domingo, 16 de julho de 2023

QUANDO ITABAIANA FOI CENTRO DA COBIÇA MUNDIAL


Foto das colinas do Gandu, local da visita da maior autoridade colonial brasileira em 1619, sobreposta por extrato da carta do Governador ao Rei, dois meses após. Foto: Juarez Góis.

“...e me parti no dia 15 de julho com grande invernada e infinitas descomodidades, e me vendo no Rio Real com Belchior Dias passei dali a Sergipe, dando com seu aviso na conformidade de que tratáramos, fui à serra de Itabaiana, dez léguas aos sertões da cidade, chegamos ali levou o dia seguinte a meia ladeira de um oiteiro...” 

(Carta de D. Luiz de Souza a S. M. D. Felipe III, em 15 de setembro de 1619. NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I, p. 67.).

Hoje faz 404 anos que um incidente histórico nas proximidades do atual Parque dos Falcões levou aquela área pela primeira vez a chamar a atenção das potências europeias da época, a maioria delas ainda hoje em destaque, em que pese o peso de novas nações a surgirem desde então.
No dia 16 de julho de 1619 chegou a essas colinas de pedras brancas, no vertente sudoeste da serra de Itabaiana, no povoado conhecido como Gandu – mata rala, em tupi – a maior autoridade colonial do Brasil de então, o Governador-Geral, D. Luís de Souza, Segundo Conde do Prado, e soldadesca, em companhia de Melchior Dias Moreia. Veio ele com a promessa de Melchior de entregar-lhe e ao governo espanhol, então comandando o Brasil, uma mina de prata que estaria aqui.
Mas a prata não estava aqui. E Melchior morreu três anos depois sem dizer o local.

O relevo especial do Domo de Itabaiana chamou a atenção dos primeiros colonizadores que nele viu a possibilidade de existência de metais preciosos; e ao mesmo tempo um curral natural, levando o lugar a ser o início da pecuária extensiva brasileira. Os gigantescos rebanhos do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, do Mato Grosso ou Goiás... todos eles têm seu DNA a partir daqui. Começou aqui. Foto (extrato) de Satélite. Relevo. INPE, 2003.

O local, todavia, passou a ser cobiçado por todo o tipo de aventureiro, até mesmo depois da dispendiosa e tecnicamente superior expedição de D. Rodrigo de Castelo Branco, entre 1674 e 1679 ter palmilhado cada metro de chão sem nada encontrar.
Com o tempo, e principalmente com o encontro da torrente de ouro em Minas Gerais, finalmente a prata de Itabaiana foi esquecida.

Em 1612, “os campos da Tabanha de infinitos gados” já eram o fornecedor maior do império português, abastecendo Bahia e Pernambuco, além das milhares de caravelas na extensa rede mundial do comércio português. Mapa de Albernaz II, do “Livro que dá razão ao Brasil”, do sargento-mor Diogo Campos Moreno, 1612.

Todavia a suposta prata – além da geografia especial, com sua natural cerca de serras – foi o fator primordial para o estabelecimento de Itabaiana como o primeiro grande curral de gado no Brasil. Quiçá nas Américas.
Parafraseando Tim Maia: “Anda meio esquecido, mas é dia da festa”, não de Santos Reis; mas da presumida prata de Itabaiana.

Aproximadamente aqui, hoje com presença da imagem de Santa Dulce, junto ao atual Parque dos Falcões, no povoado Gandu, chegou o Governador-Geral, D. Luís de Souza, no dia 16 de julho de 1619, depois de um pernoite em São Cristóvão e extenuante viagem acompanhando Melchior Dias Moreia.
(Foto: Anselmo Rocha, presente, junto a estátua de Santa Dulce.
Anselmo é presidente da Associação Sergipana de Peregrinos e recentemente inaugurou o Caminho de Santa Dulce, de Itabaiana a Salvador, juntamente com um grupo original, do qual participou o engenheiro itabaianense, Vicente Bispo)