segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Mudanças no horizonte.


Não se trata de mudanças abruptas, nem perempção das antigas num estalar de dedos, não; é um processo natural que vem ocorrendo desde pelo menos uma década e meia: a entrada de novas lideranças políticas no cenário itabaianense e o processo de desgaste e lento ocaso das existentes.
A família Teles de Mendonça é a primeira na história de Itabaiana em que o chefe da família faz sucessores, que vão além do seu desaparecimento. Francisco Teles de Mendonça, o Chico de Miguel, faleceu em 2007, e, desde então, sua filha Maria Vieira Mendonça foi eleita e reeleita deputada estadual, retornando à Assembleia Legislativa onde já estivera desde que o seu pai dali se desligou, em 1990. O mesmo parece estar sendo difícil ao ex-prefeito e atual deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Luciano Bispo de Lima que ontem viu seu irmão e braço direito, Roberto Bispo de Lima amargar a maior derrota proporcional de toda a história eleitoral de Itabaiana. Todavia, ambos têm algo em comum: suas prováveis sucessões.
Na primeira metade da década de 1980, a então diretora do Colégio Estadual Murilo Braga, Maria Vieira Mendonça não mediu esforços no sentido de estimular um garotão meio tímido, meio avançado, e muito esperto, filho de um eleitor tradicional à liderança estudantil dentro daquela instituição. Dali já surgira alguns líderes efêmeros, como foi o caso do jovem emedebista Pedro Germano de Oliveira, o popular Pedro Langanho, depois o professor João Alves dos Santos, o João Patola, e o aluno e também liderança popular, José Wilson da Cunha, o Gia. Valmir dos Santos Costa, o nome do garoto prodígio de Maria Mendonça, que se manteve amadurecendo dentro do Murilo Braga, mesmo bem depois da saída de Maria Mendonça em 1984, não fez feio: em 1988, na eleição em que seu grupo perdeu um controle político de 40 anos sobre o município, Valmir foi eleito com uma das melhores votações para a Câmara de Vereadores, tornando-se ali um dos mais jovens a chegar àquela casa. Em 1996, sacrificou a reeleição pro seu mandato líquido e certo ao formar com sua vice-prefeita eleita no último dois de outubro, Maria do Carmo Mendonça Andrade. Coincidentemente, os dois, com papeis invertidos, ela candidata a prefeita, ele a vice, tomaram a então maior goleada de votos numa eleição em Itabaiana, aplicada pelo candidato que então retornava, Luciano Bispo de Lima. Em 2000 Valmir retornou á Câmara de Vereadores; novamente em 2.004, 2.008 e, em 2.012, surpreendentemente, Valmir foi candidato e eleito prefeito de Itabaiana, rompendo uma tradição de que vereadores com mais de um mandato, jamais foram eleitos prefeitos, e até no tempo da Intendência, poucos foram os intendentes que à ela chegaram, contando com mais de uma legislatura na Câmara Municipal.
Há dez anos, numa virada histórica, a deputada Maria Vieira Mendonça venceu o pleito para a prefeitura municipal de Itabaiana, uma eleição histórica porque, além de quebrar a sucessão de vitórias obtidas pela ala de Luciano Bispo desde 1988, ela foi a primeira mulher a sentar na cadeira de João da Costa Feyo, o primeiro alcaide do então novíssimo município de Itabaiana, instalado três anos antes, mas que só teve seu administrador nomeado por Lisboa em 16 de junho de 1700. A eleição de Maria recuperou a autoestima dos chiquistas, em frangalhos desde 1988, e principalmente com as sucessivas derrotas impostas pela máquina lucianista da década de 90. No teatro político, muitos dos chiquistas históricos, por si, ou por seus filhos e até netos, mas também vieram personagens que não se apresentaram antes com tanta veemência, dois deles essenciais para a virada num momento completamente atípico, já que além da máquina lucianista continuar como dantes, o mesmo estava num segundo mandato de prefeito, de posse da máquina municipal, e aliadíssimo ao governador de Estado da época, o atual prefeito de Aracaju e não reeleito, nesse último dia dois, João Alves Filho, e que foi o período em que a arrogância do lucianismo chegou à estratosfera. Seus nomes? Edvan Amorim (à esq. e à dir., fotos centrais), ex-genro do mesmo João Alves Filho e já transformado em potência política no estado de Sergipe, e José Mota, o Nem de Tonho de Glória (à esq., e de camisa vermelha, foto maior).
Terminada a eleição de 2004, Nem foi deixado de lado e isso foi suficiente para se aproximar de Luciano Bispo, participando da virada de 2008, com o próprio Luciano Bispo de candidato cabeça. Mais desentendimentos, agora com Luciano Bispo, e Nem retorna ao centro chiquista, agora para a eleição contra a nova reeleição de Luciano (iria pro quinto mandato), na mesma formação de 2004, em 2012. Nova vitória. Valmir vitorioso (vide a foto maior, de ambos) e Nem emplacou seu primeiro membro da própria família na política: seu filho John David Torres Mota, eleito vereador, que, obviamente, já foi direto para a Mesa Diretora onde ainda se encontra até o próximo dia 31 de dezembro, quando se encerrará o seu mandato, e obviamente seu cargo de secretário da Mesa Diretora da 47ª mais antiga casa legislativa do país. 
A candidatura de David a vice prefeito na chapa de Roberto Bispo guarda dois aspectos importantes na política itabaianense. O primeiro é que seu pai, Nem, não entrou na política desde 2004 para brincar: a coisa é pra valer! O segundo é que seu posicionamento agora, não mais como vereador, mas como vice, traz uma sinalização mais que óbvia e comum a praticamente todos os candidatos a vice que é o fato de serem os financiadores-mores das campanhas. Em Itabaiana, desde que foi instituído o cargo de vice, nas eleições de 1966, e levando em conta somente os eleitos, houve os casos de Josias Nunes, João de Deus Souza (chapa puro sangue com João Germano da Trindade, de cabeça), Luiz Carlos Andrade, José Araújo Tavares e, eleita ontem, Carminha Mendonça só. Nestes casos, os candidatos a vice entraram apenas com o nome ou serviços pessoais, como o caso do militante João de Deus ou do médico Luiz Carlos. Todos os demais entraram com algo a mais.

Depois de 1º de janeiro de 2017

A cena da foto maior, provavelmente, jamais se repetirá.
Valmir dos Santos Costa, o Valmir de Francisquinho, com a esmagadora vitória de ontem, dia 02 deste outubro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2016, consolida algo que estava preocupante: um sucessor de Chico de Miguel, em definitivo, que não somente se reafirma como o cimento entre os dois irmãos, José e Maria Mendonça, nenhum dos dois até agora assumindo essa importante função. Uma transição de poder mais que harmoniosa, ressalve-se, e, se for sábio, daqui a dois anos deixará a batuta para que Carminha Mendonça termine o mandato, elegendo-se folgadamente a deputado estadual. Para isso, claro, terá que haver grande negociação com a deputada Maria Mendonça e seu irmão, José Teles de Mendonça, este com três mandatos de estadual e três de federal, mas que poderá propugnar pelo retorno ao exercício de cargos eletivos. Também Valmir pode pensar no plano federal. De qualquer modo, a sobrevivência do esplendor eleitoral que se viu ontem, dois de outubro, depende desse xadrez; e a sobrevivência da liderança de Valmir, depende de seu desapego ao cargo de prefeito, visão que faltou a Luciano Bispo já em 2002, e seu ingresso em esfera maior de poder. Aqui também depende das arrumações dos irmãos Edvan e Eduardo Amorim, obviamente, que têm sido um esteio dessa retomada do velho udenismo-chiquismo.
Quanto ao José Mota, o Nem, sai dessa eleição também com liderança política consolidada, mesmo seu filho tendo perdido a chance de ser vice-prefeito. É o que se chama por aqui a “terceira força”, que de fato não existe. Aqui só existe lugar para o primeiro e o obrigatório segundo; logo a situação é mais complicada. Vai ter de lutar objetivando o primeiro pra no mínimo ficar em segundo, como tem sido na história política itabaianense. Uma espécie de penetra, que todos querem como apoio na eleição, mas dele têm medo no pós esta, dificilmente se ajeitará nas hostes lucianistas, cujo líder, Luciano Bispo, sai dessa eleição chamuscado, mas não torrado; imprestável. Além do cacife mínimo de uma oposição em Itabaiana, com um capital seguro de 35 por cento dos votos, pouco importando os nomes postos, conta com a máquina do Governo do Estado, emperrada, quase parando, mas... máquina.
O xadrez da política itabaianense, doravante, será jogado, máxime, pelos três personagens: Valmir, escudado por Maria Mendonça, José Teles(último foto à direita) e Edvan Amorim; Luciano Bispo, (última foto à esquerda) escudado pelo atual governador Jackson Barreto de Lima; e José Mota, o Nem de Tonho de Glória, que por hora é sozinho. 
A conferir, num futuro próximo, quando vierem as eleições gerais de 2018.