segunda-feira, 10 de junho de 2024

RESILIÊNCIA

 

Já que a palavra está em moda; e também se aplica ao caso, vamos denominar de resiliência, ao invés de resistência, que é algo, às vezes, confundido com as escaramuças das guerrilhas.

Nem as artimanhas do Padre Sebastião Pedroso de Gois; nem as grosserias do Coronel Sebrão, e os pendores contrários do longevo pároco Domingo de Melo Resende, conseguiram, sequer arranhar o reino de Antônio em Itabaiana. De Pádua, de Lisboa... não importa.

Na primeira metade do século XVII, entre invasões holandesas e perseguições da então nascente elite baiana, o itabaianense não arredou o pé: Santo Antônio fica! 

Ao ponto de que, quando o rei de Portugal mandou criar um município em Itabaiana, o mesmo Padre Sebastião Pedroso de Góis veio correndo juntar os pedaços do que sua arrogância aqui tinha criado. Mudou o lugar da cidade; já que uma matriz significava sede municipal. Mas, não só teve que engolir a devoção a Santo Antônio, como entronizá-lo no mais alto do altar.

E a cidade - inicialmente com o título de vila - chamou-se Santo Antônio de Itabaiana.

No paroquiato de Domingos de Melo Resende, ao fim do século XIX, Santo Antônio quase desapareceu frente a devoção a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da capital. Até a Filarmônica mudou de nome, desde então passando a se chamar Filarmônica Nossa Senhora da Conceição. Logo a seguir viria a arrogância coronelista de José Sebrão de Carvalho, interrompendo, sob um banho de sangue o próprio Trezenário. Sebrão até que durou: 44 anos de reinado, dois a mais que Chico de Miguel, e, por enquanto, só o igualando Luciano Bispo, se completar, daqui a dois anos, esse atual mandato. Mas Santo Antônio continua firme.

Festas populares, como a Festa do Mastro, vieram e se foram; períodos econômicos, como os tropeiros vendendo pano, de 1800; feirantes, carros de bois, também. Mas Santo Antônio continuará firme. Afinal, caiu em desuso o nome Santo Antônio de Itabaiana, mas ainda é a onomástica básica oficial, desde a primeira sessão da Câmara Municipal.

Estas linhas é uma resposta mais elaborada à que dei a uma amiga, ontem, no início da 5ª Caminhada do Santo Antônio fujão, preocupada com a popularidade avassaladora de Santa Dulce dos Pobres dentro das serras.

Calma, minha amiga!

Além de que, no Céu “existem muitas moradas”, Santo Antônio está na gênese serrana, desde que por aqui chegaram os cristãos-novos, chegados, principalmente pela Bahia, conforme grafou Pyrard de Laval em 1610.


Altar-mor da matriz de Santo Antônio e Almas, na primeira década década do século XX, ainda sem a imagem do padroeiro. O modismo de imitar a então nova capital, logo passaria.