domingo, 28 de outubro de 2018

Mais um desastre brasileiro?

Desenha-se a partir de hoje mais um desastre político-social, queira Deus que não muito pior que de 1967-1976, que culminou com a selvagem e covarde execução de Vladimir Herzog nas masmorras do Doi-Codi da velha amedrontada – e por isso tão reacionária - São Paulo, em 25 de outubro de 1975. Foi preciso uma conjunção de fatos e fatores para que o general-presidente Ernesto Geisel tivesse pulso para, por um lado fechar o Congresso, e reendurecer temporariamente o regime, mas por outro, sair um pouquinho de debaixo das asas do Departamento de Estado americano, voltar aos investimentos nacionais em estrutura e estratégia, estabelecer um programa de “abertura lenta, gradual e segura”, não depois de mostrar ao “capo” do país, Roberto Marinho, senhor da Globo, e por ela do “pensamento” de 80 por cento dos brasileiros, sobre quem agora estava no comando da nação.
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formou um público tão vil como ela mesma”, para usar integralmente as palavras de um ícone do jornalismo e pensador, Joseph Pulitzer. De repente nos vemos perigosamente mergulhados num protofascismo, irracional, como lhe é próprio, com um “inimigo” totalmente identificado, isolado e acuado, o que exigirá do novo presidente uma atitude geisiana, pra dizer o mínimo, a desarmar a bomba que a infâmia, a maledicência armou, máxime em 13 anos de derrotas eleitorais fragorosas e conseqüentes mentiras e verdades tornadas mentiras pela distorção dos fatos criou.
Ocorre que este presidente, que acaba de ser eleito tem bastante experiência, porque do mais nebuloso nicho da política brasileira – o Rio de Janeiro – mas até o momento não a apresentou; guiando-se por chavões fascistas, tão ao hematológico gosto dos zumbis, da cobertura à senzala, que, cínicos, sádicos e insensíveis somente se comprazem, temporariamente, vendo o sangue alheio escorrer. Foi essa caterva, sempre latente entre os grupos humanos, que a nossa vil imprensa despertou e tem gestado nos últimos 35 anos, e radicalizado a partir do sucesso lulista, desde a eleição de 2002, mas principalmente com o magistral descolamento pessoal de Lula, da patacoada cognominada “mensalão” (em minúscula mesmo).
O trabalho de desconstrução da política pela vil imprensa, reconheça-se, com justiça, o valor do invejoso Fernando Henrique Cardoso e do cabeça oca Aécio Neves na patranha, forjou uma sociedade “apolítica”, bem o demonstrou o resultado do primeiro turno das eleições deste ano, onde, quanto mais o grupo susceptível à deseducação da imprensa, mais expressiva a derrota da política para o aventureirismo.
Tudo começa a se materializar quando Fernando Henrique Cardoso, subscritor-mor do golpe reorganiza o “mensalão”, ao concitar ao “não perder o foco”; e transforma-se em tragédia diante da incompetência de Aécio Neves, em 2012, em mal articular sua vitória, o que criaria com ela uma descompressão e aparente natural alternância de poder: Aécio, por pura preguiça, negação ao gênio político do avô – Tancredo Neves - e arrogância, não negociou com os caciques nordestinos. Botou tudo a perder. Todos os males porque o país vem passando e venha passar nos próximos anos credite-se na conta desses dois homens de caráter frouxo. Não esquecendo, claro, os traidores menores, como o sempre ”Gollum”(1) José Serra.

Baixa com desonra

O ocaso das atuais lideranças políticas, como sempre, premiará, a médio prazo, líderes que sustentaram a falange até o último segundo; colocará no ostracismo os que se revelaram pífios, e porá na eterna execração as biografias polêmicas. Ninguém, contudo, sobreviverá politicamente. Nem mesmo o hoje eleito presidente. De todos, porém, a História será implacável contra os três supra nominados e mais uma meia dúzia de figurões, todos da chamada direita.

Geisear radical... ou o caos.

Diante da vileza da parte enfascistada da sociedade – que não votou em Jair Messias Bolsonaro; votou na condução do PT ao tronco, com açoites, óbvio, “tudo sem processo algum, pelo simples mandado do juiz de fora” (2) – Bolsonaro não terá alternativa: intervirá no Congresso com cassações e prisões; manterá Lula preso, reprenderá Dirceu, prendendo mais alguns ex-figurões do PT para saciar a sede de sangue de “seu” eleitorado. É pouco, porque os ensandecidos são insaciáveis, e por isso, como o foi em 1968, logo, logo a classe média antipetista tornar-se-á antimilitarista; e passará a fustigar-lhe, mais violentamente do que fez a partir de 1968, porque cem por cento conectada. Bem vindo a um novo AI-5! Sofisticado, porque, com fechamento do Congresso, censura pesada, talvez cassações das redes de fofocas, e maledicências, ditas notícias, e toda a cartilha já por demais conhecida, vem aí mais o controle estrito de toda a sociedade mediante os algoritmos. Ditadura à la chinesa. O Admirável Mundo Novo.

Fecho da tragédia

Por fim, voltaremos aos tempos de governo petistas, com sinais trocados: um grupo – os militares e seus puxa sacos, interesseiros, como de praxe – um “inimigo” totalmente identificado, isolado e acuado; só que armado, e como é próprio da sua natureza, e diante da titânica responsabilidade nos ombros de “última barreira à destruição do Estado”, destruição da pátria... do Brasil, vai reagir violenta e às vezes irracionalmente.
O futuro imediato cobra, pois, do presidente Jair Messias Bolsonaro que seja uma perfeita combinação de Lula e Geisel: habilidade política a toda prova, e força firme, precisamente aplicada.
Será?
Agnus Dei, miserere nobis!
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(1) Personagem da trilogia “Senhor dos Anéis”.
(2) ALVARÁ SOBRE O MESMO. (03/03/1741) Anais da Biblioteca Nacional, vol. 28, p.200, Rio de Janeiro, 1906