Deduz-se, portanto, que neste município em questão, e nesse endereço, as equipes ou a parte dela em que estaria o sobredito agente foram desmontadas antes mesmo das últimas eleições. O dinheiro, contudo, continuou a cair nos cofres municipais.
O espetáculo
Pegando carona na onda da espetacularização da desgraça movida pela mídia grande do sul, com destaque para a paulista, a mídia local resolveu repercutir a calamidade da dengue que mais uma vez a (des)administração César Maia proporciona à Cidade Maravilhosa. Nesta terça-feira, por aqui, houve até desfile de autoridades da região para mostrar serviço.
Tragédia anunciada
Em Sergipe, e em Itabaiana em particular, com a irresponsabilidade de deixar enterrar um defunto “importante” dentro da Igreja de Santo Antonio e Almas, em 1855, morto em condições completamente diferente daquelas que até então se apresentara e chegado da feira de Laranjeiras onde se sabia havia uma doença diferente e mortal, a administração local levou o município a enfrentar o pior dos flagelos que até então havia passado por aqui: a epidemia do cólera morbus(1) que matou – supostamente, já que não há dados precisos – nove mil pessoas num espaço de menos de seis meses. Quase metade da população. Só com a intervenção do governo do Estado é que as coisas começaram a se ajeitar. Na segunda, em 1863(2), com estatísticas mais precisas se descobriu que o estrago foi bem menor: menos de um mil mortos. Em 1855, a grande atitude dos mandatários do Município foi pedir ao governo do Estado que mudasse a sede municipal para a região do Bom Jardim, o que foi negado.
A saúde continuou nesse quadro até que nos anos 40 do século XX o Governo Federal começou a impor uma política de saúde debelando inclusive a malária por aqui com maciças campanhas de inseticidas e destruição de receptáculos para mosquitos.
Mesmo de posse de dados e estudos que apontavam em contrário a onda liberalista do início dos anos 90 não hesitou em destruir uma máquina nacional de controle de endemias a duras penas montada ao longo de quase cinqüenta anos. Aliás, foi o restante dessa máquina, então representada pela SUCAM que foi utilizada no controle da primeira grande epidemia do Rio de Janeiro, o primeiro grande sinal de que o que haviam feito foi errado. Não consertaram; como se vê.
Os teóricos da liberalização extremada, esqueceram da terrível condição administrativa imperante na esmagadora maioria dos municípios brasileiros e, principalmente, que mosquito não reconhece fronteiras. Sem esquecer que nos dias atuais poucos são os municípios brasileiros – muitos conurbados - que podem criar barreiras eficientes contra qualquer epidemia.
Enquanto as autoridades discutem – e administram suas vaidades – as pessoas morrem.
(1)Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe no dia 27 de fevereiro de 1856 ao Illm. Exm. Snr. Dr. Salvador de Correia Sá Benevides pelo 1º Vice-Presidente da mesma Província, o Exm. Sr. Barão de Maroim. Typographia Provincial. 1856. P. 26.
(2) Relatório com que no dia 24 de fevereiro de 1864 o Ex. Presidente desta Provincia, Dr. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, entregou a administração da mesma Província ao 2º Vice-Presidente Comendador Antonio Dias Coelho e Melo. Sergipe. Typ. Provincial. 1864. Anexo B. p. 9.
Nota: O signatário deste artigo - funcionário do SESP/Ministério da Saúde - votou em 1986 na secção local de escolha de temas à 8ª Conferência Nacional de Saúde (veja Relatório aqui), realizada em Brasília em outubro daquele ano, e foi favorável à municipalização. Na época se falava em municipalizar o atendimento - que era o caso do SESP - e não o combate de endemias, então feito pela SUCAM. Foi com base no Relatório Final que a Constituinte de 1988 criou o as bases do SUS.
(*) Que o saudoso Vinicius de Moraes queira perdoar tal uso de seu maravilhoso verso.
Post Scriptum:
Como Deus não me proveu da devida crença na bondade a qualquer prova de políticos que conquistam o poder fica aqui a pergunta: o que estaria de fato ocorrendo para que tanta gente se expusesse fingindo estar preocupado com a dengue?
Seria a possibilidade de entrar mais dinheiro no caixa, além da montanha que já vem todos os meses?