quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

GOVERNADOR? “VAI NÃO! ELE NÃO VAI NÃO”(*).

 

Ao menos essa é a opinião da alta classe política do estado em relação a qualquer político de Itabaiana ou Lagarto. Classe essa, sempre exitosa, eficiente em barrar qualquer aventureiro que venha criar insegurança no seu mundo miudinho, com ideias mais avançadas do que que tinham o Coronel José Nabuco de Araújo e do capitão José de Barros Pimentel no início do século XIX. Das quais ainda partilham.

Entre 1820 e 1890, a dita classe ficou de molho. Especialmente a partir de Segundo Reinado, quando houve certa estabilidade no estado com o sistema imperial, que, a despeito de fazer concessões aos coronéis do açúcar, manteve o controle central, fazendo com que Sergipe, cronicamente sem um grande porto, logo sem transportes eficientes, numa época que todo a riqueza circulava por água, figurasse entre as dez mais ricas províncias das então dezoito do Brasil. Mesmo tendo enfrentado a terrível epidemia de cólera em 1855.

Mas a República Velha foi o pasto ideal para os urubus. Em trinta anos, Pebas e Cabaús derrubaram a pujança do estado, que restou, em 1930, no penúltimo da nação. E não se levantou mais. Foi a volta por cima da turma de Nabuco de Araújo e de Barros Pimentel. E fragorosa derrota do chefe político de Itabaiana, José Mateus da Graça Leite Sampaio e seu parceiro na Independência de Sergipe, Joaquim Martins Fontes, do Lagarto. O único sopro na República Velha foi de Graccho Cardoso. Que por isso quase perde o cargo. E depois só com a redemocratização pós-Estado Novo. Com um tetraneto de José Matheus da Graça Leite Sampaio: o então jovem engenheiro José Rollemberg Leite.

Valmir dos Santos Costa continuará caçado.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

ENXERGANDO MUITO ALÉM DO HORIZONTE

 

Até hoje parece que a chegada do curso Científico, no Colégio Estadual Murilo Braga, em 1969, foi um acontecimento excelente para os estudantes Itabaianenses.

Mas não foi só isso.

Talvez nem mesmo o autor dessa façanha, parafraseando o Belchior, apenas um rapaz latino-americano sem lá muito dinheiro, sem parentes importantes na capital, e vindo do interior, um lutador serrano de nome José Augusto Machado, tenha tido depois a exata noção da grandeza do seu feito; muito além das salas do velho colégio.

Em 1972, quando passava no concorridíssimo vestibular, da então nova Universidade Federal de Sergipe, a primeira cacada de ceboleiros concludentes do Ensino Médio no Murilo Braga, também começavam as primeiras obras d'artes para o asfaltamento da BR-235, que se completaria até 1974.

Como parte do apoio social à obra, contou-me Hênio Araújo, candidato a prefeito em 1966, e um dos entusiastas iniciais do supracitado Científico, que, uma equipe do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o DNER esteve em palestra no então recente Rotary Club de Itabaiana, para alertar que o asfalto, traria óbvia melhoria no trânsito, mormente para a capital; mas que isso poderia significar, a médio prazo, uma maior fuga de habitantes serranos para a mesma, se não fossem tomadas medidas de atração para Itabaiana.

Naquele momento ninguém pensou que um poderoso argumento de atração da cidade já estava em marcha: um Ensino Médio, existente em Itabaiana, que a partir de 1972 passou a despejar cada vez mais vestibulandos nas variadas faculdades que foram surgindo na supracitada Universidade.

Dessa forma, não só as chances da estudantada pobre mudaram; mas o próprio destino da cidade que passou a atrair cada vez mais os estudantes pobres e remediados das outras cidades. E suas famílias.

Com a completude do Científico no Murilo Braga, Itabaiana voltou a ser um polo de atração regional. Depois veio rádio, irrigação, multiplicaram-se as agências de serviço como clínicas e outros, e hoje a cidade é uma espécie de capital regional.

Um pouco pela teimosia e ousadia, de José Augusto Machado, que será homenageado nesta sexta-feira, 20 de dezembro, em Sessão Solene da Academia Itabaianense de Letras, aberta ao público, como de praxe, a realizar-se no plenário da tricentária Câmara Municipal de Itabaiana, a partir das dezenove e trinta.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

E LÁ SE VAI UM “PISTOLEIRO”.

 

O professor Tuíca, o "pistoleiro" (que nunca matou nem uma mosca) em dois momentos:
Adolescente no baile de debutante de Helenilde dos Santos (filha de Heleno da Padaria), expressando a sua timidez;
E há uns três anos, recebendo a visita de um tiete, o ex-aluno, amigo e médico, o Dr. Rômulo Oliveira.

Foi sepultado hoje, 16 de dezembro, o meu professor de Química, do Ensino Médio do Colégio Estadual Murilo Braga, em 1980, Antônio da Costa Lima, o Tuíca. Professor meu, e de centenas, talvez na casa do milhar, do aguerrido Curso Científico do grande templo de ensino e transformações itabaianense.

Tuíca lecionou no Colégio, justo no seu tempo mais glorioso, das décadas de 1970 e 1980, quando chegou a ser mais populoso que um terço dos municípios de Sergipe, da mesma época.

Mas a história que conto aqui, e que envolve o meu agora saudoso e icônico professor, em verdade, repasso, porque me foi contada, ainda fresquinha, por Benjamin José de Oliveira, o saudoso Beijo de Bibi, logo depois de deixar o setor municipal de transportes, na metade do primeiro mandato de prefeito de Luciano Bispo, em 1990.

Antes, algumas informações adicionais.

Em 1983, depois de perder a primeira eleição para João Germano da Trindade, o saudoso boiadeiro João da Véia, em 1982, o hoje deputado estadual Luciano Bispo caiu em campo, estimulado pelo clima político da época.

Em 1984, o grupo liderado por Francisco Teles de Mendonça sofria cada vez mais empecilhos junto ao Governo João Alves, de quem fora a espoleta da sua eleição em 1982, o que o tornava mais pressionado, porque se achando, de certa forma traído.(*)

A reportagem da Revista Veja, de número 870, de 8 de maio de 1985, intitulada “Parceria Roubada” (p.108), (1) acusando o governo de João Alves Filho de desvios foi a gota d’água nessa cada vez mais conflituosa relação: Chico de Miguel (Francisco Teles de Mendonça) faltou a paciência e rompeu com João Alves Filho. De fato, oficializou. E aí, a oposição no município começou a nadar de braçada, rumo à vitória em 15 de novembro de 1988.

Toda a máquina do Estado, e em todos os setores, antes divididos com o grupo de Francisco Teles de Mendonça, passou integralmente ao comando da oposição.

E aumentaram as provocações. E aqui voltamos ao principal da história.

Em 1986, de posse de uma máquina patroladeira, o então candidato Luciano Bispo resolveu consertar uma estrada vicinal no povoado Pé do Veado. Domínio exclusivo do Executivo Municipal. Ao começar a máquina a trabalhar, os olhos e ouvidos de Chico o informaram, e este foi tirar a história a limpo.

Beijo, estava de motorista oficial de Luciano Bispo, estacionado logo atrás do “canteiro de obras”, com Luciano Bispo no banco do carona.

No banco de trás, usando óculos escuros, compondo com o bigodaço que sempre ostentou, o professor Antônio da Costa Lima, Tuíca. À época, ar-condicionado automotivo era uma raridade e todas as janelas do Corcel II estavam abertas.

De repente, o carro com Chico de Miguel para atrás do carro de Luciano Bispo. Lentamente Chico desce e segue em direção a Luciano, baixando levemente a cabeça para olhar nos olhos do “infrator”. Em seguida, a ordem: “Olhe, moço: se o senhor quiser mandar no município, primeiro ganhe a eleição, porque, enquanto eu mandar, quem faz ou deixa de fazer obras sou eu”. E emendou: “O meu prefeito”.

Os três super apreensivos.

Tinha gente branco, sem uma gota de sangue; ele, Beijo, moreno, disse que ficou cinza... e aí, descobriram, melhor redescobriram Tuíca, sentado no banco traseiro, imóvel. Petrificado.

Ao perceber-lhe, e sem o reconhecer, Chico assim se dirigiu ao professor: “E você, seu pistoleirozinho de merda, esse bigode eu arranco de facão”.

Segundo Beijo, ninguém sabe se houve maiores consequências com Tuíca.

Provocação consumada, trator e gestor deixaram a estrada revirada e se mandaram.

Minha singela homenagem ao grande professor de muitos, emblemático do Velho Murilo Braga, de quem sempre lembrarei recoradando momentos hilários, ou alegres, como esse.

Descanse em paz!


(*) De fato, em 1982, Francisco Teles de Mendonça impôs o nome do engenheiro João Alves Filho ao então governador e presidente nacional do partido, Augusto do Prado Franco, para o suceder.


(1) Esclarecendo que a reportagem tratava de problemas no Governo do Estado, em relação à distribuição de trigo doado pelo Canadá. Nada a ver com Chico ou com Itabaiana.

domingo, 15 de dezembro de 2024

POBREZA ARTÍSTICA E REAÇÃO.


A canção foi lançada em 1975, há quase cinquenta anos. E a galera que há pouco a entoava em coro, aqui na vizinhança, acompanhando-a na gravação com o próprio artista, Fernando Mendes, nenhum dos presentes tem mais de 23 anos.

Outro dia prestava atenção em outro grupo, enquanto o cantor tocava ao violão, o público ao redor, não etilizado, mas bastante empolgado, o seguia em coro, cada verso de A Banda, do Chico Buarque, gravada e sucesso radiofônico em 1966. Há 58 anos. Detalhe: o nosso jovem cantor, com menos de 30; uns três do grupo, na faixa do 50; e a massa a cantarolar, tudo de menos 30 de idade.

Aí, eu me pergunto, como satiricamente fez a saudosa Rita Lee, em Arrombou a festa, música de 1977: “Ai, meu Deus! O que foi que aconteceu com a música popular brasileira?”

É que ninguém cantarola ou assovia nada com menos de 25 anos de lançado. Já velhos sucessos, mesmo as gerações mais novas, que vive imersa num mundo binário do tum-tum-tum das malditas e má tocadas baterias eletrônicas, quando cantarolam algo, o faz de velhos sucessos de seus pais, e até avós.

A canção do Fernando Mendes a que me referi é Cadeira de Rodas.

A fotomontagem (fundo, órgão de igreja europeia):

Em Itabaiana, Chico Alves, voz, violão (alto, dir.) popularizou a bateria eletrônica em sua memoráveis serestas, na Atlética, a partir de 1983. Mas o estilo inaugurado com a eletrônica não foi logo seguido por Nado e grupo (e outros), que manteve o estilo d'Os Nômades, de 1966. A seguir veio os teclados multi-instrumentaise o empobrecimento melódico geral já estava chegando até às gravadoras.