A política é a arte de viver em comunhão; resolvendo as disputas de modo civilizado; onde não haja perdedores ou vencedores totais. Contudo, por isso mesmo é a atividade humana mais susceptível aos vícios decorrente da eterna concorrência universal entre seres, animados e inanimados.
1949, avizinhando-se as primeiras eleições gerais, no município, que ocorreria no ano de 1950, e com os novos ventos do Nacional-Desenvolvimentismo soprando a todo o vapor, finalmente a minha região, na área rural do município de Itabaiana, antes apenas mera passagem da velhíssima estrada real para a antiga capital, São Cristóvão, começa a timidamente receber mimos do governo federal, através do estadual em comunhão com o municipal.
Para o povoado em que nasci, a Mangabeira, sul do município, veio a estrada de rodagem, meia-boca, diga-se; e, nem bem essa terminou de ser feita, a alvissara; novidade: um grupo escolar.
Naquele ano, em 30 de novembro de 1949, foi inaugurada a Escola Normal Rural Murilo Braga, marco na vida socioeconômica da Grande Itabaiana, ou seja, seu município original. E a função primordial do depois Colégio Estadual Murilo Braga era a de formação de alfabetizadores – os normalistas – objetivando a redução ou extinção do analfabetismo de 83 por cento da população(*).
Meu saudoso pai, Alexandre Frutuoso Bispo, pôs o pé na estrada e foi ao chefe político, Manoel Francisco Teles, requerer que um grupo escolar fosse construído lá. Há época, dono do sítio vizinho, doou o terreno de pouco mais de meia tarefa ou 0,26 hectares para que o templo do saber pudesse ser construído.
Manoel Teles, prometeu, mas... demorou.
Seu Alexandre era cordato. Detestava brigas, teimosias, desarmonias, em geral. Mas também não era de fugir facilmente. Iniciados os grupos escolares do Capunga, hoje em Moita Bonita; povoados Serra, Matapoan... resolveu tirar a limpo. Pegou Manoel Teles atrás de sua escrivaninha e partiu para a seriedade: “Seu Manoel, o grupo do Mangabeira, sai, ou não sai? É verdade que Jason (Correia, então prefeito) está levando-o para o sítio do cunhado na Serra Comprida?”
Na Serra Comprida, vizinho à Mangabeira; e hoje um povoado tão habitado quanto, na época só moravam quatro famílias, e tinha como vizinho do outro lado, o hoje enorme Junco, com apenas uma residência. A Mangabeira, já possuía mais de vinte famílias.
Manoel Teles pigarreou, enfim, diante de um assertivo e desesperado líder de interior, deixou a habitual pusilanimidade de lado a assentiu: Jason Correia o tinha convencido a construir o grupo na Serra Comprida; e não na Mangabeira.
Meu pai deu meia volta, arrasado, e, acabou cruzando na porta do velho armazém, hoje vizinho à Galeria Jandrade, pelo Largo Santo Antônio, com o jovem, educado, mas enérgico Dr. Airton Teles, que, ao lhe ver o desânimo quis logo saber o que estava acontecendo.
Isso ocorreu num sábado. Ainda não havia feira das quartas-feiras. Bem o restante da história é que Dr. Airton foi pra cima do pai, que, na prensa dada pelo filho deu o comando para Seu Alexandre: “Bem, marque lá o terreno que segunda-feira, homens e máquinas chegam para começar a construção”.
Há 75 anos.
E política continua do mesmo jeito: é o cara votando na minha ideia e liberando seu imenso canil para detoná-la.
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| Manoel Francisco Teles; Dr, Airton Mendonça Teles; Alexandre Frutuoso Bispo |
(*) Em 1950 a região possuía 91.362 habitantes- 35.802 em Itabaiana, com apenas 14.734 que sabiam ler e escrever – 7.083 em Itabaiana, ou 19,78%.

