sexta-feira, 16 de junho de 2023

A SEGUNDA CONQUISTA É DE AMOR E FRATERNIDADE

 

Desta vez não foi Cristóvão de Barros e seus famintos por escravos e terras. Também não vieram por mar e terra, carregados de robustos canhões e mosquetes, cuspindo ódio, ganância e crueldade; não! Mas, a conquista veio plena de amor, de devoção a Santa Dulce, e, como se a imitar os medievais versos da Feira do Castelo Escavado (mais ou menos) ou Scarborough Fair, vieram entre as areias da praia e as ondas do mar, a soprarem espumas mediante a gostosa brisa suave do mar oceano dos aventureiros de cinco séculos atrás.
Também, a segunda conquista não terminou aos pés do simbólica pequena serra do Pico, ou dos Três Picos, como chamada há 400 anos, com as escaramuças de uma sangrenta batalha; mas na Rua Jackson de Figueiredo, Centro de Itabaiana, onde fica a Maternidade São José, com louvores e agradecimentos.
Vieram, viram, e tanto gostaram que se somaram à VI Caminhada de Santo Antônio Fujão, uma comemoração à nossa cara lenda do nascimento de nossa cidade, à bendita sombra do santo português; tão forte que destronou as preferências eclesiásticas há três séculos em meio.
Obrigado aos pioneiros peregrinos do Caminho de Santa Dulce. Já estamos com saudades de vocês. Voltem sempre, sempre e sempre.
Uma felicíssima jornada plena de mansidão, contrição, relaxantes momentos e deslumbramento com essas coisas “que pra se ver direito, o cristão tem de andar a pé”, conduzida pelo zeloso e competente Anselmo Rocha, a longa caminhada que, pareceu, de fato, somente alguns passos, na direção de reconhecimento prático, inaugural, pioneiro daquele que veio para eternizar-se: o Caminho de Santa Dulce dos Pobres, de Salvador à Itabaiana; de Itabaiana a Salvador.

"Coisas que pra 'mode' ver, o cristão tem que andar a pé" (Teixeira e Gonzaga - Estrada do Canindé)

Itabaiana, a cidade do primeiro milagre sente-se profundamente agradecida; mas certamente a Salvador – a velha Quirimure tupi – primeira capital do Brasil, também. Assim como todos os rincões desse pedaço de Brasil, redescobertos por essa pequena, simpática e afável legião de peregrinos, que em duas etapas, Salvador-Barra do Itarari, e Barra do Itarari-Itabaiana fez a viagem inaugural.
Que Deus, pela intercessão de Santa Dulce os abençoe; e que repitam mais e mais vezes.


A chegada vitoriosa sendo saudada.

terça-feira, 13 de junho de 2023

E se vai um grande símbolo itabaianense do século XX

 

Faleceu, agora por volta das 20 horas, desse 13 de junho o velho Carcará, Djalma Teixeira Lobo, descendência indireta do primeiro grande benfeitor de Itabaiana, o Padre Francisco da Silva Lobo.
Meu colega radialista, agora na eternidade, muitas laudas talvez sobre ele eu venha deitá-las aqui, doravante.
Por enquanto só a dor da perda.

Descanse em paz!

domingo, 11 de junho de 2023

O FURACÃO EUCLIDES PAES MENDONÇA.

 


Volta e meia somos instados a retornar ao tema Euclides Paes Mendonça.
É que não dá para avaliar Itabaiana na história sem os treze anos de ascensão e trágica queda do grande personagem da mesma quatrocentona história serrana.
O ethos de competitividade serrana é coisa de maluco: “sempre seja o primeiro”. Parece o transporte integral do modus grego clássico para itabaianense.
Se por um lado isso leva à topo da criatividade, traz, por outro lado, uma limitação de ações, um tal de bater palmas para si mesmo que, e exemplo do que se pratica em relação a outros, esses mesmos outros também o fazem entre si, e para nós.
Na última sexta-feira, por volta das dez, enquanto caminhávamos lado a lado com a última viagem do agora saudoso José Rivaldo Costa, nosso queridíssimo Mãe Gorda, rumo ao Cemitério de Santo Antônio e Almas, num rápido papo com o engenheiro e empresário José Carlos Machado, este provocou um momentâneo histórico de homens notáveis à História de Itabaiana, a começar do inevitável Zeca Mesquita, e, enquanto desfiávamos os mais variados nomes, interiormente eu ia matutando sobre um terrível característica comum à humanidade, porém acentuado entre nós, de esquecermos os feitos de quem veio antes... propositalmente; uma forma da não dar espaço para os outros. O princípio de Aquiles diante das muralhas de Troia: “A glória não é para ser compartilhada; ela é minha, e só.”
E, digamos assim, o máximo do egoísmo, fútil, célere, passageiro porque, o mesmo que me leva hoje a querer tudo sozinho, levará aqueles por mim (mal) educados a também assim proceder futuramente, e sempre, sempre.
Só que a sociedade necessita de líderes e de heróis; em quem se espelhar. Com quem se identificar. Sem isso ela não gera identidade; autoconfiança, motor indispensável para o engrandecimento pessoal.
Se matamos a memória de nossos grandes benfeitores a cada geração deles... não restará nada.
E isso me leva à importância do passageiro Euclides Paes Mendonça, sua meteórica carreira política, e especialmente os efeitos de seus feitos, desde a fuga do meu pai do povoado Mangabeira, em 1955, para não virar alvo da sua tropa de carniceiros, à tentativa de dotar uma cidade de seis mil habitantes de um aeroporto, claramente numa intenção de torná-lo referência para todo o estado de Sergipe.
Euclides pôs o já bissecular modus operandi sociopolítico itabaianense de pernas pro ar. Deu um safanão em vícios arraigados; quebrou as caixinhas, como dizia o saudoso vereador, meu amigo Antônio Andrade da Costa, o Tonho de Pombinho, “onde tudo era ‘enlatrado’”.  Reprogramou a vida política e social de Itabaiana.
Coincidentemente, começa aí a aparecer, tenuemente a preocupação com a História: a verdadeira forma de consciência do passado para melhor projetar o futuro.
Contudo a fome de glória restrita permanece. Ameaçadora. Resistente.
Se em toda a civilização já é por natureza necessário a vigilância e a execução pelas autoridades de manter a chama da memória, da História acesa, em nosso caso, com essa tendência intencional ao esquecimento do fruto do trabalho “dos outros”, isso torna-se um ato obrigatoriamente dramático.
Em tempo: entra ano e sai ano e, nas barulhentas e animadas festas de caminhoneiros ninguém lembra do primeiro caminhão de Itabaiana e seu proprietário, o músico, maestro e deputado estadual, Esperidião Noronha.
Como resultado, essa mesma cultura de esquecimento do outro, já esqueceu completamente João de Balbino, e até já esquece Rolopeu, para ficar só nos que mais foram badalados e recentes.