domingo, 7 de setembro de 2025

CIDADE ESTRADEIRA.

 

Cidade de Itabaiana. Nascida num entroncamento.

Um fato curioso da cidade de Itabaiana, que completará 350 anos de fundada, junto com sua paróquia-mãe, em 30 de outubro próximo, é a sua origem, e depois permanência com um pé na estrada.

Na década de 1620, curraleiros, ou seja, vaqueiros arrendatários de terras para criar gado, construíram uma das primeiras capelas em “pedra e cal”, isso é, em alvenaria, de Sergipe. Mas distante da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda. Também por esse motivo não pegou e hoje são as ruínas da Igreja Velha. Dali, 400 anos nos contempla.

Mas em 30 de outubro de 1675, há 350 anos, atendendo ao rei de Portugal, o Padre Sebastião Pedroso de Gois, rapidamente, comprou o sítio que pertencia aos herdeiros de Ayres da Rocha Peixoto; levantou uma igreja de taipa, e nela instalou a paróquia de Santo Antônio e Almas, da Itabaiana, já que a região, assim era conhecida pelos indígenas.

E onde?

No local do provável cruzamento das duas estradas, hoje tem assentada placa de identificação de melhorias pela Prefeitura.
Ao longo da grande Estrada das Entradas, hoje das Flechas, Caraíbas, etc., muitos escravos passaram, vindos do sertões de Jeremoabo; mas também do povoado Flechas, onde em 1874, o negro Quintino de Lacerda foi vendido para o hoje estado de São Paulo. E lá, foi liberto, ficou rico e virou prefeito de Santos.

Mais uma simples passagem da Estradas das Entradas, o hoje povoado Carrilho, tem leve lembrança na denominação, ao primeiro grande entradista, Fernão Carrilho; e lidera o domínio de Itabaiana no fornecimento de castanhas de caju torradas... nacionalmente.
Onde, desde 1590 funcionava a Estrada Salvador-Olinda, ou estrada das boiadas; no cruzamento com a então recentemente aberta, a Estrada das Entradas aos Sertões do Jeremoabo, pelo entradista Fernão Carrilho, em 1665.

A povoação não se desenvolveu. Mesmo depois de emancipada; também em outubro, só que vinte e dois anos depois, em 1697.

As estradas logo perderam importância; e, a de Salvador-Olinda, que foi inicialmente a mais importante, em 1800, segundo D. Marcos Antônio de Souza, funcionava precariamente por dentro de terrenos particulares. E a dos entradistas aos sertões, nunca chegou a um centésimo da importância que tem a sua versão mais recente, a BR-235, tecnicamente, a grande rota de Itabaiana.

Mas a cidade de Itabaiana sempre cresceu em busca de suas estradas.

Nos séculos XVII e XVIII, toda a importante movimentação de entrada e saída da pequenina cidade de Itabaiana era, ou para Laranjeiras, Maruim, Riachuelo, etc., pelo Beco Novo (Rua Coronel Sebrão), a que aparece acima, por trás da árvore e ao lado da matriz;
ou para São Cristóvão, depois para Itaporanga, pela Rua da Tenda, aqui, no foto acima, o atual trecho, em frente ao Nunes Peixoto, da depois Praça João Pessoa. Ou pelo Beco dos Alfaiates (Início da Rua Capitão José Ferreira).
A cidade fundada no cruzamento das suas duas principais estradas coloniais, assim se manteve até a década de 1950, quando veio a BR-235, em 1952. Rapidamente, ela correu pra lá, com a Avenida Otoniel Dórea; as ruas Antônio Dultra e Boanerges Pinheiro, Campo do Brito, Santa Cruz, José Ferreira Araújo, Monsenhor Eraldo Barbosa e 13 de Junho.
Avenida Otoniel Dórea (em amarelo) em pretensa ligação com a Praça Fausto Cardoso, primeiro espaço de alto padrão em moradias, ligava a BR-235 (e ainda liga) no seu primeiro trajeto, hoje avenidas Manoel Francisco Teles e Carlos Reis. Expansão organizada da cidade, em 1952.
Na primeira década deste século, contudo, o padrão mudou, e a cidade se expandiu para o norte e para sudeste, onde aparentemente não passa nenhuma estrada principal. 
Não? Não tem estrada principal?
Entrada atual da Estrada das Entradas aos Sertões (Estrada das Flechas), ao atravessar o riacho do Fuzil, e desaparecer pelo traçado urbano moderno do Santa Mônica, só reaparecendo integralmente no primeiro trecho da Rua Capitão José Ferreira, até a Pração João Pessoa.

A expansão a sudeste – complexo Chiara – busca a rota original da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda, hoje identificável na estrada do Boimé, a caminho do povoado Serra.
E a expansão norte – complexo Santa Mônica – segue a trilha da velha Estrada dos Entradistas, popular e recentemente conhecida por estrada das Flechas. E até um condomínio, recentemente surgido ao fim do Bairro Bananeira, no antigamente conhecido como Bom Jardim, à margem direita do Açude da Macela (plantinha), está margeando o trajeto da mesma Salvador – Olinda, desde que a cidade foi fundada, há 350 anos.
Sempre com o pé na estrada.

Estrada do povoado Serra, aqui na foto, cortada em fente, pelo primeiro trajeto da Estrada Colonial do Sertão (ou estradas das boiadas, e também dos jesuítas), próximo ao povoado Boimé, ou popularmente Boimel, 2,6 km do limite urbano, depois do totem "EU AMO ITABAIANA".