sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

De improviso.

Conta-se no anedotário político de Itabaiana que Euclides Paes Mendonça, useiro e vezeiro na arte do ilusionismo político, ao chegar ao Rio de Janeiro para mais uma audiência no Ministério de Viação sobre o folclórico aeroporto, hoje Bairro da Torre, e se deparar com um aparelho de TV foi às alturas. Euclides vivia buscando em cada canto um motivo de aparecer; de “mostrar serviço”. O típico mágico, que antes de fazer a mágica já está a perguntar – numa forma de induzir os bestas – se já estar a ver a dita mágica. Vendo o aparelho Euclides viu ali a oportunidade de desbancar Zeca Mesquita no quesito “inovadorismo”, característica do lendário empreendedor(*). Mas aí a coisa murchou. Euclides começou toda uma negociação e, de repente, o vendedor fez-lhe a observação honesta e incômoda: “Senhor, lá em Sergipe não existem canais de televisão, e...” antes de concluir Euclides já abria outra negociação: “Então você enrola dois canais junto com o aparelho”. E aí veio uma aula sobre a tecnologia e Euclides voltou pra Itabaiana sem a novidade.
Improviso. Essa tem sido a maldição que tem acompanhado ano após anos, década após década, século após século, chefe político após chefe político a administração do Município de Itabaiana. Tudo quanto é político querendo colher o roçado antes mesmo de começar a plantação. E improvisando.
Itabaiana é algo impressionante. Quando se chega à avenida principal se toma um susto. Descontados os exageros arquitetônicos (o que confere certo ar brega a algumas construções) vê-se desde ali a pujança da riqueza pessoal que aflora na cidade. E mais ainda: que se repete em tudo quanto é rua, travessa e até becos. Descontado o ainda alto número de vias sem calçamento e esgotamento, as vias centrais tem visual de lugar grande, progressista. Mas aí chega no improviso do Poder Público que nunca acompanha o ritmo geral. Que abandona políticas públicas antes mesmo de começar, sempre invocando o clássico dizer: “não adianta; vai ser sempre assim”. E aí se chega no choque que é presenciar, como presenciei no último sábado, uma loja na Rua São Paulo, onde o dono investiu uma fortuna para dotá-la do melhor em conforto e atrativos visuais, cheia de clientela feminina sendo constrangida a assistir os enlaces amorosos de uma cadela com mais quinze cachorros atrás em plena calçada do estabelecimento, quase adentrando o recinto. E aí se chega no inusitado para qualquer visitante que é chegar num lugar que serve de terminal rodoviário e encontrar bares que deveriam ser apenas lanchonetes a tocar música alta de péssima qualidade, tipificando o mesmo local de “inferninho”. Cabaré, no dizer antigo. E aí se chega no ilegal - logo criminoso - uso de solo público, sem absolutamente nenhum recolhimento ou, pelo menos licenciamento com conseqüente renúncia de receita, mas de forma legal, como o lembrado pelo vereador Francis de Andrade (aqui).
Certa feita alguém levantou a questão sobre quanto pagava de uso de solo a Energisa, que na época cobrava 60 centavos de aluguel por mês a cada poste que um terceiro usasse, para qualquer finalidade. Sem recolher absolutamente nada para a Prefeitura.
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(*) Uma das características desses mágicos que militam na política é o “querer fazer”; nunca se contentando em ser um líder, naturalmente liderando quem saber fazer. A sede do eu é impressionante. Tudo sempre na primeira pessoa do singular.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Terceira via

Há alguns dias o colega radialista e blogueiro - e amigo - Edivanildo Santana soltou uma notinha em seu blog sobre as intenções dos Amorim em criar uma “terceira via” na política itabaianense. Neste domingo foi a vez do Jornal da Cidade, via Cícero Mendes soltar outra notinha de mesmo teor, repercutido no mesmo blog (aqui).
Não existe terceira via ou terceira força em Itabaiana e jamais existirá enquanto tivermos um número de eleitores abaixo dos 180 ou no mínimo 150 mil. Aqui, ou se é a primeira; ou se está lutando para sê-la, para no mínimo ficar na segunda; por sinal, a posição mais confortável que há; desde que não haja pirralhos tentando incomodar.
Itabaiana é o pior município em arrecadação relativa de tributos no Estado rivalizando com mais dois com quem troca de posições sem nunca sair da faixa, dentre os 75 municípios do Estado. Não é, pois, uma Pirambu, Rosário do Catete, nem mesmo uma Estância ou Canindé do São Francisco. “Investir” aqui é muito “arriscoso”. Pode-se não tirar o dinheiro investido. E, ideologia não casa com quem gosta, ama, é apaixonado por dinheiro.
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P. S. Por falar em pior arrecadação, fruto do ignorar esse aspecto, mais uma vez arma-se uma confusão entre os professores e SINTESE contra o Executivo municipal tendo a Lei cerrando alas ao lado daqueles. Eis no que dá a prodigalidade, por natureza desmiolada, senão irresponsável, mesmo. A quem interessar possa, as pessoas não querem ouvir lamúrias; querem ouvir soluções. Por isso chega um momento em que o feitiço vira contra o feiticeiro. E aí...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Chão de estrelas

Elas sempre chegam. Logo depois de uma boa chuvarada, pipocam ao longo da BR-235, colorindo de um amarelo gracioso a rusticidade do asfalto e de boa parte dos corações que por ele trafegam, preocupados apenas com frivolidades. De aparência frágil – acho que se enquadre entre as margaridas – mas de um colorido marcante, sua permanência é rápida, mas, sinceramente, sem bairrismo algum... e tem estrada de Gramado pra se comparar à nossa com as tais floresinhas amarelas?
Eu não sei de onde elas vieram, nem mesmo seu nome. Recordo que, pelo menos até vinte anos atrás não via umazinha sequer; de uns quinze anos pra cá, entretanto, passaram a fazer parte da paisagem da dita BR-235 até Aracaju, uma paisagem que por sinal já é costumeiramente de tirar o fôlego. Desde as matas galerias a interromper os inúmeros canaviais, à superfície colinosa, presente até o Cafuz; e, enfim o começo do planalto, das nossas serras tão bem se vence o rio Cotinguiba, os coqueirais desde Areia Branca – e suas jaqueiras – até o Rio das Pedras, os exemplos de Mata Atlântica do Parque Nacional da Serra de Itabaiana. Sensação de quem sai de casa por um belo caminho e por ele retorna são e salvo à sua toca. As floresinhas vieram se somar a essa sensação.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Segunda de carnaval

Em 1979 Itabaiana era só novidades. Telefones pra todo lado; rodoviária nova, asfalto na já principal avenida da cidade... e a rádio Princesa da Serra. Era a segunda do interior, mas a de Estância não contava. Eis que chega o carnaval e o repórter Daniel Barros resolveu fazer a cobertura da festa na cidade. Que inexistia. Naquele ano, sequer houve uma banda na inacabada Associação Atlética de Itabaiana, aliás, sequer o Aruanda Clube passou de uma raifaizinho (Hi-Fi – High Fidelity ou alta fidelidade, uma novidade em som eletrônico da época). E lá vai Daniel. Fez contratos de publicidade com Seu Antonio Fernandes (Casa Fernandes), único representante das tintas Coral, com o ex-prefeito Vicente de Belo (Casa São Vicente), Romeu do foto (Foto Romeu), G. Barbosa (irmãos Gentil e Noel Barbosa), até com Tonho de Chagas (Antonio Francisco de Jesus, Postos e Autopeças Serrano), duro de queda numa propaganda houve contrato, em nome da Churrascaria “O serrano”. Aciona os repórteres auxiliares para dar flashes a cada meia hora, desde as nove da manhã. Inventando blocos que não existiam, bandas tocando que de fato se limitavam aos discos de Claudionor Germano, e no estúdio; à tarde resolveu fazer a média com um dos donos da emissora: José Araújo Tavares, o Zeca Araújo. Zeca, quando queria, falava até pelos cotovelos; quando não lhe interessava era tudo no monossílabo. Daniel se preparou: chegou à loja de Zeca, encaminhou-se ao telefone da loja, chamou o estúdio, mandou botar a chamada, ordenou ao operador de áudio que colocasse o som de contra-regra (música de carnaval e som de gente ao fundo fazendo algazarra) e começou: “estamos aqui em plena Rua General Siqueira onde se encontram muitos foliões em grande alegria neste carnaval que é um dos mais animados na história de Itabaiana, e no meio deles o nosso querido José Araújo Tavares, sócio da Rádio Princesa da Serra, o Zeca Araújo que vai nos dar sua opinião”. E emenda: “Zeca, o que você está achando dessa animação... do carnaval de Itabaiana...?” Silêncio tumular. Zeca pegou o telefone, o pôs de lado com a mão esquerda, olhou para o auxiliar de Daniel, fez um meneio de cabeça, tipo negação, de aproximadamente dois minutos, levou calmamente o telefone para mão direita e daí à boca, e respondeu: “bom!” e devolveu o aparelho a Daniel. Quebrou todo o clima que Daniel havia preparado. E demonstrou de fato como estava sendo o carnaval de 1979 em Itabaiana na sua segunda feira.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Data infame

Dia 20 de fevereiro, no próximo sábado, completa 55 anos do assassinato do ex-intendente (hoje prefeito) de Itabaiana José dos Santos Queiroz, o Cajuza Queiroz.
Cajuza foi quem construiu o primeiro mercado público moderno – o hoje denominado Zezé de Benvenuto – além de normalizar de vez a iluminação pública por eletricidade.
Nunca nada ficou provado, como de costume no coronelismo nordestino, todavia todos sabem que houve envolvimento do então deputado estadual e líder político Euclides Paes Mendonça, no mínimo por acobertamento. Começava ali o descalabro, o descontrole, a falta de limites, o envolver de lideranças públicas com o banditismo cujos lastimáveis e esperados resultados só terminariam com o assassinato do próprio Euclides em 08 de agosto de 1963 e como eco macabro, o também assassinato de Manoel Teles em 31 de agosto de 1968. A escalada de violência, a perda de controle de fato foi iniciada com a morte de dois eleitores no dia da eleição, em 1954; porém, a morte de Cajuza provou que os ensandecidos não conheciam limites. Durante o governo de Leandro Maciel, o qual cobriu Euclides de todas as garantias, várias pessoas foram mortas ou desapareceram, e centenas abandonaram Itabaiana.
Nestes tempos de lideranças enfraquecidas e urubus se oferecendo para serviços de qualquer natureza, nunca é demais lembrar aqueles tempos bicudos e vergonhosos para seus protagonistas e para a própria História do município.
Saíram todos espondongados. Muitos até com vergonha de ouvir falar naqueles tempos.