sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O GRANDE DIA.

 

Cá entre nós, para uns, o Sete de Setembro da minha geração e próximas, era o grande dia da vida estudantil; para outros, mesmo os não selecionados para o desfile, não.

De fato, para muitos dos quem detestavam o desfile, estes, também estudavam forçado.

Porém, de qualquer modo, desde o Estado-Novo, que por aqui o grande dia, e seus desfiles continua tal e qual o 13 de junho e a procissão de Santo Antônio: religiosa e socialmente, uma gostosa obrigação. A festa.

Cordões se formam ao longo do trajeto - desde fins dos 70, na Avenida Luiz Magalhães/Ivo Carvalho - para observar o desfilar de cada vez mais escolas; público só igualado na sobredita procissão e no auge da custosa e ruidosa Micarana de duas décadas passadas.

O Sete de Setembro de 1938. Grupo Guilhermino presente. O Colégio Estadual Murilo Braga só mais de uma década depois.
O ponto alto do desfile continua sendo a passagem do septuagenário Colégio Estadual Murilo Braga. E aqui, tanto serve de averiguação do presente, como em memória ao passado, uma vez que mais da metade de mães e pais que ali se postam para ver os desfiles, ano após ano, são crias da antológica instituição educacional; e com ela guardam alguma ligação sentimental.

A verdadeira passarela do sucesso, desde 1950.

Nesse ano, eu também fui convidado para compor o Pelotão dos Homenageados. Uma honraria indispensável. Contudo, de véspera, estou declinando em vista de compromissos já assumidos, que envolve paralelamente a glória do velho Colégio. Sem ele, possivelmente não haveria o Dr. Luiz de Iracema, ali ginasiano, e a lançar amanhã mais um livro, em comemoração ao seu próprio aniversário, no último dia 4. 

O lançamento é mais uma glória do velho Murilo, casa de todos nós, e será em sua residência, na capital, como também a referida comemoração natalícia, essa já tradicional, servindo, inclusive de “point” ceboleiro em Aracaju, na data.

Quero agradecer à direção do Murilo Braga, na pessoa de sua competente diretora, a professora Maracy Pereira por tal consideração. E torcer que seja mais um brilhante desfile, realizado pelo nosso templo maior do saber.

Os ex-alunos do Murilo Braga vão do senador Edvan Amorim, inúmeros deputados federais e estaduais, como o próprio, José Carlos Machado, José Queiroz da Costa, Jose Teles de Mendonça, José Wilson Gia da Cunha, Arnaldo Bispo, Djalma Lobo e outros, até de cidades além da Grande Itabaiana; os prefeitos da cidade, desde Antônio Teles de Mendonça, uma multidão de vereadores, artistas, como Antônia Amorosa, ativistas sociais, como o presidente da Associação de Peregrinos de Sergipe, o empresário Anselmo Rocha, e, exceto dois, entre os trinta ocupantes originais, todos os demais componentes da Academia Itabaianense de Letras, incluindo o médico e escritor Dr. Luiz Carlos Andrade. Modestamente, também este que aqui vos deita essas mal traçadas linhas.

Convite ao mais novo lançamento, manhã, dia 7. E à direita, flagrante do autor em outro.

Meus parabéns ao Colégio Estadual Murilo Braga e tanta história de sucesso para contar, e às suas dezenas de milhares de pupilos ao lhe glorificar.

Feliz Dia da Pátria!


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

NA VITÓRIA OU DERROTA.

 

A expressão contida no título aplica-se ao sentimento e ao apego com que o torcedor tricolor vive essa paixão.

É um fenômeno que começou a surgir, em 1959, quando o time de futebol, ainda amador, da Associação Olímpica de Itabaiana, sagrou-se Campeão da Zona Centro; um feito inédito, para uma cidade, que há dez anos despertava de um sono profundo de quase três séculos de existência. 

Finalmente, algo do que se orgulhar, além de sua serra, que a época já tinha boa parte sob domínio do seu antigo povoado de Riachuelo, quando foi Rio de Sergipe (e antes de ser Os Pintos), na passagem de São Gonçalo. Hoje, a perda da área foi ampliada com o surgimento do mais novo município de Areia Branca.

Em 1959, a cidade tinha ganhado acesso aos maiores mercados do país; e por ele, a sua frota de caminhão não parava de crescer. Também tinha ganhado uma escola graduada, com normal e ginasial; vira chegar a energia de geração hídrica e ostentar orgulhosamente a distribuidora dela, para boa parte do estado, e para o Recôncavo baiano; e a efetivação de um centro de apoio agrícola na Fazenda Grande; seu clube de recreação ia de vento em popa. 

Mas todo esse clima de otimismo ceboleiro, já era amplamente ameaçado. E desabou numa torrente de violência com apogeu em 08 de agosto de 1963, quando foram assassinados o piloto dessa nau e seu filho. A desgraça teria eco, visto como natural, em 31 de agosto de 1967, quatro anos depois. A cidade quedou-se acéfala; violada no seu amor-próprio. Não retroagiu de imediato, por força da inércia; que leva os corpos a nunca pararem, exatamente onde foram travados; especialmente se em média e alta velocidade. 

Mas ia parar. Sinais eloquentes disso é o seu crescimento urbano, que despencou dos 93,7% da década de 1950, para 48,2% da década de 1960. Detalhe: o crescimento rural também foi reduzido. Nunca tanta gente foi embora, da cidade; e do interior, ou zona rural.

Porém, no finalzinho da década de 1960 os ventos voltaram a soprar favoravelmente. Uma turma de novos empresários, todos pequenos, resolveu retomar o caminho de crescimento da Associação Olímpica de Itabaiana. Entre eles, ainda na condição de bancário, contudo, ingressando no mundo empresarial no ramo dos serviços, José Queiroz da Costa. Uniu-se o útil ao agradável. Queiroz da Costa, o intrépido empresário de uma máquina de fazer dinheiro que foi o cinema em Sergipe, nas décadas de 60 a 80, a garantir a parte financeira; Mozart Fonseca de Oliveira a gerenciar os contenciosos de ordem político partidária, já que de família longeva na política itabaianense; o industrial Azer dos Santos, Jose Gentil e Francisco Tavares da Costa, o Fefi, arrebanhando os outros entusiastas, cuja lista, já citada por Aelson Gois, é muito extensa para ser delineada aqui, sem cometer injustiças.

Estava formado o escrete que conquistaria o vice-campeonato em 1968, e que levou o time ao título máximo do estado em 28 de agosto de 1969. À glória máxima: Campeão Sergipano.

Doravante Itabaiana não seria mais a patinha feia de Sergipe, que quase todo o estado olhava por sobre os ombros – ou sequer isso - apenas se incomodando com seus decididos negociantes de feira, ou odiando seus “pernósticos e mal educados” políticos, ao ponto de ter permitido a chacina supracitada, promovida pela força de segurança do Estado.

E Itabaiana virou “a capital do futebol”.

Campeão do Nordeste, em 1971, é até hoje o único time sergipano a ter em seu portifólio um título de envergadura nacional. E o futebol virou uma religião.

Na vitória, ou derrota, como reza seu hino, composto no auge da sua ascensão, em 1972, pelo professor e poeta Alberto Carvalho, o time é muito mais que um time: é Itabaiana que se apresenta ao Brasil e ao mundo, glorificando a cidade e seu povo; e levando o estado de Sergipe às boas páginas noticiosas de além rios Real e São Francisco. Mesmo quando o time perde uma partida.

A catarse presenciada aqui no último domingo, e replicada com a chegada da equipe, na segunda-feira, 02, depois da ascensão garantida à série C, frente ao 13 de Campina Grande-PB, demonstra que o torcedor tricolor é mais que um torcedor. Porque seu time é mais que um time: É Itabaiana para exportação. Do que há de melhor em nossa gente: “A disputa com luta, e o abraço de irmão”.


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

PESSOA DE SATISFAÇÃO

Carta que escreveu ao Capitão mor de Sergipe del Rei, João Munhos, para por pessoa de satisfação na companhia da (sic) Itabanhana. (Docs. Históricos, BN-Rio, vol. 8, p.370) 


Exército ocupando Itabaiana, por volta do fim de 1971, período mais duro da Ditadura. Sem justificativa plausível. Seria em relação aos ecos do passado? O prefeito Filadelfo Araújo (mais baixo) simbolicamente cercado.

Em conversa recente, com Antônio Samarone, e ele me esclareceu uma dúvida, que em mim pairava, desde que há 20 anos encontrei, em meio às fotografias a mim passadas pela minha sogra, saudosa professora primária, Maria Jesuíta Messias, algumas pertinentes à administração municipal; a de Vicente Machado Menezes e principalmente a seguinte, de José Filadelfo Araújo, uma foto emblemática (acima) com o Exército, tutorando o este, um gesto simbolicamente de força, para a época do temível AI-5, para não dizer intimidatório. 

Filadelfo foi eleito num ato rebelde de Itabaiana contra o arbítrio. Rebeldia que se manifestou, desde a candidatura feita em manobra legal, com o registro do candidato pela saudosa tabeliã Maria Helena Silveira, pressionada à postergá-lo, até cair na extemporaneidade; e a contrariedade do nascente líder político, Francisco Teles de Mendonça, Chico de Miguel, completamente excluído do processo, com os generais e caciques do golpe de 64, a manipular, para dar o resultado que queriam.

Em tempo: vejo isso, sob grande risco de se repetir, nacionalmente (toc, toc, toc na madeira), o que aqui se tratará de um tremendo desastre, talvez pelos próximos 50 anos, à nossa sofrida nação.

Voltando ao ponto em questão, disse-me Samarone, que foi informado por Antônio Emílio Araújo, o Moringa, filho do ex-prefeito Filadelfo, que a dita foto, foi de fato, uma demonstração de força; sobre quem efetivamente mandava. Ou de fato achava que mandava, como ficou patente nos anos vindouros, com o bolo crescendo, e os verdadeiros mandantes – a turma da grana - ficando com todo ele.

TODAS as grandes lideranças de Itabaiana, sofreram nas mãos dos coronéis da política sergipana e sua política judicializada. Mesmo os não declaradamente políticos.

Em 22 de julho de 1673, foi oficiado ao governador da capitania de Sergipe – capitania no nome, quem mandava era a Bahia – João Munhos, “pessoa de satisfação” da Câmara de Vereadores ou Senado de Salvador, que substituísse Luiz Pereira, capitão de campo do distrito de Itabaiana. O motivo alegado era que não estava conseguindo cobrar os impostos que Salvador cobrava... em Sergipe; apesar de teoricamente ser capitania autônoma, só subordinada a Portugal.

A propósito, foi a tentativa de soberania do governador, capitão-mor, Manuel Pestana de Brito, nomeado diretamente por Lisboa, e apoiado pela vaqueirama de Itabaiana, em romper o cordão umbilical com a Câmara baiana, de Salvador, que levou à desesperada Rebelião dos Curraleiros, de 5 de novembro de 1656, quando invadiram São Cristóvão e prenderem o padre Sebastião Pedroso de Góis, única autoridade legalista ali encontrada naquele dia.

Itabaiana e todo o Sergipe pagou caro por isso. E Itabaiana ficou com o estigma da rebeldia até os dias de hoje.

Qualquer liderança política da cidade que ameace subir, todo o tipo de artifício é usado para tosar-lhe. 

Só pessoa de satisfação. Preferencialmente os pusilânimes.

Por ter participado como coadjuvante da Rebelião, e depois ameaçado replicá-la, durante o governo de Alexandre Souza Freire, 1667-1671, Lagarto também entrou na mira telescópica de vigilância permanente. Foi a primeira vez que “os bandeirantes” - paulistas - entraram em ação.

Por isso que outras cidades já forneceram até vários governadores ao Estado, como Simão Dias, que recentemente forneceu quatro nomes. 

A cidade de Simão Dias, que homenageia o primeiro sergipano de sangue europeu conhecido – Simão Dias, o mameluco, também conhecido com o francês – foi colonizada originalmente por itabaianenses, e território do município de Lagarto por quase dois séculos, após o início da colonização.

De fato, a vigilância começa com a ousadia de Mbaepeba em atacar a Missão de São Tomé e tomar as armas portuguesas. As armas de nada lhe serviriam, em 1575.

Há um cuidado, quase patológico, em cercear Itabaiana. E, claro seus líderes, pouco importando se políticos ou não. Nesse caso, começou por Simão Dias Francês; mas chegou aos nossos dias com Oviedo Teixeira e José Queiroz da Costa. Mamede, Pedro Paes Mendonça e Gentil Barbosa se safaram. Esse, discreto, conseguiu driblar o cerco; os irmãos por irem investir em outras terras. Ao contrário do irmão, Euclides Paes Mendonça, assassinado.

O cerco chega a comprometer o próprio estado, na sua logística econômica.

Todos os caminhos levam a Roma. Logo, para Itabaiana, que não haja caminhos. 

Foi preciso um governador comprometido com Itabaiana desde seu tetravô, para que se restabelecesse, ainda que de modo precário, as duas principais linhas de comunicação, sobre as quais foi fundada a cidade de Itabaiana: a BR-235 e SE-170. A estrada do Sertões de Jeremoabo e Salvador-Olinda, respectivamente.

A BR-235, federal, de Aracaju ao Pará, ultrapassou em muito o Raso da Catarina (onde, no século XVII,  Fernão Carrilho arrastou o restante dos índios rumo à escravidão); a SE-170, só de Tobias Barreto até Moita Bonita. Nada de ligar Itabaiana a Olinda, como foi no início.

Para Malhador e Riachuelo, só por Candeias, hoje Moita Bonita; e, a importantíssima estrada de tropeiros até Propriá, desviaram-na pela Serra do Machado o seu trecho mais importante, desde Nossa Senhora das Dores, isolando comunidades históricas como Borda da Mata e Capunga. A estrada diretamente a Ribeirópolis e à Macambira, mantiveram no barro, em geral mal cuidada, cuidando para que alternativas houvesse, muito melhores. E a ligação direta com Pedra Mole e Simão Dias, que um dia quase foi ferrovia, deixou de existir.

Um simondieiro, Marcelo Deda Chagas, restabeleceu a ligação com a Santa Rosa de Lima, um século depois de ter sido tirada da comunidade de Santo Antônio e Almas.

A notória perseguição por vivandeiras de fóruns a mais uma liderança itabaianense, portanto, não é nenhuma novidade.

Itabaiana. Sem acesso direto à maioria das cidades que já foram seus povoados.


domingo, 1 de setembro de 2024

A DEFUNTO QUE NÃO CONHEÇO, NEM REZO NEM OFEREÇO.

 

"Meu Deus. Isso fala!" Disse D. Pedro II, ao ouvir, pela primeira vez a voz humana, transmitida eletronicamente por um aparelho, o telefone, em 1876, durante a Exposição Universal da Filadélfia, no estado da Pensilvânia, Estados Unidos.

De lá para cá, a comunicação evoluiu até o smartphone – até agora - porém, em Itabaiana a primeira transmissão de mensagens, feita pelo telégrafo, usando o Código Morse, é de 1896, como apoio logístico aos chacinadores do Arraial de Canudos, do ano seguinte.

O telefone foi tentado em 1933; ficando na tentativa. Chegou para ficar, porém de forma restrita, já na década de 1940. Limitadíssimo. Nesse interstício, também chegou a onda de rádio.

Mas em 1978, o telefone chegou para todos, aqui em Itabaiana. Junto com a emissora local de rádio.

Contudo, costumes, ética comercial e travas no sistema mantiveram a cidade a salvo da sanha comercialista irresponsável e desregulada. E dos ladrões a mão desarmada.

Havia os trotes; mas eles eram mínimos, e de outra natureza.

De 2.000 para cá tudo mudou. O liberou geral do comércio eletrônico, de fins dos 90 tornou a vida um inferno, com nenhuma regra, e onde basta uma palavra, para o malandro empurrar qualquer quinquilharia, ou simplesmente ser liberado para nos tomar alguns tostões da conta.

Todo o cuidado é pouco na hora de atender um telefonema.

Pessoalmente, só atendo a números identificados. Desde os que constam da minha lista eletrônica, aos da ainda lista física. Com cuidado.

Assuntos envolvendo dinheiro, especificamente... nada por celular. Mesmo recebendo uma média de cinco telefonemas ao dia, e inúmeras mensagens sugestivas.

O mundo anda muita fácil. Especialmente para quem gosta do fácil. Os desonestos.