sábado, 19 de outubro de 2024

A MARCA ITABAIANA, NOS 350 ANOS DE FUNDAÇÃO DA CIDADE.

 

O inquieto itabaianense, sempre se sentiu seguro na proteção da sua muralha de serras, ao tempo em que sempre buscou vencê-las. E conquistar o horizonte além.

Recentemente, e se preparando para o Ano Jubilar, da paróquia e cidade(*), que se iniciará no próximo dia 30 de outubro, o médico, atual secretário Municipal de Cultura de Itabaiana, Antônio Samarone de Santana, vem desenvolvendo uma série de crônicas sobre a cidade, sua história e personagens importantes.

Samarone tem partido de sua cultura de menino beco-novista – Rua Coronel Sebrão, tradicionalmente, Beco Novo - a segunda mais antiga rua de Itabaiana e parte intrínseca da sua tradicionalidade. Porém com alcance sobre toda a história serrana.

Em tempo: Ita, de Itabaiana, significa lugar ou serra.

O mesmo, que viveu a infância na década de ouro da arrancada para a atual cidade, tem bastante autoridade sobre esse período mágico, ao qual só vim ter contato aos 15 de idade, em 1975, já que oriundo da zona rural.

Mas há 15 dias comecei um périplo pelas cidades sergipanas, no sentido de captar imagens próprias e recentes das mesmas, uma vez que fiz isso em 2011, e de forma limitada. Não cobri todas as 75. 

Já visitei 12 das 74, além, obviamente, da que moro: Itabaiana. Em seis, encontrei a marca Itabaiana. Seja em lojas de comércio, de serviços, e até em indústrias.

Porém isso não é de hoje. Nem se resume a Sergipe.

Manoel Felix de Oliveira partiu de Itabaiana ao fim do século XIX, rumo a Propriá, pela velha estrada real pelas vilas de Nossa Senhora das Dores (velho povoado dos Enforcados,) pela Vila da Capela, e pela do Aquidabã (ex-Cemitério), e finalmente a velha Santo Antônio do Urubu de Baixo da Barra da Parãpiá, já com o status de cidade e denominação moderna de Propriá.

Certamente já comerciava em Propriá; porém, ali acabou não se demorando, vindo a se aventurar rio acima; primeiro por Piranhas, depois a Jatobá de João Pernambuco (hoje Petrolândia), o Juazeiro de João Gilberto e Ivete Sangalo, Barra da Rio Grande do Sul (hoje oeste baiano, além São Francisco) Santo Antônio do Urubu de Cima (Hoje Paramirim), e finalmente chegando à progressista Januária, onde se fixou. Ali, aproveitou a licenciosidade legal da época, acrescentando o sobrenome Itabayana, nome que até hoje ressoa na alta elite da justiça brasileira.

Em Januária, Minas Gerais, existe o bairro Alto do Itabayana, em sua homenagem.

Gravura maior: print da matéria do Itnet em 2005. Detalhe à direita: recorte do jornal carioca A Noite, de 21 de março de 1938, com o nome na lista: d'Oliveira Itabayana, descendente do nosso Manoel Félix de Oliveira.

Hermelino Contreiras, empresário, construtor do Tanque do Povo, em 1864, ainda jovem foi envolvido nas brigas políticas provincianas, ganhou mundo e se transformou no agente da borracha, transportando em seus navios-gaiola uma multidão de cearenses, maranhenses, potiguares, paraibanos, pernambucanos, alagoanos, e naturalmente sergipanos, como os itabaianenses José Joaquim Nunes(**), pai da historiadora Maria Thetis Nunes, e Pedro Teixeira Lobo, filho do fotógrafo da mais icônica foto da matriz de Santo Antônio, Miguel Teixeira da Cunha.

Não nos foi possível comprovar documentalmente, mas existe um antigo seringal, à margem esquerda do médio Madeira com o nome Itabaiana. E uma numerosa alcateia por aquelas bandas.

O gaiola de Hermelino Contreiras tinha ponto final em Cruzeiro do Sul, no Acre.

Matriz de Santo Antônio e Almas: a origem da cidade de Itabaiana. Fotografia de Miguel Teixeira da Cunha.

Em Sergipe, numa biografia da Irmã Luciana Correia Quaresma, escrita em Ilhéus, em 2003, na interminável lista de suas realizações, até ali, figura a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição (e escola), no Alto do Itabaiana. Perde-se na noite da memória de onde vem essa denominação do hoje bairro de São Cristóvão de Sergipe d’El-rei.

Por fim, também aqui em Sergipe, a estrada real para o porto do Espírito Santo, hoje a gostosíssima Indiaroba, num dos acampamentos dos tropeiros de Itabaiana e Lagarto (só existiam os dois municípios na área), na parte sudeste deste município, juntou tanto itabaianense, e não somente de passagem, que desenvolveu o povoado de Itabaianinha, citado em documentos nos Anais de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e até pelo primeiro historiador sergipano, D. Marcos Antônio de Souza, em suas memórias da Capitania de Sergipe, de 1808.

Desde cedo um buscador de melhorias de vida, o itabaianense tem ajudado a desbravar, a desenvolver esse grande país. E isso o tem feito desde que o primeiro sergipano de sangue europeu, Simão Dias mameluco ou o Francês, movido, certamente pelas querelas pós-holandeses se exilou nas matas do Caiçá, dando origem a bela cidade de Simão Dias.

Simão Dias: o primeiro itabaianense; e também o primeiro migrante itabaianense. A levar a marca Itabaiana além.


(*) A primeira denominação da cidade de Itabaiana foi Santo Antônio de Itabaiana, e o povoado nasceu com a criação e instalação de sua paróquia em 30 de outubro de 1675, a segunda na História de Sergipe. (Veja também, de 8 anos atrás ou seja, 2016: A Cidade da Prata completa 341 anos)

(**) Corrigido. Erradamente eu havia grafado Josias Nunes de Souza. 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

PRAGMATISMO E PERSONALISMO

No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas - completarão 327 anos. 

Há exceções, óbvio; mas a História sergipana tem sido tratada como uma diversão de intelectuais a digladiarem-se sobre quem fez mais e melhor, sem duas qualidades fundamentais acerca do bom sucesso de uma ideia: a valorização do árduo trabalho dos predecessores; e a difusão, quanto mais massiva, melhor, dos conteúdos. Sua democratização.

Especificamente, sobre Itabaiana, não se foge à regra estadual. Com o agravante que a História, tida como coisa do passado, inútil, portanto, e num lugar de alfabetização tardia, e muito suor para sobreviver, como o pragmatismo está intrinsecamente associado ao personalismo, esses “detalhes”, quando muito é considerada detalhe; e ínfimo.

Eppur se mouve, como diria Galileu Galilei. Paradoxalmente, é justo de Itabaiana, especialmente na árvore dos Carvalho a inconformidade com esse estado de desprezo pelo passado. A começar por Lima Jr.; bastão mantido em movimento por Sebrão, o sobrinho; e finalmente passado a Vladimir Souza Carvalho.

Contudo, se hoje é desanimador, sem uma política pública de ensino de História local no Fundamental, no passado recente foi bem pior, em todo o Sergipe. Como exemplo, se deve a um cearense – não um sergipano – Acrísio Torres Araújo, a popularização da História de Sergipe, mediante o ensino fundamental. Por sorte, logo a seguir veio a Universidade Federal de Sergipe e consequente florescer inclusivo da intelectualidade e das ciências sociais, dentre as quais, a História.

E eis que uma itabaianense, Maria Thetis Nunes, de espírito pragmático, como comum nos da terra, porém de personalismo atenuado, a partir da recém-nascida UFS, liderou o processo que, ainda em andamento, busca escrever a história de Sergipe como ela é. Feita de pequenos capítulos, parágrafos, incisos e alíneas. Tudo o que compõe o todo; que conecta, vai além do provincianismo de vila contra vila, capital contra interior.

Singelo monumento, de significado quase desconhecido pela esmagadora maioria, inaugurado com solenidade simples demais para o que representa para a identidade itabaianense e até sergipana.

Data desperdiçada

O ano de 1997 transcorria como qualquer um, pós, e pré-eleitoral em Itabaiana. Primeiro ano da segunda administração de Luciano Bispo de Lima, e, à medida que se aproximava o fim do ano, a reexcitação eleitoral para 1998.

Um despretensioso encontro entre aluno – José Taurino Duarte – e sua mestra, a professora Maria Thetis Nunes, em pleno Calçadão da João Pessoa, na capital, daria origem a mais um evento, no sentido de dotar Itabaiana de uma História, com h maiúsculo, conhecida, popular. Realmente engrandecedora e digna de orgulho dos seus filhos.

Como dito, estávamos em 1997. E lembra o professor Taurino, que Thetis o parabenizou pelos 300 anos, três séculos de Emancipação Política de Itabaiana, com a instalação da sua Câmara Municipal; e sugerindo as necessárias medidas para o enaltecimento da data; sua comemoração.

E, no dia 20 de outubro de 1997, uma Câmara de Vereadores, um pouco envergonhada, acompanhada de uma alcaidaria (prefeitura) completamente descompromissada, meramente protocolar, com algumas palavras da boca para fora, inaugurou o monumento simples, engendrado às pressas pelo artista plástico José Valde dos Santos, Val decorador, que felizmente continua no local.

Por não se tratar de uma data faturável politicamente, só não foi completamente ignorada, como o 30 de outubro de 1975, por ter a feliz conjunção de Maria Thetis Nunes com todo peso da sua autoridade acadêmica, a estimular; o encrenqueiro professor Taurino; e na Presidência da Câmara Municipal de Itabaiana, o professor, feito vereador, João Alves dos Santos, popularmente conhecido como João Patola.

A pequeniníssima popularidade ficou como uma excrescência; “coisa de João Patola”. Sequer da Câmara Municipal, segundo seus vereadores, e textualmente citada no texto do decreto, recuperado por Thetis Nunes; muito menos da Prefeitura. Supostamente “nada a ver com isso; só fui pra fazer o favor a João Patola.”

Pessoalmente, “comi capim” nesse assunto por muitos anos, até ser despertado pelo citado acontecimento, via Taurino Duarte, tangido por Thetis Nunes.

No próximo domingo, dia 20 de outubro, os quatro municípios sergipanos mais antigos do interior – Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia do Itanhi e Santo Amaro das Brotas - completarão 327 anos. Parece-me que só Santo Amaro das Brotas relembra tal data.

A segunda quinzena de outubro, portanto, tem as duas mais importantes datas na história de Itabaiana: dia 20, sua emancipação de São Cristóvão; e dia 30, data de fundação da cidade, que, realizado com sua paróquia original, 22 anos antes, em 1675, fará 350 anos no próximo, em 2025.

Antecipo, pois, os meus parabéns aos quatro municípios, pais de todos os demais que vieram a seguir, ampliando a grande árvore iniciada por São Cristóvão de Sergipe d’El-Rei.