sexta-feira, 14 de junho de 2024

BANDEIRINHAS DE SÃO JOÃO


Desde que me pluguei à internet, há um quarto de século, que me desliguei da TV e da maioria da mídia impressa, especialmente jornais e revistas, centrado nas suas versões eletrônicas. Nem percebi a involução relativa das redes de TV; e, graças a Deus, a evolução das retransmissoras locais, cada vez mais protagonistas e com qualidade, mormente no jornalismo.

Mas, nesta semana, até por dever de ofício - estou assessor na Secretaria Municipal de Cultura de Itabaiana e do seu atual titular, Antônio Samarone de Santana - passei, sobremaneira, sempre dando uma espiada na telinha, das várias emissoras sergipanas, dentro do clima de abertura junina no estado, todo ano patrocinado por Itabaiana e seu padroeiro católico maior, Santo Antônio, o primeiro no ciclo junino, na TV Sergipe, Canal 4.

E anteontem, 12 de junho, no noticiário do meio-dia, competentemente comandado pela Suzane Vidal, em certo momento a mesma trouxe um assunto, aparentemente singelo, mas que me tocou profundamente, pelo arco de saudades provocadas.

Tabaréu de sítio, e há meio século fora do meio. Porém, jamais ele se afastou de mim; especialmente nas lembranças dos momentos mais prazerosos, como o de dormir ao som da brisa a sacudir a folhagem de mangueiras, jaqueiras, coqueiros e até um pé de eucaliptos.

Na cidade, como disse, sem "moita" por perto, revivi parte daquele clima de sítio por alguns anos, nas bandeirolas que um vizinho, de nome Damião, sempre aproveitava das sobras de decoração da Secretaria de Educação e Cultura do Município, onde trabalhava, à época sob direção da dileta amiga Edezuita Araujo Noronha, a cruzar o nosso trecho - meu e dele - com cordões recheados delas. 

Aquelas árvores não estavam lá; mas, além do colorido alegre que enchia a rua, com as inúmeras e multicores bandeirinhas, na hora de dormir eu me sentia presenteado com a brisa a agitá-las suavemente, dando a sensação sentida na infância e na adolescência.

Lembrei disso e desejei que a sugestão dada pela âncora do noticioso, de que as pessoas decorassem suas ruas, venha um dia a ser realidade. 

A mim, desconheço sonífero mais eficiente e saudável.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

RESILIÊNCIA

 

Já que a palavra está em moda; e também se aplica ao caso, vamos denominar de resiliência, ao invés de resistência, que é algo, às vezes, confundido com as escaramuças das guerrilhas.

Nem as artimanhas do Padre Sebastião Pedroso de Gois; nem as grosserias do Coronel Sebrão, e os pendores contrários do longevo pároco Domingo de Melo Resende, conseguiram, sequer arranhar o reino de Antônio em Itabaiana. De Pádua, de Lisboa... não importa.

Na primeira metade do século XVII, entre invasões holandesas e perseguições da então nascente elite baiana, o itabaianense não arredou o pé: Santo Antônio fica! 

Ao ponto de que, quando o rei de Portugal mandou criar um município em Itabaiana, o mesmo Padre Sebastião Pedroso de Góis veio correndo juntar os pedaços do que sua arrogância aqui tinha criado. Mudou o lugar da cidade; já que uma matriz significava sede municipal. Mas, não só teve que engolir a devoção a Santo Antônio, como entronizá-lo no mais alto do altar.

E a cidade - inicialmente com o título de vila - chamou-se Santo Antônio de Itabaiana.

No paroquiato de Domingos de Melo Resende, ao fim do século XIX, Santo Antônio quase desapareceu frente a devoção a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da capital. Até a Filarmônica mudou de nome, desde então passando a se chamar Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Logo a seguir viria a arrogância coronelista de José Sebrão de Carvalho, interrompendo, sob um banho de sangue o próprio Trezenário. Sebrão até que durou: 44 anos de reinado, dois a mais que Chico de Miguel, e, por enquanto, só o igualando Luciano Bispo, se completar, daqui a dois anos, esse atual mandato. Mas Santo Antônio continua firme.

Festas populares, como a Festa do Mastro, vieram e se foram; períodos econômicos, como os tropeiros vendendo pano, de 1800; feirantes, carros de bois, também. Mas Santo Antônio continuará firme. Afinal, caiu em desuso o nome Santo Antônio de Itabaiana, mas ainda é a onomástica básica oficial, desde a primeira sessão da Câmara Municipal.

Estas linhas é uma resposta mais elaborada à que dei a uma amiga, ontem, no início da 5ª Caminhada do Santo Antônio fujão, preocupada com a popularidade avassaladora de Santa Dulce dos Pobres dentro das serras.

Calma, minha amiga!

Além de que, no Céu “existem muitas moradas”, Santo Antônio está na gênese serrana, desde que por aqui chegaram os cristãos-novos, chegados, principalmente pela Bahia, conforme grafou Pyrard de Laval em 1610.


Altar-mor da matriz de Santo Antônio e Almas, na primeira década década do século XX, ainda sem a imagem do padroeiro. O modismo de imitar a então nova capital, logo passaria.