Eu vivia entalado. O Club Sportivo Sergipe, um timaço, ainda contava com a aristocracia sergipana, que não só financiava, como apoiava, inclusive com chicanas, pela imprensa, majoritariamente vermelhinha, e pela própria Federação Sergipana de Futebol, onde essa manobrava de todos os modos para o obrigatório sucesso do clube. E meu Tricolor – Associação Olímpica de Itabaiana - não saia da retaguarda. Um empatezinho aqui, outro ali, chorado, e tome-lhe vitória do Sergipe.
Garoto de 10 anos, saindo do fedor do mijo, ainda não tinha interesse mais afirmado pelo sexo oposto em si; mas tinha vários amigos, e várias amiguinhas, naturalmente. Num grupelho destes, quatro irmãs, ambas torcedoras do Sergipe, que me enfernizavam a vida quando o meu Itabaiana perdia para alguém, especialmente... para o Sergipe. Até aquele domingo, que perdi as referências de data precisa, mas o sabor da vitória, jamais me saiu da boca.
Logo no início da partida, salvo engano, Bené, abriu o marcador para o Tremendão da Serra. Logo depois, o Tanque da Serra, Horácio, numa cabeçada indefensável ampliou. E aí vieram, no mesmo script, o terceiro e o quarto.
Nunca mais me irritaram; mangaram de mim.
Recebo com tristeza o aviso de um amigo: Horácio morreu.
Toda vida é finita. Verdade intrínseca e insofismável; mas a gente sempre cria perpetuações daqueles que nos são caros: parentes, amigos, mestres, protetores, heróis, enfim. E Horácio José de Oliveira, o eterno Tanque da Serra está inscrito na lista daqueles que tornaram Itabaiana grande, num crítico momento, o da orfandade pelos seus dois maiores líderes, apenas jogando uma bola, com alma e paixão. Nos deu alento. Esperança. Sentimento de vitória.
Vai com Deus, “amigão”.


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