sábado, 1 de março de 2008

Trânsito em Itabaiana

Cenas de filme americano sobre trânsito mexicano.
























Fila dupla. Engavetamento e guardas municipais de trânsito sentados ou recostados, placidamente na parede à esquerda.
Embaixo (mesma hora e local): carro tomando completamente a calçada à esquerda. Guardas estão à direita.
Clique aqui para ver mais sobre preocupações com o trânsito.
E aqui.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Platitudes

Na passagem dos anos setenta para os oitenta costumávamo-nos reunir, eu e vários outros amigos, na oficina de um deles, o amigo Nem de Abdon, na Rua São Paulo, em frente à casa de D. Raquel, mãe de numerosa e querida – ao menos pra mim – prole dos quais, pra não muito me alongar cito o Carlos Euvaldo, o Gordinho ou Gordonito, atualmente operador de áudio da rádio Itabaiana FM. As reuniões, claro, eram pra ouvir música. O Valfrando, muito mais conhecido como Nem tinha um dos melhores equipamentos de som e refinada discoteca da Itabaiana daqueles tempos e tudo era motivo para uma comemoração com direito a cerveja e, naturalmente, música. Tudo, absolutamente tudo que ocorria no mundo da música do estilo MPB, incluindo o neo-nordestino, ao Rock’n roll, era motivo de comemoração. Bob Dylan desencravou uma unha, aí comemorávamos; o bode de Patativa do Assaré berrou, tinha comemoração; o Alceu Valença falou que o Chacrinha é um saco: tinha comemoração. Sem falar dos discos lançados, aniversários de artistas, de shows memoráveis como Woodstock, etc. etc. Jovens. Jovem é assim mesmo, já disse, com clássica e atilada ironia, um amigo meu de idade mais avançada que eu.
Muito bem. Hoje, vinte e oito de fevereiro deste dois mil e oito eu vi a tal máquina patrol, motivo de tanta festa e comentários em semana anterior aqui na terrinha. Confesso que até eu, um incrédulo, cético por natureza; herege de carteirinha estava ansioso por vê-la depois de tanta falação. Mas, cá pra nós achei que a beleza de nossa Miss Sergipe – acho de 1975 – a Vilma Prata dá de dez a zero na tal máquina, que como tal, é uma boa máquina, mas que não passa também de uma geringonça de ferro, útil pra se trabalhar na lama. É pra isso que patroladeiras e tratores em geral são feitos.
Lembrando daqueles mesmos tempos, lembrei que em 1978 a Iara Lucia honrou a beleza da mulher itabaianense num concurso da TV Sergipe onde houve um tal de fusca que o município ganhou e que deu a maior polêmica depois. Cá pra nós, em se tratando de beleza a minha amiga Iara continua a dar de dez a zero na tal máquina.
Não a conheci, mas aposto que a senhorita Maria Auxiliadora Noronha Mesquita em seus tempos de Miss Sergipe, em 1956, era muito mais bonita, muito mais representante da beleza itabaianense e chamaria bem mais a atenção que o trambolho de ferro que desfilou recentemente como se fosse os troféus exibidos pelos generais romanos na Via Apia dos tempos de Trajano.
Mas já que o assunto é aquisição de máquina, é até justificável o impacto sobre a compra do trator do Ministério da Agricultura, objeto da Lei de Crédito Suplementar número 67, de 16 de abril de 1952, modificada pela Lei número 68 de 10 de julho de mesmo ano.
Mais precisamente, se o assunto é patroladeira, com certeza foi bem mais impactante a compra da motoniveladora 212, pelo valor de Cr$ 620.174,59, de acordo com a Lei Municipal número 156, de 28 de Junho de 1957, fundamentada no Decreto Federal 41.097, de 07 de março do mesmo ano. Um detalhe: além da motoniveladora também houve a compra de um “trator D4 equipado com controle hidráulico-44 e lâmina angulante” pelo valor de Cr$ 591.405,53.
Mas o pior, o mais lamentável disso tudo é que a oposição tenha feito coro à empolgação - aparentemente infantil - dos partidários da prefeita e tenha feito o seu jogo; o que os torna não mais infantis, e sim, astutos estrategistas políticos eleitorais.
Foi um fala e fala da tal máquina que deu a entender que estávamos naquele abril de 1952, quando o mais astuto e dinâmico político da história itabaianense recente deve ter dado um show de exibicionismo digno do melhor "estilo Zé Milton de promoção". Aquele trator teve um custo de 581.376,00 pagos em vinte e cinco por cento de entrada e restante em 36 prestações mensais. O orçamento municipal de 1953 foi de um milhão de cruzeiros e a despesa com o dito trator foi feita no Orçamento de 1952 que foi de Cr$ 850.000,00. Não nos foi possível levantar a realização de tais orçamentos, porém, como comparação, o Orçamento de 1960 foi de Cr$ 2.250.000,00 e sua execução ficou em Cr$ 7.565.673,00. Na melhor das hipóteses o preço do primeiro trator comprado pelo município ficou em um quinto da sua renda anual, hoje na casa dos quarenta milhões de Reais. A patrol, objeto da festa da situação e do protesto da oposição, tem uma representação de cerca de um sétimo da arrecadação mensal da Itabaiana atual. Seu valor, informa-nos por e-mail a CGU(*), foi de R$ 438.750,00 conforme o Convênio 606178, firmado entre a Prefeitura e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e foi liberado em 21 deste mês corrente.
Cá pra nós, Itabaiana tem bem mais coisas faltando para que se faça um festival por uma simples máquina; numa mesmice digna da nossa infeliz história política, cheia de politiquinhos a se engalfinharem a cada eleição pelo controle de cargos de professor e inspetores de alunos - além das chaves da cadeia pública - desde 1830.
O povo mais dinâmico do Sergipe – dizer de um colega de rádio – merece bem mais que isso.
Será que não muda nunca?

(*) Clique aqui para acessar os convênios na CGU.
Para atualizar os valores clique aqui.
Dados: IBGE. IPEA. FGV. Livro (de Tombo) de Leis da Câmara Municipal de Itabaiana. Relatórios de Governo (Provincial/Estadual) de Sergipe: 1835-1918.