terça-feira, 31 de dezembro de 2024

HÁ 435 ANOS, O TRÁGICO NASCIMENTO DE SERGIPE.

 

No dia 23 de dezembro de 1589, duas colunas penetraram no atual território sergipano. Uma por terra; outra por mar.

A que veio por terra, pela trilha que depois ficou conhecida como trecho da estrada Salvador-Olinda. Supostamente a trilha tomada pelos jesuítas, duas décadas antes, na tentativa de converter tupinambás e cariris. E a que veio por mar, comandada pelo próprio Cristóvão de Barros, rompendo as frágeis defesas de Surubim, na ribeira do Potypeba, hoje Rio Vaza-Barris, região onde atualmente se assenta Itaporanga d’Ajuda.

Os relatos são confusos porque com base em relatos orais da época. Porém, a seguir, devidamente anotados pelo Frei Vicente do Salvador, que os publicou 37 anos depois.

Em 31 de dezembro, a força, agora reunida com as duas colunas cercou a serra dos matapoans, também aí rebatizada de Os Três Picos, e hoje reduzida apenas a serra do Pico, ponto de fronteira entre os atuais municípios de Frei Paulo, Itabaiana e Macambira. 

Por volta da meia noite de 31 de dezembro a cerca principal foi vencida; e os portugueses triunfaram sobre os desgraçados indígenas, que, perdedores numa "guerra justa", foram em massa escravizados. Quatro mil, segundo Frei Vicente,

O objetivo ficou explícito no pedido de sesmaria de Brás de Abreu, em carta de 15 de maio de 1623, 33 anos depois, mesmo sob certas observações, incluindo falhas de história oral: bater o último reduto indígena; e recuperar cerca 150 arcabuzes tomado por Baepeba na Missão de São Tomé, hoje povoado Campo do Criolo (na confluência dos rios Jacaré e Piauí)(*), município de Lagarto, em 1575, 15 anos antes, o que determinou o fim da tentativa de colonização pacífica do então Sertão do Arabó (urubu, na grafia atual), conforme carta jesuítica.

Baepeba foi um dos caciques confrontados pelo invasor.

A serra dos matapoans ressurge na carta do Padre Francisco da Silva Lobo, de 1757, a confirmar as informações constantes no mapa holandês de 1646, que identifica o pequeno e íngreme pico de Poteapua.

Segundo o Frei Vicente do Salvador, depois de vencida a batalha, Cristóvão de Barros se encaminhou ao litoral para instalar a cidadela de Sergipe d’El-rei, depois São Cristóvão, desmembrando Sergipe da Bahia. Que o fez primeira e provavelmente onde futuramente se desenvolveu a Aldeia do Aracaju, conforme mapa de Albernaz, que ilustra o livro manuscrito do sargento Diogo Campos Moreno, de 1612. Depois, tentada nas colinas ao sul do Poxim(**); e finalmente, a partir de 1606, junto ao rio Paramopama, onde até hoje se encontra.

Dia 1º de Janeiro: Sergipe d’El-rei – cidade e estado - 435 anos de existência.

(*) Cartas Jesuíticas. Cartas, Fragmentos Históricos, Informações, do Padre José de Anchieta, 1154-1594. Civilização Brasileira, Rio, 1933.

Obs. Desconhecemos qualquer histórico de tomada de armamentos pelos indígenas, além, antes ou depois, do ataque à Missão de São Tomé, do Padre Gaspar Lourenço.

(**) Os historiadores sergipanos são cuidadosos em falar sobre essa segunda tentativa do estabelecimento do forte de Sergipe d’El-rei, citando apenas morros ao sul do rio Poxim. Acertadamente: documentos, não os há. Contudo, uma robusta construção, em local inusitado chama a atenção: a igreja de São Gonçalo, ao nordeste da cidade de São Cristóvão, encontrada pelos holandeses ao invadir Sergipe, em 1637, e que só definhou completamente na segunda metade do século XIX.

São Gonçalo do Amarante é santo, máxime venerado pela ordem dominicana, que até fins do século XVII foi muito presente no Brasil, quase desaparecendo, a seguir, e retornando no século XIX.

Sobre as fundações da igreja de São Gonçalo no ponto mais alto do município de São Cristóvão acha-se construído atualmente a estátua do Cristo Redentor. Ao sul do Poxim-Açu.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O PREÇO DA FAMA

 

Se mais curiosos, os romancistas sergipanos já teriam produzido alguma peça de ficção abordando a fixação da pirataria sobre a Boca do Rio Real, e suas praias paradisíacas do Mangue Seco, cenário de telenovela global, do lado baiano, até a Cachoeira de Abadia; e a Praia do Saco, até a mesma cachoeira; e nos meandros formados pelo Piauitinga, até Terra Caída, o Crasto, e além.

Até agora a região foi pouco explorada, e mesmo assim com temática contemporânea, como a Tieta do Agreste, do gigante Jorge Amado.

O fato é, que, toda vez que um amigo vai para aquelas bandas - o último foi Antônio Samarone - sempre eu tiro brincadeira com ele. Alguns devem me achar delirante.

Serra do Pico (Três Picos ou do Matapoan), tríplice fronteira, no pico mais alto entre Frei Paulo, Itabaiana e Macambira. Cenário da última batalha na noite de 31 de dezembro de 1589, na Conquista de Sergipe por Cristóvão de Barros. (Foto: Juarez)

Um dos motivos da invasão do Sertão do Urubu, depois Sergipe, terminada na noite de 31 de dezembro de 1589 – amanhã, 31, fará 435 anos – foi a ousadia do cacique Baepeba, mancomunado com os caciques do litoral, de, em conluio com os piratas franceses no Rio Real, assim que o Brasil começou a ser colonizado por Portugal, ter tomado as armas dos soldados portugueses, obviamente, depois de os matar.

Dessas escaramuças, entre franceses, assessorados pelos indígenas, e portugueses, nasceria aquele que é o primeiro sergipano e itabaianense, de sangue europeu, e indígena, obviamente: Simão Dias, o mameluco, apelidado de o francês. Ferido, seu pai, um corsário (pirata do rei) teria sido trazido para dentro das serras e cuidado com esmero... um pouco maior, por uma cunhã, nascendo depois o fundador da cidade que leva seu nome.

E por que a fixação dos franceses pelo Rio Real?

Porque a fama de algo tão valioso?

Em 20 de outubro de 1501, Américo Vespúcio – o que denomina hoje o continente, AMÉRICA – chegou à Boca do então Itanhü (mais ou menos itanhi, com “i” fechado), e, como era aniversário do seu contratante, o rei D. Manuel I, o Venturoso, em sua homenagem colocou-lhe o nome de Rio Real. Não podia ser um lugar qualquer

Depois, na Europa, cartógrafos deram mais uma puxadinha, sugerindo uma baía, que foi diminuído para enseada até chegar no que é hoje. Entretanto, por quase trezentos anos deu muito trabalho à marinha portuguesa. Mesmo depois de conhecido que era apenas o alargamento pela maré, do curso do rio que, cem quilômetros acima já é seco na maior parte do ano.

Os meandros do Real era lugar ideal para o esconderijo de forças estratégicas; nem sempre bem intencionadas.

Nunca vimos estudo nenhum sobre a ocorrência de piratas ali; contudo, referências documentais na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro têm razoáveis conteúdos sobre a atividade na área. Como sobre a nau inglesa, aprisionada pelo povo da Vila de Abadia (hoje um povoado de Jandaíra-BA), em fevereiro de 1767.

Daí porque eu acredito que temos nossos Jack Sparrow, Barba Negra e Hector Barbossa, com seus Pérola Negra, Holandês Voador, etc., etc.. É só botar a imaginação para funcionar.