segunda-feira, 8 de julho de 2024

ENTRE SER JIPE E SER TRI-TREM


Era pra tudo se resolver nos velhos e viciadíssimos conchavos; mas, na iminência da Abertura Política de 1979, em 1975, o engenheiro José Rolemberg Leite, tetraneto de Jose Matheus da Graça Leite Sampaio, ao assumir o Governo do Estado, como era previsto à época, nomeou um novo prefeito para a capital; e, ao fazê-lo, não escolheu entre as velhas raposas viciadas, supostamente enobrecidas, cheias de penduricalhos de compromissos familiares e de grupetes; verdadeiras máfias que sempre travaram Sergipe: escolheu o jovem engenheiro e empresário João Alves Filho. João deixou a Prefeitura de Aracaju imbatível para o governo do Estado, o primeiro desde Seixas Dória a ser pelo voto. E o Negão do Povo ganhou de goleada. 

Em Itabaiana, que nunca chega próxima a unanimidade eleitoralmente em cada eleição, somente em duas o grupo vencedor o foi com mais dois terços do eleitorado, e numa, a de governador em 15 de novembro de 1982, com mais de três quartos, mais precisamente 82 por cento.

Mas no governo, foi diferente. A quase unanimidade baixou a níveis críticos e, doravante, o que era para ser um novo tempo em Sergipe, nalguns aspectos retornou ao clima de cizânia que sempre imperou no estado, desde que Salvador deixou de manipular os coronéis locais do açúcar.

De fato, Sergipe nunca decidiu se quer ser jipe ou tri-trem, para usar uma linguagem tipicamente itabaianense. Seus altos e médios sinecuras, amparados no estamento, praticamente todo viciado desde 1650, quando o governo, de fato se efetivou por aqui, é quase todo de famílias nobres ou seus apaniguados, e travam qualquer um que ouse um pouquinho mais.

Emblematicamente, a fase de maior crescimento sergipano foi a do Segundo Reinado que começou com a coroação de D. Pedro II, em 18 de julho de 1841, ao infame golpe de 15 de novembro de 1889. Neste período, uma sábia manipulação dos poderes locais pela Coroa, levou o estado aos patamares invejáveis de desenvolvimento, só torpedeado seriamente pela primeira epidemia de cólera, em 1855, e com novo abalo na segunda, em 1863, e a grande seca de 1869-1878. Contudo, a população que em 1855 caiu cerca de 40%, em 1890 havia sido recuperada integralmente, e o estado estava entre os 15 mais populosos da suposta federação... do café-com-leite.

O “liberou geral” da República, com o renascimento do poderio total do caciquismo local, focado somente nos próprios umbigos, atrasou o estado; que só tardiamente veio reagir, depois de perder completamente o ritmo. E sem mais a centralidade sábia do Segundo Reinado, mesmo sob as duas ditaduras pelas quais passou, ficou sujeito as intempéries da política paroquiana, anacrônica e letal ao desenvolvimento. 

Progresso possível, somente sob martírio dos seus operadores, todos pagando grande tributo à ignorância, à preguiça, à inveja, arrogância, à má vontade, como José Matheus da Graça Leite Sampaio; Manuel Ribeiro Lisboa; Maurício Graccho Cardoso; José Rollemberg Leite, (três mandatos); João Alves Filho (quatro mandatos); e a última grande vítima: Marcelo Deda Chagas.

O único a se safar da sina de pagar caro por querer um estado grande foi João Gomes de Melo, o Barão de Maruim. Que fez tudo certinho. Primeiro, ganhando musculatura financeira, para então entrar no vespeiro. Vinha ele com a sorte de contar com o controle central do Segundo Reinado, logo sem a mesquinharia típica dos senhores de engenhos empoderados a perturbar. Entretanto, teve que se abster de mais avançar pelo colossal azar: o aparecimento de uma epidemia, justo no momento máximo de suas transformações impostas a Sergipe com a mudança da capital, qual, sabiamente não quis assumir, creditando tudo ao simples ordenança, de nome Inácio Barbosa.

Assim, desde Manuel Pestana de Brito, Sergipe tem se mantido entre ser jipe e ser tri-trem, com sua elite se cotizando nas raspas dentro do butim, de vez em quando por elas se comendo; mas sempre alerta contra qualquer “aventureiro” ou mesmo descompromissado com o status quo, apesar de branco, olho azul, nobre, de genealogia gorda.

E, como na Magna Grécia, só um macedônio para levar o estado à merecida grandeza.

Salve os 204 anos! Que não são muito diferentes dos 434 totais.