quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O PT de Itabaiana

“Porque damos Sergipe aos holandeses. Nem é grande coisa nem nunca o foi.”

Padre Antonio Vieira durante as negociações portuguesas com os holandeses onde Portugal, mesmo que os brasileiros já tivessem expulsados os holandeses continuava a reconhecer-lhes a autoridade sobre o nordeste acima do rio São Francisco.



Não é o caso, especificamente; porém, também não o deixa de ser. Observando os números das eleições desde 1982 nos vem a pergunta: O que é o PT de Itabaiana?
O PT é o único partido brasileiro que se pode chamar como tal haja vista o seu caráter por natureza democrático. Essa característica advém, não de atitudes angelicais como possam imaginar os tolos; mas das escaramuças internas entre pessoas em geral, de mesmo nível econômico, o que leva a compactuarem em função de idéias e não de poderio econômico, como ocorre com quase todas as demais agremiações partidárias do país, sendo, portanto obrigadas pela conjuntura interna a “se afinarem”; a praticar o jogo democrático pleno. Mesmo os mais bem aquinhoados costumam serem chamados à responsabilidade, ou seja, são logo alertados para não sobrepor-se aos demais. Onde isso deixou de ser observado o partido não cresceu. Ou nem vingou.
Apesar do seu quarto de século de existência, o PT ainda é um partido novo. O PT do presidente Lula, é visto como diferente do PT real pela maioria do eleitorado brasileiro, afeito, por falta de experiência democrática, aos ‘resolvedores”, aos “salvadores da pátria” da ocasião, e que isoladamente ou em grupos – às vezes bando, mesmo – não resolvem coisíssima nenhuma. Sobre essa clássica falta de experiência democrática basta ver que somente viemos ter eleições de fato democráticas no pós-1946 e, mesmo assim, em parte substancial esse instituto foi tungado em 1964, somente retornando a duras penas e com direito a concentração de opinião por uma mídia extremamente oligárquica depois de 1989. Ou seja, de fato temos apenas trinta e oito anos de democracia em nossos quinhentos anos de história.
Pesa ainda sobre o sistema eleitoral brasileiro e consequentemente sobre o PT e qualquer outro partido sem viés mercadista o fato de que o eleitorado reflete a cultura predatória de um Estado que é, não uma instituição plural, de grupo; mas de um homem, no máximo uma família. O Estado no seu nascedouro, onde de fato é um bando de assaltantes que oferece proteção ao ameaçado para não o assaltar. A idéia monárquico-absolutista permaneceu fortemente entranhada na cultura política brasileira e isso torna o eleitor, quase sempre, um saqueador momentâneo daquele a quem julga que lhe quer saquear. Ou seja, “já que ele vai ficar numa boa às minhas custas; que pague primeiro”. Eis a origem do voto comprado. Seja de forma grosseira, direta, através de dinheiro; seja através de favores, vantagens como empregos, por exemplo, ou propinas.
Mas, e o PT de Itabaiana? Pela sua característica democrática, o PT dificilmente vingará facilmente em sítios eleitorais tradicionais onde o contrato social é antigo e sensível a qualquer mudança em seu status quo. Desde Batista Itajaí, cuja ascensão coincide com o golpe da República em 1889, somente durante o Estado Novo Itabaiana ficou sem “dono”. Antes disso e depois disso os “donos” se sucederam de uma forma tão automática que, por apenas um aspecto não caracteriza o exercício do poder em Itabaiana como o coronelismo clássico: a falta de sucessão familiar, apesar de no momento termos uma prefeita que é herdeira direta da liderança de seu pai. Contudo, a presença física do mesmo e a também divisão do poder com seu irmão ex-deputado ainda não configura uma dinastia como é comum no coronelismo clássico. Em todos os demais casos de sucessão no poder em Itabaiana imperou a sucessão de grupos, porém, com elementos distintos à sucessão familiar.
O PT não tem espaço nessa política. Tudo aqui vem sendo arrumado desde que foi empossado o primeiro alcaide lá pelos idos de 1698 e, mesmo com quase nenhuma freqüência, a Câmara Municipal começou a legislar ou pelo menos fazer de contas naquele mesmo ano. A política em municípios como Itabaiana é decidida pelos conchavos que passam de geração a geração e, mesmo as aparentes rupturas, são na verdade choques de reacomodação. Parte dos que lá estão hoje, amanhã estará aqui. O espaço para um grupo novo, desligado dessa mecânica social é limitadíssimo. Isso explica a baixa densidade eleitoral do PT e sua quase permanente votação municipal. Em Itabaiana, enquanto a cidade permanecer com a atual configuração, ou seja, sua atual característica populacional, não existe espaço para a decantada “terceira força”. A menos que ele se encaminhe para ser a primeira rapidamente e, mesmo assim, somente em momentos raros, logo, especiais. Observamos isso em 1926, e 1970 e em 1992. Em todos os casos, porém, ao fim do processo eleitoral, as forças já estavam a se aglutinar e mantendo a tradição polarizada. Em 1970 e 1992, contudo, o poder retornou à mão do grupo mais poderoso de então rapidamente.
No momento vê-se um debate, senão estéril, quiçá não interesseiro, sobre candidaturas de “terceira via”. Estéril porque o chamado debate democrático por aqui tem que ser muito cuidadoso já que pode ser facilmente confundido com indecisão. Ninguém vota em indeciso. Portanto, será um discurso para surdos conceituais. Tomara que não interesseiro, e, nesse caso, é salutar que as lideranças – todas micro – ajustem-se para não passar essa idéia.
Não interessa aos dois maiores grupos negociar com nenhum pixote nesse momento. A política é vista pela maioria dos seus operadores como um jogo de cartas e, nesse caso, só se pede uma carta a mais quando vem a necessidade.
Tanto Maria Mendonça quanto Luciano Bispo independem do PT local e até de outras lideranças mais robustas ou com maior poder de mobilização para se aproximar ou reaproximar de quem quer que esteja no governo do Estado. Ao poder central é importante dividir, logo, existem canais abertos tanto para Prefeita que já o tem quanto para o ex-Prefeito se assim o quiser.
Se o PT itabaianense, neste caso, especificamente, quiser alçar vôo na política itabaianense vai ter que convencer aos do status quo que tem chances de substituir um dos dois: ou a família Teles de Mendonça ou o grupamento que lhe faz oposição, ora liderado maciçamente por Luciano Bispo. Caso contrário verá sempre seus resultados serem minguados nas urnas, sem chance sequer para apetitosas negociações.