quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O PT estrangeiro.

Fechando essa série, ao analisarmos os números do PT percebe-se que o grande problema local é de liderança ou de confiabilidade nela, entretanto essa mesma característica acaba por contaminar as votações de nível estadual.
O arranque do jovem advogado Olivier Chagas em 2000 poderia ter preenchido essa lacuna. O momento era extremamente propício. Havia um cansaço com a administração municipal de então e um clima de “Lula vem aí” em todo o país. Por outro lado a oposição de então, hoje no governo municipal, ainda tinha marcas do passado político impressas na maior parte da comunidade que a rejeitava como novidade. Apenas os mais jovens, que não vivenciaram a política dos anos 70 e os partidários fiéis da família Teles de Mendonça lhe viam como a opção ideal. A parada seria dura, especialmente porque qualquer político sergipano com juízo na cabeça busca a todo custo se livrar de encrenca em Itabaiana e, se impossível de fazê-lo, deve erguer um muro de cem metros de altura no Vaza-Barris para que a mesma não chegue ao Lagarto. A história sergipana mostra que quem negligenciou isso se deu mal. Simão Dias e seus herdeiros – da Itabaiana ou do Lagarto, além do Caiçá – não esquecem 1.656(*). Logo, era certa uma forte intervenção do governo estadual como de fato houve.
O vereador João Cândido, por sua vez, se perdeu ao defender com justiça, porém de forma inábil, seus pontos de vista na Câmara. Serviu então apenas de gancho para a então oposição ao também então prefeito Luciano Bispo. Pior: passou a imagem de traidor já que traidores são todos aqueles que mudaram de posição ou pareceram mudar e perderam. Tivesse o Brasil nordestino permanecido holandês Calabar seria o herói nacional, “covardemente estrangulado pelos malditos portugueses.” Resultado da cruzada cândida: trabalho brilhante que não ajudou em absolutamente nada. Pelo contrário. O vereador esqueceu algo vital em política: a estratégia. Acabou por sair do partido deixando-o mais reduzido ainda.
Quando se observa a votação local do PT depreende-se que o partido não tem chances no certame municipais. Todavia, quando entram em cena os atores do mesmo partido, porém que operam fora do município a história começa a mudar e o partido melhora bastante sua performance em Itabaiana.
Na primeira eleição para governador em 1982 o PT conseguiu em Itabaiana 106 votos. Em 1986, porém, esse número já crescia para 593. Mas o que impressiona na votação petista em Itabaiana é a votação para o parlamento, para deputados e senadores. Em 1982 o professor José Costa Almeida obteve 83 votos para a Assembléia Legislativa e o jovem Marcelo Deda Chagas obteve apenas um voto somando 84 votos. Mas em 1986 o próprio Deda cravou 266 e Marcelo Ribeiro 21. Em 1990 um desastre: Ismael apenas 22 e Renatinho 21. Em 1994 ocorreu um fato inédito no PT itabaianense. O partido que no Estado até então havia concorrido sozinho firmou acordo com uma frente que levou Jackson Barreto à cabeça de chapa. Em Itabaiana não houve espaço para os candidatos do partido porque a frente incluía as candidaturas de Luciano Bispo de Lima à Assembléia Legislativa e de José Queiroz da Costa à Câmara Federal. A votação petista, portanto, foi pífia como já esperada. Em 1998 a votação é puxada por Antonio Samarone, itabaianense radicado na capital com 311 votos, seguido de Isaias e Ismael, todavia, o que lavou a honra do partido foi o voto de legenda em número de 226. Ficou óbvio que o pequeno eleitorado fiel ao partido não acreditou nos candidatos. Em 2002 o partido atinge o ápice na sua luta eleitoral para Assembléia Legislativa: 1.292 votos. Destes, 849 dados a Olivier Chagas que obtivera nas eleições municipais de dois anos antes 853 votos para vereador, ou 0,09% do eleitorado de então.
Em 2006 caiu a votação para Assembléia Legislativa em relação a 2002. Foram 1.176 votos no total, com 340 votos para Ana Lúcia e 310 para Rogério Carvalho; e mais alguns pingados para outros quatro ou cinco candidatos do partido. Detalhe interessante: continua a faltar nomes já que dos 1.176 votos, 525, ou seja, mais de 44%, quase metade, foram dados à legenda.
Para Deputado Federal o partido não teve votos em Itabaiana em 1982. Em 1986, obteve sua primeira boa votação com 660 votos. Em 1990, mais uma vez não foi votado para federal em Itabaiana. Já em 1994, mesmo com a votação sendo conduzida para o acórdão com Luciano e Queiroz a sigla ainda tingiu 593 votos. Em 1998, correndo sozinho obteve 2409 votos contando para isso a performance de Marcelo Deda Chagas que obteve sozinho 2.089. Ainda houve 245 votos de legenda e mais alguns para outros candidatos do partido. Mas o grande ano do PT em Itabaiana para deputado Federal foi 2002 quando o partido obteve 3.001 votos, destes 1.681 ou 56% para Antonio Samarone, 254 para a legenda e os demais repartidos entre os demais candidatos do partido. Em 2006, como para deputado estadual, a votação caiu também para federal em relação ao 2002. Foram 1488 votos com 298 de legenda, ou seja, 20% e o mais votado foi Nilson Nascimento com 536 votos.
Conclui-se, portanto, que a característica básica da política tradicionalista, ou seja, o continuísmo, jamais irá abrir as portas em Itabaiana a um partido que não demonstre sua viabilidade e isso, somente ocorrerá, ou com uma mudança profunda na tradição política local; ou no aceite do jogo pelo PT e sua automática conversão ao velho estilo ibero-americano chamado ora de caudilhismo, ora de coronelismo.Vem daí esse lado de mais apostar “nos de fora”, nos que têm chance. Essa melhora eleitoral. Logo, a baixa densidade eleitoral do PT em Itabaiana não é apenas causada pela ideologia do partido. E sim pela característica de competitividade, às vezes extremada, do povo da terra.
Observação:
(*) 1.656 é o ano do pico da rebelião dos curraleiros - criadores de gado por arrendamento - que teriam sido liderados por Simão Dias Francês. Os rebelados chegaram ao extremo de invadir a capital, São Cristóvão, prendendo o pároco Sebastião Pedroso de Gois, seu maior adversário, e somente a desocuparam com a chegada de forças vinda de Salvador três dias depois. O conflito continuou com altos e baixos até que em 1665 uma força de mercenários paulistas, depois batizados como "bandeirantes", foi contratado pelo governador-geral Alexandre de Souza Freire e acabou com a rebelião expulsando ou prendendo os curraleiros que ainda restavam entre as serrras.
Por pano de fundo, os altos impostos cobrados, não por Sergipe, mas pela Bahia, o que alimentou o sentimento nativista que ressurgiria em 1820 e 1823 com a Independência final de Sergipe.
NUNES, Maria Thétis. Sergipe Colonial I e Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volumes, 04 e 22. pp. várias.