terça-feira, 11 de julho de 2017

São Luiz - A minha rua.

A fotografia foi uma invenção fantástica. Se os espelhos de Versailles conduziram a uma viagem ao eu de quem os visitou e teve capacidade de ver além da imagem, a fotografia, de mais de um século depois, desnudou por completo nossos demônios interiores, nosso medos, angústias e toda a sorte de bons e maus sentimentos. Pior: nos mostrou cruamente o que a vida de fato é. Uma passagem por este vale de lágrimas que cabe a nós transformá-lo em vale de risos. Muitos preferem apostar no pior.
Uma pequena viagem no breve tempo da rua em que hoje moro é como se me conduzisse à imagem em minha mente feita por extratos de eventos identificados pela ciência, ou meramente aventados a partir desses mesmos conhecimentos. Em resumo, uma viagem.



A minha rua, como via de trânsito é tão antiga quanto o estabelecimento da sede municipal de Itabaiana onde aqui hoje estamos. Trata-se, de fato, da Estrada Real para a cidade da Bahia, hoje Salvador, criada com a invasão luso-espanhola de Sergipe de 1590, mas que neste ponto só veio ocorrer, por desvio do trajeto original nesta parte, com o estabelecimento da vila, sede do município, em 1697. Pode-se se dizer, portanto, que a exemplo da Rua de Maraba - sua sequência - e das ruas Alemar Batista Andrade e Itaporanga, estas a antiga estrada para São Cristóvão, a minha rua é tão antiga quanto a cidade, que começou na Rua do Sol, hoje General Valadão, fundos da Matriz de Santo Antônio e Almas.
Em fins do século XVIII - 1780 a 1800 - ela deixou de ser a estrada para a cidade da Bahia resumindo-se apenas a ser a estrada pro Campo do Brito, situação com que foi conhecida até 30 anos atrás, quando sua sequência depois do cemitério do Campo Grande morreu por completo; e dentro da cidade manteve sua conversão em ruas como já vinha com a Rua Campo do Brito, e a seguir, Rua São Luiz.

Não tenho fotografias anteriores; mas, do fantástico acervo de fotografias de Walmir Almeida, no que foi conseguido por Robério Barreto Santos me vem uma imagem aérea que nos dá uma ideia do que era em 1986. E a partir de 1995 eu assumo, fotografando-a periodicamente, e vendo a fantástica transformação, não somente física, mas também sócio-econômica, percebida na mesma em vários aspectos.
Nas fotografias de 1995, chão batido, esgotos a céu aberto, iluminação precária, nenhum automóvel na mesma. Em 1997 repete-se o quadro que assim se apresenta até 2002. Em 2017, contudo, além de quase total ocupação predial, mesmo numa tarde cedo de domingo, com metade da população local nas praias ou balneários, públicos ou particulares, a presença de alta densidade de automóveis na rua, sem obviamente se contar os guardados nas garagens demonstra claramente o progresso material presente.

Em 10 anos uma virada total nos costumes. E tudo isso agora sob grande risco das decisões mais que temerárias de Brasília.