quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

GENTE, MENOS, NÉ?

POLÍTICA E PROPAGANDA.

O bom político é aquele que promete o que o povo quer; faz o que o povo necessita; e convence ao povo que aquilo foi o pedido.(*)


Independente de detalhamentos, o primeiro grande político da história foi a serpente do paraíso. Ganhou pelo bom papo. Todavia, ficou para sempre amaldiçoada, símbolo do mais abjeto e perigoso ente. Tivesse agido com um pouco mais de sutileza, teria passado à história como um arcanjo ou até um semideus.
A natureza humana necessita do irracional. Traduzido, às vezes, em forma de arte, seja plástica, literária, ou performática, a mais atraente, impactante. Daí porque pastores, políticos, comunicadores em geral tanto consiga na arte de influenciar e dominar.
Desde priscas eras da humanidade, a propaganda sempre foi arma de dominação; e tão eficiente é, que convence multidões a usar a mesma marca, onde individualmente se sente especial; único.
E, comerciante ou dirigente de qualquer natureza, que não investe em propaganda é um fracassado, líquido e certo.
Hoje lendo um artigo de Rui Castro, no jornal Folha de São Paulo, O Poder pelo Poder, o mesmo analisa, crítica e deploravelmente os passos do futuro presidente estadunidense, a partir do próximo dia 20, o retornante Donald Trump.
Cá entre nós, a eleição de Trump, pela segunda vez, nada é mais simbólico para uma nação que esqueceu de trabalhar para jogar; seja nos cassinos de Trump, em Las Vegas; seja nas cafuas da Rua do Muro, a Wall Street, como gostam de chamar nossos “colonistas” da mídia, e em que hoje não se joga apenas ações de fábricas e redes comerciais, na Bolsa de Valores. Todo tipo de trapicola é feito no sistema. Até coisas honestas ainda tem. Raríssimo; mas tem. E eles podem jogar – e trapacear - à vontade porque a maior máquina de matar da história humana está em cima da mesa do carteado. Nem no coldre é.
Reclama o artículo-“colonista”, que Trump disse isso, disse aquilo, ameaçou, bravateou. Coisas de cafueiros; que Trump jamais deixará de sê-lo.
Aí abro os sítios de internet daqui de Sergipe, e vejo, Sua Excelência, o Governador parecer boneco de posto. Ou como diria o saudoso colega radialista, Rosalvo Soares, nos tempos albanistas, “vai até pra casamento de bonecas”. Claro: já entregou a DESO e outros caraminguás devem estar a caminho. É seu mister. O resto? Feijão com arroz.
Radialista Rosalvo Soares (in memoriam), cunhando a expressão "Indo até pra casamento de boneca". Pelos excessos das altoridades e seus marqueteiros.

A as prefeituras, cujos mandatários acabam de ser empossados? 
“Release”, na mídia é o prato do dia. As “matérias” até parecem terem sido escritas pelos próprios prefeitos.
Choradeira, principalmente. E acusações. Parecem até que assumiram as lideranças das respectivas oposições; e não como mandatárias ou mandatários.
Na qualidade de marqueteiro às antigas – e bote antigo nisso – eu tenho certeza de que governo precisa se comunicar. “Todo o artista tem de ir aonde o povo está”, como diz o poeta-cantor, Milton Nascimento. Dar publicidade do que faz, como bem apregoa a nossa Carta Magna. Que propaganda tem de ser feita, tão intensamente como na campanha política. Porém, o modo aqui não é propositivo, muito menos acusativo. Mudou. O eleito agora tem que governar.  É governo; não oposição.
Do contrário do que vem parecendo há dois anos, em relação ao Estado; e nas duas últimas semanas em relação a pelo menos metade das 75 prefeituras no estado.
Rezemos.

(*) Frase minha. Desconhecendo qualquer coisa semelhante. Que deve existir.

domingo, 12 de janeiro de 2025

A NATUREZA RESISTE


Algo que mudou a cabeça do europeu depois das aventuras portugueses do último quartel do século XV, foi a sua descoberta de que o mundo não se resumia a seu umbigo, e mais algumas lendas orientais: existia uma África inteira, bem diferente das franjas conhecidas do Mediterrâneo; e algo completamente incógnito até então: a América e a Oceania. E seus milhões de espécies diferentes das relativamente muito poucas da Europa.

Os iluministas holandeses ficavam fascinados. Abestalhados com tanta riqueza.

Quando Nassau resolveu provar que o modelo que representava era muito superior ao pós-medieval da Espanha imperial, obscurantista, fundamentalista até a medula, e trouxe inúmeros artistas e estudiosos na sua equipe, eles não perderam tempo.

A Holanda fervia. Amsterdã era um caldeirão borbulhante. A primeira bolsa de valores, e o primeiro “crash”. Com lucros, retorno de saques milionários, discussões filosóficas e artes. Muita arte.

E é nesse clima que o alemão Johannes Mauritius Von Nassau-Siegen, contratado pelos holandeses,  embarca para dois meses e meio sacolejando nas ondas do Atlântico com sua numerosa equipe de naturalistas, botânicos, o que veio a ser depois geólogos, matemáticos, astrônomos, e médicos, naturalmente, desenhistas, pintores e cartógrafos.

Em Sergipe, onde pouco estiveram, produziram uma obra de arte, em modo mapa, naturalmente ilustrada por bela guirlanda de frutos da terra, e três das espécies animais que mais os despertaram: A anta (tapir, em tupi); a capivara e a jaguar tupi ou onça pintada.

Mapa: Prefeitura de Sergipe, em Sergipe d'El-rei, com Itabaiana.
In BAERLE, Carpar, Rerum per Octennia in Brasilia. Amsterdã, 1646

"Hei, estão voltando as flores".

Ou é percepção falha minha, ou, realmente, uma onda de resistência vem ocorrendo acerca do mundo animal selvagem. Capivaras, jacarés, jaguatiricas estão sendo vistas cada vez mais em Itabaiana. Há anos, preservo uma antena comum de TV, que serve todas as manhãs de pouso a barulhentos bem-te-vis. Por ela também já vi os indefectíveis pardais, cabeças-vermelha, lavandeira e outros, durante o dia; à noite é ponto de apoio na caça às corujas, que acabaram com o estoque de morcegos que habitavam a região.

Carcarás, nem se fala. Onde houver um trator capinando, ou mesmo um trabalhador com enxada à mão, lá vai estar, ao menos um atrás de merenda. Seja uma cobrinha, uma minhoca. Qualquer coisa serve de petisco. Arredios à cidade, eles abrem exceções, quando se trata da periferia.

Lendo há pouco uma matéria de jornal carioca, o mesmo dando conta que as antas, supostamente extintas do estado do Rio de Janeiro, há um século, como que magicamente, reapareceram.

Aqui, em Itabaiana, não há documentos que o afirme; nem também o negue, porém é possível que antas tenham desaparecido daqui ainda no século XVII, derrotadas pela concorrência de vacas, bois e bezerros, no grande curral em que se tornou Itabaiana, dentro e fora das serras. Assim como as onças de maior porte, abatidas em nome da economia. Na esteira, depois também vieram a jaguatirica e o gato do mato.

Que agora, teimosamente estão voltando. Ainda bem.

Registro do cotidiano rural nordestino de 1640, por Frans Post
.