segunda-feira, 10 de setembro de 2007

E porque só um doutor?

Em post publicado ontem, nove de setembro, em seu blog "nabocadopovo.com.br", o colega radialista e amigo Edivanildo Santana afirma que a prefeita de Itabaiana, Maria Mendonça está com dificuldades para preencher o cargo de Secretário de Saúde do município, ora em processo vacância pela sua titular, e que o médico convidado para o cargo não teria aceito a tarefa e sequer teria sugerido alguém.


Questões de competência.

E porque tem que ser um médico? Porque não alguém da enfermagem, da odontologia, ou outro qualquer da área médica... um advogado, um contador... porque não, apenas um administrador? Alguém com experiência comprovada?
Obviamente que se não pode cogitar de colocar numa diretoria técnica como, por exemplo, a Vigilância Epidemiológica ou a Coordenação do PSF, alguém sem capacitação técnica na área, especialmente, e se possível em sanitarismo, neste caso, algo muito raro de encontrar depois que o governo federal desmontou o pouco que se tinha avançado, ainda na década de 90. E como esperado, os governos estaduais e muito menos os municipais não investiram absolutamente nada nessa área. Quanto ao cargo de secretário, porém, este é de natureza política tal qual o cargo de prefeito. Ora, se for possível juntar os dois, sem prejuízo da administração, melhor. Mas o que impera mesmo é a necessidade de um administrador, qualidade muito mais rara de encontrar do que um bom médico ou outro qualquer profissional técnico de saúde. Um administrador que faça política de saúde; e não a politicagem com a saúde. Afinal, dá pra ganhar votos cumprindo com as determinações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde. É só usar a inteligência e não apenas a esperteza. Plantar e esperar a colheita e não apenas querer tirar o grão debaixo da terra antes mesmo que germine.


O público e o privado

A atividade administrativa da saúde pública, que para muitos simplistas pode ser confundida apenas com hospitais e postos de saúde, é algo que requer preparo específico, especialmente à medida que as ações vão tornando-se mais técnicas; ou experiência nos casos em que não haja necessidade implícita de domínio técnico. Um curso universitário ou mesmo a experiência hospitalar ou clínica não são, por si sós, requisitos para demonstrar a preparação de um profissional para ser bem sucedido na administração técnica da saúde. É preciso, em primeiro lugar, gostar de ser funcionário público aceitando os tradicionais xingamentos nem sempre justos do povo e de pseudos seus representantes. Também é necessário se acostumar com a proibição de ter um bom salário enquanto vê passar ao lado, embalado, alguém com reconhecida falta de vontade de bem servir, mas que “deu sorte”, arranjou um pistolão, caiu nas graças do chefe... essa herança ibérica maldita que o Marquês de Pombal tentou acabar em 1760-70, perdeu o cargo e todos os demais que lhe seguiram, inclusive já no Brasil, pagaram o pato pelo mesmo ato.
Não é fácil convencer a um médico que ganha seis ou até doze mil reais por mês a abandonar sua clientela por um salário que, com certeza não deve chegar aos oito mil (se muito aos quatro) e que ainda ficará sujeito aos humores da política partidária além de ter que dar o máximo de sua própria capacidade. Um detalhe é que depois da LFR (Lei de Responsabilidade Fiscal) a maior parte dos ilícitos, culposos ou dolosos, deixou de cessar seus efeitos após a saída do cargo e os secretários de saúde são tão responsáveis quanto os prefeitos. Em alguns casos até mais. E na administração pública há sempre alguém forçando a barra. Alguém da turma do “comigo não acontece”. Seguidores da filosofia de Caju e Castanha: “Quem é que vive mais, o ladrão besta ou o sabido; o besta morre logo e o sabido é garantido”.