terça-feira, 16 de setembro de 2025

RODA DO TEMPO

 

Em cina, zona de expansão leste, com complexo Chiara, nos bairros Anizio Amancio e Marianga;
Embaixo, o imenso Santa Mônica, ao norte.

Ontem, 15 de setembro, encontrei um estupefato Antônio Samarone, dando conta que o centro da capital sergipana está morrendo. 

De fato, já não entrou em completa decadência graças aos teimosos aracajuanos, pobres ou classe média baixa, em geral do norte da cidade, da área original dela, aldeia do cacique João Mulato, feito capitão em 1693. E especialmente da multidão de interioranos, em quantidade suficiente para deixar qualquer Dr. Ruy Álvares d’Azevedo Macedo, presidente provincial em 1872, atônito com “o descontrole”. São eles que vivificam o velho Centro, onde até seu bairro chique de até 30 anos atrás converteu-se, cada vez mais num amontoado de casas fechadas. As de sorte, converteram-se em estabelecimentos comerciais, e especialmente de serviços, que vão de consultórios a estacionamentos privados.

Narrou Samarone, que, uma rápida visita à Rua João Pessoa, vizinho à Igreja do São Salvador, o surpreendeu com a falta de dinamismo, próprio de veias principais de grandes centros.

Corte rápido, em nossa Itabaiana não tem sido diferente. Desde a nova e vigorosa onda de expansão, que, há duas décadas, aproveitando os fartos capitais públicos, que destravou os de origem privada, de meados da primeira década deste século em curso, que não para de surgir novos condomínios, cada um mais luxuoso que o outro, transformando a cidade de outrora permanente planura social, numa típica cidade de “prime” e “sub-prime”, ou seja, dentro ou fora do muro.

Isso apressou a morte do Centro como lugar de se habitar. Agora – e por enquanto - é só comércio. Talvez resida aí grande parte do temor de resolver o avolumado gargalo em que se transformou o atacadão de frutas, verduras e legumes, que converteu o centro da cidade em CEASA: se tirar, pode afetar o comércio estabelecido.

No Largo Santo Antônio, a antepenúltima residência foi do saudoso Adelardo José de Oliveira, a penúltima, de familiares de Rodrigo da farmácia, e a última fechou definitivamente como a tradicional e mista, loja na frente e residência ao fundo, da Sra. Anete Siqueira, com o seu falecimento.

No Largo José do Prado Franco, as últimas residências desapareceram em fins da década de 1980, no trecho, sequência da Rua São Paulo.

Na Rua da Vitória, ao menos entre o Largo Santo Antônio e o Rua do Cisco, há mais de quarenta anos não reside ninguém. Na do Cisco, resiste de pé o primeiro sobrado moderno, construído pelo prefeito interino, Edson Leal; mais três ou quatro residências, ao longo de toda a Rua, do lado da sombra, ou seja, de frente para o nascente.

Nos primeiro e segundo trechos da Rua das Flores, somente um estabelecimento híbrido: comércio no térreo; residência no pavimento superior. No terceiro, dois, talvez três residências. Mas é no último trecho, oficial e atualmente com o nome de Marechal Floriano Peixoto, que, do que não foi convertido em estabelecimento comercial ou de serviços, muitos estão vazios, replicando o Bairro São José, na capital.

E nas travessas não são diferentes, seja no Beco dos Lírios, no Largo José Joaquim da Fonseca, ou nas curtas a sair da Praça da Matriz, ou da Rua das Flores à Praça de Santa Cruz.

Até o núcleo original da Rua da Macambira, tem, paulatinamente, perdido seu conteúdo residencial, natural de uma Itabaiana que preparou a que hoje desfrutamos.

A Praça da Matriz, está cada vez mais vazia de habitantes. E sem comércio e poucos serviços.

A Praça de Santa Cruz, nos seus lados mais extensos, tem quatro famílias, com poucas pessoas, de um lado, e quatro de outra. No lado sul, desde que deixou de ser Avenida Pinheiro Machado que lá está a Escola Guilhermino Bezerra; e do lado norte desde a década de 1950 que é comércio ou serviços.

Na Rua São Paulo somente três residências. O restante, tudo comércio.

Mas, o que mais assusta é o número de fugas para os condomínios. Imóveis, dentro do Centro histórico, em geral, com valores inferiores, mesmo com locação propícia ao comércio.

Miraculosamente, apenas a Rua do Sol, núcleo original da cidade; e a Rua do Futuro continuam preservadas como residenciais, praticamente toda ocupada. Sem abandonos.

Como diz o poeta: “Nada do já foi será do mesmo jeito que já foi um dia.”