segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O PREÇO DA FAMA

 

Se mais curiosos, os romancistas sergipanos já teriam produzido alguma peça de ficção abordando a fixação da pirataria sobre a Boca do Rio Real, e suas praias paradisíacas do Mangue Seco, cenário de telenovela global, do lado baiano, até a Cachoeira de Abadia; e a Praia do Saco, até a mesma cachoeira; e nos meandros formados pelo Piauitinga, até Terra Caída, o Crasto, e além.

Até agora a região foi pouco explorada, e mesmo assim com temática contemporânea, como a Tieta do Agreste, do gigante Jorge Amado.

O fato é, que, toda vez que um amigo vai para aquelas bandas - o último foi Antônio Samarone - sempre eu tiro brincadeira com ele. Alguns devem me achar delirante.

Serra do Pico (Três Picos ou do Matapoan), tríplice fronteira, no pico mais alto entre Frei Paulo, Itabaiana e Macambira. Cenário da última batalha na noite de 31 de dezembro de 1589, na Conquista de Sergipe por Cristóvão de Barros. (Foto: Juarez)

Um dos motivos da invasão do Sertão do Urubu, depois Sergipe, terminada na noite de 31 de dezembro de 1589 – amanhã, 31, fará 435 anos – foi a ousadia do cacique Baepeba, mancomunado com os caciques do litoral, de, em conluio com os piratas franceses no Rio Real, assim que o Brasil começou a ser colonizado por Portugal, ter tomado as armas dos soldados portugueses, obviamente, depois de os matar.

Dessas escaramuças, entre franceses, assessorados pelos indígenas, e portugueses, nasceria aquele que é o primeiro sergipano e itabaianense, de sangue europeu, e indígena, obviamente: Simão Dias, o mameluco, apelidado de o francês. Ferido, seu pai, um corsário (pirata do rei) teria sido trazido para dentro das serras e cuidado com esmero... um pouco maior, por uma cunhã, nascendo depois o fundador da cidade que leva seu nome.

E por que a fixação dos franceses pelo Rio Real?

Porque a fama de algo tão valioso?

Em 20 de outubro de 1501, Américo Vespúcio – o que denomina hoje o continente, AMÉRICA – chegou à Boca do então Itanhü (mais ou menos itanhi, com “i” fechado), e, como era aniversário do seu contratante, o rei D. Manuel I, o Venturoso, em sua homenagem colocou-lhe o nome de Rio Real. Não podia ser um lugar qualquer

Depois, na Europa, cartógrafos deram mais uma puxadinha, sugerindo uma baía, que foi diminuído para enseada até chegar no que é hoje. Entretanto, por quase trezentos anos deu muito trabalho à marinha portuguesa. Mesmo depois de conhecido que era apenas o alargamento pela maré, do curso do rio que, cem quilômetros acima já é seco na maior parte do ano.

Os meandros do Real era lugar ideal para o esconderijo de forças estratégicas; nem sempre bem intencionadas.

Nunca vimos estudo nenhum sobre a ocorrência de piratas ali; contudo, referências documentais na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro têm razoáveis conteúdos sobre a atividade na área. Como sobre a nau inglesa, aprisionada pelo povo da Vila de Abadia (hoje um povoado de Jandaíra-BA), em fevereiro de 1767.

Daí porque eu acredito que temos nossos Jack Sparrow, Barba Negra e Hector Barbossa, com seus Pérola Negra, Holandês Voador, etc., etc.. É só botar a imaginação para funcionar.