Ninguém se faz por si só. É preciso ter força de vontade, disposição para trabalhar e ter senso de oportunidade. Porém, tudo isso de nada vale sem os meios; sem a providencial ajuda.
O eu por mim mesmo é uma grande tolice. Às vezes até falta de caráter.
A tão esquecida Fazenda Grande, e seu Posto Agropecuário, foi um dos motores que nos trouxe à Itabaiana vencedora de hoje, progressista, opulenta, autoconfiante, às vezes até demais.
Gente inteligente e trabalhadora, há 400 anos que é cheio dela por aqui. Os meios, porém, de transformar tudo isso em riqueza, só de um século pra cá. O Posto Agropecuário da Fazenda Grande é parte disso.
A seguir, um texto de 1969, epitáfio daquela que tanto fez, mas que só foi subnotada como lugar de recreio; de passeio. E que por isso, por popular desimportância, desapareceu por completo.
O Posto Agrícola Faliu
José Silveira Filho
(O Serrano, nº 37, 23/04/1969, Ponto de Vista, p.2)
Rumores e boatos correm a cidade dando conta da existência de gestões entre o INDA e Fomento Agrícola, para transferência do Posto Agropecuário de Itabaiana (PAPI) para aquele órgão do Ministério da Agricultura. Se tal gestão chegar a bom termo), se o INDA levar à frente o plano de entregar o PAPI ao Instituto de Pesquisas Agronômicas do Leste (IPEAL), deverá haver festa no meio rural de Itabaiana. Mesmo sem a possibilidade da entrega ao IPEAL, a simples mudança de estrutura do Posto já seria para nós motivo de satisfação.
A maioria das administrações do Posto de Itabaiana tem sido tão negativa, tão desastrosa e em alguns casos vergonhosa, que mesmo a possibilidade de o INDA vir a administrá-lo nos enche de satisfação, pois devemos reconhecer que o órgão do INDA, aqui sediado, nada tem feito, até agora, que mereça nossos elogios.
O PAP de Itabaiana foi fundado pela antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas e, durante todo o tempo em que. esteve subordinado àquela repartição, funcionava tão bem que chamava a atenção de todos no Estado. Chegou a se transformar em ponto de turismo, pois todos que nos visitavam tinham um passeio obrigatório programado para o Posto.
Daqui saíram as mudas de laranja da "Bahia", que na época foram distribuídas por todo Estado e que não soubemos aproveitar para melhoria de nossa economia agrícola.
As essências florestais feiram distribuídas aos milhões por todo Estado, destacando-se o eucalipto, em suas várias espécies, num louváveI esforço de reflorestamento e de cura das chagas deixadas pela seca de 32.
Bem aparelhada estação de monta, com animais de raça, funcionava no PAPI, sem domingos ou feriados. Animais preciosos davam palpitante vida a suas baías, sendo de se destacar o garanhão árabe Poty, quase indomável, como se tivesse consciência de haver nascido apenas para disseminar a raça.
Por razões, que não me é possível determinar, o Posto passou para a administração do Estado e, posteriormente, para o Fomento. Daí para cá entrou em fase regressiva. Das muitas administrações que teve, bem poucas podem ser citadas como boas, sendo que das últimas, podemos destacar a de Wilson Lima, quando o Posto foi reaparelhado e voltou a funcionar.
Atualmente, apesar de contar com 12 funcionários e 1 agrônoma, apresenta um aspecto lamentável de coisa abandonada. Seu aviário há muito tempo não vê uma galinha e está em péssimo estado; a fábrica de óleo, uma das mais modernas do Estado, não funciona por falta de verba; o posto em si nada tem que se recomende; há muito tempo lá não se planta um pé de coentro que possa justificar os dinheiros ali gastos.
Se o PAP de Itabaiana fosse um estabelecimento particular, com o que gasta e com o que produz, de há muito tempo teria sua falência decretada! Esta é a triste verdade. Bem analisados os fatos, o Posto Agropecuário de Itabaiana FALIU.

