João de Zé de Dona, o segundo andar da Rua Boanerges Pinheiro, 995.

E o foco do mês de maio de 1992, foi a Trezena dos Motoristas, do dia 12 de junho, a seguir, coadministrada pelo Município, ou seja pelo prefeito – e seu candidato - primeiro teste de fogo da campanha.

Sugestões vão, sugestões vêm, e, numa reunião da segunda quinzena de maio, alguém falou em algum tipo de exposição, outro, de desfile diferenciado do já promovido desde 1975, na procissão; por fim também se falou em feira. Até ali eu era quase que o único marketeiro da ainda pré-campanha, claro, ouvindo todos os pitaqueiros. Ao pronunciarem a feira eu assenti com veemência, colhendo também o assentimento do pré-candidato, do também assessor Moacir Santana, e do próprio prefeito, além dos demais. Desde então, ficou grande demais para mim. Saí do controle, que, logo depois o perderia de toda a campanha. E, na reunião de 8 de junho já foi anunciada toda a programação, inclusive a presença de Sula Miranda.
Exemplo também foi o que correu à minha revelia, porém com toda a minha aprovação, a ideia nascida na Ala Jovem, da realização da carreata mirim. 
E o modelo veio até hoje, praticamente sem mudanças; salvo as pontuais, desde as atividades da 1ª Feira do Caminhão de Itabaiana.


(*) Lei Federal 13.044 de 20/11/2014