domingo, 10 de março de 2024

A RECUADA

 


Acompanhamos recentemente a briga, do, por enquanto coeso, grupão que pôs o governador Fabio Mitidieri de posse da caneta estadual, contra o “estranho”, de Lagarto, Henrique Prata, na novela do câncer e seus hospitais: o do lagartense, renomado, pronto e com know how, a partir de Barretos-SP; e o projeto do grupão, "do governador que cumpre acordos" (quais serão eles?), segundo a propaganda, com previsão de sair daqui a dois anos, no momento certo para a propaganda da reeleição.

Bem, escapa-me maiores detalhes, porém de uma coisa já suspeito: o recuo estratégico do Governador obedece à lógica, claro, de que é melhor se aliar a um adversário, e em seguida comê-lo em saborosas garfadas por dentro, do que se esborrachar num tête-a-tête, doloroso e estéril. Mas o grupo dos "respeitadores de acordo" não irá desistir de ficar com tudo. Se brincar até com um possível espólio de Barretos.

E aí vem mais uma coisa: Sergipe foi fundado no início do século XVII num tripé, compreendido entre Itabaiana, Lagarto e São Cristóvão.

Porém, desde fins do século XVIII que a parte anacrônica da elite sergipana - a que enfeixa o poder nas mãos (muito além dos cargos eletivos) – não deixa ninguém "se criar", em Itabaiana ou Lagarto.

Mais prudente, Lagarto tem aparentemente levado leve vantagem. Por exemplo, o município foi menos fatiado. Já Itabaiana, qualquer coisinha é suficiente para deixar a elite anacrônica de orelha em pé; e em incontinenti ação deletéria. Tipo "São Bento antes da cobra".

Pelo sim, pelo não, e sem abrir mão de um pouco de conspiracionismo, o acordo do governo "dos acordos", na questão do Hospital do Câncer de Lagarto, bem que poderia ser mais uma fisgadinha na "arrogante" Itabaiana, atualmente submetida a pão e água.

Por que não?

Os tempos de pebas, os que nas duas décadas iniciais do século passado comprometeram até hoje o futuro de Sergipe, retornaram com força. coincidentemente nas duas primeiras décadas desse século. Aguardemos o próximo capítulo.

sábado, 9 de março de 2024

HORA DO ADEUS

 



Durante os últimos cem anos, desde 1919, o velho prédio mudou de fachada alguma vezes... de dono, e até de destinação. Mas não resistiu ao progresso. “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”, como disse Caetano Veloso. Ou como disse Noel Rosa, “Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão”.
E sepulta-se assim mais um “Cinema Paradiso”. Tantos sonhos vividos.
Para mim, pessoalmente, o último símbolo de uma grande escola: Rádio Princesa da Serra AM.






quinta-feira, 2 de novembro de 2023

E VAMOS DE BIENAL

 


Pulando dois anos, devido a horrenda pandemia, que evidenciou despreparo total da humanidade se acaso se defrontar com uma muito maior e descontrolável, cá estamos nós de volta à estrada com uma festa, intrinsecamente cultural magnânima que é a Bienal do Livro.

Serão três dias, 15, 16 e 17 de dezembro, da 6ª bBienal; e que, façamos votos que nessa nova fase, depois do pioneirismo heroico que conduziu as cinco edições anteriores, agora se estabeleça um calendário fixo para a cada dois anos.

De uma coisa, tenhamos certeza: ficou grudada na cultura popular e é indispensável, não somente para Itabaiana, mas como para todo o Sergipe e até além.

A demora deste ano deve-se a dois fatores, especialmente: a desarrumação gerada pela pandemia da covid, e a demora, mais que compreensível dos gigantes que a tocaram, repito, heroicamente, em se decidirem em não mais poder fazê-lo.

Mas, tem coisas quem se nem entende por que, porém parecem ser providenciais. Como estar à frente da Academia Itabaianense de Letras, a atual presidenta, Josevanda Mendonça Franco. Intrépida, centrada, dinâmica e decisiva, com uma invejável bagagem de mais de três décadas na administração pública, sempre voltada para a Educação e Cultura, desde uma simples assessoria parlamentar à responsabilidades, como hora ocorre, à frente da Secretaria Municipal de Educação de Nossa Senhora do Socorro, de onde já pilota duas entidades em nível federal, pertinentes à área.

Exatamente quando tudo se desenha para dar certo.

Não haveria outro caminho, que não a migração da administrsação da Bienal para uma entidade da Educação e/ou Cultura, depois do esplêndido lançamento das cinco edições anteriores.

Reconheça-se, o heroísmo apresentado pelo designer, empresário gráfico e entusiasta cultural, Honorino Jr; com as honoráveis companhias dos empresários da comunicação, Carlos Eloy e Jamisson Machado, e com nossos D. Quixote e seu Sancho Pança da atual explosão literária sergipana, Domingos Pascoal e Antônio Saracura... não teria como continuar. Haveria que mudar; e somente uma instituição - uma organização não governamental - para fazê-lo.

E eis que sucede a feliz conjuntura da Academia Itabaianense de Letras assumir a árdua tarefa, num momento crucial, com uma diretoria operosa, dentro da qual Antônio Saracura; com uma presidente com todas as ferramentas de uma grande administração; com o entusiasmo eternamente jovem de professores, alunos, autores, colaboradores, sem esquecer os colaboradores especiais, porque passantes do bastão; mas não abandonando a corrida.

Desenha-se a permanência do aspecto sempre crescente do evento, desde 2011.

Vamos trabalhar!

Receber Sergipe e além, de cancelas, porteiras, colchetes, passadiços, portas, portões, janelas e... braços e corações abertos.


Bem-vinda 6ª Bienal do Livro, 15, 16 e 17 de dezembro de 2023!

Bem vindo Sergipe!


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

CAVALGADA ADIANTADA?

Domingo, 29, ontem, havia certa agitação no ar pela manhã, quando saí da cidade em direção ao aeroporto, de Aracaju, obviamente. Na onda dos cavalgadores do asfalto, encontrei várias parelhas, algumas com montadoras, trilhando a Avenida Manoel Francisco Teles e algumas artérias adjacentes, ao menos ate onde a vista alcançou, rapidamente, já que eu volante.

É comum essas manifestações na cidade, mas as de ontem confesso me acendeu o desejo de ver algo mais massivo, organizado, um ritual. Não de exibicionismo apenas dentro da cidade; mas de algo muito mais sério, porque uma celebração da memória, a nossa memória vaqueira, perdida nos escaninhos do tempo.

No próximo domingo será emblematicamente 5 de novembro. E 5 de novembro é a real data de nascimento da sergipanidade. Quando a massa de vaqueiros, quase todos de Itabaiana, então Distrito do município de São Cristóvão, que também era a capital, invadiu aquela cidade, protestando contra o Padre Sebastião Pedroso de Góis – que acabou preso; e soltaram alguns presos, que o foram justo por não aceitar pagar os impostos extorsivos que Salvador vinha aqui cobrar. Impostos mais que injustos. A primeira Derrama foi aqui, e sobre o gado; e não em Minas Gerais, cem anos depois, sobre ouro.

Os resultados foram terríveis. Parece até que os curraleiros e a massa de vaqueiros queriam chamar a atenção das autoridades em Lisboa, já que era o quinto ano de enrolações, com promessa de reconstruir São Cristóvão e outras mais. Não deu. Lisboa era muito longe. Quando a rainha-regente veio saber, já o foi por terceiros interessados em esconder os terríveis excessos. 

Acabou com a nascente economia e sociedade sergipana. Uma economia, até ali quase sem escravidão. E deixou um trauma, que mesmo não sabido pela maioria, ele está entranhado na alma sergipana; dada ao estoicismo relativo; ao mergulho visceral em querelas domésticas, paroquiais, e um quase desistir de ser grande. Ao mesmo tempo solidificou uma identidade sergipana, que tem resistido a todas as tentativas de submeter o pequeno território.

Pode ser que a movimentação de ontem seja a preparação para o próximo dia 5. Não se perde nada em sonhar. O amanhã pode ser distante; mas é sempre tentador devanear.


quarta-feira, 27 de setembro de 2023

ENGARRAFAMENTOS

 

O Decreto-Lei 311, de 2 de novembro de 1938 acabou com uma situação esdrúxula: a de sedes municipais poderem ser vilas ou cidades. A partir dali as mal vistas, “atrasadas”, de segunda, vilas deixaram de existir e tudo passou a ser cidade. Hoje, como há muito tempo, vila passou a ser sinônimo de viela, paupérrima, desorganizada, enfim. Já cidade é outra coisa.
Mas certos costumes ou vícios de vila ainda hoje predominam em Itabaiana.
Exemplo, a de a gente passar o vexame de ter de explicar a um visitante de fora – mas jamais convencer – que um cara com uma mão cheia de bilhetes de lotaria para vender, e na outra uma frágil corda a conduzir um touro de trinta arrobas, em plena feira pela meio do povo... é cultura. Quando sucessivas leis municipais desde 1916 já proíbe até cavalgar no Centro da cidade.
Uns dias atrás a SMTT tomou uma medida que, inexoravelmente vai ser rotina daqui pra frente: reduzir o trânsito em duas importantíssimas ruas a sentido único. Teve que deixar uma delas em stand by, pela agitação causada em alguns apressados em só ver dificuldades. Perdas de hábito.
Itabaiana tinha 3.549 veículos motorizados (destes, 1.262 automóveis e 774 caminhões e carretas) em 2001. Mas em 2022 esses números fecharam em 65.160 unidades, sendo 16.713 automóveis; 3.680 caminhonetes, 3.566 caminhões e mais de quarenta mil motos, motonetas e ciclomotores.
E ainda tem mais: a rede de serviços que trazem milhares de pessoas para o comércio de Itabaiana, de segunda à sexta, praticamente dobra o número de veículos de dois ou mais eixos no Centro, e até em algumas vias de alguns bairros.


Tem que racionalizar. Limitar onde for possível; fazer fluir, sempre necessário. Desobstruir.
Hoje, em torno do meio dia, uma situação recorrente: um caminhão-baú entravado na esquina da estreita Rua Sete de Setembro, ao fazer conversão para estreitíssima Rua São Paulo. Mas isso também já presenciei em várias outras esquinas, até mesmo na larga Rua Campo do Brito, em variados momentos e anos.
Essas ruas foram projetadas numa época em que os caminhões eram do tamanho das atuais caminhonetes, e toda engenharia possível é necessária para destravar; fazer fluir.
Poder continuar passando na rua São Paulo? Pode. Já que não há alternativa; mas sempre em linha reta, especialmente veículos maiores. Na Rua Sete de Setembro? Pode. Até mesmo porque é necessário abastecer as lojas; porém, quartas e sábados, quando a Feira tranca desde a esquina da Rua São Paulo até praticamente a Antônio Dultra, há que se usar o bom senso e proibir o trânsito de veículos acima de cinco metros de comprimento. Senão entala.
E aí saem todos perdendo: comércio, transeuntes... a cidade inteira.



segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ENCONTRO COM LENDAS: UM BOM, OUTRO MAU.

 

 

Sábado, à noite, fui obrigado a dormir um pouco mais tarde que habitualmente. É que ao ligar a TV, dei com Serginho Groisman fazendo um especial em seu programa, com ninguém menos que a turma dos Titãs, uma das melhores bandas de rock nacional de todos os tempos "de todas as semanas" dos últimos 40 anos(*).
Mas... além dos eternos adolescentes rebeldes hiperqualificados, com eles, outra lenda. A lenda Liminha. Por trás de ao menos cinco entre dez bandas e cantores solos da explosão do rock nacional, da década de 1980; porém não somente de rock; mas de um monte de outros artistas, de ritmos variados, da MPB. Nada escapou ao seu cuidado de produtor, nos legando um plantel de canções que ainda hoje maravilha a quem não apenas entope ouvido com qualquer baboseira autointitulada música.
A coisa de qualidade é assim: dá trabalho fazer; porém, depois de feita vira obra de arte.
Mas à música popular não basta bem produzir; é preciso divulgar. E comercializar com justiça, trazendo lucro ao artista cabeça, e depois dele a todos os envolvidos. Nessa cadeia de produção é imprescindível o empresário. Tanto o particular, que trabalha pra um artista ou grupo, e até vários; aos "show business man", aquele que leva o produto final ao grande público.
Hoje uma notícia triste: morreu uma lenda da MPB. Não era compositor, nem cantor; contudo teve um portfólio de fazer inveja a muitas empresas americanas do setor. Foi um dos maiores - senão o maior - empresário de shows do Brasil, especialmente das efervescentes décadas de 70 e 80.
Depois de décadas como elo vital na ligação direta, no palco, do cantor com seu público, faleceu hoje no Recife, o propriaense, obviamente sergipano, José Carlos Mendonça, o lendário PINGA.
De Waldik Soriano ao rei Roberto Carlos, passando pela deusa do Santo Amaro, Maria Bethânia... Pinga construiu para si uma carreira de sucesso empresarial, e de divulgação e promoção de uma legião de artistas, que, com certeza não teriam nos premiados com suas canções, não fosse ele.
Que São Pedro agora aproveite bem; já que nós aproveitamos muito bem até pelo menos a década de 1990.
Palmas!


(*) Inspirado numa música da banda, chamada “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”.

sábado, 9 de setembro de 2023

TEMPOS DE EVOLUÇÃO.

 

Hoje pela manhã, numa rápida passagem pela Praça Fausto Cardoso dei de cara com uma cena inusitada, até agora, mas que se deve tornar fixa, perene, doravante: aparentemente, a municipalidade decidiu levar dois banheiros químicos para a mesma.
Registre-se que não é tipo de solução definitiva e adequada: o banheiro, em verdade o sanitário químico é apropriado para eventos; de no máximo um dia. Depois disso forçosamente necessitará de destinação correta do material nele depositado e higienização completa. Como exemplo, além do visual, o que me chamou a atenção ao deles me aproximar, junto ao septuagenário coreto, foi o mau cheiro que já estava a exalar por volta das dez e meia. Não é, pois, um cartão postal.
Por outro lado, as necessidades constantes de sociabilidade; a presença dos “genários” cada vez maior na praça; e suas características de bexigas frouxas, típicas dos dessa faixa etária (sexagenários, septuagenários, octogenários e nonagenários), boa parte com sequelas de AVCs - como eu, aos 60 e poucos – faz premente a necessidade desse tipo de serviço pra turma do jato fácil. Muito bem acertada a atitude da administração; só reforçando que deve ser solução passageira. Substituída por estrutura fixa, devidamente bem feita e conservada, discreta – não pode ser mais visível que as estruturas que lá já estão; muito menos ofuscar a praça – enfim, adequada àquela que, sem bairrismos, considero a mais linda praça de Sergipe... até onde conheço outras noutras cidades.
Afinal, a Praça central é a Praça central! Por mais que surjam bairros chiques; serviços sejam mudados para ambientes de melhor mobilidade motorizada... mas a Praça central continuará sendo o Centro do Centro, simbolizado por seu símbolo “nave kriptoniana do Superman”, que simboliza o centro do estado de Sergipe (*).

A nova realidade etária

Por outro lado, é preciso adaptá-la aos novos tempos de população envelhecida cada vez maior.
Os tempos das matronas altamente reprodutivas, turbinadas pela carne carneiro, registradas por D. Marcos Antônio de Souza, em seu Memórias da Capitania de Sergipe, de 1808, foram-se. Atualmente a mulher itabaianense tem no máximo dois filhos em sua vida reprodutiva. Dez por cento dos tempos de D. Marcos.
E Itabaiana cada vez mais entra numa realidade de aumento proporcional da velhice.

 
Ainda não foram liberados os números detalhados do Censo 2022 pelo IBGE, porém cruzando os números de nascimentos e de mortos, disponíveis de 2010 até 2021 dá para estimar com pouca margem de erro que dobramos proporcionalmente o número de velhos nos últimos 40 anos. É muita gente de cabelo grisalho a branco necessitando ao menos de um mictório por perto.
E essa massa tem ordens médicas para caminhar e se divertir; socializar-se ao máximo.
Nenhum lugar melhor do que o meio do velho Sítio de Ayres da Rocha Peixoto. Com apoio logístico, logicamente.
Afinal, Roma foi Roma também porque tinha banheiros públicos espalhados pela cidade, em pleno período de Augusto, 27 anos de Cristo a 14 depois de Cristo nascer.
O sanitário público do edifício Serra do Machado foi o primeiro, a serviço dos feirantes. Agora são novos tempos. Cabe-os nas praças, ao menos na principal.