sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A SEGUNDA PEREGRINAÇÃO DE SANTA DULCE

Há dez anos, modestamente eu andava como siri na lata. 

Como itabaianense, a beatificação da Irmã Dulce pelo Vaticano, em 2011; e conhecendo, mesmo que perifericamente, a grandeza do seu trabalho, e respectiva resposta de seus assistidos e de admiradores, tinha como certo que o processo de canonização, era questão de tempo.

E a mente não parava.

Nos idos de 2015, em privado e nas várias conversas que tínhamos, particularmente eu e Juarez Ferreira de Gois, com quem sempre dividi sonhos impossíveis para Itabaiana, sempre lamentávamos a nenhuma disposição da turma local do poder – financeiro, e, ou político – em se interessar pelo assunto, toda vez que sorrateiramente, com medo de ser internado como louco, a alguns deles abordávamos.

Itabaiana deveria ser grata à mulher santa, que aqui se manifestou milagrosamente pela primeira vez. Também pensar em receber visitas. Não mais compradores de ouro de fins da década de 1970; mas peregrinos, ávidos por conhecer nossa cidade, locação do milagre, enfim.

Trazer gente para cá. Nenhum lugar vai a frente sem receber visitas.

No dia 10 de maio de 2015, numa conversa que tive com Juarez, falei da minha visão sobre Anselmo Rocha, filho de Frei Paulo, mas itabaianense e itabaianista de coração, orador do ginasial do Colégio Estadual Murilo Braga, turma de 1966, engenheiro e soteropolitano por adoção. Experiente nas velhas estradas do Império Romano, e que há quase um milênio conduzem peregrinos a Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha, seria a pessoa certa para dar um toque; um pontapé, que talvez viesse acordar os dorminhocos.

Dito e feito.

Turma pioneira, saindo de Salvador e em direção a Itabaiana.
Embaixo: Cartão de Visitas no totem da cidade

A partir de 2017, num trabalho de formiguinha, muita prudência, recuos estratégicos e avanços colossais e foi estabelecido pelo Anselmo o Caminho de Santa Dulce, hoje parte do sistema mundial. 

Óbvio: ninguém contava com uma pandemia que deixou o mundo todo ajoelhado e com medo do pior. Mas enfim, passados os tempos sombrios, chegaram a Itabaiana os alegres pioneiros no ano passado. Momento histórico, para sempre guardado.

E, incontinenti, rapidamente formou-se aqui a peregrinação local que levou milhares às colinas onde primeiro Sergipe recebeu um governador-geral do Brasil, 1619, D. Luís de Souza, e agora, com a imagem de Santa Dulce recebeu festivos peregrinos.

Domingo próximo, dia 4, será, portanto, a segunda edição. E eu, e já me garantiu Juarez, estaremos presentes. Vamos nos somar aos alegres caminhantes.

Que Santa Dulce nos proteja, dê vida e saúde.



segunda-feira, 29 de julho de 2024

O PANORAMA

 

Ontem, 28 de julho, definiram-se as candidaturas ao cargo que começou exercido desde 16 de junho de 1700 por João da Costa Feyo, digo, por Manuel da Costa Morgado, que o efetivou, quase dois anos depois, uma vez que Feyo declinou por algo mais interessante para ele: o cargo de prefeito de Itabaiana. Assim chamado desde as reformas revolucionárias de 1930.

A título de informação, os cargos máximos de administração municipal tiveram o nome de alcaide até as reformas pombalinas de meados do século XVII, depois presidente do conselho municipal, intendente durante a República Velha, e por último, prefeito.

Ontem, 28 de julho ficou definido, pelejarão eleitoralmente, o ex-prefeito Valmir dos Santos Costa, o Valmir de Francisquinho, e o arquiteto e empresário Edson Passos, candidato pela segunda vez.

Nenhuma surpresa. A política itabaianense segue entre o chefe maior, e a oposição. Como tem sido desde Batista Itajaí, até recentemente, no apogeu de Luciano Bispo, na primeira década desse século.

Nunca existiu “a terceira força”, e continua sem existir. O eleitorado é conservadoríssimo.

O eleitorado itabaianense penaliza, sobremaneira, a aqueles que não entraram com cara de vencer; com cara de vencedor. 

Agora a fase de vencedor é esta pela qual passa Valmir Costa. Mesmo que a segunda força, historicamente tenha sido sempre forte, quase ameaçadora, em geral levando cravados em torno de quarenta por cento do eleitorado, ela somente foi exitosa em virar em 1988, justo com o supracitado Luciano Bispo, alicerçado nas esmagadoras popularidade de Djalma Teixeira Lobo e José Queiroz da Costa, e no manejar com maestria da máquina pública pelo então secretário de governo, José Carlos Machado; além, é claro, do trabalho do próprio candidato vitorioso de 1988.

Também, nos 120 anos de eleição para prefeito, antes denominado de intendente, somente em duas oportunidades – exatamente de Luciano Bispo contra Valmir Costa, depois de Valmir Costa contra Luciano Bispo – houve goleada de votos. Luciano Bispo ganhou em 1996, da chapa Maria do Carmo de Mendonça – Valmir Costa, por mais de 66 por cento; e Valmir Costa, vinte anos depois, em 2016, agora como cabeça da chapa devolveu a Luciano Bispo e seu candidato e irmão, Roberto Bispo, na mesma medida. Fora disso, tem havido dois ou no máximo oito pontos de diferença entre o mais votado e menos votado.

Luciano Bispo, incontestavelmente é o líder isolado da oposição; porém aparenta somente ter força para mais uma eleição de deputado estadual daqui há dois anos. Se o for, será o líder mais longevo entre todos os políticos, nos 350 da História política itabaianense, título, com o atual mandato, já dividido entre ele e o Coronel Sebrão, da República Velha: terminando o mandato Luciano, cravará 44 anos de liderança. 

Seu natural candidato, Edson Passos, pessoa benquista na sociedade itabaianense, contudo, não lidera, uma vez que Luciano Bispo, como Sebrão, jamais admitiu sombra; e continuará isolado na liderança, que morrerá com ele, simbólica ou literalmente.

Itabaiana só vota no líder. Ou em quem o líder máximo mandar.

Por outro lado, a composição de chapa da situação, na convenção do PL, no último domingo deixa clara que Valmir Costa continua com o firme propósito de assumir o governo do Estado, numa nova eleição, obviamente, já que na passada deram-lhe uma breve carteirada. Se o deixarão dessa vez, só os astros podem prever; contudo, ao escolher a dedo um partidário de sua inteira confiança para a vice-prefeitura, sinaliza ele que, pode ser, sim, candidato ao governo do Estado em 2026. Fica faltando apenas imitar Napoleão Bonaparte e desposar uma nobre de família em dificuldades. Concretamente, depende, pois, do furor judicialista, inaugurado há uma década com o lavajatismo. Muito mais do que do eleitorado, francamente simpático à sua liderança, num estado de robôs teleguiados, mediante planilhas e personagens ocultos ou nem tanto de olho no Tesouro estadual.

A escolha, portanto, de José Paes dos Santos, o Zequinha da Cenoura, é providencial para Valmir Costa. A estabilidade política e administrativa porque ora passa Itabaiana, deixa claro, que a pergunta de Hemingway, “Quem na trincheira estará ao teu lado?”, importa muito. O atual prefeito, e sua mão direita em ambas as administrações, Adailton Souza, confirma isso.