Aos quatro anos de idade, sentado sobre pequeno lençol,
posto pela minha jovem mãe entre duas carreiras de mandiocas, e sobre as
sombras do mandiocal, a me acomodar, enquanto fazia tarefas que não lembro
quais, dentro de sua rotina de agricultora na malhada é que lembro de ter
escutado pela primeira vez o ritmo forte, cadenciado, de um som diferente,
exaltante e que me fez sentir bem. Escapa-me à memória se ali já perguntei e
obtive resposta, ou se foi a posteriori; sei que logo soube se tratar dos
tambores da “Escola de D. Rita”, a Escola Rural do Rio das Pedras I, divisa dos
municípios de Itabaiana se derivado, Areia Branca, a serem executados sob
comando de seus alunos nos ensaios para o Sete de Setembro. Como seria bonito,
pensei! E a imaginação logo começou a tecer imagens segundo o que senti no
momento.
A Mangabeira, meu povoado de nascimento e então de moradia
também tinha escola rural; essa invenção do Nacional-Desenvolvimentismo, sempre
pilotado neste quesito pelo grande Anízio Teixeira, mas, não tinha o mesmo
vigor da do Rio das Pedras I, com mais alunos e estabilidade na direção de D.
Rita Bispo, que, como se vê, confundia-se como se dona da escola fosse, tal a
dedicação e longevidade no cargo. E por isso tinha um trio de percussão:
tambores e caixa. Um luxo! Sinal de poder e prestígio da escola e de sua
gestora, também única mestra dela.
Todos os anos, invariavelmente relembro aqueles
baticuns. É que há mais ou menos quinze dias
voltei a escutar: é a banda marcial do setentão Colégio Estadual Murilo Braga a
se preparar para o Sete de Setembro, a segunda maior festa perene da cidade, já
que só a intermitente Micarana conseguiu superar a de Santo Antônio,
perenemente a maior há pelo menos um século; mas veio e foi-se, para alegria
dos cofres da cidade, principalmente da municipalidade.
E no próximo dia 7 lá estará um quarto da cidade na avenida
principal, como tem feito regularmente todos os anos para ver seus filhos, netos, sobrinhos,
amigos, ou mesmo apenas assistir o capricho das escolas municipais e estaduais
(talvez uma ou outra privada) ao exporem a criatividade de seus heróis e heroínas docentes sob o som ritmado de
caixas, tambores e até variados instrumentos de sopro.
O desfile do dia Sete em Itabaiana não é “o Rio de Janeiro”;
mas continua lindo.
Tudo preparado desde fins de agosto.
Microglossário para não locais:
- Carreira de mandioca, plantação em fila, geralmente de
vinte e cinco a trinta touceiras, por sobre lombada de terra para isso
preparada;
- Malhada, o mesmo que roçado. Tem origem em costume
medieval de por o gado em malhador, junto, a pernoitar sobre o terreno e depois
aproveitar a terra fertilizada por excrementos para o plantio.