quinta-feira, 4 de julho de 2024

DIA DE SANTA IZABEL: E TERMINA O CICLO JUNINO TRADICIONAL.

Curiosamente, passei mais de quatro décadas sem ver o ciclo completo de fogueiras comemorativas que alcancei, ainda menino, na zona rural.

O ciclo de fogueiras começava com São José, no dia 19 de março; tendo sequência nos 12 e 13 de junho, alusivas a Santo Antônio; o clímax do 23 e 24; a repetição pelo são Pedro e São Paulo, respectivamente em 28 e 29; e, finalmente, o dia 4 de julho, Dia de Santa Isabel de Portugal, já bem menos febril, com minoria lembrando da data.

Há pouco uma vizinha, de família tradicional, como tem feito todos os anos desde que próxima de mim chegou, acendeu a última do ciclo, ao que ela é bastante fiel. Isso lembrou-me que, especialmente quando residi no pé da serra grande, do quanto ficava fascinado com a enorme quantidade de fogueiras avistadas, desde o telheiro de nossa casa, nas datas referidas, logo depois do anoitecer, num tempo em que na zona rural do município de Itabaiana, só havia energia elétrica no povoado Ribeira.

Fogueiras são recursos de aquecimento, iluminação e segurança humana desde que o ser humano desenvolveu a técnica de lidar com o fogo.

Fogueiras comemorativas também se perdem no tempo suas concepções, sendo comum a todas as culturas.

Conta Sebrão o Sobrinho que na reunião dos Boimés, à beira do riacho da Canabrava, em que amaldiçoaram os mathiapoanes, houve enormes fogueiras para que Tupã tivesse maior percepção do evento. Cordatos, os boimés foram expulsos e reduzidos; bravos, os mathiapoanes lutaram até o último homem, e suas filhas espalharam genes por toda a nova geração dos invasores portugueses.

A lenda do índios boimés: a fogueira presente.

Porém, voltando às fogueiras do ciclo junino, organizada e cristãmente, elas entraram na cultura brasileira pelo Nordeste, e, segundo Frei Vicente do Salvador, em publicação de 1627, foi um ardil tomado pelos padres, especialmente da Companhia de Jesus – os jesuítas – para atrair os relapsos indígenas aos cultos, que tiveram de serem adaptados para algo menos triste, pesado, de expiação de culpas, para uma coisinha mais alegre. Estavam aí criadas as bases das festas juninas. Que a cultura lusitana fez uma gracinha com os seus santos, iniciando com Santo Antônio e terminando com Santa Izabel. Não a mãe de São João Batista; mas a de Portugal, das primeiras rainhas do recém criado reino português.

Tenho o privilégio de saborear essa tradição quatrocentona, portanto, cujo ciclo termina hoje, para esse ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e vinte e quatro.