quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dengue espetacular

E por falar em saudade, onde anda você... ? (*)

Em primeiro, uma pergunta:
Há quanto tempo não existe agente de endemias na sua rua? Na sua casa? Na sua cidade.
Agentes de endemias é aquele pessoal da Prefeitura que substituiu o pessoal da Sucam.
Pra ter certeza, vá até a porta de seu banheiro – se tiver mais de um, observe em todos – e olhe a última data em que houve um agente em sua casa. É igualzinho ao disposto nesta foto ao lado.
Neste caso aqui se observa que o agente passou no dia 04 de setembro de 2004, no dia 04 de abril de 2005, no dia 18 de julho de 2005, no dia 29 de novembro de 2005, no dia 29 de março de 2006. E pronto. Nunca mais.
Pra lembrar: é o agente de endemias quem controla os focos de mosquitos e outros insetos vetores – transmissores – de várias doenças como dengue, malária, doença de chagas, leishmaniose visceral, leishmaniose tegumentar (a clássica ferida brava).
Deduz-se, portanto, que neste município em questão, e nesse endereço, as equipes ou a parte dela em que estaria o sobredito agente foram desmontadas antes mesmo das últimas eleições. O dinheiro, contudo, continuou a cair nos cofres municipais.

O espetáculo

Pegando carona na onda da espetacularização da desgraça movida pela mídia grande do sul, com destaque para a paulista, a mídia local resolveu repercutir a calamidade da dengue que mais uma vez a (des)administração César Maia proporciona à Cidade Maravilhosa. Nesta terça-feira, por aqui, houve até desfile de autoridades da região para mostrar serviço.
Se alguém resolver fazer um enquete com os dados que expus acima vai ter uma enorme surpresa. Vai descobrir municípios em Sergipe em que o agente de endemias passou por lá quando existia a SUCAM. Mas como estamos em clima de onda e, ainda por cima, em ano eleitoral, vale tudo.
Recursos, existem.
A partir de 1989, enquanto eram desmontados o SESP e a SUCAM o governo federal foi repassando cada vez mais recursos da saúde para as prefeituras. Na época era pouquinho. A campanha de conscientização movida pelo então ministro Dr. Adib Jatene pela criação de um fundo provisório para a saúde deu na CPMF, e aí, os municípios passaram a regurgitar de recursos. Aqui em Itabaiana – não tivemos tempo de pesquisar outros municípios - que adotou a municipalização tardiamente, no fechar do prazo, em 1998, o município já recebeu o aporte de 795.189,66 (2.048.326,36 valores atualizados; base dez/1998), dinheiro que nunca havia recebido. Em 2004 fechou o ano em R$ 6.022.024,49 (R$ 6.955.661,65 atual.); 2005, R$ 8.309.258,16 (R$ 9.438.684,34 atual.); 2006, R$ 9.768.550,06 (R$ 10.711.970,62 atual.); 2007, R$ 11.104.808,42 (R$ 11.422.896,85 atual.). Somente nos três primeiros meses deste ano já são R$ 2.185.669,28. Mais do que em todo o ano de 1998.

Tragédia anunciada
No Brasil as instâncias municipais de poder sempre conseguiram ser em muitas vezes pior que as estaduais, que por sua vez, sempre foi pior que a federal.
Em Sergipe, e em Itabaiana em particular, com a irresponsabilidade de deixar enterrar um defunto “importante” dentro da Igreja de Santo Antonio e Almas, em 1855, morto em condições completamente diferente daquelas que até então se apresentara e chegado da feira de Laranjeiras onde se sabia havia uma doença diferente e mortal, a administração local levou o município a enfrentar o pior dos flagelos que até então havia passado por aqui: a epidemia do cólera morbus(1) que matou – supostamente, já que não há dados precisos – nove mil pessoas num espaço de menos de seis meses. Quase metade da população. Só com a intervenção do governo do Estado é que as coisas começaram a se ajeitar. Na segunda, em 1863(2), com estatísticas mais precisas se descobriu que o estrago foi bem menor: menos de um mil mortos. Em 1855, a grande atitude dos mandatários do Município foi pedir ao governo do Estado que mudasse a sede municipal para a região do Bom Jardim, o que foi negado.
A saúde continuou nesse quadro até que nos anos 40 do século XX o Governo Federal começou a impor uma política de saúde debelando inclusive a malária por aqui com maciças campanhas de inseticidas e destruição de receptáculos para mosquitos.
Caçadores de punarés da região do Rio das Pedras, por volta de 1970 ainda reclamavam do fim desse tipo de rato provocado pela destruição dos gravatás nas matas ainda existentes.
Mesmo de posse de dados e estudos que apontavam em contrário a onda liberalista do início dos anos 90 não hesitou em destruir uma máquina nacional de controle de endemias a duras penas montada ao longo de quase cinqüenta anos. Aliás, foi o restante dessa máquina, então representada pela SUCAM que foi utilizada no controle da primeira grande epidemia do Rio de Janeiro, o primeiro grande sinal de que o que haviam feito foi errado. Não consertaram; como se vê.
Os teóricos da liberalização extremada, esqueceram da terrível condição administrativa imperante na esmagadora maioria dos municípios brasileiros e, principalmente, que mosquito não reconhece fronteiras. Sem esquecer que nos dias atuais poucos são os municípios brasileiros – muitos conurbados - que podem criar barreiras eficientes contra qualquer epidemia.
Enquanto as autoridades discutem – e administram suas vaidades – as pessoas morrem.


(1)Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe no dia 27 de fevereiro de 1856 ao Illm. Exm. Snr. Dr. Salvador de Correia Sá Benevides pelo 1º Vice-Presidente da mesma Província, o Exm. Sr. Barão de Maroim. Typographia Provincial. 1856. P. 26.
(2) Relatório com que no dia 24 de fevereiro de 1864 o Ex. Presidente desta Provincia, Dr. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, entregou a administração da mesma Província ao 2º Vice-Presidente Comendador Antonio Dias Coelho e Melo. Sergipe. Typ. Provincial. 1864. Anexo B. p. 9.

Nota: O signatário deste artigo - funcionário do SESP/Ministério da Saúde - votou em 1986 na secção local de escolha de temas à 8ª Conferência Nacional de Saúde (veja Relatório aqui), realizada em Brasília em outubro daquele ano, e foi favorável à municipalização. Na época se falava em municipalizar o atendimento - que era o caso do SESP - e não o combate de endemias, então feito pela SUCAM. Foi com base no Relatório Final que a Constituinte de 1988 criou o as bases do SUS.


(*) Que o saudoso Vinicius de Moraes queira perdoar tal uso de seu maravilhoso verso.

Post Scriptum:

Como Deus não me proveu da devida crença na bondade a qualquer prova de políticos que conquistam o poder fica aqui a pergunta: o que estaria de fato ocorrendo para que tanta gente se expusesse fingindo estar preocupado com a dengue?

Seria a possibilidade de entrar mais dinheiro no caixa, além da montanha que já vem todos os meses?

terça-feira, 1 de abril de 2008

O sétimo dia...

Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Haja o que houver pense nos seus filhos
Não ande nos bares, esqueça os amigos
Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não ponha o dedo na nossa ferida
Nos dias de hoje não lhes dê motivo
Porque na verdade eu te quero vivo
Tenha paciência, Deus está contigo
Deus está conosco até o pescoço
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes
Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias
Cai o rei de Espadas
Cai o rei de Ouros
Cai o rei de Paus
Cai, não fica nada... (2x)

Ivan Lins, Cartomante.