segunda-feira, 30 de outubro de 2023

CAVALGADA ADIANTADA?

Domingo, 29, ontem, havia certa agitação no ar pela manhã, quando saí da cidade em direção ao aeroporto, de Aracaju, obviamente. Na onda dos cavalgadores do asfalto, encontrei várias parelhas, algumas com montadoras, trilhando a Avenida Manoel Francisco Teles e algumas artérias adjacentes, ao menos ate onde a vista alcançou, rapidamente, já que eu volante.

É comum essas manifestações na cidade, mas as de ontem confesso me acendeu o desejo de ver algo mais massivo, organizado, um ritual. Não de exibicionismo apenas dentro da cidade; mas de algo muito mais sério, porque uma celebração da memória, a nossa memória vaqueira, perdida nos escaninhos do tempo.

No próximo domingo será emblematicamente 5 de novembro. E 5 de novembro é a real data de nascimento da sergipanidade. Quando a massa de vaqueiros, quase todos de Itabaiana, então Distrito do município de São Cristóvão, que também era a capital, invadiu aquela cidade, protestando contra o Padre Sebastião Pedroso de Góis – que acabou preso; e soltaram alguns presos, que o foram justo por não aceitar pagar os impostos extorsivos que Salvador vinha aqui cobrar. Impostos mais que injustos. A primeira Derrama foi aqui, e sobre o gado; e não em Minas Gerais, cem anos depois, sobre ouro.

Os resultados foram terríveis. Parece até que os curraleiros e a massa de vaqueiros queriam chamar a atenção das autoridades em Lisboa, já que era o quinto ano de enrolações, com promessa de reconstruir São Cristóvão e outras mais. Não deu. Lisboa era muito longe. Quando a rainha-regente veio saber, já o foi por terceiros interessados em esconder os terríveis excessos. 

Acabou com a nascente economia e sociedade sergipana. Uma economia, até ali quase sem escravidão. E deixou um trauma, que mesmo não sabido pela maioria, ele está entranhado na alma sergipana; dada ao estoicismo relativo; ao mergulho visceral em querelas domésticas, paroquiais, e um quase desistir de ser grande. Ao mesmo tempo solidificou uma identidade sergipana, que tem resistido a todas as tentativas de submeter o pequeno território.

Pode ser que a movimentação de ontem seja a preparação para o próximo dia 5. Não se perde nada em sonhar. O amanhã pode ser distante; mas é sempre tentador devanear.